Em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. (Colossenses 2:3)

Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por essas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.(Efésios5:6)
Digo isso a vocês para que não deixem que ninguém os engane com argumentos falsos. (Colossenses 2:4)
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20 de dezembro de 2019

‘Ovo frito” – Rubem Alves



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Gosto muito de ovo. Ovo frito. Ovo escaldado, com pão torrado. Coisa boba, o fato é que comecei a pensar sobre as razões por que gosto de ovo. Lembrei-me…

Meu pai era viajante. Passava a semana fora de casa. Voltava às sextas-feiras, no trem das oito. Noite escura, o trem das oito vinha apitando na curva, resfolegando de cansado, expelindo enxames de vespas vermelhas, chamuscava uma paineira, entrava na reta, passava a dez metros da nossa casa, todos nós estávamos lá, o pai com a cabeça de fora, sorrindo, e todos corríamos para a estação. Ele vinha com fome e sujo. Água quente não havia. Mas não tinha importância. Da leitura do Evangelho havíamos aprendido de Jesus, no lava-pés, que quem está com os pés limpos tem o corpo inteiro limpo. A coisa, então, era lavar os pés. E esse era o costume geral lá em Minas. Minha mãe esquentava água no fogão de lenha, punha numa bacia e eu lavava os pés do meu pai. Depois de limpo, ele se assentava à mesa e o que tinha para comer era sempre a mesma coisa: arroz, feijão, molho de tomate e cebola, ovo frito e pão. Ele me punha assentado ao joelho e comia junto.


Ah, como é gostoso comer pão ensopado no molho de tomate, pão lambuzado no amarelo mole do ovo! Era um momento de felicidade. Nunca me esqueci. Acho que quando enfio o pão no amarelo mole do ovo eu volto àquela cena da minha infância. Os poetas, somente os poetas, sabem que um ovo é muito mais que um ovo…
 

Rubem Alves, crônica do livro “Ostra feliz não faz pérola”. Editora Planeta, 2008.
https://www.revistaprosaversoearte.com/ovo-frito-rubem-alves/?
 
 

3 de agosto de 2017

É possível que o nome de uma pessoa seja apagado do Livro da Vida?


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Apocalipse 22:19 diz: "Se alguém tirar alguma palavra deste livro de profecia, Deus tirará dele a sua parte na árvore da vida e na cidade santa, que são descritas neste livro." Este versículo é normalmente envolvido no debate sobre a segurança eterna. Será que Apocalipse 22:19 significa que o nome de uma pessoa, depois de ter sido escrito no Livro da Vida do Cordeiro, pode em algum momento no futuro ser apagado? Em outras palavras, pode um cristão perder a salvação?

Em primeiro lugar, as Escrituras deixam claro que um verdadeiro crente é protegido pelo poder de Deus, selado para o dia da redenção (Efésios 4:30), e que o Filho não perderá nenhum dos que o Pai lhe deu (João 6:39). O Senhor Jesus Cristo proclamou: "Eu lhes dou a vida eterna, e elas jamais perecerão; ninguém as poderá arrancar da minha mão. Meu Pai, que as deu para mim, é maior do que todos; ninguém as pode arrancar da mão de meu Pai" (João 10:28-29b). A salvação é uma obra de Deus, não nossa (Tito 3:5), e é o Seu poder que nos protege.

Se não aos cristãos, então a quem esse "alguém" de Apocalipse 22:19 se refere? Em outras palavras, quem talvez queira adicionar ou tirar palavras da Bíblia? Muito provavelmente, esta adulteração da Palavra de Deus não seria feita pelos verdadeiros crentes, mas por aqueles que apenas professam ser cristãos e que supõem que seus nomes estejam no Livro da Vida. De um modo geral, os dois principais grupos que têm tradicionalmente adulterado a revelação são seitas pseudo-cristãs e aqueles que sustentam crenças teológicas muito liberais. Muitas seitas e teólogos liberais reivindicam o nome de Cristo para si, mas não são nascidos de novo -- o termo bíblico definitivo para um cristão.

A Bíblia cita vários exemplos de pessoas que achavam que eram crentes, mas cuja profissão de fé foi provada como sendo falsa. Em João 15, Jesus se refere a elas como ramos que não permaneceram nele, a Videira verdadeira e que, portanto, não produziram nenhum fruto. Sabemos que são falsos porque "Vocês os reconhecerão por seus frutos" (Mateus 7:16, 20). Por outro lado, os verdadeiros discípulos demonstrarão o fruto do Espírito Santo que reside dentro deles (Gálatas 5:22). Em 2 Pedro 2:22, mestres falsos são cães que retornam ao seu próprio vômito e a porca lavada que "voltou a revolver-se na lama". O ramo estéril, o cão e o porco são todos símbolos daqueles que professam ter salvação, mas que não podem confiar em nada mais que em sua própria justiça, pois não possuem a justiça de Cristo que verdadeiramente salva.

É duvidoso que aqueles que se arrependeram de seus pecados e nasceram de novo voluntariamente adulterariam a Palavra de Deus de qualquer forma, seja acrescentando ou tirando dela. É claro que reconhecemos que pessoas boas têm tido sinceras diferenças na área de crítica textual. No entanto, pode-se demonstrar como os cultistas e liberais têm repetidamente tanto "acrescentado" quanto "tirado". Assim, podemos entender a advertência de Deus em Apocalipse 22:19 desta maneira: qualquer um que mexer com essa mensagem crucial vai descobrir que Deus não colocou o seu nome no Livro da Vida, será negado o acesso à Cidade Santa e perderá qualquer expectativa de todas as coisas boas que Ele promete aos seus santos neste livro.

De um ponto de vista puramente lógico, por que o soberano e onisciente Deus -- Aquele que conhece o fim desde o começo (Isaías 46:10) -- escreveria um nome no Livro da Vida já sabendo que teria de removê-lo quando essa pessoa eventualmente negasse a fé? Além disso, ler essa advertência dentro de seu contexto no parágrafo em que aparece (Apocalipse 22:6-19) mostra claramente que Deus permanece consistente: apenas aqueles que têm dado atenção às Suas advertências, arrependeram-se e nasceram de novo poderão antecipar algo de bom na eternidade. Todos os outros, infelizmente, têm um futuro terrível e aterrorizante à sua espera.

Apocalipse 3:5 é um outro versículo muito importante para essa questão. "O vencedor.... Jamais apagarei o seu nome do livro da vida." O "vencedor" mencionado nessa carta a Sardes é o cristão. Compare isso com 1 João 5:4: "O que é nascido de Deus vence o mundo" e o versículo 5: "Quem é que vence o mundo? Somente aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus" (Veja também 1 João 2:13). Todos os crentes são "vencedores" por terem a vitória sobre o pecado e a incredulidade do mundo.

Algumas pessoas veem em Apocalipse 3:5 a imagem de Deus com sua caneta em posição pronta para eliminar o nome de qualquer cristão que peque. Eles interpretam algo mais ou menos assim: "Se você fracassar e não conquistar a vitória, então perderá a sua salvação! Na verdade, apagarei o seu nome do Livro da Vida!" Entretanto, NÃO é isso o que o versículo diz. Jesus está dando uma promessa aqui, não uma advertência.

As Escrituras nunca dizem que Deus apaga o nome de um crente do Livro da Vida; nunca há sequer um aviso de que esteja contemplando fazê-lo! A maravilhosa promessa de Apocalipse 3:5 é que Jesus NÃO apagará o nome de ninguém. Falando aos "vencedores" -- todos os redimidos pelo sangue do Cordeiro -- Jesus dá a Sua palavra de que não apagará os seus nomes. Ele afirma que quando um nome se encontra no livro, então está lá para sempre. Isso é baseado na fidelidade de Deus.

A promessa de Apocalipse 3:5 é direcionada aos crentes, os quais estão seguros na sua salvação. Em contraste, o aviso de Apocalipse 22:19 é direcionado aos incrédulos, os quais, ao invés de direcionarem seus corações para Deus, tentam mudar a Palavra de Deus para servir os seus propósitos.
 
 
https://www.gotquestions.org/Portugues/apagado-livro-vida.html
 
 

27 de fevereiro de 2012

O tempo e as jabuticabas - Rubem Alves



Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela [criança] que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.

Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.

Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de 'confrontação', onde 'tiramos fatos a limpo'. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: 'as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado do que é justo.

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.

O essencial faz a vida valer a pena.


*****


"Ensina-nos a contar os nossos dias de tal 
maneira que alcancemos corações sábios".  
(Salmo 90:12)


20 de fevereiro de 2012

O pintassilgo e as rãs


por Rubem Alves

Num lugar muito longe daqui, havia um poço fundo, abandonado e escuro que alguém cavara, muitos e muitos anos atrás, não se sabe bem para que. Lá dentro se alojou um bando de rãs. As primeiras a entrar pensaram que aquele era um local bom de se viver, protegido, úmido, gostoso. De um pulo caíam lá dentro. Só que não perceberam que pular no buraco é fácil. O difícil é pular para fora dele. O poço era fundo demais e elas nunca mais puderam sair. Ficaram vivendo lá dentro. Casaram-se; tiveram filhos, multiplicaram-se. As mais velhas ainda se lembravam da beleza do mundo de fora e morriam de saudades. Contavam estórias para seus filhos e netos.

- Quando eu era jovem, e ainda não tinha caído neste buraco... Era assim que sempre começavam. A princípio, a meninada parava para ouvir e gostava. "Estórias da carochinha", eles diziam. O fato é que nunca haviam estado do lado de fora, e pensavam que as tais estórias não passavam de invenções de seus avós já caducos. O tempo passou, os velhos morreram, e até mesmo essas estórias foram esquecidas. As novas gerações foram educadas segundo novos princípios pedagógicos, currículos adequados à realidade, o que importa é passar no vestibular, e acabaram por acreditar que o seu buraco era tudo o que existe no universo. Isto era cientifico, resultado da rigorosa análise material do seu mundo. O real era um cilindro oco e profundo, onde a água, a terra e o ar se combinavam para formar tudo o que existia. As rãzinhas aprendiam que o seu era o melhor dos mundos e, na escola, aprendiam a recitar: "Rãzinha, não verás buraco algum como este. Ama, com orgulho, o buraco em que nasceste..."

A vida, lá dentro, era como a vida em todo lugar. Havia as rãs fortes e truculentas. Elas mandavam nas outras que eram fracas e tinham de obedecer e trabalhar dobrado. Os insetos mais gostosos iam sempre para as mais fortes. As rãs oprimidas achavam, com toda a razão, que isto era uma injustiça. E, por isso mesmo, preparavam-se para uma grande revolução que poria fim a esse estado de coisas. Quando a classe dominante fosse derrubada, a vida no fundo do poço ficaria democrática e os insetos seriam distribuídos com justiça...

Se o buraco não era tão bom quanto cantava a poesia (assim diziam os ideólogos da revolução), era porque ele estava dominado pelas rãs fortes...


Aconteceu, entretanto, que um pintassilgo que voava por ali viu a boca do poço. Ficou curioso e resolveu investigar. Baixou o voo e entrou nas profundezas. Qual não foi a sua surpresa ao descobrir as rãs! Mas mais perplexas ficaram elas ante a presença daquela estranha criatura. A simples presença do pintassilgo punha em questão todas as teorias sobre o mundo, pois que dele não havia registro algum em seus arquivos históricos. O pintassilgo morreu de dó ao ver as pobres rãs, prisioneiras daquele buraco fétido e escuro, sem nada saber do lindo mundo que havia fora do poço. Como é que elas podiam viver ali dentro, sem nunca pensar em sair? Claro que para se planejar sair é preciso acreditar que existe um "lá fora". Mas as rãs sabiam que um "lá fora" não existia, pois os limites do seu buraco eram os limites do universo.

O pintassilgo resolveu contar-lhes como era o mundo de fora. E se pôs a cantar furiosamente. Queria ajudar as pobres rãs...


Trinou flores, campos verdes, riachos cristalinos, lagoas, insetos de todos os tipos, sapos de outras raças e outros coaxares, bichos os mais variados, o sol, a lua, as estrelas, as nuvens. As rãs ficaram em polvorosa e logo se dividiram. Algumas acreditaram e começaram a imaginar como seria lá fora. Ficaram mais alegres e até mesmo mais bonitas. Coaxaram canções novas. E começaram a fazer planos para a fuga do poço. Desinteressaram-se das esperanças políticas antigas.

- Não, não queremos democratizar o fundo do poço. Queremos é sair dele... Preferimos ser gente simples lá fora, onde tudo é bonito, a ser elite dominando aqui dentro, onde tudo é escuro e fedido...

As outras fecharam a cara e coaxaram mais grosso ainda. Não acreditaram...

O pintassilgo resolveu, então, trazer provas do que dizia. Chamou abelhas, com mel. Convidou borboletas coloridas. Trouxe flores perfumadas... Mas tudo foi inútil para os que não queriam acreditar.

- Este bicho é um grande enganador, eles diziam. Sabemos que estas coisas não existem. Aprendemos em nossas escolas...


O rei reuniu seus generais e ponderou que as idéias do pintassilgo eram politicamente perigosas. As rãs estavam perdendo o interesse pelo trabalho. Produziam menos. Com isto havia menos recursos para as despesas do Estado, especialmente uma ferrovia que se pretendia construir, ligando um lado do poço ao outro. Trabalhavam menos, coaxavam mais. Claro que as palavras do pintassilgo só podiam ser mentiras deslavadas, intrigas de oposição... Os revolucionários, igualmente, puseram o pintassilgo de quarentena, pois o seu canto enfraquecia politicamente as rãs dominadas, que agora estavam mais interessadas em sair que em revolucionar o poço.

As rãs intelectuais, por sua vez, se puseram a fazer a análise filosófica, ideológica e psicanalítica da fala do pintassilgo. O seu relatório foi longo. Nele concluíram que: de um ponto de vista filosófico, faltava rigor ao discurso do pássaro, pois ele mais se aproximava da poesia que da ciência; de um ponto de vista ideológico, tratava-se de um discurso alienado, no qual não se fazia nem mesmo uma análise crítica das condições objetivas da sociedade ranal;de um ponto de vista psicanalítico, era óbvio que o pintassilgo sofria de perigosas alucinações que, dado o seu conteúdo, poderiam se transformar num fenômeno de massas.

Observaram, finalmente, que dadas as evidências, o pintassilgo se constituía num grave perigo tanto para a cultura como para as instituições do mundo das rãs. E com isto pediam das pessoas de boa vontade e responsabilidade as providências devidas para erradicar o mal.

O manifesto das rãs foi acolhido unanimemente tanto pelos líderes da direita como pelos líderes da esquerda pois, para além de suas discordâncias conjunturais, estava seu compromisso comum com o bem-estar e a tranquilidade da família ranal. Por ocasião da próxima visita do pintassilgo, ele foi preso, acusado de enganador do povo, morto, empalhado e exposto no Museu de História. Quanto às rãs, foram para sempre proibidas de coaxar as canções que o pintassilgo lhes ensinara. Um aluninho-rã, que visitava o museu, perguntou à sua professora:

        

- Que é aquilo, professora?
- É um pintassilgo, ela respondeu.
- E que coisas estranhas são aquelas nas suas costas?, ele perguntou.
- São asas...
- E para que servem?, ele insistiu.
- Para voar...
- E nós voamos?
- Não, respondeu a professora. Nós não voamos. Nós pulamos...

E não seria melhor voar? A professora compreendeu então, com um discreto sorriso, que um pintassilgo, mesmo empalhado, nunca seria esquecido.




15 de janeiro de 2012

TRANSFORMAÇÃO PELO FOGO



MILHO DE PIPOCA – Rubem Alves

Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre.

Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa. Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo.

O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor.

Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre.

Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento, cujas causas ignoramos.

Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo! Sem fogo o sofrimento diminui. Com isso, a possibilidade da grande transformação também. Imagino que a pobre pipoca fechada dentro da panela, lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para si.

Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela. A Pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: BUM! E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado.

Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de Pipoca que se recusa a estourar. São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura. No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras a vida Inteira. Não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva. Não vão dar alegria para ninguém.




Do livro: “O amor que acende a lua”, de Rubem Alves