Em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. (Colossenses 2:3)

Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por essas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.(Efésios5:6)
Digo isso a vocês para que não deixem que ninguém os engane com argumentos falsos. (Colossenses 2:4)
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13 de maio de 2020

O PROBLEMA DA IDOLATRIA POLÍTICA


Blog de Luciano Siqueira: O necessário confronto das ideias
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Acredito que um dos grandes problemas que vivenciamos como cristãos neste país, acontece quando as ideologias se tornam o fundamento e o solo das convicções de pessoas que se dizem cristãs!

Quando quaisquer ideologias ou governantes são absolutizados, eles se tornam deuses. E este é o problema de muitos pastores, líderes e cristãos dos nossos dias, eles tem feito de suas preferências políticas, suas idolatrias pessoais e colocam essas ideologias e seus políticos de sua preferência acima do amor que tem para com o seu Senhor Jesus, com o seu Evangelho, com sua Palavra e com os ensinamentos da mesma. Estamos neste mundo não para abraçarmos ideologias humanas, pois temos um firme fundamento no Evangelho e na Palavra de Deus!

Uma Cosmovisão Bíblica tem respostas para todos os problemas do ser humano. E, tudo o que as ideologias oferecem de aparentemente bom, a fé cristã apresenta de uma maneira melhor, pois ela ensina a exercer o bem para com todos de maneira que revela o amor de Deus e transforma o homem de dentro para fora, mudando também a sociedade e o mundo ao seu redor. É claro que, muitos cristãos falharam inúmeras vezes, mas isso só ressalta a Graça do Evangelho, mostrando que a solução para o nossos maiores problemas não vem dos homens, mas do nosso Grande Deus e Salvador, Jesus Cristo!”


Rosther Guimarães Lopes

Texto Evangelho em Foco
 
 

20 de fevereiro de 2020

Sou conservador – Escolho a família tradicional


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“Ser conservador, então, é preferir o familiar ao desconhecido, o testado ao nunca testado, o fato ao mistério, o atual ao possível, o limitado ao ilimitado, o próximo ao distante, o suficiente ao abundante, o conveniente ao perfeito, o riso presento à felicidade utópica.[1]
Não tenho lembrança de tempos, pelo menos desde que consigo buscá-las, em que se falasse tanto em conservadorismo no Brasil, como ultimamente. Logo, parece-me importante termos a real noção do que significa ser conservador, até para não cair no conto do vigário, também conhecido como conto da narrativa progressista. Uma boa forma de começar a entender o conservadorismo pode ser (além de cursar as aulas do Burke) lendo “Ideias Conservadoras” de João Pereira Coutinho. Coutinho, em poucas páginas, conceitua o que chamamos de conservadorismo e demonstra sua importância, especialmente nos dias de hoje. Sua análise, além de ser uma expressão da sua opção política, também se debruça sobre os pressupostos teóricos e práticos a respeito da visão tratada neste texto.

Em um podcast para a Folha de S. Paulo & Spotify Studios, Coutinho explica a razão que o levou a escrever Ideias Conservadores. Mais especificamente, como ele vê a situação dos brasileiros que se assumem como sendo “de Direita”. O autor analisa que a situação brasileira está em um nível reacionário, quase esquizofrênico, aonde o ato de assumir o extremismo representa uma ameaça à direita moderada, a saber, um populismo de direita.

Essa observação é importante para o tema que vamos abordar aqui neste texto: falaremos de um segmento essencial para a manutenção e preservação da sociedade, e que só pode manter-se efetivo se defendido e vivido da forma correta, visando o bem comum, na perspectiva de Tomás de Aquino e Leão XIII[2], e sobretudo, com a capacidade de reconhecer quando chega a hora de reformar determinada prática ou pensamento.

O verdadeiro conservadorismo, implica na análise ponderada do instituto da preservação de algo: não devemos implodir um prédio (ou demolir) por simplesmente ser antigo ou não nos atender mais. Devemos (pelo menos é o que se espera) ser inteligentes o suficiente para avaliar se as fundações da edificação estão intactas e se não seria muito melhor que o prédio fosse apenas reformado. Na maioria das vezes, a implosão do prédio resultaria em um custo muito maior do que sua reforma. O conservadorismo provém de uma observação prudente, o que nos conduz a perceber os benefícios de se manter determinada instituição, iniciando por nossas casas – conforme preleciona o filósofo Plutarco, “quando o alicerce de uma família não é fundado com rectidão, o destino será desgraçado para a descendência”[3]

É comum ver algumas minorias inflamadas dizendo que a instituição da família tradicional deve ser implodida, e que existem novas formas para substitui-la. Mas, basta algumas dezenas de minutos observando a história da humanidade, e constataremos que a família tradicional sobrevive ao teste do tempo há mais de 6 (seis) mil anos, quiçá 10 (dez) mil anos. A pergunta que não quer calar é: Será que substituiríamos algo consolidado por tantos milênios, em troca do desconhecido?

O modelo tradicional de família, conforme a experiência dos anos pode nos provar, é de bons ensinamentos para ações virtuosas, conforme ensina o poeta Focílides de Mileto (séc. VI a.C.). Conservar o modelo tradicional de família não é ser reacionário, a ponto de querermos voltar no tempo e regredir à família das cavernas, ou na Grécia Antiga em que os filhos precisariam crescer e se desenvolver nos moldes da perfeição, tanto intelectual, quanto física. Na verdade, desde o nascimento, os bebês passavam por severas avaliações para que suas vidas fossem “legitimadas”:

Os espartanos […] se preocupavam com a reprodução da população da cidade, mas simples números não eram suficientes. A qualidade era importante. Portanto, os recém-nascidos era submetidos a um ritual de inspeção e avaliação realizado pelos “anciãos das tribos”, nas palavras de Plutarco. Os bebês eram imersos em uma banheira contendo, provavelmente, vinho não diluído, para que se observasse sua reação. Se não passavam no teste, as consequências eram fatais. Os bebês eram levados a um lugar misteriosamente denominado “o depósito” e lançados à morte certa em uma ribanceira. Isso também ocorria com os bebês que tivessem a infelicidade de nascer com alguma deformidade ou deficiência séria e imediatamente visível.[4]

Quando tratamos de conservar o modelo tradicional de família, também estamos nos referindo às pessoas lúcidas, com bom senso. É muito comum o ataque progressista de que o conservador é um simpatizante das práticas antigas que violavam à dignidade humana. Errado, isso não guarda relação com ser conservador: aquele que avaliou todos os pressupostos de algo que é comprovadamente bom, também tem capacidade de reconhecer aquilo que é ruim – isso é tão fato, que o conservador consegue reconhecer que anos de doutrinação marxista são péssimos para a humanidade, e que tal pensamento merece ser descartado e combatido, para que não macule o seio das nossas famílias.

Em uma democracia, todos devem ter liberdade para fazer o que quiserem (desde que não seja proibido em lei), inclusive e principalmente defender suas crenças. Logo, se os conservadores valorizam, por exemplo o casamento monogâmico e heterossexual, podem e devem proteger suas famílias do discurso contrário, garantindo, assim, que seus filhos não sejam doutrinados pela compreensão progressista de união entre pessoas. Logicamente que tal defesa deve ser urbana e baseada no respeito.

A toada progressista não está satisfeita em efetivar a liberdade de expressão e crença: eles querem promover uma imposição, algo como: “você tem que aceitar o meu modelo de família como único válido, e acrescenta-lo ao seu estilo de vida.” Diferente de tempos passados em que o respeito era suficiente, e a possibilidade de considerar algo como errado era protegido, hoje estamos na era da nova tolerância, aonde todas as visões devem ser consideradas como válidas, menos a visão cristã de família.

Esse pseudomodelo de família implica necessariamente na metodologia do SELF: agradar a si mesmo e dar prazer. A bênção da procriação, a venustidade do sexo entre homem e mulher, o provimento do lar, o ensinamento das virtudes para às crianças, tudo isto e muitos outros pontos estão sendo considerados como um modelo a ser combatido, em troca do utilitarismo: união entre pessoas do mesmo sexo, mães de pet’s, zoofilia, aborto permitido, aborto por gênero, poligamia, e assim por diante – são pontos que prenunciam a ruína de uma civilização, se não forem resistidos até o fim.

Será que este modelo progressista de família resistiria ao teste do tempo? Será que daqui há duzentos ou trezentos anos teríamos humanidade para contar história? Pela resposta facilmente constatada à essas perguntas, eu prefiro aquilo que já foi testado do que o que nunca foi provado; o fato ao mistério; a família – com seus problemas, mas sendo reformada ao longo da história – do que a extinção da humanidade.

Estes são alguns dos motivos pelo qual sou conservador.


Notas:
[1] Oakeshott, Rationalism in Politcs, p. 408 apud COUTINHO, João Pereira. As ideias conservadoras explicadas a revolucionários e reacionários. São Paulo: Três Estrelas, 2018. p. 22. [2] O bem comum na Rerum Novarum: http://w2.vatican.va/content/leo-xiii/pt/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_15051891_rerum-novarum.html
[3] PLUTARCO. Obras Morais. Da Educação das Crianças. Colecção Autores Gregos e Latinos. Coimbra, 2008. Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos. p. 32.
[4] CARTLEDGE, Paul. Thermopylae: the battle that changed the World. New York: Vintage, 2006. p. 80.


Por: TR Vieira. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Original: Sou conservador – Escolho a família tradicional.

7 de abril de 2019

Conversa entre um Russo e um Brasileiro:





Russo - Como eu amo a liberdade!

Brasileiro - É. Não há nada pior que a ditadura.

Russo - Mmmm ? Vocês também tiveram ditadura no Brasil ?

Brasileiro - Ô ! E como tivemos ! Os militares deram um golpe e tomaram o poder.

Russo - Mas como ? Fuzilaram o congresso todo ?

Brasileiro - Não exatamente. Foi o próprio congresso que instituiu.

Russo - Mas você não disse que foi um golpe?

Brasileiro - Sim.

Russo - Não entendi. Mas enfim... Quantos morreram pelo menos?

Brasileiro - 430 pessoas !!!!

Russo - É ... Para um dia só é bastante.

Brasileiro - Não, 430 no total.

Russo - No total do que ?

Brasileiro - Da ditadura !

Russo - Peraí, mas foi só uma coisa de uns dias e depois acabou ?

Brasileiro - Que uns dias que nada ! foram 21 anos de opressão !

Russo - E quem foi esse ditador "genocida" que matou 357 pessoas em 20 anos.

Brasileiro - Foram 5 ditadores.

Russo - De uma vez só ?

Brasileiro - Não, um depois do outro.

Russo - Um depondo o outro ?

Brasileiro - Claro que não ! Terminava o mandato e vinha outro.

Russo - Tipo presidente ?

Brasileiro - É ... Mas só que não. A gente não podia votar !

Russo - Então ao invés de um ditador, vocês tiveram 5 representantes com mandato temporário e que matavam 17 pessoas por ano ?

Brasileiro - Sim. Mas o povo se levantou e tirou eles de lá !

Russo - Ah no fim depuseram os militares?

Brasileiro - Pode se dizer que sim. Eles saíram do poder.

Russo - Mas tá estranho isso. Eles não controlavam o exército ? Como o povo conseguiu isso ? Ou eles se armaram também, ou atacaram em grande número. De uma forma ou de outra deve ter sido a maior carnificina !

Brasileiro - Até que não. Os militares anunciaram eleições democráticas e deixaram o poder.

Russo - Deixaram ???? como assim ? tipo por conta própria?

Brasileiro - É que o povo, no fim, já tava meio contra também ...

Russo - No fim ??? Mas péra ! Para sair assim, na boa, só podem ter levado uma fortuna antes ! Devem estar tudo ricos hoje !
É certo que ditadores deixam os países minguados, sem infraestrutura, as pessoas passando fome, a economia falida, aumento da criminalidade ..... e fogem.

Brasileiro - Hummm ... Não exatamente. Pelo contrário, foi o melhor período econômico do nosso País. Para se ter uma ideia, em 21 anos de ditadura crescemos cerca de 3 (três) vezes mais do que os 21 anos seguintes de democracia.
As infraestruturas criadas na época são as principais até os dias de hoje, algumas delas são as únicas do setor, da região.
As pessoas não passavam fome, pois viviam com dignidade.
Os índices de criminalidade eram insignificantes, comparados com os dos dias atuais.
Não fugiram, as famílias vivem até hoje com os recursos que eles receberam trabalhando, de forma simples.

Russo - Cara, eu respeito sua história e tal, mas tá meio difícil de acreditar que vocês tiveram uma ditadura.

Brasileiro - Como assim?¹ A opressão era real ! Morreram muitos heróis lutando pela nossa liberdade!

Russo - Então havia até mesmo uma oposição?

Brasileiro - Ah se havia ! Eles matavam soldados, sequestravam gente importante, roubavam bancos, plantavam bomba em quartéis.

Russo - Que horror ! E os revolucionários, como combatiam isso?

Brasileiro - Não, caramba ! Tô falando dos heróis, os revolucionários! Presta atenção!

Russo - Tá bom, entendi. Mas esse lance de matar soldado, explodir bomba... hoje em dia isso não seria terrorismo?

Brasileiro - Talvez. Não sei. Mas na época era justificado. Tinha que derrubar aquele governo cruel.

Russo - Mas e roubo a banco e sequestro... não é crime isso dai também?

Brasileiro - É ...Talvez .... mas eles tinham que tirar dinheiro de algum lugar para manter o movimento , né?

Russo - Sim, mas do povo? ...

Brasileiro - Não tinha alternativa ! a União Soviética não estava mais sustentando a revolução como antes...

*Russo* - Opa ! Um momento ! A gente que estava financiando vocês contra os militares?

Brasileiro - Sim. Os comunistas soviéticos estavam nos ajudando a derrubar a ditadura e instaurar a democracia no Brasil.

Russo - E você acreditou ? Pois a nossa ditadura foi comunista! Matou 21 milhões, durou 74 anos e deixou o país afundado! Você nunca conheceu opressão, e por isso mesmo não entende o que é liberdade!

(Autor desconhecido)



1 de janeiro de 2019

Como orar pelo novo presidente?


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Daniel Lima 



O novo presidente assumiu com grande apoio e grande oposição. Não importa se você elegeu ou não este governante, somos chamados a orar por nossos governantes (1Timóteo 2.1-2). Como orar por este novo governo? E, ao mesmo tempo, como orar por nós mesmos diante deste novo ano?

Ano novo, vida nova... será? Como muitos (quase todos os) brasileiros, passei o momento da virada do ano com família e amigos. Compartilhamos sobre o conceito do “sopro de Deus” em nossa vida no ano que terminava. Não pude assistir a posse do novo governo, mas nos dias seguintes li ataques daqueles que veem evidências da perversidade do novo presidente. Sinceramente, não consigo perceber aquilo que eles veem com tanta clareza. Fiquei igualmente triste ao ler elogios de um nível quase messiânico ao novo presidente. Tampouco consigo ter o mesmo nível de certeza de que devo colocar sobre ele toda a minha esperança.

Pessoalmente, resisto a um culto da personalidade deste ou de qualquer outro governante. Este anseio por um caudilho, esta esperança lançada sobre um governante que vai, por força de seus talentos, personalidade ou mesmo “chamado divino” resolver todos os meus problemas, aponta quão equivocados, superficiais e mesmo facilmente manipuláveis nós somos. Qualquer avanço nosso como nação só vai ocorrer por meio da intervenção divina e muito esforço e sacrifício coletivos e individuais. Ao contrário de uma atitude popular que já foi chamada de sebastianismo, Dom Sebastião não voltará da Batalha de Alcácer-Quibir para nos libertar do jugo espanhol. Em última análise, como cristão que busca compreender e viver a partir da Bíblia, minha esperança tanto pessoal quanto para meu país está em um relacionamento íntimo e pessoal com o Senhor Jesus. No entanto, torço por este governo e vou orar por ele como orei pelos outros. Tenho uma pitada de esperança por ventos que parecem diferentes (ênfase no “parecem”). Embora esperançoso, lembro-me do texto do Salmo 146.3-4:
3Não confiem em príncipes, em meros mortais, incapazes de salvar. 4Quando o espírito deles se vai, eles voltam ao pó; naquele mesmo dia acabam-se os seus planos.
Dizem que muitas batalhas foram perdidas pois os generais perderam o momento oportuno. Por temor ou falta de perspicácia, por falta de informações ou arrogância, estes comandantes deixavam passar o momento em que poderiam fazer os eventos mudar de curso. Com frequência, quando se deram conta do erro, o tempo havia passado. Com certeza nosso presidente vive um momento assim. Para usar uma analogia do futebol: é a final do campeonato, o adversário vence por um gol e o relógio marca 45 minutos do segundo tempo, o goleiro está caído, o artilheiro tem a bola nos pés na entrada da área. Um gol pode levar o jogo para a prorrogação, dando ao seu time a chance da vitória; um chute para fora encerra a partida e todas as esperanças, fazendo com que a longa campanha se torne apenas mais um “poderia ter sido”.

O que separa nosso presidente de fazer diferença positivamente ou de ser apenas mais um “poderia ter sido”? Para mim é o mesmo que separa cada um de nós de realizar a obra de Deus para sua glória ou ser mais um “poderia ter sido”. O ano começa para o governo, mas também para cada um de nós. Não há nada de mágico no início de ano, mas cremos num Deus da renovação, onde cada momento pode ser um reinício. Ao mesmo tempo, cada oportunidade perdida traz consigo consequências. Este é um momento chave, o governo tem a confiança (talvez exagerada) de mais da metade da nação. O que a Bíblia tem a dizer para o presidente e para cada um de nós sobre começar bem, sobre aproveitar as oportunidades?
O ano começa para o governo, mas também para cada um de nós. Não há nada de mágico no início de ano, mas cremos num Deus da renovação, onde cada momento pode ser um reinício.
Para todo aquele que conhece a Palavra, a expressão aproveitar as oportunidades nos faz pensar em Efésios 5.15-17:
15Tenham cuidado com a maneira como vocês vivem; que não seja como insensatos, mas como sábios, 16aproveitando ao máximo cada oportunidade, porque os dias são maus. 17Portanto, não sejam insensatos, mas procurem compreender qual é a vontade do Senhor.
O tema de Paulo é como viver uma vida de acordo com a nova e radical realidade de sermos novas criaturas. O argumento para o início do governo de nosso presidente, mas também para nós, é que sejamos sábios e não tolos. O conceito é bastante comum, embora o ser sábio ainda seja mais uma arte do que uma ciência. A NVI traduz o termo chave como “a maneira como vocês vivem”. É uma excelente tradução, mas o original fala apenas de ter cuidado como “andam”. Desta forma a tradução perde um aspecto da herança judaica que Paulo destaca. A vida para os judeus era muito prática, e seguir a Deus não ficava circunscrito a discursos e teorias. Seguir a Deus tratava-se de vida prática. Por isso Paulo usa um termo tão corriqueiro. Cuidado como você anda, e não apenas cuidado com seus pensamentos ou ideias.

No caso do novo governo, importa mais o dia a dia do que os discursos, pois estes têm sido e serão dilacerados e distorcidos pelos opositores. A verdadeira prova é como será o dia a dia. Como serão tratadas as acusações de corrupção? Onde serão alocados os recursos, como será tratada a incômoda oposição, como serão tratados os sem voz... Na nossa vida, o que Paulo está tratando é do nosso dia a dia e não nossos discursos entre amigos, na igreja ou na rede social. Postar versículos e tratar mal as pessoas ao seu redor é justamente o que faz cristãos terem uma fama tão ruim.

A partir do texto entendemos que temos, sim, uma escolha: viver como sábios ou como tolos! O que significa viver como sábio? Se pudéssemos dar uns conselhos ao novo presidente, quais seriam? Há no texto pelo menos duas sugestões muito concretas e que servem tanto para nosso presidente como para cada um de nós: (1) aproveite as oportunidades e (2) procure compreender a vontade de Deus.

Aproveite as oportunidades

A campanha terminou, o cargo já lhe foi entregue. O tempo dos discursos bombásticos já passou. As palavras de ordem têm um efeito de curta duração. O ministério está montado, o congresso lhe é favorável, um enorme poder lhe foi atribuído. Este é o momento, esta é sua oportunidade. A oposição está preparada para acusar qualquer movimento seu, seja benéfico ou não à nação. Seus apoiadores, por sua vez, estão com os louvores já ensaiados para suas excelentes decisões. O momento é de aproveitar a oportunidade para fazer o bem, para realmente caminhar em uma nova direção. Não se espera milagres (bem, talvez alguns esperem), mas eu espero passos acertados, decisões justas, capacidade de integrar uma nação fragmentada. Capacidade de ouvir sem perder seu rumo. A integridade de confrontar o erro em qualquer canto onde seja descoberto. Esta é sua oportunidade. Estamos aguardando, uns com certeza de seu fracasso, outros já comemorando seus acertos. Imagino que, como eu, a grande maioria esteja esperando com expectativa que algo melhore, e receio de que tudo se torne mais uma esperança perdida.

O mesmo praticamente pode ser dito de cada um de nós que segue a Jesus. Todas a benções espirituais já nos foram concedidas (Efésios 1.3). Temos o Senhor Jesus do nosso lado. Nossos pecados já foram perdoados, muito embora ainda tenhamos que enfrentar algumas das consequências. O que faremos com este ano, com este dia, com o resto de nossas vidas? Que farei com aquela amizade que nunca restaurei? O que farei com aquela palavra dura que proferi? O que farei com aquela pessoa que me buscou? O que farei com o novo ministério que me foi oferecido? O que farei com este dom da vida que me é concedido? Assim como o presidente, o que se espera de nós é que vivamos com justiça, com amor, com integridade e compaixão.

Como pano de fundo desta exortação Paulo nos lembra que os dias são maus. O resumo é que os tempos são difíceis e oportunidades passam. Em Cristo sempre há um recomeço, mas o momento perdido não volta mais. Aquele momento em que eu podia fazer a diferença para Deus não volta mais. Pela graça dele, outros virão, mas o tempo não volta atrás.

Procure compreender a vontade de Deus

Neste ponto eu confesso que minha convicção é que aquilo de melhor que um governante pode fazer é buscar a vontade de Deus, pois minha perspectiva é que Deus tem o melhor tanto para o que crê como para quem não crê. Um aborto não é ruim somente para um crente e bom para o não crente. A única diferença é a opinião pessoal, mas o Criador dos céus e da Terra já definiu o que é bom e o que é mau. A Palavra afirma que todos vamos prestar contas e que “de Deus não se zomba” (Gálatas 6.7). Qualquer pessoa que semear os valores de Deus será abençoada e qualquer um que semear valores contrários ao reino colherá destruição.
Quem já teve de cortar despesas em casa devido a um aperto no orçamento sabe como estas decisões são complexas e raramente agradam a todos.
O novo presidente é o governante de todos os brasileiros. Tanto dos que o elegeram como daqueles que avaliam sua eleição como a maior tragédia das últimas décadas. É seu papel buscar o bem de todos. Neste ponto, me confesso talvez pouco democrático... Não creio que a voz do povo é a voz de Deus. Creio que uma virada no nosso país só será possível se decisões difíceis e impopulares forem tomadas. Quem já teve de cortar despesas em casa devido a um aperto no orçamento sabe como estas decisões são complexas e raramente agradam a todos.

O que a Palavra tem a dizer ao nosso presidente e, por princípio, também a nós? Sou levado rapidamente ao texto de Romanos 14.17-18:
17Pois o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo; 18aquele que assim serve a Cristo é agradável a Deus e aprovado pelos homens.
A definição mais simples da expressão “Reino de Deus” é o âmbito onde sua vontade é realizada, onde seu governo não é contestado. Assim, meus conselhos ao novo presidente seriam três: justiça, paz e alegria.

Oro para que este governo seja justo. Com isso não estou falando meramente de nosso sistema judiciário, mas de ações corretas, decisões que honrem a verdade, defendam os mais fracos, promovam a responsabilidade pessoal e social. Oro para que os ímpios não prevaleçam e se enriqueçam às custas dos mais fracos. Oro para que a verdade, mesmo que desagradável, seja o destino que este governo busca. Oro para que privilégios, mesmo sendo legais do ponto de vista jurídico, mas abusivos em termos de justiça, sejam revistos.

Oro por você e por mim, para que nossa justiça pessoal ultrapasse em muito a dos fariseus. Que nossa vida pessoal, familiar, profissional etc. glorifique a Deus por estar alinhada com sua vontade. Oro para que aqueles que nos acusam por sermos cristãos fiquem sem argumentos ao observar a correção de nosso caminhar.

Oro para que este governo promova a paz. Não uma paz de conivências aos injustos, mas uma paz profunda, em que o povo possa sentir-se seguro. Onde a violência seja repreendida, onde a hostilidade não ganhe dividendos. Com isso não estou falando apenas do projeto do desarmamento, pois tenho assistido atitudes de extrema violência e hostilidade em ambientes totalmente desarmados. Oro por um governo que abandone a postura de campanha sem abandonar suas promessas de campanha. Oro por um governo que consiga aglutinar nossa nação tão diversa sob algumas bandeiras, que eu creio, todos defendem.

Oro por você e por mim, para que nossos corações estejam em paz. Oro para que nossos relacionamentos, naquilo que depender de nós, estejam em paz. Oro para que “a paz de Deus, que excede todo o entendimento”, guarde “o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus” (Filipenses 4.7).
Oro por um governo que abandone a postura de campanha sem abandonar suas promessas de campanha.
Por fim, oro por alegria. Curiosamente, a expressão traduzida por alegria não se refere a uma alegria tumultuosa, como a de um estádio de futebol. Nos escritos de Paulo essa alegria está sempre conectada com a esperança que nos aguarda. Assim, a expressão poderia ser traduzida como contentamento ou satisfação. Oro, então, por um governo que, com base em um projeto de longo prazo (nenhum projeto que valha a pena será de curto prazo), sacrifique o agora pelos benefícios que virão. Oro por um governo que promova a satisfação, não de conquistas rápidas e passageiras, mas a satisfação de realmente construir um país diferente.
Oro mais uma vez por você e por mim, para que nós também estejamos satisfeitos e felizes com o que Deus nos tem dado. Oro para que o espírito consumista de nossa era não contamine tanto nossos coração a ponto de termos pastores e teólogos exigindo de Deus bens e posses. Oro para que sejamos marcados por contentamento, copiando a atitude do apóstolo Paulo: “Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade” (Filipenses 4.12b).


Daniel Lima foi pastor de igreja local por mais de 25 anos. Formado em psicologia, mestre em educação cristã e doutorando em formação de líderes no Fuller Theological Seminary, EUA. Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida por 5 anos, é autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores.

https://www.chamada.com.br/mensagens/como_orar_pelo_novo_presidente.html


27 de dezembro de 2018

Jesus pode subir num pé de goiaba?




Daniel Lima

Reflexão sobre a campanha contra a futura ministra dos Direitos Humanos, a sra. Damares Alves, e o que os cristãos devem aprender e lembrar com isso.

Nas últimas semanas, mesmo após o resultado das eleições presidenciais, vejo um Brasil ainda muito dividido. Há pessoas que têm promovido ainda mais a polarização, tanto de um lado como de outro. O argumento da esquerda é mostrar como o presidente eleito já demonstra que o seu governo será o pior desde, talvez, o início do Brasil República. Já os apoiadores do presidente eleito vibram com cada passo, alegando que cada um comprova o momento ímpar que estamos e vamos viver como nação. É óbvio que temos e devemos ter pontos de vista diversos e conflitantes. Nem estranho muito a vibração a favor ou contra. O que tem me chocado é a hostilidade e a baixeza dos argumentos nesta discussão.

Quero tratar da atual e gritante campanha contra a futura ministra dos Direitos Humanos, a sra. Damares Alves. No entanto, por reconhecer que este tipo de ataque não é prerrogativa da esquerda, quero ao menos mencionar a deplorável campanha contra a deputada Maria do Rosário. Muito embora eu tenha profundas divergências com as opiniões desta personagem política, a exposição de fotos de sua filha menor de idade em condições de abuso de substância e talvez desequilíbrio, além de ser criminoso, não contribui para nenhuma discussão, mas unicamente para acirrar o ódio. Será que quem posta fotos assim acredita que sua família está acima desses dramas? Na verdade, essa técnica de destruir reputações para invalidar posições é tão antiga quanto a política e representa o que há de pior nos relacionamentos humanos. A estratégia é ridicularizar a pessoa que apresenta uma posição contrária para desta forma anular qualquer pretensão de validade em seus argumentos.

No caso da sra. Damares Alves, esse padrão foi seguido à risca. Muito embora todos saibam que a escolha de ministros é prerrogativa do presidente eleito, é natural que muitos discordem da indicação dessa senhora para esse cargo. Mas causa uma certa surpresa o tom das críticas, pois tem-se a impressão de que esta senhora é a primeira pecadora a ser conduzida em um panteão de santos. Infelizmente, pessoas das mais variadas – e às vezes questionáveis – qualificações já ocuparam esses postos sem tanta crítica. É também natural que pessoas queiram veicular sua discordância. O que tem chocado muitos é a hostilidade e mesmo a crueldade dos argumentos.

O ponto principal dos ataques é a declarada fé da futura ministra. No centro da campanha de destruição da reputação está seu relato sobre um momento especial em que, aos 10 anos de idade, após uma experiência de anos de abusos sexuais perpetrados por um membro adulto da família, ela decide tirar a própria vida. De posse de um vidro de veneno, ela sobe em uma goiabeira e, enquanto estava criando coragem para o ato, tem uma visão em que Jesus sobe na goiabeira e a convence a não tirar a própria vida. Essa experiência, nas palavras dela, fez com que ela não só desistisse do suicídio, mas que assumisse uma postura de enfrentamento na vida.

Para a grande maioria dos cristãos, inclusive eu, essa história é, sim, plausível, pois cremos em um Deus que intervém na história. Se ele fez com que um jumento falasse, por que não subir num pé de goiaba? Cremos em um Deus que se fez humano e entrou na história para interagir conosco. É exatamente isso que comemoramos no Natal. Essa é uma história relatada por uma menina abusada e traumatizada quanto ao seu enfrentamento de uma experiência paralisante e deformadora da alma. O mínimo que um leitor honesto teria de admitir é que essa experiência (imaginária ou não) levou esta menina a ressignificar sua experiência de abuso e construir um novo elemento fundamental em sua identidade: seu valor pessoal. Tendo lidado com muita gente que sobreviveu a abusos, minha oração é que todas as crianças abusadas possam passar por experiências que as levem ao mesmo resultado.
Cremos em um Deus que se fez humano e entrou na história para interagir conosco. É exatamente isso que comemoramos no Natal.
Reconhecidamente, há muitos pontos que alguém poderia (não estou convencido de que deveria...) discutir nessa história. Como uma menina conseguiu veneno? Será que ela ia mesmo tomar o veneno? Em sua conversa com Jesus, ela precisava falar o que falou? E, finalmente, era mesmo Jesus? No entanto, todas essas perguntas, embora curiosas, são irrelevantes para um fato crucial da história: uma menina abusada pensa em tirar a própria vida, mas após uma experiência decide que vale a pena viver e enfrentar o abuso. Muito mais relevante do que as perguntas alistadas acima são outras perguntas que se impõem: como a família nunca percebeu o abuso e protegeu a menina? Como um líder religioso consegue justificar ou racionalizar uma prática assim? Como a família ou a comunidade da igreja nunca promoveu um ambiente em que ela pudesse procurar ajuda? Como nós, enquanto sociedade, ainda permitimos que isso ocorra entre nós? O que temos feito como sociedade para que crianças abusadas sejam apoiadas e que abusadores sejam enfrentados e tratados? Curiosamente, essas são as perguntas que a futura ministra se propõe a debater, mas que a mídia não parece tão interessada em discutir; afinal, expor alguém ao ridículo parece trazer maior popularidade.

Há relatos anteriores à sua indicação para o ministério onde ela afirma que “é hora de a igreja governar”. O contexto é inteiramente outro, mas pessoalmente essa afirmação revela um descuido político e uma imprecisão bíblico-teológica. Descuido político, pois, exceto se a sra. Damares realmente crê num governo religioso, qualquer governante deve exercer sua função para todos, religiosos ou não. Muito embora eu tenha convicções cristãos muito claras, não posso forçá-las por força de lei sobre os outros. Esse modelo político e religioso já foi tentado, com resultados muito decepcionantes.

A imprecisão bíblico-teológica dá-se porque um governo da igreja sobre um país não se encaixa em quase nenhuma visão teológica, exceto por uma posição pós-milenista, que acredita que a igreja triunfará até a vinda de Cristo, posição defendida por poucos teólogos hoje em dia. A grande maioria do povo evangélico entende que a função da igreja nesta era é promover o reino até que Cristo retorne. A perspectiva pré-milenista é a de que haverá um período em que Cristo reinará por mil anos na Terra e nós, a igreja, governaremos com ele. Isso, no entanto, só ocorrerá após o período de tribulação e a base do governo na terra não será a autoridade da igreja, mas a autoridade pessoal de Cristo. Uma leitura introdutória excelente nesta área é o livro escrito por Ron Rhodes, A Cronologia do Fim dos Tempos.
Existe também uma acusação de que uma ONG fundada por esta senhora está enfrentando um processo na justiça por sequestro de crianças e outros atentados contra indígenas. Sou leigo no assunto, mas investi algum tempo lendo a respeito. As acusações são de grupos ideológicos e ainda carecem de qualquer comprovação. É evidente, mesmo ao leitor casual, que há um gigantesco conflito de interesses com respeito a como lidar com povos indígenas e, nesse terreno, as ideologias se manifestam de modo hostil, polarizando a discussão. Assim como a ONU parece sempre ser parcial (assunto para outro artigo), as ONGs que militam na causa indígena parecem, em muitos casos, mais comprometidas a validar sua ideologia do que realmente buscar o bem-estar dos índios. Meu contato com vários missionários com anos de atuação junto a comunidades indígenas confirma os relatos da ONG fundada pela futura ministra dos Direitos Humanos. Conheci uma jovem indígena que foi salva do infanticídio e, em contraste, já ouvi pessoalmente antropólogos alegando que não podemos interferir em casos de infanticídio, pois isso seria afetar suas culturas... Pessoalmente, não sei se a sra. Damares fará um bom trabalho no ministério ou não. Parece falar com convicção e sua experiência de vida lhe dá paixão. Percebo em seu discurso alguns exageros com os quais não concordo, mas é definitivamente cedo demais para qualquer parecer conclusivo.

Novamente, importa lembrar que tanto agentes da esquerda como da direita usam o mesmo método de invalidar argumentos: atacando a reputação de quem se posiciona. Na verdade, essa prática é parte do ser humano quando acuado em uma discussão. Lembro-me então de uma passagem que pode nos instruir em nossas discussões. É a palavra do apóstolo Paulo em Efésios 4.31-32:
31Livrem-se de toda amargura, indignação e ira, gritaria e calúnia, bem como de toda maldade. 32Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus os perdoou em Cristo.
O apóstolo está falando a cristãos, mas é curioso o contraste estabelecido. De um lado amargura, indignação, ira, gritaria, calúnia e maldade; do outro bondade, compaixão e perdão. Estas campanhas de destruição da reputação parecem se encaixar integralmente no primeiro verso. De especial interesse são duas palavras selecionadas. A primeira é “gritaria”: a palavra no original trazia um significado de tumulto, de clamores de uma multidão. Não há comunicação nesse contexto, sendo perdida qualquer esperança de compreender ou ser compreendido; aquele que apela para a gritaria deseja apenas sobrepujar o outro pela força da sua voz.
Jesus não evitava confrontações, mas não praticava a blasfêmia.
A segunda palavra de interesse é “calúnia”. No original, é a palavra que dá origem à palavra “blasfêmia” em português. Em geral, tanto no AT como no NT, blasfêmia é dirigida contra Deus. Nesse caso se refere a um falar arrogante e depreciativo de outra pessoa. Ao lembrarmos que toda pessoa (esquerda ou direita, ativista LGBT ou militante neonazista) traz em si a imagem de Deus, temos de concluir que desprezo por pessoas vai em direta oposição ao caráter de Deus. Tiago expressa este conceito com clareza em Tiago 3.9: “Com a língua bendizemos o Senhor e Pai e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus”. Quando atacamos o caráter ou a reputação de uma pessoa estamos ofendendo a Deus de modo muito pessoal.

Em contraste, o verso 32 fala de bondade, compaixão e perdão. Nossa comunicação deveria ser marcada por essas atitudes. Às vezes vejo cristãos atacando pessoas como se eles fossem nossos inimigos. É verdade que muitas vezes eles se declaram dessa maneira, mas a Palavra é clara quando diz que não lutamos com carne ou sangue, mas com poderes espirituais. Isso não nos impede de tomarmos posições, mesmo posições que irritem outras pessoas. Jesus não evitava confrontações, mas não praticava a blasfêmia.

Minha oração é que sejamos exemplos em meio a uma época e uma geração perdida. Que meu falar, teu falar, nosso falar seja ungido num bálsamo de amor. Que nossas discussões evitem a destruição de reputações como estratégia de argumentação. Os que me conhecem sabem que considero fundamental a tomada de posições. Por vezes, confesso, também tenho caído nos ataques pessoais, mas ao olhar a Palavra não só reconheço meu erro como também vejo em minha vida e em nossa sociedade os efeitos de discussões que abandonam o tema e partem para ataques pessoais. Isso não tem nenhuma relação com a promoção do reino.

Quanto à nossa irmã Damares, eu oro para que ela exerça sua função com graça, sabedoria e entendimento muito além das capacidades que ela já tem. Oro para que os direitos dos mais fracos sejam defendidos sem que os mais fortes sejam injustiçados. Oro para que a justiça brilhe mais e mais. E, por fim, ao passar por goiabeiras, abacateiros ou qualquer outro lugar que meu Senhor escolher, quero estar atento, pois gosto muito de me encontrar com meu Senhor Jesus!



Daniel Lima foi pastor de igreja local por mais de 25 anos. Formado em psicologia, mestre em educação cristã e doutorando em formação de líderes no Fuller Theological Seminary, EUA. Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida por 5 anos, é autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores.

https://www.chamada.com.br/mensagens/jesus_pode_subir_num_pe_de_goiaba.html


30 de novembro de 2018

O Estado é laico graças a Deus

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É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I – Estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;
(Art. 19 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988) 


Estado laico: definição e surgimento


O desenvolvimento do conceito de Estado laico como fato moderno depende fundamentalmente do cristianismo. Ele tem suas raízes especialmente no movimento reformado do século XVI e XVII. O reformador João Calvino, por exemplo, afirmava a distinção entre reino espiritual e reino político da seguinte forma: “Temos que considerar cada uma dessas coisas em si, segundo as distinguimos: com independência uma da outra”.[1] Para Calvino, há leis específicas que regem cada uma dessas áreas; cada um desses reinos é constituído por Deus para governar aspectos distintos da vida.

Naquela época, o poder papal mantinha um duplo mandato, político e religioso. Foram os reformadores que efetivamente colocaram em xeque essa união. Compreendiam que Deus é soberano sobre os dois mandatos, mas ambos são distintos por lidarem com aspectos diferentes da sociedade.

Além disso, o movimento reformado foi fundamental para a formação futura das democracias republicanas modernas, como, por exemplo, a Inglaterra e os Estados Unidos. Visto que um governo totalitário busca unir as duas esferas de poder (espiritual e política), transformando o Estado em religião, a separação desses poderes é um dos grandes empecilhos para o totalitarismo. Por causa disso, o cristianismo sempre será um grande inimigo das ditaduras e dos governos totalitários.

O Brasil é um país de grande maioria cristã. A nossa constituição reconhece isso quando afirma que ela foi promulgada “sob a proteção de Deus”. Essa expressão tem grande fundamento histórico, mas é preciso reconhecer que há uma explicação teológico-filosófica por trás dela.

Foram justamente os adoradores do Deus cristão que asseguraram as liberdades elencadas na constituição. Somente em uma sociedade influenciada por uma cosmovisão que acredita em um Deus pessoal, triuno e distinto da natureza é possível vislumbrar os aspectos morais absolutos que regem essa sociedade, independente da relação direta com esse Deus.

Em outras palavras, os conceitos de dignidade da vida, democracia e laicidade que conhecemos estão amparados pela noção de uma humanidade criada com dignidade inerente, moralmente livre e plural. Não é necessário acreditar no Deus cristão para ser beneficiado por essa sociedade, mas uma vez que seus fundamentos basilares são retirados, a consequência será a sua ruína.

Por isso, com exatidão, definiu o ilustríssimo jurista Dr. Ives Gandra Martins: “Estado laico é aquele em que as instituições religiosas e políticas estão separadas, mas não é um Estado em que só quem não tem religião tem o direito de se manifestar. Não é um Estado em que qualquer manifestação religiosa deva ser combatida, para não ferir suscetibilidades de quem não acredita em Deus.” [2]

Laicismo vs. Estado laico

Em seu livro Imaginação Totalitária, o filósofo Francisco Razzo trata da imaginação totalitária como tendo o seu ápice no desejo último de “glorificar o poder do Estado como detentor do monopólio não do uso legítimo da violência, mas do monopólio simbólico da verdade absoluta e da imortalidade, portanto, da experiência última da ordem final e, consequentemente, da decisão de vida e a morte”.[3]

A origem disso está na crença da autonomia da razão, que pressupõe ser ela capaz de dar conta da realidade com neutralidade e independência das crenças religiosas.[4] Essa suposta razão terá o Estado como manifestação máxima e, consequentemente, o Estado será a expressão mais elevada da sociedade. Ele será o único capaz de proporcionar ao indivíduo as suas liberdades, devendo assim, intervir na família, relações comerciais, educação e outras instituições, como o critério (supostamente) racional que dá significado e coerência ao todo da sociedade.[5]

É exatamente isso que ocorre no chamado laicismo, quando a religião é relegada à vida privada e o Estado não só não é religioso, mas também deve coibir as manifestações públicas religiosas. A importância da religião é definida pelo indivíduo em sua vida privada, enquanto que, para o Estado, é tratada negativamente, portanto não tem espaço público. Esse laicismo, herdado pelo Iluminismo e Revolução Francesa, pais de todos os governos totalitários da modernidade, é aplicado na França.

Brasil e Estado laico

No Brasil, por outro lado, se reconhece o valor da religião para o indivíduo e para a própria fundação do Estado. Não é à toa que símbolos cristãos podem ser encontrados em repartições públicas, num reconhecimento de que o Estado brasileiro é devedor da religião cristã. Nada disso afeta a laicidade adotada pelo Brasil, pois a manifestação religiosa não é somente um direito do cidadão, como também é um aspecto da humanidade.

Isso pode ser atestado com o artigo 19 da Constituição. Esse artigo salvaguarda o direito ao culto, ainda que esclareça que o culto nunca deve ser estatal. De outra sorte, o Estado poderá, quando achar por bem, ter uma aliança de colaboração com os grupos religiosos para o interesse público. Isso significa que as igrejas podem ser ouvidas para ajudar o Estado a administrar determinadas áreas.

Essa “humildade” estatal é fundamental para a distinção entre Estado e Igreja. Isso porque o Estado não estaria se sobrepondo sobre as instituições eclesiásticas, as famílias, as relações comerciais, etc. O Estado é, ao invés disso, uma esfera de soberania distinta (para usar o conceito do pastor holandês Abraham Kuyper), administrada por leis próprias, tal como outras instituições.

A recente discussão sobre a oração incluída no primeiro ato de pronunciamento do presidente eleito Jair Messias Bolsonaro[6] precisa levar em consideração a liberdade religiosa e de manifestação, mesmo de uma figura pública. A oração em nada afeta a laicidade do Estado; pelo contrário, a garante. Ao demonstrar que ele, o presidente eleito, está submisso a Deus e comprometido com a verdade da sua Palavra, Bolsonaro faz menção ao seu compromisso com a democracia, a justiça e o bem-estar do cidadão. Por meio da oração, o presidente eleito está definindo o Estado como uma das instituições da sociedade, mas não a mais importante.

[1] CALVINO, João. Institutas. 3.XIX.15.
[2] Disponível em: https://www.conjur.com.br/2012-nov-26/ives-gandra-estado-laico-nao-estado-ateu
[3] RAZZO, Francisco. Imaginação Totalitária: Os Perigos da Política como Esperança. São Paulo: Record, 2016, p. 241.
[4] Para ver a refutação desta crença veja DOOYEWEERD, Herman. Crepúsculo do Pensamento Ocidental. Brasília: Monergismo, 2018.
[5] Veja mais sobre isso em DOOYEWEERD, Herman. Estado e Soberania: Ensaios sobre Cristianismo e Política. São Paulo: Vida Nova, 2014, p. 39-96.
[6] Disponível em: https://www.revistaforum.com.br/cria-um-pouco-de-preocupacao-diz-miriam-leitao-sobre-oracao-de-bolsonaro/


Por: Ronaldo Vasconcelos. © Voltemos ao Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com. Todos os direitos reservados. Original: O Estado é laico graças a Deus.

Ronaldo Vasconcelos é ministro presbiteriano, pastor auxiliar na Igreja Presbiteriana Paulistana. É graduado em teologia pelo Seminário Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição e mestrando em Novo Testamento pelo Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper. É casado com Hendrika e pai de João Gabriel, Samantha Elizabeth e Chloe Helena.



22 de setembro de 2018

O que está em jogo é mais do que uma eleição: é o futuro da nossa liberdade de consciência


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Não tenho dúvida alguma de que mais do que nunca, todos nós, cristãos ou não, mas pessoas que acreditam na importância dos nossos valores, cultura e tradições herdadas há centenas de anos, devem estar preocupados com os resultados das eleições esse ano. Temos muitos motivos para isso e eles estão por todos os lados, de forma que restando pouquíssimos dias para o 7 de outubro, quando haverá o primeiro turno das eleições, nunca é demais reforçar o que realmente está em jogo nessa campanha.

A igreja cristã vem tendo a sua liberdade religiosa ameaçada desde quando alguns grupos, motivados por ideologias de esquerda, nos taxaram de “intolerantes”, “fundamentalistas”, “fascistas” e até de “promotores do ódio”. Qualquer cidadão minimamente bem informado sabe que essas pechas não passam de um reflexo do que esses acusadores realmente são. Eles nos acusam do é a essência da ideologia deles, o que não é surpresa alguma para quem conhece um pouco da história comunista e suas consequências nos países onde se instalou.

Apesar de o Brasil não ser dominado por um sistema político comunista na forma de leis, administrativamente falando, ele é culturalmente influenciado por essa ideologia. Das escolas do ensino fundamental ao superior, tal perspectiva tem se intensificado nos últimos 16 anos a níveis assustadores. Com o apoio da grande imprensa, em sua maioria motivada pelo relativismo moral compatível com as ideologias de esquerda, que são anticristãs, a sociedade tem recebido um volume constante de informações que visam reorientar o entendimento acerca de família, liberdade religiosa (expressão), direito à vida e principalmente sexualidade.

O tema sexualidade não é um dos mais debatidos por acaso. Isso acontece porque a motivação sexual humana é intrínseca a sua natureza e diz respeito a sua identidade. Sigmund Freud não estabeleceu a “pulsão sexual” como ponto de partida de toda a sua teoria psicanalítica por mero capricho. Ele sabia que esse é um ponto central no desenvolvimento comportamental e psicológico humano desde que o mundo é mundo.

Modificar o entendimento que temos sobre sexualidade significa alterar a constituição do próprio ser humano, consequentemente toda a sua cultura. É por isso que vemos exposições, por exemplo, onde homem pelado é tocado por criança, e de pinturas que destacam a pedofilia e zoofilia, aberrações sexuais, chamas de “arte”.

Quando nós, cristãos, que também somos profissionais de saúde mental, alertamos sobre os perigos da reorientação sexual humana, combatendo entre outros a ideologia de gênero, e apelamos para que a igreja nos dê mais espaço para falar sobre isso, é porque estamos cientes das consequências que virão sobre a sociedade caso esse e outros temas correlacionados são forem debatidos corretamente, prevenindo um colapso cultural mais na frente.

Mas, a verdade é que não adianta o confronto por meio do discurso, apenas. Precisamos tomar algumas atitudes para impedir que esse mal avance. O Brasil atravessa uma grave crise política e econômica, mas sua origem não está na má administração pública. Ela está na moralidade, que por sua vez é fruto do que está no coração humano. A má gestão e corrupção são consequências de um governo que não teme a Deus, e isso não é uma frase de efeito. Não é pecha de campanha eleitoral para conquistar o público cristão. Isso é ensinamento bíblico (Provérbios 9:10; Salmos 33:12; 2 Crônicas 7:14), de forma que o cristão possui a obrigação de ter isso como regra para decidir o seu voto.

O que está em jogo vai muito além das eleições, porque o candidato que você escolhe representa os valores que ele defende, e o que ele defende vai se converter em projetos de lei que poderão ser bons ou ruins para todos nós. Você já conhece os valores morais do seu candidato? Sabe quais são suas alianças políticas? O que ele já defendeu no passado? Quais projetos foi contra ou favorável? Se conhece, você já pensou quantos deles são compatíveis com os princípios cristãos?

Assim, os líderes das igrejas possuem o dever de contribuir para essa conscientização, porque ela faz parte da nossa cidadania. Você pode fazer isso simplesmente se posicionando abertamente em suas redes sociais, na roda de conversa, na pizzaria, etc. E devemos fazer isso tendo como referência o Evangelho de Cristo, que está acima de qualquer ideologia criada pelos homens. Ele, Cristo, é a nossa referência, ponto de partida pelo qual filtramos partidos, candidatos, propostas e tudo o que diz respeito à sociedade.

Portanto, por isso afirmo que numa eleição o que está em jogo é muito mais do que o poder político, paixões partidárias e personalidades. É o futuro da nossa liberdade de consciência diante de Deus e do mundo. 


https://colunas.gospelmais.com.br



7 de setembro de 2018

Como construir um país mais justo


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Por William Lane


Celebrar a independência do Brasil em início de campanha eleitoral, em ambiente de luta contra a corrupção e em meio a graves problemas sociais e econômicos deve nos fazer não só desejar um país mais justo, mas, sobretudo, participar ativamente da construção de uma nação mais justa.

Mas como fazer isso se temos fama e, talvez, orgulho do ‘jeitinho’ brasileiro que, embora possa ser visto como símbolo de criatividade e flexibilidade na solução de problemas difíceis, tem uma conotação negativa como esperteza, malandragem e desrespeito às leis?

De acordo com uma pesquisa de 2013 da Fundação Getúlio Vargas, que lançou o Índice de Percepção do Cumprimento da Lei, 79% dos brasileiros optam pelo ‘jeitinho’ em vez de seguir às leis, apesar de 74% acharem que a lei deva ser cumprida mesmo quando não as consideram corretas.

Essa postura em relação à lei nos leva, paradoxalmente, a esperar altíssimo padrão moral dos outros, mas pouco compromisso pessoal em combater a ilegalidade e a corrupção próximas de nós, ou as nossas próprias práticas ilícitas. Desejamos governantes íntegros e justos desde que não sancionem leis contrárias aos nossos interesses.

No meio cristão, boa parte do debate teológico sobre a lei gira em torno do lugar da lei em nossa justificação perante Deus e, portanto, na oposição da lei à fé, ou das obras da lei à graça do evangelho. O Novo Testamento nos diz que toda a lei se cumpre em Cristo, assim não vivemos mais debaixo da lei e, sim, da graça. Isso, porém, pode nos levar a um antinomianismo, isto é, à ideia de que por meio da graça o cristão não tem mais a obrigação de obedecer às leis do Antigo Testamento ou qualquer outra lei religiosa.

Apesar da forte ênfase na graça e na justificação pela fé, os reformadores do século 16 procuraram evitar o antinomianismo classificando a Lei Mosaica em lei moral, lei cerimonial, e lei civil ou humanitária. A lei cerimonial corresponde a todas as instruções sobre os sacrifícios que apontavam para Cristo. Assim, o sacrifício de Cristo na cruz cumpre toda a finalidade da lei cerimonial. As leis civis são particulares ao contexto histórico dos israelitas desde a saída do Egito até a vida na terra prometida, por isso, também, não se aplicam à sociedade moderna. Por fim, a lei moral contida principalmente nos Dez Mandamentos é válida para todos os tempos, portanto, ainda deve ser obedecida.

Contudo, por mais didática que seja essa classificação, a Bíblia propriamente não faz essa distinção. Não há exatamente uma distinção entre lei civil e lei religiosa na Bíblia. Aliás, todo o Pentateuco, incluindo a narrativa, é chamado Torá, isto é, instrução. Leis de culto, de ordem social, de trato com o próximo e com a propriedade do outro estão associadas à vida santa na terra que Deus dá.

Por isso, vejo dois aspectos das leis do Pentateuco que podem nos auxiliar na construção de uma sociedade mais justa.

O primeiro aspecto é o contexto narrativo das leis. Os Dez Mandamentos e as leis que se seguem são dados ao povo que saiu do Egito pelo “braço forte” do Senhor. A introdução dos Mandamentos declara, “Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão” (Êx 20.2). A lei é dada no contexto da graça, isto é, depois de Deus já manifestar a sua graça tirando o povo da escravidão. A lei é dada para um povo liberto, por isso, tem a função de instruir o povo liberto como viver sob o senhorio de Deus. Mesmo no Antigo Testamento, a lei não tinha a função de tornar alguém justo a fim de receber a salvação ou a promessa de vida abundante. A lei determina como um povo alcançado pela graça irá viver com o seu Deus.

O segundo aspecto que me chama atenção é a abrangência da lei. As leis incluem todas as áreas da vida desde o culto a Deus, os sacrifícios aceitáveis e as obrigações morais, até a dieta, o cuidado pessoal com a saúde e higiene, as relações sociais, o trato com escravos e estrangeiros, o pagamento de dívidas, o cuidado com a terra e a propriedade pessoal e alheia, incluindo como se livrar de mofo da parede e como cultivar e colher frutas e grãos. Essas leis não estão separadas em códigos legais humanitários, de saúde pública, ambientais, dietéticos, sociais, trabalhistas etc. Elas estão todas mescladas e o que as une é a presença de Deus no meio do povo. Elas refletem uma cosmovisão que delimita o tempo, o espaço, os seres vivos e as coisas como sagradas, puras e imundas ou profanas. O espaço, tempo e coisas profanas representam distância de Deus e morte. Tudo que afirma a vida é realizado na presença de Deus e está relacionado ao culto e à aliança com Deus.

Não há como separar vida religiosa de vida secular. Esse aspecto será lembrado pelos profetas que condenam uma vida espiritual alienada da responsabilidade social. A Bíblia A Mensagem expressa bem a queixa de Deus em Isaías 1.13-17, “Chega de joguinhos religiosos! Não suporto mais essa encenação. Conferências mensais, agenda sabática, encontros especiais, reuniões, reuniões e mais reuniões – não aguento ouvir falar em reunião … Estou cansado de religião, de tanta religião, enquanto vocês continuam pecando … Sabem por quê? Porque vocês têm trucidado pessoas, e suas mãos estão cheias de sangue”.

O problema de classificar as leis do Pentateuco em cerimoniais, civis ou humanitárias e morais é que nos faz pensar que apenas as leis morais permanecem válidas. No entanto, as leis cerimoniais e humanitárias representam a aplicação da lei moral. Assim, Êxodo 20.1-21 contém os Dez Mandamentos. Logo em seguida, de Êxodo 20.22 até 23.33 há diversas instruções que refletem como os Dez Mandamentos devem ser aplicados. E tudo isso está dentro do contexto do estabelecimento da aliança de Deus com o seu povo iniciado no capítulo 19 e finalizado no capítulo 24. Ainda que as leis retratem uma sociedade agrária antiga, o princípio delas ainda é pertinente e válido para a sociedade moderna, sobretudo, pelo fato de serem abrangentes e estarem interligadas à relação com Deus.

Se quisermos um país mais justo, precisamos ter uma visão holística da vida. Como cristãos, precisamos entender, sim, que a vida religiosa e a vida civil caminham juntas, por isso, construir um país justo implica em praticar a justiça e a santidade em todas as dimensões da vida.



William Lacy Lane (billy)
Pastor presbiteriano, doutor em Antigo Testamento e professor acadêmico da Faculdade Teológica Sul-Americana, em Londrina (PR).



27 de agosto de 2018

Eleições e Escolhas Cristãs


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Daniel Lima 


No dia 9 de agosto tivemos o primeiro debate televisionado com os candidatos à presidência, que foi talvez uma prévia dos vários confrontos que ainda ocorrerão. Olhei praticamente o debate todo, e saí com certo nível de frustração. Eu sei que não é um debate que vai definir candidatos, mas sinceramente esperava maior clareza. O que vi, com exceção de dois radicais, foi caracterizado por discursos mornos, declarações generalizadas e atitudes tão polidas quanto inócuas. No entanto, o tempo não para e o dia da votação se aproxima. Apesar de ser forte defensor da separação igreja-estado, sou também forte defensor de um sistema em que a população se manifeste quanto aos rumos de sua nação. Não por crer no enganador ditado “vox populi vox Dei” (a voz do povo é a voz de Deus), mas porque com muita frequência temos observado diferentes povos fazerem escolhas que, além de trazerem resultados catastróficos, definitivamente contrariam a vontade de Deus. Creio no modelo democrático pois creio que devemos arcar com as consequências de nossas escolhas, e um sistema onde alguém decide por mim me daria o direito de me isentar de qualquer culpa ou responsabilidade.

Tampouco creio em movimentos de anular votos ou votar em branco, buscando se eximir de participação. Ambos me parecem tentativas fúteis de fugir de escolhas, sendo que não podemos fugir de seus resultados. Com isso recai sobre nós a difícil tarefa de escolher em quem votar. Refleti então sobre quais princípios bíblicos podemos usar em uma situação assim. Embora muito tenha sido escrito defendendo uma ideologia contra outras, eu gostaria de tentar encontrar alguns princípios gerais, sobre os quais, instruídos pela Palavra, possamos concordar. Embora existam muitos, gostaria de destacar cinco deles:

1. Ore, ore, ore

Certamente é um princípio muito afirmado, mas infelizmente pouco praticado. Foi com alegria que vi a igreja da qual participo assumir um compromisso de uma campanha de oração pelas eleições. Cabe lembrar o texto de 2Crônicas 7.14:
Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar e orar, buscar a minha face e se afastar dos seus maus caminhos, dos céus o ouvirei, perdoarei o seu pecado e curarei a sua terra.
Não importa se o candidato roubou muito ou pouco. O fato de ter roubado revela seu caráter. 

O processo proposto para todo aquele que se identifica como seguidor de Jesus é em primeiro lugar “se humilhar” e, portanto, não defender de modo áspero, arrogante ou violento suas convicções político-partidárias. E, em segundo lugar, “orar”, clamar a Deus reconhecendo-o como aquele que tem o coração do rei em suas mãos. Cremos em um Deus soberano que tem processos assim sob seu controle, e, mesmo quando indivíduos iníquos assumem o governo, podemos confiar que ele vai atravessar este vale escuro ao nosso lado. Em terceiro lugar, “buscar a face de Deus”, buscar conhecer a Deus, buscar conhecer sua vontade e alinhar-se com ela, buscar promover o que ele ama e não o partido que me agrada. Por fim, “se afastar dos seus maus caminhos”. Não podemos orar esperando seu favor e continuar desprezando Deus e sua vontade. Não podemos orar esperando respostas enquanto em nossas vidas seguimos na direção oposta daquilo que ele propõe como caminho de vida. Portanto, não ore para que seu candidato favorito seja eleito, ore para que Deus tenha misericórdia de nossa nação, ore para que o seu plano se realize, ore para que seja eleito aquele que vai cumprir os seus propósitos nesta época para nosso país. Paulo, em 1Timóteo 2.1-2, escreve:
Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ação de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade.
O objetivo de nossa oração é que tenhamos vidas tranquilas e pacíficas, com toda a devoção, com liberdade para proclamar aquele governo que realmente vai resolver os problemas – o reino de nosso Senhor Jesus Cristo. Ore para que seu voto se alinhe com a vontade de Deus.

2. Fiel no pouco, fiel no muito

Um segundo princípio ao escolher nossos governantes é aquele apresentado na parábola dos talentos. O que torna alguém corrupto não é a quantia que se desvia, mas o ato de tomar para si aquilo que não lhe pertence. Lucas registra as palavras de Jesus em seu evangelho, no capítulo 16, verso 10:
Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito, e quem é desonesto no pouco, também é desonesto no muito.
Sendo assim, não importa se o candidato roubou muito ou pouco. O fato de ter roubado revela seu caráter. Investigue seu candidato, verifique se ele ou ela são marcados por um histórico de corrupções ou se, pelo contrário, o que mais se sobressai é a ausência das mesmas.

3. Amar o que Deus ama e detestar o que Deus detesta

Um dos valores fundamentais da fé cristã é que, ao caminharmos com ele, a própria vida de Cristo começa a inundar nosso viver. Com isso, começo a descobrir interesses e paixões que não me são naturais, mas evidentemente sobrenaturais, de forma que não é mais o meu querer que dirige minha vida, mas a vontade de Deus. O apóstolo Paulo descreve isso em Gálatas 2.20:
Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim.
Examine questões como família, princípios morais, ideologia de gênero, justiça social, amparo dos desamparados.
Examine a proposta dos candidatos quanto aos valores cristãos. Ele ou ela defendem o que Deus ama? Ele ou ela se posicionam pessoalmente, e em suas propostas, de acordo com aquilo que Deus propõe como importante? Examine questões como família, princípios morais, ideologia de gênero, justiça social, amparo dos desamparados. Certamente o futuro presidente terá de governar cristãos e não cristãos, portanto não devemos esperar uma plataforma exclusivamente cristã. Ao mesmo tempo, devemos nos opor à iniquidade. Qualquer governo que, por exemplo, tenha como plataforma a desconstrução da família está promovendo abertamente a iniquidade. O apóstolo Tiago escreve em sua carta, no capítulo 4, verso 4:
Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.
Cuidado, então, com partidarismos. Cuidado com propagandas e discursos que soam tão razoáveis e tão transformadores, mas que ao mesmo tempo promovem causas que Deus odeia. Não podemos sacrificar princípios cristãos para ganhar a amizade com o mundo.

4. Caráter e competência
Para Deus não há dicotomia quanto a caráter e competência.
O que seria melhor: um governante de bom caráter mas incompetente, ou um de mau caráter mas competente? A única resposta que faz sentido é: nenhum dos dois! A Palavra torna evidente que Deus capacita aqueles que ele chama para as mais variadas funções. Na história de José lemos várias vezes que que ele prosperava porque a mão do Senhor estava com ele. Certamente ele tinha capacidade de governo, mas esta capacidade era baseada em seu caminhar íntegro. A lista de qualificações para líderes da igreja em 1Timóteo é essencialmente uma lista de aspectos do caráter e não só de competência. Para Deus não há dicotomia quanto a caráter e competência. Ao aconselhar Moisés a escolher os líderes do povo, Jetro afirma que as características destes líderes deveriam incluir tanto capacidade quanto temor a Deus. No contexto judaico e também cristão, o conceito de caráter está intimamente ligado ao temor de Deus, pois o indivíduo que assume um padrão moral e ético o faz a partir da compreensão de que há um Deus soberano ao qual cada um deverá prestar contas um dia. No texto de Êxodo 18.21 lemos:
Mas escolha dentre todo o povo homens capazes, tementes a Deus, dignos de confiança e inimigos de ganho desonesto. Estabeleça-os como chefes de mil, de cem, de cinquenta e de dez.
Ao escolher um candidato, não caia na armadilha de decidir entre caráter ou competência. Uma escolha assim é como decidir se você prefere morrer com fogo ou com água – no final, o resultado é o mesmo! Escolha candidatos que mostraram competência e, ao mesmo tempo, mostram caráter.

5. Evite votar em alguém apenas porque se diz cristão

Todos conhecemos pessoas muito dedicadas a Jesus, mas que não têm capacidade para gerir um negócio ou sequer suas próprias finanças. Infelizmente, alguns candidatos parecem crer que, por professarem ser cristãos, automaticamente estão qualificados para um cargo no governo. Olhe com muito cuidado estes candidatos. Primeiramente, seu argumento para ser seu escolhido é muito fraco. Não basta alguém ser cristão para governar uma cidade, estado ou país. O indivíduo precisa de conhecimento, capacidade e perfil para desempenhar estas funções. Em segundo lugar, o fato de se apresentarem como cristãos não significa que têm um procedimento íntegro. Todo leitor do Novo Testamento conhece a história de Ananias e Safira, que, sendo cristãos, tentaram promover uma imagem própria além da realidade. Eles tentaram mentir para os homens, mas na verdade mentiram para Deus. (Em nenhum momento o texto indica que eles não eram cristãos.) Finalmente, cuidado com candidatos que afirmam que vão defender os cristãos. Há duas razões para isso. Primeira, nosso protetor é Deus e não um governante cristão. Segunda, o que se espera de um governante é que seja justo, temente a Deus, e não alguém que defenda seguidores de uma fé acima dos demais.
Após considerar esses princípios, você talvez conclua que não há candidatos que preencham todas estas características. Isso pode muito bem ser verdade. Uma vez mais, importa aqui o discernimento. Reflita: qual dos candidatos mais preenche estas características? Qual deles vai refrear a iniquidade e promover a justiça? Qual deles, em sua percepção, vai lutar por aquilo que Deus ama? Minha oração é que eu, você e a igreja brasileira estejamos engajados neste processo, nos humilhando, orando, buscando a face do Senhor, nos desviando do mal e nos oferecendo como seus agentes para cumprir seu propósitos em nossa nação.


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