Daniel Lima
O novo presidente assumiu com grande apoio
e grande oposição. Não importa se você elegeu ou não este governante,
somos chamados a orar por nossos governantes (1Timóteo 2.1-2). Como orar
por este novo governo? E, ao mesmo tempo, como orar por nós mesmos
diante deste novo ano?
Ano novo, vida nova... será? Como muitos (quase todos os)
brasileiros, passei o momento da virada do ano com família e amigos.
Compartilhamos sobre o conceito do “sopro de Deus” em nossa vida no ano
que terminava. Não pude assistir a posse do novo governo, mas nos dias
seguintes li ataques daqueles que veem evidências da perversidade do
novo presidente. Sinceramente, não consigo perceber aquilo que eles veem
com tanta clareza. Fiquei igualmente triste ao ler elogios de um nível
quase messiânico ao novo presidente. Tampouco consigo ter o mesmo nível
de certeza de que devo colocar sobre ele toda a minha esperança.
Pessoalmente, resisto a um culto da personalidade deste ou de
qualquer outro governante. Este anseio por um caudilho, esta esperança
lançada sobre um governante que vai, por força de seus talentos,
personalidade ou mesmo “chamado divino” resolver todos os meus
problemas, aponta quão equivocados, superficiais e mesmo facilmente
manipuláveis nós somos. Qualquer avanço nosso como nação só vai ocorrer
por meio da intervenção divina e muito esforço e sacrifício coletivos e
individuais. Ao contrário de uma atitude popular que já foi chamada de
sebastianismo, Dom Sebastião não voltará da Batalha de Alcácer-Quibir
para nos libertar do jugo espanhol. Em última análise, como cristão que
busca compreender e viver a partir da Bíblia, minha esperança tanto
pessoal quanto para meu país está em um relacionamento íntimo e pessoal
com o Senhor Jesus. No entanto, torço por este governo e vou orar por
ele como orei pelos outros. Tenho uma pitada de esperança por ventos que
parecem diferentes (ênfase no “parecem”). Embora esperançoso, lembro-me
do texto do Salmo 146.3-4:
3Não confiem em príncipes, em meros mortais, incapazes de salvar. 4Quando o espírito deles se vai, eles voltam ao pó; naquele mesmo dia acabam-se os seus planos.
Dizem que muitas batalhas foram perdidas pois os generais perderam o
momento oportuno. Por temor ou falta de perspicácia, por falta de
informações ou arrogância, estes comandantes deixavam passar o momento
em que poderiam fazer os eventos mudar de curso. Com frequência, quando
se deram conta do erro, o tempo havia passado. Com certeza nosso
presidente vive um momento assim. Para usar uma analogia do futebol: é a
final do campeonato, o adversário vence por um gol e o relógio marca 45
minutos do segundo tempo, o goleiro está caído, o artilheiro tem a bola
nos pés na entrada da área. Um gol pode levar o jogo para a
prorrogação, dando ao seu time a chance da vitória; um chute para fora
encerra a partida e todas as esperanças, fazendo com que a longa
campanha se torne apenas mais um “poderia ter sido”.
O que separa nosso presidente de fazer diferença positivamente ou de
ser apenas mais um “poderia ter sido”? Para mim é o mesmo que separa
cada um de nós de realizar a obra de Deus para sua glória ou ser mais um
“poderia ter sido”. O ano começa para o governo, mas também para cada
um de nós. Não há nada de mágico no início de ano, mas cremos num Deus
da renovação, onde cada momento pode ser um reinício. Ao mesmo tempo,
cada oportunidade perdida traz consigo consequências. Este é um momento
chave, o governo tem a confiança (talvez exagerada) de mais da metade da
nação. O que a Bíblia tem a dizer para o presidente e para cada um de
nós sobre começar bem, sobre aproveitar as oportunidades?
O ano começa para o governo, mas também
para cada um de nós. Não há nada de mágico no início de ano, mas cremos
num Deus da renovação, onde cada momento pode ser um reinício.
Para todo aquele que conhece a Palavra, a expressão aproveitar as oportunidades nos faz pensar em Efésios 5.15-17:
15Tenham cuidado com a maneira como vocês vivem; que não seja como insensatos, mas como sábios, 16aproveitando ao máximo cada oportunidade, porque os dias são maus. 17Portanto, não sejam insensatos, mas procurem compreender qual é a vontade do Senhor.
O tema de Paulo é como viver uma vida de acordo com a nova e radical
realidade de sermos novas criaturas. O argumento para o início do
governo de nosso presidente, mas também para nós, é que sejamos sábios e
não tolos. O conceito é bastante comum, embora o ser sábio ainda seja
mais uma arte do que uma ciência. A NVI traduz o termo chave como “a
maneira como vocês vivem”. É uma excelente tradução, mas o original fala
apenas de ter cuidado como “andam”. Desta forma a tradução perde um
aspecto da herança judaica que Paulo destaca. A vida para os judeus era
muito prática, e seguir a Deus não ficava circunscrito a discursos e
teorias. Seguir a Deus tratava-se de vida prática. Por isso Paulo usa um
termo tão corriqueiro. Cuidado como você anda, e não apenas cuidado com
seus pensamentos ou ideias.
No caso do novo governo, importa mais o dia a dia do que os
discursos, pois estes têm sido e serão dilacerados e distorcidos pelos
opositores. A verdadeira prova é como será o dia a dia. Como serão
tratadas as acusações de corrupção? Onde serão alocados os recursos,
como será tratada a incômoda oposição, como serão tratados os sem voz...
Na nossa vida, o que Paulo está tratando é do nosso dia a dia e não
nossos discursos entre amigos, na igreja ou na rede social. Postar
versículos e tratar mal as pessoas ao seu redor é justamente o que faz
cristãos terem uma fama tão ruim.
A partir do texto entendemos que temos, sim, uma escolha: viver como
sábios ou como tolos! O que significa viver como sábio? Se pudéssemos
dar uns conselhos ao novo presidente, quais seriam? Há no texto pelo
menos duas sugestões muito concretas e que servem tanto para nosso
presidente como para cada um de nós: (1) aproveite as oportunidades e
(2) procure compreender a vontade de Deus.
Aproveite as oportunidades
A campanha terminou, o cargo já lhe foi entregue. O tempo dos
discursos bombásticos já passou. As palavras de ordem têm um efeito de
curta duração. O ministério está montado, o congresso lhe é favorável,
um enorme poder lhe foi atribuído. Este é o momento, esta é sua
oportunidade. A oposição está preparada para acusar qualquer movimento
seu, seja benéfico ou não à nação. Seus apoiadores, por sua vez, estão
com os louvores já ensaiados para suas excelentes decisões. O momento é
de aproveitar a oportunidade para fazer o bem, para realmente caminhar
em uma nova direção. Não se espera milagres (bem, talvez alguns
esperem), mas eu espero passos acertados, decisões justas, capacidade de
integrar uma nação fragmentada. Capacidade de ouvir sem perder seu
rumo. A integridade de confrontar o erro em qualquer canto onde seja
descoberto. Esta é sua oportunidade. Estamos aguardando, uns com certeza
de seu fracasso, outros já comemorando seus acertos. Imagino que, como
eu, a grande maioria esteja esperando com expectativa que algo melhore, e
receio de que tudo se torne mais uma esperança perdida.
O mesmo praticamente pode ser dito de cada um de nós que segue a Jesus. Todas a benções espirituais já nos foram concedidas (Efésios 1.3). Temos o Senhor Jesus do nosso lado. Nossos pecados já foram perdoados, muito embora ainda tenhamos que enfrentar algumas das consequências. O que faremos com este ano, com este dia, com o resto de nossas vidas? Que farei com aquela amizade que nunca restaurei? O que farei com aquela palavra dura que proferi? O que farei com aquela pessoa que me buscou? O que farei com o novo ministério que me foi oferecido? O que farei com este dom da vida que me é concedido? Assim como o presidente, o que se espera de nós é que vivamos com justiça, com amor, com integridade e compaixão.
Como pano de fundo desta exortação Paulo nos lembra que os dias são
maus. O resumo é que os tempos são difíceis e oportunidades passam. Em
Cristo sempre há um recomeço, mas o momento perdido não volta mais.
Aquele momento em que eu podia fazer a diferença para Deus não volta
mais. Pela graça dele, outros virão, mas o tempo não volta atrás.
Procure compreender a vontade de Deus
Neste ponto eu confesso que minha convicção é que aquilo de melhor
que um governante pode fazer é buscar a vontade de Deus, pois minha
perspectiva é que Deus tem o melhor tanto para o que crê como para quem
não crê. Um aborto não é ruim somente para um crente e bom para o não
crente. A única diferença é a opinião pessoal, mas o Criador dos céus e
da Terra já definiu o que é bom e o que é mau. A Palavra afirma que
todos vamos prestar contas e que “de Deus não se zomba” (Gálatas 6.7).
Qualquer pessoa que semear os valores de Deus será abençoada e qualquer
um que semear valores contrários ao reino colherá destruição.
Quem já teve de cortar despesas em casa
devido a um aperto no orçamento sabe como estas decisões são complexas e
raramente agradam a todos.
O novo presidente é o governante de todos os brasileiros. Tanto dos
que o elegeram como daqueles que avaliam sua eleição como a maior
tragédia das últimas décadas. É seu papel buscar o bem de todos. Neste
ponto, me confesso talvez pouco democrático... Não creio que a voz do
povo é a voz de Deus. Creio que uma virada no nosso país só será
possível se decisões difíceis e impopulares forem tomadas. Quem já teve
de cortar despesas em casa devido a um aperto no orçamento sabe como
estas decisões são complexas e raramente agradam a todos.
O que a Palavra tem a dizer ao nosso presidente e, por princípio,
também a nós? Sou levado rapidamente ao texto de Romanos 14.17-18:
17Pois o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo; 18aquele que assim serve a Cristo é agradável a Deus e aprovado pelos homens.
A definição mais simples da expressão “Reino de Deus” é o âmbito onde
sua vontade é realizada, onde seu governo não é contestado. Assim, meus
conselhos ao novo presidente seriam três: justiça, paz e alegria.
Oro para que este governo seja justo. Com isso não estou falando
meramente de nosso sistema judiciário, mas de ações corretas, decisões
que honrem a verdade, defendam os mais fracos, promovam a
responsabilidade pessoal e social. Oro para que os ímpios não prevaleçam
e se enriqueçam às custas dos mais fracos. Oro para que a verdade,
mesmo que desagradável, seja o destino que este governo busca. Oro para
que privilégios, mesmo sendo legais do ponto de vista jurídico, mas
abusivos em termos de justiça, sejam revistos.
Oro por você e por mim, para que nossa justiça pessoal ultrapasse em
muito a dos fariseus. Que nossa vida pessoal, familiar, profissional
etc. glorifique a Deus por estar alinhada com sua vontade. Oro para que
aqueles que nos acusam por sermos cristãos fiquem sem argumentos ao
observar a correção de nosso caminhar.
Oro para que este governo promova a paz. Não uma paz de conivências
aos injustos, mas uma paz profunda, em que o povo possa sentir-se
seguro. Onde a violência seja repreendida, onde a hostilidade não ganhe
dividendos. Com isso não estou falando apenas do projeto do
desarmamento, pois tenho assistido atitudes de extrema violência e
hostilidade em ambientes totalmente desarmados. Oro por um governo que
abandone a postura de campanha sem abandonar suas promessas de campanha.
Oro por um governo que consiga aglutinar nossa nação tão diversa sob
algumas bandeiras, que eu creio, todos defendem.
Oro por você e por mim, para que nossos corações estejam em paz. Oro
para que nossos relacionamentos, naquilo que depender de nós, estejam em
paz. Oro para que “a paz de Deus, que excede todo o entendimento”,
guarde “o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus” (Filipenses 4.7).
Oro por um governo que abandone a postura de campanha sem abandonar suas promessas de campanha.
Por fim, oro por alegria. Curiosamente, a expressão traduzida por
alegria não se refere a uma alegria tumultuosa, como a de um estádio de
futebol. Nos escritos de Paulo essa alegria está sempre conectada com a
esperança que nos aguarda. Assim, a expressão poderia ser traduzida como
contentamento ou satisfação. Oro, então, por um governo que, com base
em um projeto de longo prazo (nenhum projeto que valha a pena será de
curto prazo), sacrifique o agora pelos benefícios que virão. Oro por um
governo que promova a satisfação, não de conquistas rápidas e
passageiras, mas a satisfação de realmente construir um país diferente.
Oro mais uma vez por você e por mim, para que nós também estejamos
satisfeitos e felizes com o que Deus nos tem dado. Oro para que o
espírito consumista de nossa era não contamine tanto nossos coração a
ponto de termos pastores e teólogos exigindo de Deus bens e posses. Oro
para que sejamos marcados por contentamento, copiando a atitude do
apóstolo Paulo: “Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer
situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando
necessidade” (Filipenses 4.12b).
Daniel Lima foi pastor de igreja local por mais de 25 anos. Formado em psicologia, mestre em educação cristã e doutorando em formação de líderes no Fuller Theological Seminary, EUA. Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida por 5 anos, é autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores.
https://www.chamada.com.br/mensagens/como_orar_pelo_novo_presidente.html