Em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. (Colossenses 2:3)

Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por essas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.(Efésios5:6)
Digo isso a vocês para que não deixem que ninguém os engane com argumentos falsos. (Colossenses 2:4)
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11 de maio de 2018

Batismo no Espírito e nas águas em Paulo


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O perigo que corremos quando estudamos esse debatido tema do batismo, com foco nas cartas paulinas, é uma aproximação ao texto carregada com nossos pressupostos, preconceitos, convicções e agenda teológica, ao invés de ouvirmos o ensinamento do apóstolo.

Nosso problema é que, mesmo nas treze cartas que temos do apóstolo Paulo, nós não temos tudo o que Paulo gostaria de nos ensinar sobre todos os tipos de assuntos, especialmente sobre esse motif, mas temos alguns dados que podem nos guiar.

Qual é o relacionamento entre o batismo nas águas e o batismo no Espírito? Alguns veem esse relacionamento tão próximo que associam um com o outro, dizendo que o Espírito é recebido no batismo das águas. Para outros, não há relacionamento nenhum, é uma mera questão de coincidência.

O segundo volume da obra de Lucas pode nos ajudar nessa questão. Seguindo as narrativas de Atos, será que temos um paradigma no capítulo 19.1-7, em que a vinda do Espírito ocorre em conexão com o batismo nas águas? Ou nosso modelo está em Atos 10, em que o batismo é uma resposta à vinda do Espírito?

Ainda temos outra questão a ser levantada. A questão da dinâmica e experimental vinda do Espírito, que faz parte do quadro maior sobre o que acontece quando uma pessoa é salva por Cristo. Gordon Fee mostra que há uma tradição substancial na igreja afirmando que a experiência do Espírito, ou um "batismo no Espírito" se preferir, tem uma disposição subsequente aos crentes em relação ao recebimento do Espírito no batismo, ainda que essa experiência subsequente tenha sido entendida de maneiras variadas (santificação, fortalecimento, confirmação).1 Essa interpretação usa como paradigma o capítulo 8 de Atos, em que a conversão é seguida do batismo, que é seguido tempo depois pelo batismo no Espírito.

Essas questões são tão vastas que não podemos lidar com elas detalhadamente nesse artigo, porque também precisaríamos analisar o restante do Novo Testamento para isso. Meu interesse nesse artigo é estritamente no testemunho paulino. Pelo fato de Paulo não ter dito muito sobre a segunda questão (batismo no Espírito), precisarei expandir minha pobre visão para ver se há alguma evidência paulina que simpatize com o conceito de "experiência subsequente".

As informações podem ser facilmente distorcidas. Paulo associa O Espírito com o verbo "batizar" em apenas um único texto, 1Co 12.13, e muito tem sido escrito sobre esse texto, e o desacordo entre teólogos é ainda maior.

Ambas as interpretações usam esse texto para provar e fundamentar seu raciocínio. Por isso irei oferecer uma análise detalhada com ambas as questões em mente.

O Espírito e o batismo nas águas

Na igreja primitiva, o batismo nas águas era a resposta imediata do crente ao ato salvador de Deus no Espírito.2 Por parecer que ambos possuem uma conexão intrínseca, muitos argumentam que O Espírito vem ao crente através do próprio ato do batismo, como uma consequência inexorável. O paradigma absoluto usado é o do próprio Jesus, com a descida do Espírito em forma de pomba após seu batismo. Os textos-chave são 1Co 6. 11; 12.13 e Tito 3.5.3

O erro dessa abordagem se encontra tanto no método como nos pressupostos. No método por falhar em perceber como prosseguir para descobrir a perspectiva de Paulo e nos pressupostos por simplesmente enfatizar uma experiência da igreja e jogar fora o restante das evidências como um todo.

Prosseguiremos nossa abordagem em três passos: 1. Olharemos cuidadosamente para 1Co 12.13 que associa (ou que pelo menos parece que associa) o Espírito e o batismo;4 2. Depois olharemos para os textos em que Paulo fala sobre o batismo de uma forma clara e não ambígua, e veremos se há alguma conexão com o Espírito e; 3. Veremos os textos em que Paulo fala sobre conversão em termos do Espírito e ver se o batismo pode ser pelo menos pressuposto.5

Batismo no Espírito em 1Co 12.13

Os reverendos Archibald Robertson e Alfred Plummer veem nesse texto um "aspecto social do batismo",6 mas podemos dar alguns passos a mais.

Nosso texto vem após uma afirmação dupla: "O corpo é um" e tem muitos membros, e então Paulo explica essa afirmativa dizendo que "em um só Espírito, todos nós fomos batizados, em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres e a todos nós foi dado de beber de um só Espírito".

Alguns veem a expressão "em um só Espírito, todos nós fomos batizados" como uma relação íntima entre ambos (batismo e Espírito), e outros veem a expressão "beber de um só Espírito" como a ação do mesmo após o batismo. Mas ao analisarmos o contexto, essas duas opções caem por terra.

No contexto Paulo discorda dos cristãos em Corinto sobre a natureza da verdadeira espiritualidade. É provável que os coríntios entendessem a "glossolalia" (falar em línguas) como a evidência que eles já haviam começado a falar a linguagem celestial (13.1), indicando que eles alcançaram um estado espiritual que os coloca acima da vida neste mundo.7 Porém, Paulo tem uma visão sobre espiritualidade diferente, que inclui discipulado que segue O Crucificado (2.1-3; 4.1-9).8

Paulo os corrige teologicamente no capítulo 12, mostrando que o foco exclusivo no dom de língua mal interpreta e não representa a natureza da igreja. Paulo argumenta que a unidade em meio à diversidade é a verdadeira prova da manifestação do Espírito entre eles, que é o ponto de quase todo o capítulo 12. No verso 13, elaborando o que ele disse no verso anterior, Paulo oferece um fundamento para a unidade, que é a experiência comum que eles tinham no Espírito.

Muitos leem esse texto como se Paulo estivesse ensinando como alguém se torna um cristão, quando na verdade, Paulo está mostrando como os cristãos, com tanta diversidade entre eles, são de fato um só corpo. A resposta é clara: O Espírito que todos eles receberam. Para Paulo, a recepção do Espírito é o sine qua non da vida cristã.9

Paulo usa um paralelo para demonstrar a comum recepção do Espírito entre os coríntios:
"Todos nós fomos batizados em um Espírito"

e

"Todos nós bebemos de um só Espírito". 
A primeira parte é qualificada pela frase preposicional "em um corpo",10 que é modificada pela adição parentética "quer judeus, quer gregos, quer escravos quer livres".11

Sobre a análise acima, G. Fee oferece cinco importantes observações, que estão resumidas abaixo:12

1. Ainda que alguns digam que Paulo usa o verbo "batizar" somente para o rito de iniciação cristã, não podemos ter total certeza. É correto afirmar que esse verbo se tornou o termo técnico para esse rito muito cedo na igreja, mas não podemos assumir que Paulo o usou de forma técnica aqui. Ele não disse que "todos nós fomos batizados", o que implicaria o batismo nas águas, mas ele especificou: "Todos nós fomos batizados no Espírito".

2. Além do mais, não é o batismo, mas sim "o Espírito", que é a base do argumento de Paulo para a unidade (cf. vv. 4-11). Essa é a perspectiva coerente de Paulo ao longo de suas cartas: cristãos formam um só corpo em Cristo precisamente por causa do Espírito.

3. O texto não dá suporte para afirmar que o Espírito é recebido no batismo nas águas. A preposição grega "en" (em/com/pelo) dificilmente pode ser forçada a significar algo como "todos nós fomos batizados (nas águas), e através disso foi dado o Espírito". Aqui o Espírito é o "elemento" no qual todos foram batizados.

4. A maior dificuldade para a visão que o Espírito é dado no batismo está na segunda parte, "e a todos foi dado beber de um só Espírito". Temos aqui um paralelismo semítico (pelo que parece) onde as duas cláusulas tem essencialmente o mesmo sentido. Esse é o sentido claramente metafórico do paralelismo que, junto com o modificador "no Espírito", pende mais fortemente para um sentido metafórico ao invés de literal, para o batismo da primeira cláusula. Ou seja, a experiência que eles tiveram do Espírito, é análoga, mas não idêntica, a imersão que eles tiveram no batismo nas águas. Eles foram imersos no Espírito.

5. Alguns argumentam que a segunda cláusula aponta para uma segunda experiência no Espírito. Mas contra essa visão está o paralelismo citado acima e a falta dessa linguagem em toda a literatura cristã para se referir a experiência do Espírito.

À luz dessas observações, sobre o que essas duas cláusulas se referem? Para qual experiência cristã elas servem de metáforas? Alguns argumentam que o batismo no Espírito é uma experiência distinta e separada da conversão. Mas contra essa visão está o uso paulino (ele não usa esse termo para uma segunda experiência em nenhum lugar) e a ênfase do contexto, que não é sobre uma experiência especial do Espírito além da conversão, mas sim sobre a experiência comum da recepção do Espírito.13

Portanto, Paulo está se referindo a experiência de conversão, se referindo ao seu elemento crucial, a recepção do Espírito. As expressões metafóricas (imersão no Espírito e beber do Espírito) implicam uma experiência muito maior e uma manifestação mais visível da recepção do Espírito do que alguns pretenderiam experimentar na história posterior da igreja.14 Paulo pode fazer tal apelo a comum experiência do Espírito precisamente porque, como em Gálatas 3. 2-5, era uma experiência dinamicamente real, que havia acontecido com todos.15

Batismo nas águas

Nas cartas paulinas, temos referências claras ao batismo nas águas, o que pode indicar uma falta de conexão com o dom do Espírito. Os textos são: 1Co 1.13-17 (cf. 10.2; 15.29); Gl 3.27; Rm 6. 3-4; Cl 2.12; Ef 4.5. Dois comentários sobre esses textos se fazem necessários:

1. Primeiramente, em todas essas passagens que associam os cristãos com o batismo, é invariavelmente com referência a Cristo, e não com o Espírito.16 Quando alguém é batizado, está revestido de Cristo, mas nunca do Espírito. Em Efésios 4. 4-6, vários aspectos da vida cristã é associado ao Espírito e a Cristo. Mas o "um corpo" e a "uma só esperança" são associados com o Espírito, enquanto a fé e o batismo são associados a Cristo.17

2. Em 1Co 1. 13-17, Paulo deliberadamente coloca o batismo como secundário em relação à proclamação do evangelho. Ele não diminui o importante papel que o batismo tem, mas de maneira nenhum ele permitirá ser igualado à proclamação do evangelho que traz as pessoas à fé.

Meu ponto é: Paulo associa a recepção do Espírito com sua proclamação do evangelho e não com o batismo. O batismo é a resposta individual pela graça recebida através do Espírito ao aceitar o evangelho em fé.

Se Paulo associasse o batismo nas águas com a recepção do Espírito, ele não usaria essa linguagem, muito menos batizaria apenas dois em Corinto (Crispo e Gaio, mais a casa de Estéfanas). Pelo contrário, é precisamente por causa do seu ministério, proclamando a palavra, que o Espírito vem.

Conversão e o batismo no Espírito

Ainda há uma questão a ser levantada do outro lado. Será que Paulo concebia uma obra de Graça além da conversão, a qual a linguagem "batismo no Espírito" pode ser corretamente aplicada?

Alguns interpretam alguns textos dessa maneira, como por exemplo, 1Coríntios 12.13 e Gálatas 4. 4-6, mas se analisarmos as evidências acumulativas como um todo, essa posição se torna na melhor das hipóteses questionável. Se Paulo conhecia tais experiências ainda é um ponto discutível. Duas observações são necessárias aqui:

Primeiramente, Paulo faz uma clara conexão entre o Espírito e a "experiência de poder".18 Em outras palavras, na concepção paulina, o Espírito não é apenas experimentado na conversão, mas é constantemente experimentado de uma maneira dinâmica e visível.

Isso fica ainda mais claro ao lermos Gálatas 3. 2-5, especialmente o verso 5 que diz: "Aquele, pois, que vos concede o Espírito e que opera milagres entre vós, porventura, o faz pelas obras da lei ou pela pregação da fé?".

Paulo apela para a experiência no Espírito, que era dinamicamente presente entre os gálatas para mostrar que eles não tinham relacionamento com a lei judaica.19

Em segundo lugar, a vida no Espírito, na visão de Paulo, de maneira alguma se restringia exclusivamente a experiência no Espírito no momento da conversão.

Paulo não tinha uma visão estática do Espírito como muitos cristãos posteriores, que viam o Espírito dado "uma vez por todas" na conversão, e depois disso não haveria nenhuma experiência no Espírito e somos dados aos nossos próprios esforços para viver a vida cristã.

Para Paulo, o Espírito é a chave da vida cristã, e ele implica frequentemente que há sim momentos posteriores da conversão, em que o Espírito é derramado para fortalecer os cristãos.

O que acontece na conversão precisa ser renovado. Para Paulo, a vida no Espírito começa na conversão, ao mesmo tempo em que é experimentada em dimensões dinâmicas e renovadoras.20

O batismo nas águas é a resposta do indivíduo a atividade e presença do Espírito. Não é meramente um rito, pois Paulo usa imagens fortes para descrevê-lo como, por exemplo, morrer e ressuscitar com Cristo, ser revestido de Cristo, antes faz parte do complexo de conversão como um todo. Por imersão ser o padrão normal para o batismo, isso proporciona para Paulo ricas metáforas para descrever o batismo.

A recepção do Espírito não é estática, nem meramente um evento do passado, mas deve ser uma realidade presente. Linguagem quantitativa é evitada, e não existe a conhecida "segunda bênção", mas a experiência do Espírito sempre-presente pode ser inflamada. Nosso ponto aqui não precisa ter precisão terminológica ou teológica, mas acima de tudo precisa ser renovado, para que possamos ser verdadeiramente o povo do Espírito, a comunidade escatológica de Deus, habitada e transformada pelo Espírito, nesse mundo perverso, e brilharmos a glória de Deus nesse país.


1Gordon Fee, "Paul, the Spirit ans the people of God" p. 194.
2Ibid.
3 Alguns ainda adicionam Gl 3.28-4.6 e as figuras de selo em 2 Co 1.21-22; Ef 1.13-14; 4.30.
4Não teremos espaço aqui para olhar os outros textos dessa natureza como p. ex. 1Co 6.11 e Tt 3.5.
5Ibid. p. 195.
6Archibald Robertson e Alfred Plummer, "A critical and exegetical commentary on the first epistle of st. Paul to the Corinthians", ICC, p. 272.
7Fee, op. cit.
8Ibid.
9Gordon Fee, "God´s empowering presence, the holy spirit in the letters of Paul", p. 178.
11Em Gr. "εις εν σωμα", onde εις pode ser local, indicando onde todos foram batizados, ou denotando o objetivo da ação, indicando o propósito da ação do batismo (= para se tornar um corpo). Gordon Fee, "The first epistle to the Corinthians", NICNT, p. 603.
12Fee, "Paul, the Spirit ans the people of God" p. 196-97.
13Ibid.
14Ibid. p. 197.
15Ibid.
16 Ibid.
17Ibid. p. 200.
18Ibid.
19Ibid.
20Ibid. p. 202.


www.teologiabrasileira.com.br/teologiadet.asp?codigo=425



26 de julho de 2015

DEZ PASSOS DIDÁTICOS PARA FAZER A EXEGESE DE UM TEXTO PARA O SERMÃO



Por Hans Ulrich Reifler

O árduo trabalho de preparação da mensagem bíblica começa com a transparência do texto escolhido. O processo que gera essa transparência chama-se exegese.

Exegese é um termo técnico teológico empregado para definir o trabalho de exposição de um texto bíblico. A palavra exegese deriva do substantivo grego exegesis, que significa declaração, narrativa, exposição, explicação, interpretação. Para os gregos, os exegetai eram os intérpretes e expositores oficiais da lei sagrada. Platão, Leis, 759 c, e, 755 a. O termo exegese firmou-se mundialmente a partir do século XIX, indicando a atividade teológica de expor um texto da Bíblia.

O texto bíblico apresenta-se numa língua estrangeira (hebraico, aramaico ou grego) e inserido numa cultura, história e contexto social totalmente diferentes da realidade brasileira.

A fim de expormos com objetividade, temos de interpretar o texto no horizonte de seu autor, com seu contexto e sua cultura, para depois aplicá-lo ao horizonte do ouvinte do século XX. Todos os textos bíblicos têm suas características específicas, dadas por Deus. É evidente que as expressões paulinas predominantes não são as mesmas usadas por Pedro, João ou Tiago, que a literatura poética é diferente da profética e que o texto de Gênesis difere daquele de Samuel, embora ambos os livros façam parte dos registros históricos. Devemos reconhecer e descobrir as características específicas de qualquer texto bíblico, vencer a estranheza (barreira cultural) e descobrir o cerne do texto, superando nossos preconceitos e suposições individuais a fim de expô-lo de maneira fiel e objetiva, conforme as necessidades de nossas igrejas.

A mensagem bíblica encontra-se no texto bíblico em si, não em nós. Somos apenas portadores da mensagem divina presente na Bíblia. Por isso, temos de bombardear o texto bíblico com perguntas, analisá-lo, expô-lo e interpretá-lo, se quisermos comunicá-lo.

Tomemos como exemplo a Parábola do Semeador, em Mateus 13. Por que o semeador semeia à beira do caminho e em solo rochoso? Será que o semeador é negligente ou mal treinado nas técnicas agrícolas? Quanto à Parábola das Dez Virgens, em Mateus 25, podemos perguntar: quais são as tarefas das virgens? Por que algumas têm óleo e outras não? Atos 8 relata a história do encontro de Filipe com o eunuco. Onde fica a Etiópia? Quem é o eunuco? Por que ele era eunuco? Por que viajou para Jerusalém? Qual a distância entre a Etiópia e Jerusalém? Lemos em Lucas 2 que os pais de Jesus puseram-no numa manjedoura. O que é uma manjedoura? Por que os pais não usaram uma rede ou uma esteira?

Assim, a nossa pregação torna-se bíblica quando nos submetemos à autoridade do texto, ouvimos e obedecemos a seus princípios e ordens, analisamos criteriosamente suas palavras, seus costumes e seus personagens, interrogamos seu contexto histórico, cultural e bíblico, esclarecemos as dúvidas que surgem na primeira leitura e apropriamo-nos de seu conteúdo pela fé.

O ponto de partida da exegese é o texto. Seu alvo é uma exposição bíblica compreensível para os ouvintes. A finalidade da exegese é dispor os elementos a serem expostos de maneira clara, lógica, sequencial, progressiva e estética, de sorte a formar um conjunto convincente. PMS, p. 41. O alvo da exegese é duplo: compreensão por parte do pregador e compreensão por parte do ouvinte.
BÍBLIA ——————» PREGADOR ——————–» OUVINTES

Na pregação do evangelho, expomos a ideia principal, o cerne de um texto bíblico. É praticamente impossível apresentar cientificamente todos os pormenores e detalhes de um texto bíblico. Não podemos sobrecarregar nossos ouvintes nem fazer da mensagem bíblica um discurso puramente acadêmico. O importante é limitar-se ao significativo e essencial num texto bíblico. A exegese científica é um trabalho indicado para os comentários, para os cursos de mestrado e para os professores de seminários evangélicos.

A exegese do pregador é uma tarefa limitada ao essencial do texto, à compreensão popular da igreja e objetiva uma mensagem de aproximadamente 30 minutos. Nessa exegese limitada, é legítimo pesquisar os termos principais com mais atenção, deixando de lado expressões secundárias.

Contudo, uma simples exposição mecânica ou técnica do texto bíblico não produz automaticamente os resultados desejados pela congregação. É preciso fazer a exegese sob a orientação divina, num espírito de submissão, obediência e oração. A exegese bíblica é uma atividade espiritual que exercemos na presença de nosso Senhor Jesus Cristo.

Então, como fazer a exegese de um texto bíblico? Os dez passos didáticos expostos a seguir o ajudarão a exercer e desenvolver a arte da exegese bíblica:
  1. Leia o texto em voz alta e em espírito de oração várias vezes (o grande pregador Dr. Campbell Morgan costumava ler pelo menos 50 vezes a passagem que ia expor), comparando-o com versões bíblicas diferentes para obter uma maior compreensão de seu conteúdo.
  2. Reproduza o texto com suas próprias palavras, sem olhar na Bíblia, para verificar se realmente entendeu o conteúdo (Bezzel memorizava todos os textos sobre os quais pregava).
  3. Observe o contexto imediato e o remoto (veja pp. 38ss.).
  4. Verifique a forma literária do texto (história, milagre, parábola, ensino, advertência, promessa, profecia, testemunho, oração, introdução etc.) e tente estruturá-lo (e. g., Ef 1.1-2; 15-23; Lc 4.38-39).
  5. Determine o significado exato de cada palavra básica, com sua origem e seu uso pelo autor e no restante do testemunho bíblico (e. g., Rm 3.21-31; 5.1).
  6. Anote peculiaridades do texto (palavras que se repetem, contrastes, sequências, conclusões, perguntas, teses) e faça uma comparação sinótica, caso o texto pertença aos evangelhos (veja pp. 35-36).
  7. Pesquise as circunstâncias históricas e culturais (época, país, povo, costumes, tradição; e. g., Ap 19.15).
  8. Elabore as mensagens de cada versículo ou termo principal por meio de versículos paralelos (em palavras e assuntos), de seu núcleo, de sua relação com a história da salvação, de perguntas didáticas (quem, o que, por que etc.) e de comentários bíblicos, léxicos, dicionários e manuais bíblicos (e. g., Mt 12.38-42).
  9. Estruture o texto conforme seu conteúdo principal e organizador e suas seções secundárias (e. g., Lc 19.1-10).
  10. Resuma o trabalho exegético feito até este ponto com a frase: O assunto mais importante deste texto é…
Você deve memorizar estes dez passos didáticos e aplicá-los na preparação de qualquer estudo bíblico ou mensagem da Palavra de Deus. Você não pode dispensar-se dessas etapas. Sua negligência seria como a de um mecânico ignorante que conserta um carro sem usar suas ferramentas!


BIBLIOGRAFIA
REIFLER, Han Ulrick. Pregação ao alcance de todos. São Paulo: Editora Vida Nova, 2008, p. 30-38
 
FONTE:
http://exposicaobiblica.com.br/site/dez-passos-didaticos-para-fazer-a-exegese-de-um-texto-para-o-sermao/