Em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. (Colossenses 2:3)

Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por essas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.(Efésios5:6)
Digo isso a vocês para que não deixem que ninguém os engane com argumentos falsos. (Colossenses 2:4)
Mostrando postagens com marcador DEMOCRACIA. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador DEMOCRACIA. Mostrar todas as postagens

22 de outubro de 2018

Vox Populi, Vox Dei... Será?



http://www.oboletim.com.br/wp-content/uploads/voxpopulivoxdei-e1441073682208.jpg


Daniel Lima


A fragilidade da democracia e sua incapacidade de nos trazer esperança.

O antigo ditado citado no título acima afirma que a voz do povo é a voz de Deus. Nestes dias que precedem o segundo turno de uma das eleições mais delicadas e tensas de nossa história recente, esta é uma questão digna de ser examinada com muita cautela, ou corremos o risco de engolir a pizza sem tirá-la da caixa... Poucos cristãos hoje concordariam com este ditado; ainda assim, assistimos discussões acaloradas e até mesmo conflitos que indicam que ainda colocamos muita da nossa esperança neste processo. Tenho ouvido ou lido cristãos que este ou aquele homem é a esperança para o povo de Deus em nosso país. Será? Afinal, devemos e podemos ter esperança no processo democrático? Este é o processo que vai levar nosso país a um futuro melhor? O resultado deste pleito, assumindo a idoneidade do processo, será um passo adiante?

É importante destacar a princípio que eu não conheço um modelo melhor do que o processo democrático para um país tão plural. Idealmente, um governo teocrático seria nossa esperança (“Como é feliz a nação que tem o Senhor como Deus” – Salmo 33.12a). Neste cenário teríamos de desenvolver um sistema onde a vontade de Deus, seus princípios de cidadania e de convívio fossem de fato expressos e implementados. No entanto, as experiências históricas mais recentes de um governo teocrático têm se mostrado no mínimo inócuas e, em sua pior versão, catastróficas. Ao tratar do tema durante um discurso na Câmara dos Comuns em 11 de novembro de 1947, o grande líder inglês Winston Churchill afirmou: “Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos”.
Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas.
Considerando esta perspectiva, é evidente que devemos nos comprometer com o processo eleitoral. Não só cumprindo um dever de cidadãos, como também usando os direitos do sistema democrático para manifestar nossa opinião. A questão que carece de nossa atenção é em que medida devemos depositar no processo democrático nossa esperança de um futuro melhor.

Vamos, novamente, examinar o texto bíblico buscando orientação ou, neste caso, relatos que nos permitam abstrair princípios de vida. A primeira narrativa que escolhi é a de Êxodo 16.1-3. O texto descreve que o povo de Israel havia atravessado o mar Vermelho recentemente. Esta passagem pelo mar foi talvez um dos maiores milagres do Antigo Testamento. O povo atravessou a pé seco; no entanto, o exército egípcio se afogou (Êxodo 14). A poderosa mão de Deus demonstrou, acima de qualquer dúvida, seu amor e cuidado por seu povo. Este seria um momento de celebrar, de confiar que o Deus que abriu o mar lhes traria conforto, alimento e proteção. Ainda assim, quando chegam ao deserto de Sim, apenas 45 dias após atravessarem o mar, enquanto enfrentam a dura realidade do deserto, da viagem, o povo declara:
“Quem dera a mão do Senhor nos tivesse matado no Egito! Lá nos sentávamos ao redor das panelas de carne e comíamos pão à vontade, mas vocês nos trouxeram a este deserto para fazer morrer de fome toda esta multidão!” (Êxodo 16.3)
A rapidez com que o povo mudou de opinião após um milagre tão grande demonstra como a opinião pública pode ser volúvel e, portanto, pouco confiável. Antes de criticá-los eu convido você a se lembrar de como reagimos após receber uma benção de Deus pela qual oramos e ansiamos por um longo tempo. Infelizmente, vejo em minha vida e na vida de outros o quão rápido meu coração se inclina para a ingratidão. Esta característica de mudanças tão rápidas é um dos fatores principais que facilita a manipulação por agentes políticos, grupos de interesse ou pela mídia em geral. Curiosamente, esta facilidade de mudar de opinião não depende do nível econômico ou educacional. Recentemente ouvi de um estudioso europeu que a Europa está se aproximando da possibilidade de um regime totalitário. Seu argumento é que uma vez que a segurança é ameaçada, o povo se amedronta e rapidamente aceita trocar a liberdade pela volta da sensação de segurança. Este é o mesmo modo de pensar que vemos no versículo acima. Uma vez que a libertação da escravidão no Egito trouxe consigo insegurança quanto ao futuro, quanto à alimentação e mesmo quanto à moradia, o povo estava pronto para voltar à escravidão. É importante observar que a opinião pública neste caso era frontalmente não só contra o que haviam pedido nos últimos séculos, mas abertamente contra Deus!

A segunda narrativa que vamos investigar é Marcos 15.6-15:
“Por ocasião da festa, era costume soltar um prisioneiro que o povo pedisse. Um homem chamado Barrabás estava na prisão com os rebeldes que haviam cometido assassinato durante uma rebelião. A multidão chegou e pediu a Pilatos que lhe fizesse o que costumava fazer. ‘Vocês querem que eu solte o rei dos judeus?’, perguntou Pilatos, sabendo que fora por inveja que os chefes dos sacerdotes lhe haviam entregado Jesus. Mas os chefes dos sacerdotes incitaram a multidão a pedir que Pilatos, ao contrário, soltasse Barrabás. ‘Então, que farei com aquele a quem vocês chamam rei dos judeus?’, perguntou-lhes Pilatos. ‘Crucifica-o!’, gritaram eles. ‘Por quê? Que crime ele cometeu?’, perguntou Pilatos. Mas eles gritavam ainda mais: ‘Crucifica-o!’ Desejando agradar a multidão, Pilatos soltou-lhes Barrabás, mandou açoitar Jesus e o entregou para ser crucificado.”
Certamente a morte vicária era o plano de Deus desde a eternidade passada, conforme as muitas profecias do Antigo Testamento. No entanto, é curioso observarmos o processo do julgamento e da condenação de Jesus. Em primeiro lugar, um dos fundamentos do Império Romano, inclusive talvez uma de suas maiores contribuições ao mundo ocidental, é justamente o sistema de justiça romano. Para que o Império pudesse se manter, Roma contava não apenas com sua máquina militar impressionante, mas também com seus muitos aliados. A estes eram oferecidas as vantagens de se viver sob a Pax Romana. O Império Romano começou a ruir quando este compromisso com seu sistema jurídico passou a ser comprometido.
Pilatos, governador e representante máximo de Roma, aparentemente tentou preservar o processo jurídico e evitar tumultos que prejudicassem a paz de sua província. Tentar manter o equilíbrio entre o que é certo e o que agrada o povo é sempre uma tarefa muito difícil. Já foi dito que o segredo do fracasso é tentar agradar a todos. Ainda assim, mesmo identificando que a motivação dos chefes dos sacerdotes era a inveja e não a justiça (verso 10), Pilatos tenta por um lado preservar a justiça romana e por outro agradar ou apaziguar o povo (verso 15). Seguindo um antigo costume de libertar um preso na época da Páscoa, ele lhes oferece a escolha entre Barrabás e Jesus.

Não existem registros históricos a respeito de Barrabás, exceto de que era culpado de assassinato, provavelmente mesmo de criar tumultos. Seu nome pode significar “o filho do pai” ou “o filho do mestre”. Era um criminoso famoso e não há qualquer menção de que fosse inocente. Aparentemente era um inimigo aberto de Roma. Pilatos pediu então ao povo que escolhesse entre Jesus e um terrorista! Por que então o povo escolheu libertá-lo ao invés de libertar a Cristo? O texto deixa claro que a multidão fez sua escolha incitada pelos sacerdotes. Talvez a maioria dos presentes fosse do partido dos sacerdotes, talvez gritaram sem pensar – multidões são conhecidas por fazerem isso. No entanto, o resultado final foi que escolheram libertar um criminoso e libertar um assassino.
A opinião pública é volúvel e, com muita frequência, incoerente.
Estas e outras narrativas bíblicas, e mesmo tantas outras que conhecemos na história ou pessoalmente, mostram que a opinião pública é volúvel e, com muita frequência, incoerente. Continuo a afirmar que a solução não está em abandonar a democracia, mas compreender sua fragilidade. Como cristãos, nossa esperança não está nesta eleição e me arrisco a dizer que não importa qual candidato vença, todos ficarão decepcionados após algum tempo. Uns por não concordarem com as direções tomadas; outros porque os avanços pretendidos não foram suficientes; e outros ainda porque suas demandas, apesar de prometidas, nem sequer foram consideradas nas ações do futuro governante.

Assim, deixe-me resumir algumas observações e lições que abstraio destas narrativas:
  1. A voz do povo não é a voz de Deus. Aliás, com frequência impressionante é justamente contrária à voz de Deus.
  2. A opinião pública não é coesa, coerente ou sequer duradoura. Pelo contrário, é marcada por ser volúvel e manipulável.
  3. Tentar agradar a todos não é só impossível como também destinado a produzir decisões inconsistentes.
  4. Excetuando os curtos períodos de um governo teocrático saudável, pessoalmente não conheço um sistema melhor (ou menos pior) que o democrático.
  5. Todo cristão deve se envolver no processo democrático sem, no entanto, colocar neste processo ou nos governantes eleitos sua esperança. Como afirma o apóstolo Paulo: “Se trabalhamos e lutamos é porque temos depositado a nossa esperança no Deus vivo, o Salvador de todos os homens, especialmente dos que creem” (1Timóteo 4.10).

Minha sincera oração é que tanto eu como você, e na verdade todo cristão, estejamos envolvidos no processo democrático, mas sem perder de vista aquele que é o Autor e Consumador da nossa fé. Não creio que a democracia nos garanta a realização da vontade de Deus, mas sim que é o melhor processo que este mundo caído tem conseguido para ordenar seu viver. Ainda assim, nossa esperança não está neste processo, mas naquele que está acima de todo nome. Participamos desta vida, mas apontamos nossa esperança no reino que há de vir.



Daniel Lima foi pastor de igreja local por mais de 25 anos. Formado em psicologia, mestre em educação cristã e doutorando em formação de líderes no Fuller Theological Seminary, EUA. Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida por 5 anos, é autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem 4 filhos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995.

https://www.chamada.com.br/mensagens/vox_populi.html?fbclid=IwAR39kCWsPosyhWY543JCuCxpLjUKKSNyO6u9rFLQimZ100Lialusb7t9qV4



19 de agosto de 2016

O Papel-Chave da Democracia nos Tempos Finais



Peter Bertschinger

A Democracia iniciou uma marcha vitoriosa no decorrer do século 20. Principalmente depois do final da Segunda Guerra Mundial ela alcançou o status de paradigma (padrão ou modelo para todos os casos semelhantes)... Como avaliar esse desenvolvimento do movimento democrático? Podemos aprová-lo sem ressalvas, como tantos têm feito em tantos lugares? A Palavra de Deus e suas declarações proféticas acerca dos tempos finais nos exortam à sobriedade e à vigilância – também em relação ao processo democrático.
Democracia é uma palavra grega formada por duas partes: demos é povo e kratos significa domínio. Portanto, Democracia seria “o governo do povo”.
O conceito de Democracia define a forma de governo que surgiu e se estabeleceu na antiga Grécia nos anos 509-458 a.C. Ela diferenciava a Grécia dos países ao seu redor, governados por um rei. Uma das características principais da Democracia é o poder estar nas mãos de representantes do povo (o Parlamento), complementado por outras duas instâncias: o Governo (o Executivo) e o Poder Judiciário. Esses três poderes funcionam como partes de um todo: o Parlamento é a instância legislativa, o Governo é o poder executivo e os Tribunais supervisionam a correta aplicação das leis. A grande vantagem dessa forma de governo é o controle mútuo dos três organismos governamentais (o sistema de “checks and balances” – controles e equilíbrios), que dificulta o surgimento de uma ditadura. Mas o sistema tem duas fraquezas:
• Primeiro, a Democracia em si não possui valores que tornem o Estado apto e capaz. O único valor que o sistema democrático exige categoricamente é que o poder seja exercido pelo povo – independentemente da condição moral desse povo.
• Segundo, o sistema democrático pressupõe que todos os membros da sociedade tenham disciplina e virtude acima da média. Um movimento democrático com governantes e governados sem disciplina e sem virtude transforma-se rapidamente em ditadura. Uma profusão de exemplos antigos e atuais comprovam essa tese.
Apenas essas duas fraquezas da Democracia já bastariam para nos deixar atentos e de olhos bem abertos, especialmente em sua relação com as profecias bíblicas. Mas há outras razões que fazem da “Democracia” um conceito-chave nos tempos finais e um tópico que merece a atenção dos cristãos.
O cerne da problemática acerca da questão da Democracia é representado pela pergunta: “Quem tem autoridade?”. Tanto a Bíblia como o sistema democrático respondem essa pergunta, só que as respostas são tão diferentes entre si como a noite difere do dia.

O conceito bíblico de autoridade

Muitas e muitas vezes a Palavra de Deus salienta que toda autoridade pertence ao Deus vivo e emana dEle pessoalmente. O próprio Deus é a autoridade em si. Esse é o tema central do livro de Daniel e uma das doutrinas centrais da Bíblia. A frase “Eu sou o Senhor”, no sentido de uma declaração autoritativa, é encontrada sete vezes só nos doze capítulos entre Isaías 40 e 51, e temos muitas outras passagens bíblicas do Antigo Testamento com o mesmo teor, repetindo que toda a autoridade vem do Senhor Deus. Assim, a autoridade conforme Deus a quer é sempre uma autoridade exercida a partir do Alto.
Outra particularidade da autoridade como Deus a quer e a vê consiste no fato de que Ele, no decorrer da História da humanidade, delegou Sua autoridade a homens. Deus ordenou a Adão e Eva: “E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja na terra” (Gn 1.28). Enquanto Adão e Eva se sujeitaram à autoridade divina, tinham autoridade sobre a Criação. Mas, com a queda em pecado perderam essa autoridade. Mesmo depois dessa catástrofe, porém, o Senhor achou pessoas que se submeteram confiadamente à Sua autoridade suprema, tornando-se, assim, portadoras da autoridade divina. Moisés, escolhido por Deus para ser autoridade sobre o povo de Israel, tornou-se o legislador dessa nação e o mediador da Antiga Aliança entre Deus e os judeus. Mas as declarações proféticas de Daniel foram além de Israel, expondo a moldura geral do quadro das nações como viria a se apresentar por toda a História mundial (Dn 2; Dn 9.24-27). Esses homens, juntamente com todos os detentores de autoridade e poder no Antigo Testamento, tinham certeza de uma coisa: toda autoridade vem de Deus e minha responsabilidade primeira diante dessa autoridade consiste em me curvar incondicionalmente a ela e obedecer-lhe com toda a confiança.
Na Nova Aliança o Senhor confirmou Sua reivindicação de autoridade de forma resumida, porém abrangente em seu alcance, ao afirmar categoricamente que “não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas” (Rm 13.1b). No âmbito dessa Nova Aliança, Deus declarou explicitamente algumas pessoas como investidas de autoridade em uma sociedade constituída hierarquicamente:
  1. As autoridades do Estado em relação aos cidadãos (Rm 13.3-7).
  2. Os anciãos são autoridade sobre os membros da igreja (1 Ts 5.12-13; 1 Pe 5.5).
  3. Os patrões têm autoridade sobre os empregados (Ef 6.5-8; Cl 3.22; 1 Tm 6.1; Tt 2.9-10; 1 Pe 2.18-21).
  4. O marido tem autoridade sobre a esposa (1 Co 11.3; Ef 5.22-24; 1 Pe 3.1).
  5. Os pais têm autoridade sobre os filhos (Ef 6.1-3; Cl 3.20).
Em todas essas relações entre quem manda e quem obedece, as autoridades estão sempre debaixo da obrigação, claramente formulada no texto bíblico, de amar e cuidar de seus subordinados. Apesar disso, continua válido o princípio de que a legitimação divina para exercer autoridade foi concedida ao superior, não ao subalterno. Esses detentores de autoridade são as instituições que sustentam a ordem social bíblica, os reais pilares da sociedade.

O conceito democrático de autoridade

Na ordem democrática, ao contrário da Bíblia, é a população, e não Deus, quem delega sua autoridade aos organismos estatais. No sistema democrático, Deus não desempenha papel algum. O Parlamento é a reunião daqueles que o povo escolheu para representar seus interesses através das leis que formula. O Governo (Executivo) deve fazer valer essas leis, e o Judiciário deve zelar para que os interesses do povo sejam atendidos dentro das normas da lei.
Formulando de outra maneira, podemos afirmar que nesse sistema a autoridade vem basicamente “de baixo”. Não é raro ouvirmos declarações dizendo que certas reivindicações são “das bases”. Em caso extremo, significaria que não é válido o que as autoridades dizem, mas o que o povo diz (= os subalternos). Quando a democracia tornou-se um assunto cada vez mais relevante na Europa e nos Estados Unidos no final do século 18 e a partir da metade do século 19, vindo a ser um tema debatido e pensado publicamente, havia o temor de que essa característica do poder legitimado a partir de baixo poderia conduzir a uma “posição de poder do populacho”, a quem os órgãos estatais não poderiam mais controlar ou frear. As discussões lembravam daqueles casos em que uma sociedade democrática decadente transformou-se em ditadura (por exemplo, o repetido surgimento de figuras autoritárias dentro da Democracia grega no quinto século a.C. até Alexandre, o Grande, no final do século IV a.C.; Roma antiga no decorrer do primeiro século a.C.; o desenvolvimento na França a partir dos primórdios da Revolução Francesa até a ditadura militar de Napoleão Bonaparte).

 
No modelo bíblico, a autoridade vem de cima e existe o vínculo com Deus. No conceito 
democrático, a autoridade vem de baixo e Deus não tem qualquer relevância. Na 
realidade, as diferenças parecem tão significativas a ponto de impossibilitar 
que esses dois conceitos se fundam.

Assim como o modelo bíblico, o modelo democrático também tem algumas instituições de grande peso:
• Já citamos que a população é a instância que molda a autoridade do Estado.
• A noção de um pacto social: O Contrato Social ou Princípios do Direito Político foi uma das principais obras do filósofo francês Jean-Jacques Rousseau. Editado pela primeira vez em 1762, exerceu influência decisiva sobre o desenvolvimento da política interna francesa no final do século 18 (a Revolução Francesa foi em 1789). Uma das teses mais importantes do livro de Rousseau é a que preconiza que os membros da sociedade, por meio de um contrato, concordem com ordens válidas para todos. A “vontade comum” como base da sociedade seria absoluta e infalível (!). – Uma versão atualizada dessa concepção é o “Tratado de Lisboa”, o acordo de direito internacional público entre os 27 membros da União Européia, que, ao estilo de uma constituição, regula o ordenamento jurídico entre os países-membros desde 1 de dezembro de 2009.
• Os direitos fundamentais: No transcorrer da história do Direito, certos direitos e liberdades individuais foram sendo estabelecidas, liberdades que cabem ao cidadão individual em sua relação com o Estado, por exemplo, liberdade de fé e consciência, liberdade de expressão e liberdade de reunião. Direitos fundamentais são áreas do direito individual em que o Estado não pode interferir arbitrariamente. Se ainda assim interferir, poderá ser processado pelo cidadão.
A instituição dos direitos fundamentais desenvolveu-se no decorrer da Idade Moderna, especialmente desde o final do século 16. Nos séculos 16, 17 e 18 diversos monarcas europeus impuseram governos absolutistas aos seus países. Isso significava que seus cidadãos estavam expostos aos seus soberanos sem qualquer proteção jurídica e legal e tinham de aceitar toda e qualquer interferência ou arbitrariedade do governo, sem poder se defender. Um expoente clássico dessa concepção de Estado foi o rei francês Luís XIV, que dizia cheio de auto-glorificação: “L’Etat, c’est moi” (“O Estado sou eu”). Para coibir os abusos que ocorriam na aplicação prática dessa idéia de governar e exercer poder, e como forma de proteger os cidadãos, foram criados os Direitos Fundamentais.
Desde então, a noção de direitos fundamentais mudou muito. Os direitos individuais tornaram-se quase que uma zona-tabu do indivíduo, uma área intocável pelo Estado. O indivíduo pode entrar em cena não como subalterno mas reivindicando igualdade de voz.
Isso tem por conseqüência uma concepção completamente nova acerca daqueles que devem exercer a autoridade, diametralmente oposta ao que a Bíblia preconiza. Os que exercem autoridade conforme a Bíblia, recebem seu poder com a certeza de que “um dia prestarei contas a Deus pelo que me foi confiado”; “terei de provar se fui obediente às normas estabelecidas por amor ao Senhor e por amor ao próximo”. Segundo a Bíblia, os que estão sujeitos à autoridade têm a obrigação de obedecer. A autoridade moderna não tem, por sua vez, a obrigação de prestar contas, já que pensa basicamente em reivindicações, direitos e demandas. Essa diferença de postura produz personalidades com características completamente distintas entre si.
Constatamos que os conceitos de autoridade bíblica e/ou democrática diferem radicalmente. No modelo bíblico, a autoridade vem de cima e existe o vínculo com Deus. No conceito democrático, a autoridade vem de baixo e Deus não tem qualquer relevância. Na realidade, as diferenças parecem tão significativas a ponto de impossibilitar que esses dois conceitos se fundam. O desenvolvimento histórico dos últimos 250 anos, porém, comprova sinistramente que aconteceu justamente o contrário.

A marcha da Democracia

Durante muitos séculos, a ideia predominante de autoridade na Europa era de que autoridade vem de cima. O próprio Deus como fonte da autoridade não era um pensamento incomum para as pessoas marcadamente religiosas da Idade Média. Muitos governantes medievais, como os carolíngeos, reivindicavam a graça divina como sendo a base de sua autoridade. Essa concepção se manteve ativa até os tempos modernos. Inclusive, no prefácio da edição de 1611 da Bíblia King James (em inglês) lemos as seguintes palavras na dedicatória dos tradutores a Tiago I, rei inglês da época: “Grandes e multiformes foram as bênçãos, ó soberano e temido senhor, que o Todo-Poderoso Deus, o Pai de todas as misericórdias, concedeu a nós, o povo da Inglaterra, quando primeiramente enviou a real pessoa de Sua Majestade para nos determinar e governar...”. Essa citação é apenas um exemplo do quanto as pessoas da era moderna tinham a consciência de que seus regentes e governantes eram instituídos por Deus.
Já registramos que as idéias democráticas adquiriram mais e mais influência na Europa e nos Estados Unidos a partir do século 18, e mais fortemente a partir da metade do século 19. Em 1776 os Estados Unidos foram fundados com uma constituição democrática, e em 1848 seguiu-se a fundação da Suíça moderna como federação sob o regime de Estado de Direito. A França tornou-se república em 1870, e outros países seguiram esses exemplos ou limitaram os poderes dos reis através de corretivos democráticos. A vitoriosa jornada da democracia continuou no século 20 e se espalhou até pelo Terceiro Mundo.
O elemento especial na fundação de Estados no século 19 foi a circunstância de que, a partir de 1820, um gigantesco avivamento espiritual varreu muitos países da Europa e perdurou por diversas décadas. Uma das consequências desse despertamento espiritual foi que os fundadores desses novos países concederam grande importância aos valores bíblicos no momento de elaborar suas leis. O temor a Deus e à Sua Palavra ainda era tão grande que se reconhecia a bênção que repousava sobre a obediência ao que Deus diz. E as leis eram formuladas com esse temor e esse respeito à Palavra de Deus. As autoridades segundo a Bíblia exerciam a devida influência no ordenamento jurídico dessas nações. Em outras palavras, mesmo que as instituições democráticas recebessem sua autoridade de baixo, a influência espiritual (do alto) era tão forte que os sistemas jurídico e legal eram vistos como sendo instituídos e regulamentados a partir do alto. Dentro dessa noção de autoridade, então, era evidente que se salientasse a obediência às autoridades como obrigação indispensável dos cidadãos. Por exemplo, Bismarck, pioneiro da fundação do Estado alemão e primeiro chanceler do Império Alemão, fundado em 1871, era tão rigoroso nesse quesito que se chegava a falar em “Estado autoritário”. Os reflexos dessa concepção de autoridade se mantiveram até o final da Segunda Guerra Mundial.
O abandono dessa noção de autoridade começou com o domínio nacional-socialista na Alemanha, o “Terceiro Reich”. Hitler e seus acólitos exploravam inescrupulosa e criminosamente a obediência às autoridades. O resultado foi que, depois do final da Segunda Guerra e da concomitante decadência do cristianismo nos países europeus, milhões de pessoas desenvolveram uma negação instintiva e uma desconfiança renitente a toda e qualquer autoridade. A Escola de Frankfurt – um grupo de filósofos como Max Horkheimer, Theodor Adorno, Jürgen Habermas ou Herbert Marcuse, inspirados principalmente por Marx, Hegel e Freud, – deu formato intelectual a essa desconfiança e a sistematizou na Teoria Crítica. O ideário e a apreciação desse grupo de filósofos marcaram profundamente o pensamento europeu dos últimos 60 anos. O movimento feminista, a educação anti-autoritária na Pedagogia, a resistência à autoridade do Estado como legítima manifestação política, o movimento estudantil de 1968: todos esses movimentos sociais tinham suas raízes na Teoria Crítica, como a Escola de Frankfurt também poderia ser chamada. Essa corrente de pensamento humanista e ateísta recebeu mais apoio a partir de meados de 1980 através do movimento da Nova Era, que vinha entremeada de um componente ocultista (“Desde que nasce, todo homem tem Deus dentro de si na forma de chama divina”).
Por conseqüência dessa influência ideológica, em poucas décadas as autoridades que o Novo Testamento considerava como legítimas foram sendo desmontadas e esvaziadas em todos os níveis da sociedade. O que até então era considerado pilar da sociedade transformou-se em alvo a ser atacado. Na mídia, nas escolas, na família, nas empresas e fábricas foi contínua a pregação contra uma estrutura social caracterizada por valores cristãos. Um maciço retrocesso do saudável temor a Deus e da convicção da responsabilidade individual, bem como uma enorme perda de força moral foram as conseqüências lógicas. Hoje os cinco entes detentores de autoridade segundo os ensinos bíblicos restaram apenas como meras sombras daquilo que representavam há sessenta anos, ou mais ainda há cem anos.
Mas os resultados dessa manipulação ideológica do pensamento europeu se espalharam como as ondas circulares formadas quando se lança uma pedra na água: as instituições democráticas do Pacto Social e os Direitos Fundamentais adquiriram uma dimensão totalmente nova.
• O Pacto Social: Manifestações em massa tornaram-se um fator muito influente na formatação da vontade popular. Na consciência da sociedade e de suas autoridades, aos poucos um dogma foi se estabelecendo: “O que centenas de milhares de pessoas pedem nas ruas não pode estar errado!”.
• Direitos Fundamentais: Pensados originalmente como proteção legítima diante do poder do Estado, a ideia de direitos fundamentais da era moderna foi se desenvolvendo cada vez mais no sentido de: “Eu tenho os meus direitos e ninguém manda em mim”.
Se acoplarmos esses dois “direitos” da era pós-cristã com as possibilidades de manipulação que a mídia disponibiliza através de filmes, televisão, internet, música, jornais e revistas, apenas podemos imaginar o tamanho e o poder das forças anti-divinas em ação nos corações dos homens contemporâneos.

 
Na consciência da sociedade e de suas autoridades, aos poucos 
um dogma foi se estabelecendo: “O que centenas de milhares de 
pessoas pedem nas ruas não pode estar errado!”.

Quem pensa que, como cristão com uma base bíblica sólida e uma doutrina saudável, está imune a esses modismos perniciosos, engana a si mesmo. Nossa geração de cristãos encontra-se na era de “Laodiceia” (veja Ap 3.14-22). Nas questões da vida prática, permitimos ser muito mais influenciados por esses processos do que gostaríamos de admitir. A geração de nossos pais e avós na fé talvez tivesse menos conhecimento do que nós, mas quando nos questionam, com a Bíblia na mão, acerca de nossa prática de vida, da nossa compreensão e de nossas convicções a respeito da obediência singela à Palavra de Deus, nos deixam constrangidos e envergonhados em muitas questões do discipulado cristão. Muitos cristãos pensam, por exemplo, que teriam certos “direitos” em relação à liderança da igreja e reagem muito irritados quando são chamados à atenção ou quando alguém ousa repreendê-los.
As já mencionadas forças ideológicas também se fizeram sentir concretamente no dia-a-dia da política. Observemos alguns movimentos sociais que se levantaram em nome da democracia e mudaram a face do nosso mundo:
• O movimento de 1968: os jovens rebeldes de 1968 não apenas causaram um grande choque na sociedade burguesa; muitos de seus expoentes lograram mesmo fazer a “longa marcha através das instituições”, galgando posições de influência, especialmente na educação e na política.
• A queda da Cortina de Ferro em 1989/1990: o final da divisão da Europa foi desencadeado pelas gigantescas levas de refugiados e pelas manifestações públicas de proporções incontroláveis.
• A Revolução Laranja da Ucrânia entre novembro de 2004 e janeiro de 2005: depois de eleições manipuladas no outono de 2004, milhares de ucranianos insatisfeitos foram às ruas e protestaram por tanto tempo que a eleição foi anulada e repetida, com a vitória do candidato da oposição, Viktor Yushchenko, à presidência do país.
Dois fatos nessa cronologia são preocupantes:
• Primeiro, chama a atenção o fato dos intervalos entre esses grandes eventos estar se reduzindo paulatinamente. O moderno espírito da democracia levou a distúrbios sociais cada vez maiores e mais frequentes.
• Em segundo lugar, esses movimentos tentaram alcançar seus alvos fora dos canais legais do Estado. Basta uma grande multidão insatisfeita (muitas vezes com razão) para lançar as instituições do Estado em uma situação de grande desequilíbrio. Não raro, as massas de manifestantes estavam e estão sendo influenciadas por fatores irracionais e acabam gerando a violência. Em 23 de março de 2011, o jornal Neue Zürcher Zeitung (de Zurique, Suíça) publicou um artigo sobre as reviravoltas no mundo árabe com o título: “No ritmo da revolução: rap, rock e pop fornecem uma espécie de música de fundo para as transformações políticas nos países árabes”. O prognóstico dos céticos da democracia no século 19, que pensavam que a democracia escancararia as portas para a influência manipulativa das massas, provou-se mais do que acertado.
Os acontecimentos recentes na Grécia fornecem uma verdadeira aula do que é possível sob essas condições ideológicas. Em nome do “Pacto Social” (a União Europeia) um Estado democrático foi destituído de sua soberania. A dependência financeira da Grécia com a União Europeia era tão grande que o Parlamento grego só conseguiu baixar a cabeça concordando com as propostas de austeridade fiscal. Um “não” teria significado a falência da Grécia. O povo grego – segundo as regras democráticas, o comitente do governo nacional – só pode ficar assistindo, impotente, à interdição de seu país. Manifestações e protestos foram a consequência óbvia. Tudo isso aconteceu na Grécia, o berço da Democracia.
O desmonte efetivo do Estado nacional grego foi apenas o começo desse processo em nível internacional. Aproxima-se o momento em que dez delegações políticas com competência global transferirão o poder que lhes foi delegado a um homem brilhante, com extraordinário carisma e capacitação impressionante para que, finalmente, resolva os problemas da humanidade (veja Ap 17.12-13). Esse será o momento de largada para a etapa final de um caminho que a própria humanidade caída elegeu em nome da “liberdade” e da “democracia”.
Ao encerrarmos aqui essa retrospectiva histórica, constatamos que os fatos reais básicos da sociedade foram completamente invertidos num prazo de apenas 250 anos. Especialmente depois do final da Segunda Guerra Mundial o princípio marcadamente cristão da “autoridade de cima” foi substituído pelo conceito democrático de autoridade, que é “de baixo”. Os atuais detentores de autoridade encontram-se embaixo, os valores apresentados às massas geralmente também vêm “de baixo”. Devido à erosão dos valores cristãos, a autoridade “de cima” tem pouco poder para se impor. Quando as autoridades defendem valores claramente cristãos, são massivamente atacadas na mídia e na política (por exemplo: o político católico Rocco Buttiglione, que em 2004 condenou a homossexualidade por considerá-la contra a Criação. Por causa dessa declaração, não conseguiu tomar posse em seu cargo na Comissão da União Europeia). Uma mudança nessa tendência não está à vista. Seria muita ingenuidade acreditar que a forma de organização democrática de muitos países representaria uma proteção eficaz contra os enganos dos tempos finais. Quem avalia realisticamente o desenvolvimento espiritual do mundo ocidental, especialmente da Europa, não pode esperar por uma reviravolta. Por isso, impõe-se a pergunta: O que nos espera?
Abandonando as ilusões: pessoas que se posicionam do lado de Jesus Cristo como Deus, que se firmam na Bíblia como Palavra de Deus e são a favor do verdadeiro significado da uma obediência singela a essa Palavra, enfrentarão tempos cada vez mais difíceis. Wim Malgo, fundador da Chamada da Meia-Noite, já dizia na década de 1960 que a Europa se transformaria em uma região onde a vida seria difícil para os verdadeiros seguidores de Jesus. As décadas transcorridas desde então só validaram seu prognóstico em todas as áreas. Como estamos nos equipando para os desafios que esperam por nós?

Enfrentando os desafios da nossa época

O próprio Senhor Jesus dá três conselhos à geração-“Laodiceia”, que é a nossa. Se obedecermos a esses conselhos não falharemos como cristão nem seremos envergonhados diante do Senhor:
• “Aconselho-te que de mim compres... colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas” (Ap 3.18). Essa é uma exortação a uma auto-avaliação sóbria e consciente. Precisamos ficar de olhos bem abertos. Se medirmos honestamente nossa vida prática segundo os parâmetros da sagrada Palavra de Deus, constataremos que somos muito mais débeis espiritualmente do que nossa percepção nos sugere. Essa clareza na auto-avaliação é dolorida, mas nos livra da ilusão acerca de nós mesmos, marca tão característica de Laodiceia (Ap 3.17).
• “Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres” (Ap 3.18). O fogo é um símbolo da provação que purifica, cristaliza e aglutina aquilo que é precioso. Ser fiel ao Senhor e à Sua Palavra nos proporcionará sofrimento em uma época cada vez mais anticristã. Para um crente sincero e comprometido, esse fogo terá apenas o efeito de purificá-lo mais e mais e de aumentar o tesouro de sua fé.
• “Aconselho-te que compres de mim... vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez” (Ap 3.18). Depois que já recebemos as vestes de justiça pela fé no Senhor Jesus Cristo como dom da graça de Deus, comprar vestiduras brancas significa uma exortação à obediência prática e ao afastamento do mundanismo, tão típico da era de Laodiceia.
Assim, além desses corretivos evidentes na Palavra de Deus para nossa época, devemos nos preocupar com as pessoas ao nosso redor que ainda não conhecem a Jesus como Salvador, levando-lhes, com muito amor, o Evangelho claro e autêntico. Quanto mais nos rejeitarem por causa de Jesus, mais mansamente devemos reagir. Nossa geração tem a possibilidade de aprender de uma maneira toda nova o que significa “seguir o Cordeiro por onde quer que vá”, como fazia o grupo mencionado em Apocalipse 14.4. Somos seguidores do Cordeiro. Ele nos guia, Ele é nossa autoridade. Isso nos coloca em descompasso com nossa época. Mas, coloca-nos também em um contexto de bênção, permitindo-nos usufruir privilégios que o mundo desconhece. 


(Peter Bertschinger - Chamada.com.br)

Extraído de Revista Chamada da Meia-Noite Fevereiro de 2015


30 de junho de 2013

A Bíblia e a Democracia na Igreja


O sistema democrático não é e nunca foi uma instituição de origem divina. A ideia de que os próprios homens sabem o que é melhor para si é uma filosofia "mundana" (inventada neste mundo, neste planeta e não se baseia na orientação de Deus). De fato, nada impede que façamos uso deste sistema em várias situações, mas, nos submetermos cegamente a ele, ou justificarmos decisões religiosas baseando-nos nele é um grande equívoco sob vários aspectos.

Para entender melhor essa questão analise a escolha de Saul e de Davi, relatado no velho testamento: Saul foi uma escolha mais ou menos democrática, o povo o escolheu pela beleza e altura e Deus apenas acolheu a vontade popular, (I Sam. 8 a 10). No entanto, após os "desvios" de Saul, Deus escolheu a Davi de forma não democrática (ISm 16.1-13). Deus fez a escolha analisando a intenção do coração, a coragem e a humildade de Davi. Note que enquanto Saul era o que mais sobressaía, principalmente em aparência, Davi era o que menos sobressaía a tal ponto do próprio pai, Jessé, esquecer de apresentá-lo ao profeta Samuel na ocasião da unção. Jesus Cristo também não fez uso de votações secretas na hora de escolher os 12 discípulos. Ele os escolheu analisando o coração de cada um e não suas boas aparências ou popularidades pessoais.

É bom lembrarmos, também, que foi o voto popular que condenou Jesus Cristo e absolveu Barrabás... Naquele episódio, tudo o que Pilatos fez foi colocar a questão dos Judeus em votação. O povo é que decidiu a quem condenar e a quem absolver. Não é de hoje que, em certas ocasiões, o povo troca a verdade de Deus por utopias revolucionárias defendidas por pessoas vaidosas e sedentas de Poder. A aparência caridosa, com que envolvem suas falas, é a principal arma que utilizam para iludir as pessoas e obterem o apoio popular necessário em regimes democráticos.

Portanto, é um equívoco nos fixarmos em filosofias democráticas na hora de escolher as lideranças da igreja (incluindo professores e pretendentes a pastores). Observe que os primeiros a levantar a mão, a si disporem como candidatos a isso ou àquilo não são os melhores. A maioria das pessoas, que se apressa em dizer sim, não consegue cumprir a tarefa prometida (ver Mt. 21:28-31). Por outro lado, as pessoas que não tem pressa em se apresentar, as que aguardam serem chamadas são as mais humildes de coração. Estas são, na verdade, as mais capacitadas "vocacionalmente" tal como Davi. (Os últimos a se apresentar são, em geral, os primeiros em capacitação pessoal).

Na hora de escolher lideranças, principalmente nas Igrejas, temos que avaliar todas as pessoas e convidar os mais humildes de coração, os mais corajosos e engajados com a verdade para assumirem posições de destaque nas igrejas e na sociedade em geral. Atualmente, tanto a Igreja quanto a Sociedade estão cheias de problemas. Se colocarmos pessoas certas nos lugares certos, elas saberão encontrar as verdadeiras soluções.

Cristãos, as afirmações feitas aqui são para análise e meditação, a intenção é ajudar a esclarecer (tornar claro, iluminar) jamais confundir. 


Valvim M Dutra 
Autor do Livro Renasce Brasil
http://protestantes.renascebrasil.com.br/e_democracia.htm

29 de junho de 2013

A Deusa da Democracia

Democracia: a Deusa da Nova Era

Ao escolher o título: “Democracia: o Deus da Nova Era”, eu sabia que ele seria polêmico. Parece que estou menosprezando a democracia. Contudo essa não é, de forma alguma, a minha intenção.

Temos experimentado a democracia como o sistema político que melhor funciona no momento. Ele nos provê com certas liberdades desconhecidas até então na História. A essa altura, não há outro sistema viável comparado à democracia. Mas à medida que a investigamos pela perspectiva bíblica, descobrimos que a democracia, não importa quão boa seja, acabará por dar posse ao Anticristo.

O próprio fato de que estamos hoje experimentando uma inundação de democracia nos fornece mais motivos do que nunca para crermos que a conclusão dos tempos do fim está às portas.

A democracia está nos lábios de todos hoje em dia, especialmente desde a sensacional e inesperada queda da Cortina de Ferro. Não passa um dia sequer sem que algum relato nos telejornais fale algo acerca do progresso da democracia. Alguns a têm chamado de a liberdade última e a libertação da humanidade. Outros dizem que a democracia é o direito dado por Deus para todos sobre a terra.

A Deusa da Democracia
Na China, que ainda está debaixo de governo comunista, a democracia é considerada uma religião. Durante o levante estudantil chinês na Praça Tiananmen, foi exibida uma “Estátua da Liberdade” em papel machê. Ela foi chamada “A Deusa da Democracia”. É isso que eu quero tratar em detalhes, porque uma deusa ou um deus da democracia jamais pode ser aquele Deus da Bíblia que nós cultuamos.
Pense por um instante. Crianças instruídas no comunismo – e seus pais e avós presumivelmente comunistas –, rebelam-se contra o sistema.
Manifestantes ao redor da 
escultura da Deusa da 
Democracia na praça Tiananmen, Beijing, 
30 de maio de 1989.

Eles haviam sido bons comunistas, caso contrário não teriam tido permissão de estudar nas universidade chinesas em busca de uma instrução mais elaborada. Ainda assim vemos esses estudantes como sendo os que levantaram essa “deusa da democracia”. Será que eles estavam reconhecendo algo que nós, como nação, temos falhado em reconhecer? Eu creio que sim!

Publicamos um artigo sobre o assunto na revista Notícias de Israel (em inglês) de julho de 1989, e cito partes do artigo aqui:
A esperança por democracia e a tragédia que se seguiu foram alardeadas pela mídia em detalhes. Qual é a importância disso a partir da Palavra profética? Geograficamente, a China está diretamente ao oriente de Israel. Sua participação no cenário dos tempos finais está descrita em Apocalipse 16.12: “Derramou o sexto a sua taça sobre o grande rio Eufrates, cujas águas secaram, para que se preparasse o caminho dos reis que vêm do lado do nascimento do sol”.
Embora a China seja um país comunista, eles se separaram do comunismo soviético sob a liderança de Mao Tse Tung. Isso não chegou a ser uma surpresa para os que estudam a Bíblia, porque a China não é categorizada dentro da confederação do norte mencionada pelo profeta Ezequiel, nos capítulos 38 e 39. A China pertence à confederação dos reis do Oriente e, portanto, ao império mundial que está presentemente surgindo na Europa.
Enquanto os levantes nos países do antigo bloco soviético se basearam exclusivamente em razões materialistas e nacionalistas, o levante na China foi diferente porque ele incluiu um fervor religioso conforme claramente expresso na “Deusa da Democracia”.40
Democracia em Marcha
Enquanto isso, nós experimentamos a queda do muro de Berlim, o símbolo que separava o Oriente do Ocidente, e o comunismo do capitalismo. Agora, mais do que nunca, à medida que testemunhamos a democracia se movendo rumo ao Oriente, ao invés do comunismo se movendo rumo ao Ocidente, como por tanto tempo tememos, considera-se que ela é a resposta absoluta a todos os problemas do mundo.

Quem poderá estar no caminho da democracia? Alguns anos atrás, o comunismo era, quem sabe, o sistema mais poderoso do mundo. Geograficamente, mais da metade do nosso planeta e cerca de 65% da sua população era governada por ele.

Nós experimentamos a queda do muro de Berlim, 
o símbolo que separava o Oriente do Ocidente, e 
o comunismo do capitalismo.

Agora, com esse perigo à liberdade capitalista não sendo mais uma ameaça real, a democracia está no palco, na frente e bem no centro. É o novo poder do mundo. Estamos nos aproximando da época em que ninguém, absolutamente ninguém, será capaz de se opor à democracia.

Aqui somos relembrados de Apocalipse 13.4: “Quem é semelhante à besta? Quem pode pelejar contra ela?”
Embora nos regozijemos com o fato de que nossos irmãos e irmãs no Senhor na Europa Oriental podem agora ter comunhão com maior liberdade, e estejamos contentes pela liberdade que eles agora têm de viajar para o Ocidente, não podemos permitir que esta alegria nos cegue para o novo perigo que se aproxima. O perigo que agora parece ser tão positivo é um mundo unido sob a democracia.

Mas quem, em sã consciência, poderia se opor a tal progresso? Qual é o problema da fraternidade universal, da unidade global, da paz e da prosperidade? Superficialmente, nada, mas aqueles que diligentemente estudarem as Escrituras saberão exatamente para onde esse desenvolvimento conduzirá.

Virtualmente desde o princípio, os homens têm esperado pela pessoa certa, com o sistema certo, que haverá de conduzir a uma paz e harmonia universais. Mas, os homens têm desejado que isso aconteça em seus próprios termos. Será que a paz e a prosperidade são realisticamente possíveis em nossos dias? Sem hesitação eu responderia “Sim!” Não apenas a paz é possível, mas essa paz poderia vir porque ela foi profetizada pelas Sagradas Escrituras. Sim, haverá paz num nível ainda não conhecido e ela inundará o mundo de tal forma que toda a oposição será eliminada.

No auge do sucesso, entretanto, ela assumirá uma identidade diferente. A máscara cairá e a sua verdadeira natureza será revelada. Ela não apenas se moverá horizontalmente, ou seja, globalmente, mas também se moverá verticalmente, porque os homens vão querer tornar-se como Deus.

A Democracia não Pode Mudar o Coração Maligno
O sucesso da democracia é baseado no intelecto humano. Mas o homem continua tão maligno quanto sempre foi: “ Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jeremias 17.9).

Sabemos o que aconteceu com os dois primeiros filhos de Adão e Eva. Houve uma discussão e um matou o outro. Desde aquela época, irmão tem guerreado contra irmão. Com absoluta certeza, podemos saber que esse tipo de conflito haverá de continuar. Guerras e rumores de guerra, discussões, insatisfação e rebelião não cessarão até Jesus voltar novamente. Apenas Ele trará a verdadeira paz.

Não devemos esquecer que os sistemas dos governos do mundo, passados ou presentes – quer ditadura, monarquia, democracia, socialismo ou comunismo –, todos prometeram uma vida pacífica e melhor. O alvo de quase todos os políticos jamais mudou – de fato, eles sempre prometeram ao povo: “Paz e prosperidade para o nosso povo, se me eleger...”

Por que, então, temos tantas guerras? A origem da guerra está localizada no ódio. Esse ódio ainda não foi eliminado. Ele ainda está profundamente arraigado no coração de cada pessoa neste mundo, menos das pessoas que foram compradas pelo sangue do Cordeiro, o Senhor Jesus Cristo. Só então o indivíduo tem a paz verdadeira que excede todo entendimento, e é capaz de vencer o ódio que satura a mente humana.

Ditadura Democrática
O perigo da democracia reside no fato irônico de que ela, em última análise, não tolerará qualquer oposição. A nova democracia mundial dos últimos dias virá a ser, com efeito, uma ditadura mundial.

Winston Churchill, o grande estadista britânico, 
confessou que: A pior forma de governo é a 
democracia, mas ela é a melhor que temos.

Encontramos as seguintes definições na parte de “Citações Populares” do Dicionário Enciclopédico Webster da Língua Inglesa:
Democracia simplesmente significa a ameaça do povo, pelo povo, para o povo.
Winston Churchill, o grande estadista britânico, confessou que:
A pior forma de governo é a democracia, mas ela é a melhor que temos.
O que tenciono destacar é que a alegria inebriante que está sendo expressa hoje, devido ao sucesso da democracia, não é, na realidade, motivo para regozijo. Em Apocalipse 16.13-14 lemos o que conduzirá ao fim: “Então, vi sair da boca do dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta três espíritos imundos semelhantes a rãs; porque eles são espíritos de demônios, operadores de sinais, e se dirigem aos reis do mundo inteiro com o fim de ajuntá-los para a peleja do grande Dia do Deus Todo-Poderoso”. Os “espíritos imundos” estão operando poderosamente hoje pelo mundo todo.
Pela primeira vez na história da humanidade, tornou-se possível que um sistema mundial fosse implementado para que a profecia bíblica seja cumprida, o que clara e distintamente nos diz que o mundo todo haverá de se unir. Mas esse não é o alvo final. No fim, um mundo unido há de se preparar para a batalha contra Deus.
A olho nu isso não é visível hoje. Ninguém está falando a respeito de se lutar contra Deus. Nenhuma pessoa em sã consciência sequer chegaria a pensar nisso. Mas as Escrituras que acabamos de ler afirmam categoricamente que os atos miraculosos realizados nas nações do mundo terão um alvo específico: o ajuntamento contra o Deus Todo-Poderoso.

A Batalha do Cristão
Hoje, mais do que nunca, os cristãos precisam se certificar de que sua posição é a de espectadores olhando para o campo político, e não a de competidores com os pagãos. Nosso alvo é servir ao Senhor ressurreto e exaltado, espalhando o Evangelho libertador, e preparando-nos para a volta dEle.

Nosso alvo é servir ao Senhor ressurreto e 
exaltado, espalhando o Evangelho libertador, 
e preparando-nos para a volta dEle.

Jamais os cristãos devem se degradar ao ponto de serem atraídos para as coisas que pertencem a este mundo. Nós não devemos crer que estamos no comando, e que através de nossa atitude poderemos produzir paz mundial, justiça e prosperidade.

Sabemos, com certeza absoluta, que Deus está no controle do mundo. Ele elege presidentes, primeiros-ministros, reis e outros funcionários de governo.

Nossa batalha, entretanto, é bem mais importante do que meramente controlar ou influenciar o sistema político. Já que nossa batalha claramente não é contra carne e sangue, o apóstolo Paulo afirma: “Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Efésios 6.12).


(Arno Froese - http://www.chamada.com.br)
Extraído do livro Como a Democracia Elegerá o Anticristo

O Gigante Acordou?


Por Gutierres Fernandes Siqueira
ORIGEM DO TEXTO:
http://www.teologiapentecostal.com/
Este blog é de teologia, mas quero comentar rapidamente sobre a onda de protestos no Brasil. Ora, o cristianismo é uma lente para enxergarmos o mundo à nossa volta. É uma cosmovisão [1] como C. S. Lewis escreveu: “Acredito no Cristianismo como acredito que o Sol nasceu, não apenas porque eu o vejo, mas porque por meio dele eu vejo todo o resto” [2] . Portanto, um blog de teologia também tem o dever de comentar a política profunda de seu país.
Nesta primeira parte levanto os pontos negativos, ou melhor dizendo, os pontos de alerta. É legal ver um “despertar político” da população, mas não sejamos ingênuos. Na segunda parte, publicada ainda nesta semana, levantarei os aspectos positivos.
Nesta primeira parte levanto os pontos negativos, ou melhor dizendo, os pontos de alerta. É legal ver um “despertar político” da população, mas não sejamos ingênuos. Na segunda parte, publicada ainda nesta semana, levantarei os aspectos positivos.

Os pontos negativos

1. Há um forte discurso contra a “democracia representativa”. Todos aprendemos nas aulas de história que a democracia nasceu na Grécia antiga. É o governo (cracia) do povo 
(demo). Mas a democracia pura e simples não existe. O povo como governante é apenas uma abstração. Por que? Ora, porque se todos governam literalmente, logo ninguém direciona e o lugar vira uma bagunça. Bom, para resolver esse “paradoxo da democracia” nasceu a representatividade partidária e parlamentar. Assim, de tempos em tempos elegemos os “nossos representantes”. 

Portanto, para representar a sociedade essa classe política se divide em partidos. Sejam de direita (individualismo, liberdade econômica, valores morais conservadores, liberdade de imprensa) ou de esquerda (igualitarismo, coletivismo, economia de Estado, valores morais liberais) ou de centro. Há ainda a extrema direita e a extrema esquerda (igualmente autoritárias, estatizantes, mas que divergem no modus operandi...). Essa divisão existe nas principais democracia do mundo. 

Talvez você argumente que essa representatividade não exista nos partidos brasileiros! É verdade, mas ela existe em indivíduos como candidatos. Por exemplo, em um mesmo partido é possível encontrar um deputado libertário e outro comunista. O problema é que os brasileiros, de maneira geral, não possuem o costume de pesquisar sobre os pensamentos políticos do seu candidato ou votam em alguém que quer apenas o poder pelo salário ali bem representado. 

A representativa através do voto é um filtro importante para que uma maioria seja ouvida, mas também a minoria seja igualmente protegida. Democracia não é simplesmente imposição de uma vontade da maioria, mas é o espaço da negociação. A maioria, é claro, votará e apresentará as pautas, mas em democracias terá que negociar com diversos atores da sociedade. Há, assim, inúmeras instituições para ouvir: a Constituição, o Poder Judiciário, o Poder Legislativo, o Poder Executivo, a imprensa, os empresários, os sindicatos, as igrejas, o mercado financeiro etc. e tal. Na nossa visão cristã ninguém é soberano, pois ninguém é deus, logo todos precisam de um poder moderador e de limitações. 

É evidente que tal modelo não seja perfeito e que suporte muitas falhas, mas não há nada melhor para colocar no lugar. É necessário lembrar que a democracia é um sistema complexo. “A complexidade alcança a forma, a ideologia subjacente e o nível de maturidade”, escreve o erudito evangélico D. A. Carson [3]. Portanto, ela não pode ser resumida numa votação ou na simples vontade da maioria. Assim, lembramos a velha e batida frase de Winston Churchill: “A democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos”. Há uma crise de representatividade? Sim, há. Mas o caminho não é acabar com essa representatividade.
02. Há forte romantização sobre “a voz das ruas”. O teólogo D. A. Carson escreveu um ótimo livro- sem tradução em português - sobre o politicamente correto com o título The Intolerance of Tolerance. Nessa obra Carson observa: “Certamente, os representantes do povo devem ser sensíveis à opinião pública [...]. No entanto, a opinião pública pode ser inconstante, facilmente influenciada por acontecimentos dramáticos ou pela língua de ouro dos demagogos” [4]. Isso é tão óbvio que é simplesmente espantoso como muitos são empolgadíssimos com a “voz das ruas” sem nenhuma reflexão mais profunda. Um deputado evangélico ligado à esquerda chegou a lembrar entusiasmado a idiota frase latina Vox populi, vox Dei.

O filósofo irlandês Edmund Burke escreveu o famoso livro Reflexões sobre a Revolução na França onde, como espectador privilegiado da revolução na vizinha França, fala sobre o espírito preventivo e cético ao lidar com fenômenos políticos: “Sempre que a casa do nosso vizinho estiver pegando fogo, é conveniente acionar um pouco as bombas d`água na nossa própria casa. Melhor ser desprezado por apreensões excessivas do que arruinado por uma segurança confiante demais” [5].

O maior exemplo histórico de uma “voz nas ruas” histérica e movida pela demagogia de alguns líderes religiosos foi a própria crucificação de Cristo:
Por ocasião da festa era costume do governador soltar um prisioneiro escolhido pela multidão. Eles tinham, naquela ocasião, um prisioneiro muito conhecido, chamado Barrabás. Pilatos perguntou à multidão que ali se havia reunido: "Qual destes vocês querem que lhes solte: Barrabás ou Jesus, chamado Cristo? "Porque sabia que o haviam entregado por inveja. Estando Pilatos sentado no tribunal, sua mulher lhe enviou esta mensagem: "Não se envolva com este inocente, porque hoje, em sonho, sofri muito por causa dele". Mas os chefes dos sacerdotes e os líderes religiosos convenceram a multidão a que pedisse Barrabás e mandasse executar a Jesus. Então perguntou o governador: "Qual dos dois vocês querem que eu lhes solte? " Responderam eles: "Barrabás! " Perguntou Pilatos: "Que farei então com Jesus, chamado Cristo? " Todos responderam: "Crucifica-o! " "Por quê? Que crime ele cometeu? ", perguntou Pilatos. Mas eles gritavam ainda mais: "Crucifica-o! " Quando Pilatos percebeu que não estava obtendo nenhum resultado, mas, pelo contrário, estava se iniciando um tumulto, mandou trazer água, lavou as mãos diante da multidão e disse: "Estou inocente do sangue deste homem; a responsabilidade é de vocês". Todo o povo respondeu: "Que o sangue dele caia sobre nós e sobre nossos filhos! " Então Pilatos soltou-lhes Barrabás, mandou açoitar Jesus e o entregou para ser crucificado. [6].
O interessante na história é a pergunta de Pilatos sobre o crime de Jesus. Alguma resposta? Não! Algum argumento? Não. Algum julgamento de fato? Não. Simplesmente palavras de ordem como “crucifica-o”! 

Foto: Revista Época
03. Demandas irrealistas e soluções populistas. Muitos manifestantes pedem hospitais e escolas no “padrão Fifa”. É uma irrealidade, pois o Estado brasileiro nunca foi um bom gerenciador em qualquer circunstância. Essas pessoas estão, infelizmente, pedindo ainda mais Estado. Como o Estado não pode garantir um bom hospital ou uma boa escola, então que se cobre menos impostos. A demanda mais realista é pedir a diminuição radical da carga tributária. Assim, sobraria mais dinheiro para comprarmos os serviços privados de saúde, educação e transporte. A redução da carga tributária seria o maior ato de “justiça social” nesse país. Isso faz lembrar Provérbios 29.4: “O rei mantém a terra pelo direito, mas o ávido de impostos a transtorna. [BJ]”
Ratzinger comentando o marxismo como proposta de liberdade mostra como a fé cega de alguns intelectuais faz com que os mesmos joguem fora qualquer sistema pautável com a realidade. Nesse sentido, criam suas próprias doutrinas e ideias e as impõe de maneira autoritária para as desenham como salvadoras e messiânicas. É a famosa “teorias de gabinete”, uma expressão usada por Edmund Burke para mostrar o irrealismo de alguns intelectuais. O assunto aqui não é propriamente o marxismo ou qualquer outra ideologia de esquerda, mas o comentário do teólogo católico cabe bem a esse contexto de revindicações sem lastro: 
O marxismo, no entanto, perde o fôlego na questão de como essa estrutura haveria de ser, e quais seriam os meios para estabelecê-la [7]. Até um cego pode ver que nenhuma das estruturas construídas, pelas quais se exigiu a renúncia da liberdade, possibilitou de fato a liberdade. Mas os intelectuais são cegos quando se trata de suas construções mentais. Por isso, podiam renunciar a qualquer realismo e continuar a lutar por um sistema cujas promessas era irrealizáveis. Procurou-se uma saída na mitologia: as novas estruturas deveriam produzir um homem novo- pois na verdade apenas com novos homens, com homens totalmente diferentes, as promessas poderiam funcionar. Se o caráter moral do marxismo se acha na exigência de solidariedade e na ideia de indivisibilidade da liberdade, então o anúncio do novo homem é claramente uma mentira que paralisa qualquer enfoque moral. Verdades parciais orientam-se para uma mentira, e então o todo fracassa: a mentira da liberdade elimina também os elementos verdadeiros. Liberdade sem verdade não é liberdade. [8]
É necessário cuidado perante o surgimento de populistas demagogos em ambientes de revoltas. Na Argentina de 2001 muitos gritavam nas ruas contras todos os políticos, mas logo em seguida elegeram Néstor Kirchner, a própria encarnação do populismo. Hoje a Argentina vive uma presente e consistente crise econômica e política. Alguns já gritam para uma reforma política. Sim, precisamos de reformas, mas todo cuidado é pouco. 

Além disso, nada mais anticristão do que eleger políticos como “messias” e “salvadores da pátria”. Sempre desconfie do messianismo político. A ficção 1984 de George Orwell tem uma passagem interessante. O personagem Winston Smith descreve uma cena onde uma mulher louvava o Grande Irmão (The Big Brother) como um messias. A cena mostra muito bem como ditaduras passam a imagem salvacionista. E uma democracia não cria expectativa de “salvadores”: 
A mulher esguia e ruiva se jogara para a frente, apoiando-se no encosto da cadeira diante dela. Com um murmúrio trêmulo que parecia dizer “Meu Salvador!”, estendeu os braços para a tela. Em seguida afundou o rosto nas mãos. Era visível que fazia uma oração. [9]

Referências Bibliográficas:

[1] “Uma cosmovisão é um comprometimento, uma orientação fundamental do coração, que pode ser expressa como uma história ou um conjunto de pressuposições (hipóteses que podem ser total ou parcialmente verdadeiras ou totalmente falsas), que detemos (consciente ou subconscientemente, consistente ou inconsistentemente) sobre a constituição básica da realidade e que fornece o alicerce sobre o qual vivemos, movemos e possuímos nosso ser”. SIRE, James W. O Universo ao Lado: Uma catálogo básico sobre cosmovisão. 1 ed. São Paulo: Editora Hagnos, 2009. p 16.

[2] LEWIS, C. S. O Peso de Glória. 1 ed. São Paulo: Editora Vida, 2008. p 134.

[3] CARSON, D. A. Cristo e Cultura: Uma Releitura. 1 ed. São Paulo: Edições Vida Nova, 2012. p 111. Leia especialmente o capítulo Secularismo, Democracia, Liberdade e Poder entre as páginas 105 a 129.

[4] CARSON, D. A. Intolerance of Tolerance. 2 ed. Grand Rapids: Eerdmans Publishing, 2012. p 151.

[5] BURKE, Edmund. Reflexões Sobre a Revolução na França. 1 ed. Rio de Janeiro: TopBooks, 2012. p 154.

[6] Evangelho Segundo Mateus 27. 15-26 [Nova Versão Internacional].

[7] Isso lembra claramente as revindicações do grupo radical Movimento Passe Livre.

[8] RATZINGER, Joseph. Fé, Verdade, Tolerância: O Cristianismo e as Grandes Religiões do Mundo. 1 ed. São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lúlio, 2007. p 218.

[9] ORWELL, George. 1984. 1 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p 27.

FONTE:
http://www.teologiapentecostal.com/