João Calvino e Disciplina Eclesiástica
Vivemos em uma época onde as igrejas estão se adaptando ao mundo. As igrejas que deveriam influenciar, estão sendo influenciadas.
O mundo pós-moderno e relativista ensina que não existe um padrão de conduta absoluto, uma regra a qual todos devem se submeter e serem julgados. Sendo assim, ninguém deve se intrometer na vida do próximo. Ninguém precisa dar satisfação de suas escolhas. O mundo redefiniu o amor. Segundo o mundo, o amor não é querer e fazer o bem ao próximo segundo a Escritura, mas fazer com o que os outros sintam -se bem como estão, seja no pecado ou não.
Infelizmente, muitas igrejas em nome de um falso amor, mantém em seu rol de membros pessoas entregues ao pecado, que vivem em contradição com a fé que professam. Disciplinar virou sinônimo de ódio e não de amor como diz a Escritura( hb 12.6-7); Ap 3.19).
Pastores temerosos de esvaziarem suas igrejas, preferem manter membros em pecados visíveis dentro delas. Isso revela uma falta de temor e confiança em Deus, mas um temor aos homens e confiança em seus própios métodos. A ideia de alguns é: “Se você está interessado no crescimento da igreja, enchendo-a de pessoas, a disciplina não é um bom metodo.” Infelizmente, isso parte de pessoas carnais, que usam métodos carnais para atrair e manter as pessoas dentro das igrejas. Esses querem ser mais sábios e mais poderosos do que Deus, pois eles não creem no que Deus estabeleceu na Escritura sobre a Igreja. O pragmatismo é uma substituição da Bíblia, que determina que a igreja deve ser conduzida visando os melhores resultados.
Mas a igreja não é nossa, é de Cristo e deve honrar a Cristo. Não somos nós que edificamos a igreja à nossa maneira, mas Cristo edifica a Sua igreja de acordo com sua autoridade revelada na Bíblia. Nós devemos ser obedientes aos métodos de Cristo, não criadores dos nossos métodos
A Igreja não deve ser influenciada pela sociedade. A Igreja tem um Senhor que por sua Palavra a governa, Deus. Não é a sociedade, nem os pastores que determinam o que e certo e errado, o que pode e não pode, mas a Palavra de Deus. É a Escritura que julgar a conduta do povo de Deus. Quando alguém decide o que fazer com um pecador negando a disciplina devida, essa pessoa se coloca no lugar de Cristo, roubando a Sua autoridade e governo sobre a igreja: “Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” ( Mt 18.15- 20). O nosso Senhor Jesus Cristo deixa claro como proceder em relação a disciplina eclesiástica, sendo assim fazer diferente do que Ele ordenou é está em desobediência ao Senhor da Igreja.
Esse é o interesse de nosso Senhor para a Igreja: ela precisa tratar com o pecado em seu meio. Cristo comprou a Igreja com seu precioso sangue, Ele está santificado-a. Ele faz isso em nós e através de nós. Paulo disse: “Para vos apresentar como virgem pura a um só esposo, que é Cristo”.
A igreja não deve somente pregar contra pecado, mas agir contra o pecado em seu meio.
Em 1 Coríntios 5: Paulo diz que devemos lançar fora o fermento que leveda toda a massa, excluir o homem imoral; e em 2 Tessalonicenses 3.6-15 somos instruídos, como igreja, a excluir alguém que é contencioso ou transgressor da verdade.
Em Mateus 18.17: O nosso Senhor Jesus Cristo ordena que depois de todas as tentativas para restaurar o transgressor forem feitas sem sucesso, ele deve ser excluído da igreja e considerado como um ímpio que precisa ser evangelizado.
Toda disciplina é amor. O alvo da disciplina é a restauração do pecador, é tira-lo do caminho que conduz a perdição, e traze-lo de volta para o caminho da salvação ( Mt.18. 12-14; Gl 6.1;Ap 3.19 ;1 co 5.5)
A igreja que não disciplina não está praticando o amor, negar confrontar o pecado de alguém é negar-lo o amor, é desvaloriza-lo como alguém que Cristo comprou por infinito valor. Infelizmente, muitos por amarem mais a si mesmos não amam ao próximo, preferem ver pessoas caminhando para a perdição do que arriscar perder amizades. Preferem ver a igreja destruída pelo pecado do que arriscar perder alguns membros não convertidos.
A Igreja é uma comunidade de pessoas que foram salvas e estão sendo santificadas, que amam umas as outras e estão caminhando juntas rumo a Glória celestial. O processo disciplinar faz parte da santificação.
A Igreja não é um lugar para se acomodar aos não-salvos, dando a eles conforto, mas para incomoda-los a abandonarem seus pecados e a crerem em Cristo como Senhor e Salvador. A Igreja não é o mundo onde cada um faz o que quer sem dar satisfação a ninguém. A Igreja é o corpo de Cristo onde cada membro é importante para o outro. Se alguém não quer dar satisfação de sua vida ou se importar com a vida dos outros, a igreja não é o seu lugar.
“O exercício da disciplina na igreja é algo tão importante que o reformador João Calvino a considerou, ao lado da proclamação da Palavra e da administração dos sacramentos, uma das marcas que distinguem a igreja verdadeira da falsa.” Solano Portela.
O reformador João Calvino afirmou que disciplina na Igreja é “como um freio com o que são detidos e domados os que se revoltam contra a doutrina de Cristo; ou como um aguilhão que estimula os que são negligentes e preguiçosos; ou às vezes, a modo de castigo paterno, para castigar com clemência e conforme a mansidão do espírito de Cristo aos que falharam gravemente” ( Institutas da Religião Cristã, Vol 4, Cap 12, pg 1).
Em outro local Calvino afirma: “Assim como a doutrina de Cristo é a vida da Igreja, também a disciplina é semelhante aos nervos da Igreja, porque dela depende a coesão dos membros do corpo, estando cada um no seu próprio lugar”.
João Calvino introduziu em Genebra a organização e a disciplina da igreja. Era a visão predominante entre os Protestantes que a função da igreja era pregar o evangelho e administrar os sacramentos, deixando completamente às autoridades civis o lidar com as ofensas. Calvino não conseguia entender essa visão. A Igreja não deveria apenas pregar o evangelho, disse ele, mas cuidar para que o evangelho seja vivido entre aqueles que a constituem. O único instrumento pelo qual esse dever pode ser executado é a disciplina. Disciplina espiritual, é claro; pois a igreja é um corpo espiritual. Somente as penalidades espirituais poderiam ser infligidas, culminando com a exclusão das ordenanças da Igreja ou com a excomunhão.
Segundo B.B Warfield : “A purificação da Igreja por meio da disciplina teve o seu efeito sobre o estado. O fermento fermentará a massa na qual ele é colocado. Uma igreja santa tende a promover uma comunidade moral, e Calvino não foi escasso na pregação de que entre os deveres cristãos está o dever da boa cidadania. E, como subproduto dos trabalhos de Calvino, Genebra se tornou uma comunidade moral notável: as leis sumptuárias se tornaram, ao contrário daquelas de muitos ao redor, saudáveis e sãs, e sua execução se tornou justa e honesta. “
Quando a Igreja é santa, seus membros são influências positivas na sociedade. Uma sociedade em decadência moral, necessita de uma Igreja com um padrão absoluto de moralidade onde os seus membros aplicam a Palavra de Deus em todas áreas de suas vidas.
Com estabelecimento da disciplina da igreja em Genebra, Calvino iniciou uma ruptura entre a Igreja e o Estado, cujo efeito final o tornou o pai do princípio de uma igreja livre em um estado livre. John Knox dá o seu testemunho do resultado: “Em outros lugares eu confesso que Cristo é pregado, mas os costumes e a religião sendo tão sinceramente reformados eu não vi em nenhum outro lugar”.
Houve um conflito em Genebra em torno da proteção da Ceia do Senhor contra os participantes indignos.Assim como João Calvino em Genebra, a disciplina eclesiástica precisa ser restaurada em em muitas igrejas. Quando muitos pastores e membros voltarem a Escritura aplicando a disciplina eclesiástica junto com a exposição fiel da Bíblia, teremos igrejas cheias, não de pessoas não convertidas, mas de crentes genuínos que poderão influenciar moralmente a nossa sociedade decadente.
“Durante seu primeiro ministério na cidade, ele se recusou a ministrar a Ceia do Senhor por causa das maldades da cidade. Cidadãos libertinos reagiram contra seu zelo inflexível, dando o nome de Calvino a seus cachorros, e ele foi expulso da cidade por três anos. Ao retornar, Calvino estabeleceu um tribunal da Igreja, composto de seis pastores da cidade e de doze presbíteros de suas congregações, que se reuniam cada quinta-feira para disciplinar “todo tipo de malfeitor, sem acepção de pessoas””. (Revista: os puritanos).
Sola Scritura.
Por Thiago da Silva Vieira
Por Thiago da Silva Vieira
https://teologiapresbiteriana.home.blog/2019/10/30/disciplina-eclesiastica-uma-marca-da-verdadeira-igreja-que-precisa-ser-restaurada