Existe de fato o poder da mente?
“Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” (1Jo 4.1)
Acontece com a
parapsicologia algo muito semelhante ao que acontece com a ufologia.
Enquanto alguns cientistas se debruçam sobre telescópios tentando
descobrir o mínimo vestígio de vida fora da terra sem nada encontrar,
outros ditos ufólogos passeiam de disco voador, têm relações sexuais com
extraterrestres e conversam abertamente com esses seres por telepatia
sempre que desejam.
Na parapsicologia o fato se repete. Ao mesmo tempo em que estudiosos sérios evitam qualquer veredicto sobre o assunto, outros parecem ter encontrado na parapsicologia a “VERDADE” (com letras maiúsculas) que os permite resolver todos os mistérios do mundo.
O que é parapsicologia?
É difícil dizer aquilo que a
parapsicologia pretende ser, uma vez que pessoas executando ou exibindo
fenômenos estranhos se apresentam em programas televisivos como
parapsicólogas. Como é comum no Ocidente, qualquer coisa que carregue o
rótulo de “ciência” torna-se aceitável. Dessa forma, a parapsicologia
tem sido um apoio para todo tipo de crença e charlatanismo ou, ainda,
para todo tipo de cepticismo, como no caso do padre Quevedo.
Em
seu livro Parapsicologia e psicanálise, Gastão Pereira da Silva consegue
dar uma idéia do que seria esta ciência em sua concepção pura e o
quanto ela sofre distorção por parte de todo tipo de pessoas: “A
Parapsicologia vem despertando ultimamente o maior interesse entre os
cientistas […] Mas infelizmente a divulgação que se faz é quase sempre
unilateral. Se é um padre, defende o ponto de vista católico, se é
espírita, inclui todos os fenômenos paranormais nos estudos de Allan
Kardek, se é materialista, ou iogue, explica-os segundo os princípios
que adota […] Livre de quaisquer credos, ou preconceitos, [o verdadeiro
parapsicólogo] apenas observa e registra o resultado das investigações
que faz. Nada conclui, quer sob o aspecto religioso ou científico.
O
que Rhine (pesquisador de fenômenos parapsicológicos) revelou até
agora, com segurança, é que há uma força ‘extrafísica’ que atua sobre
todos nós, sem a participação dos sentidos. Essa força existe. É real.
Incontestável. Mas totalmente misteriosa quanto à natureza, à origem […]
Dizer que ela se incorpora ou que é apenas uma forma de energia é
afirmação aleatória […] Mas é preciso esclarecer, logo de início, que a
parapsicologia não tem qualquer relação com o ocultismo, ou com falsos
credos, ou sistemas religiosos organizados. Não está, por outro lado, no
domínio do misticismo”1 (grifo do autor).
Como podemos ver, sem
negar a existência de fenômenos que vão além dos conceitos da ciência
normal, este posicionamento exclui quaisquer tentativas do ocultismo de
escudar-se na parapsicologia para confirmar suas afirmações. Quando
alguém se diz apoiado na parapsicologia para justificar contatos
extraterrestres, levitação, reencarnação, aparecimento de espíritos,
telecinésia, telepatia ou qualquer fenômeno deste tipo, está tentado
obter um endosso que a parapsicologia não lhe dá.
A parapsicologia
admite não ser de sua competência formular respostas, mas apenas
elaborar perguntas. Investiga efeitos, mas não aponta a causa. Sabe que
ser dogmático neste assunto é cometer um erro imperdoável na ciência –
postular em cima de fatos impossíveis de se provar. Os que querem ir
além disto não estão, de modo nenhum, nos domínios da parapsicologia,
mas de seu próprio misticismo.
A parapsicologia sob o foco bíblico
O
que nós, evangélicos, que cremos na Bíblia como revelação divina ao
homem e infalível em quaisquer áreas que se pronuncie, pensamos da
parapsicologia? Diríamos que é uma tentativa do pensamento científico
para explicar fatos não científicos. Como sabemos, a única realidade
admitida pela ciência ortodoxa é a realidade material tangível,
alcançada pelos sentidos e passível de ser quantificada.
Mas nós,
que cremos nas Escrituras Sagradas, sabemos que nem toda realidade
existente é limitada ao universo material. Em Colossenses 1.16, lemos:
“Porque nele (Jesus) foram criadas todas as coisas que há nos céus e na
terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam
principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele”
(grifo do autor). Logo, a Criação no sentido bíblico é a criação de toda
a realidade existente, mesmo daquelas que não podem ser captadas pelos
sentidos físicos. Paulo ainda diz em sua segunda epístola aos coríntios:
“Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem;
porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas”
(2Co 4.18).
Esta esfera metafísica não pode ser medida e analisada
com os mesmos critérios que a ciência usa para a realidade material. A
verdade, e isto todos têm de admitir, é que, por longos anos, a
realidade espiritual foi “oficialmente” negada pela ciência porque esta
não conseguia explicá-la dentro dos padrões de conhecimento que ela
mesma havia estabelecido. Era mais fácil dizer que não existiam
realidades como alma, anjos, demônios ou mesmo Deus do que admitir
limitações para o pensamento científico em sua explicação ao mundo em
relação a essas realidades.
Mas a parapsicologia nasceu porque
inúmeros fenômenos nunca puderam ser explicados cientificamente. Na
esfera religiosa, principalmente, muita coisa ocorreu sem que a
psicologia, embora tentasse de todas as formas, apresentasse uma
explicação satisfatória. Pessoas sérias viram que, além das fraudes,
certos fenômenos eram reais e precisavam de uma explicação “científica”.
Nossa pergunta é: “A ciência pode explicar assuntos que vão além de sua esfera de ação, que são regidas por leis alheias ao mundo físico? A parapsicologia pode entrar em contato com certos fenômenos que sabemos ser de origem maligna e captar objetivamente o sentido deste fenômeno? Ela tem condições de fornecer respostas satisfatórias e infalíveis com respeito a assuntos tais como vida após a morte, aparições de espíritos, hipnotismo, telecinésia e outros assuntos afins?”.
A
parapsicologia, para advogar sua validade científica, rejeita certamente
as afirmações bíblicas ou busca explicá-las atribuindo um sentido
alegórico ou meramente cultural às mesmas. Isso, com certeza, a torna
ineficaz para explicar, de forma válida, certos fenômenos. As Escrituras
Sagradas são a revelação inspirada pelo Espírito Santo à humanidade a
fim de que esta venha a aprender certos fatos que seriam impossíveis de
conhecer de outro modo. A rejeição das Escrituras como forma de
conhecimento válido torna impossível aceitar as colocações de certos
estudiosos de parapsicologia.
“A explicação dos fenômenos
misteriosos sempre foi uma preocupação da humanidade. De um lado,
encontramos as explicações supersticiosas que vão atribuir tais
fenômenos ao sobrenatural (demônios, espíritos de mortos etc); do outro,
encontram-se aqueles que estudam cientificamente tais fenômenos; este
último é o campo de estudo da Parapsicologia”2 (grifo do autor).
Como
vemos na declaração acima, qualquer explicação considerada de cunho não
científico é rotulada como “superstição”. Nós nos perguntamos por que o
fato de alguém aceitar a existência de “seres malignos desencarnados”
como os verdadeiros agentes por trás de fenômenos incomuns deve ser
classificado como “superstição”. Isto é preconceito. Há algum motivo
pelo qual se possa afirmar categoricamente que estes seres não existem?
Entretanto, a parapsicologia apenas diz que eles não podem existir.
Os poderes psíquicos e os métodos científicos
Baralho
de Zener – É um conjunto de cartas utilizadas para testes
parapsicológicos. Elas apresentam cinco símbolos diferentes: uma
estrela, linhas onduladas, uma cruz, um círculo e um quadrado. Com elas
são feitos testes de telepatia, clarividência e precognição.
No caso da telepatia, uma pessoa (emissor) pensa em um dos símbolos, enquanto a outra (receptor) tenta “adivinhar” qual é este símbolo que o outro está pensando. Na clarividência as cartas são expostas em determinado local, e outra pessoa distante tenta “ver com a mente” quais as cartas ali apresentadas. E, por fim, no caso da precognição, a pessoa tenta adivinhar qual a próxima carta que será retirada do montante.
De
uma maneira bem simplificada, estes são os testes “científicos”
realizados pelos parapsicólogos a fim de detectar e confirmar a
existência de poderes paranormais no homem.
Apesar dos inúmeros
testes realizados em todo o mundo, os resultados nunca convenceram a
comunidade científica. No verbete “parapsicologia”, assim registrou a
Enciclopédia Britânica: “Parapsicologia em ciência contemporânea – Para
muitos cientistas profissionais, parapsicologia é de pouco interesse;
muito pouco é alcançando com as pesquisas. Muito do que aparecem em
jornais com os quais eles não estão familiarizados. A maioria dos
psicólogos americanos, não aceita o psi (força psíquica) como um fato.
Dentro do movimento parapsicológico, há disputas para estabelecer
critérios para a validade dos fenômenos paranormais. Para alguns, a
convicção está baseada em casos espontâneos (ex.: Conhecimento
paranormal aparece no curso da vida diária); eles não estão convencidos
pelos testes de laboratório. Muitos cientistas continuam sem uma boa
impressão e desprezam os métodos estatísticos utilizados pela
parapsicologia. Outra dificuldade séria para muitos cientistas é a quase
completa falta de qualquer padrão teórico plausível para delinear o
processo […] A rejeição (por parte dos cientistas) é reforçada pela
objeção de violar as regras básicas do método científico”.3
Como
vemos, mesmo em sua forma mais objetiva, não houve aceitação irrestrita
para os fenômenos estudados pela parapsicologia. Embora esta citação
seja do final da década de 60, análises realizadas mais recentemente
continuam no mesmo impasse, recusando-se a aceitar cientificamente a
parapsicologia, como publicou a revista Superinteressante de março de
2003: “A má notícia é que, apesar do dinheiro e de mais de 130 anos
empregados em pesquisas, ainda não é possível afirmar que existem
fenômenos parapsicológicos (ou fenômenos psi, como costumam dizer os
parapsicólogos). O pior é que também não dá para dizer que eles não
existem. Parte da culpa por esta situação é dos próprios parapsicólogos.
É incontestável que há pouca pesquisa científica sobre o assunto. Das
que existem, boa parte é descartada no primeiro escrutínio por problemas
metodológicos ou por negligência na conduta da experiência. Outra parte
acaba desacreditada por análises estatísticas. Por fim, das pesquisas
que sobram, uma fatia está impregnada de conceitos esotéricos, que não
podem ser analisadas por método científico. E é comum ler artigos de
parapsicólogos tentando se salvar do naufrágio”.4
Em outras
palavras, a parapsicologia, como ciência, não é conclusiva de modo
nenhum. Não tem autoridade para definir com exatidão nem mesmo o objeto
de seu estudo, muito menos questões que envolvem religiões. Em suma,
telepatia, clarividência, premonição e fenômenos semelhantes não estão
esclarecidos pela ciência e qualquer pessoa que alegue o contrário não
deve ser acatada.
Quando a parapsicologia se torna religião
Alguns
supostos parapsicólogos acabam assumindo posições que, com certeza, são
rejeitadas por esta mesma ciência. Na maioria dos casos, uma linha
muito tênue passou a existir entre a parapsicologia e o esoterismo.
Muitos dos chamados “canalizadores”, isto é, pessoas que dizem servir de
instrumento para canalizar certas entidades, escudam-se dessa forma.
John Ankerberg e John Weldon, dois pesquisadores dessa área do
ocultismo, mostram até que ponto ocultismo e ciência chegam a se
misturar: “Muitos canalizadores declaram que seus espíritos-guias fazem
parte de seu inconsciente criativo. Eles dizem isso por não se sentirem à
vontade com a idéia de que espíritos reais os estão possuindo. Preferem
acreditar que os espíritos simplesmente fazem parte dos poderes
recém-descobertos de suas mentes ou talentos humanos […] É interessante
notar como a parapsicologia moderna (estudo ‘científico’ do ocultismo)
propiciou apoio para a renomeação das atividades de espíritos […]
Pessoas que jamais aceitariam ser possuídas por espíritos, acolhem muito
bem o tom científico da idéia de que estariam na verdade contatando seu
suposto ‘consciente superior’ ou sua ‘mente divina’. Uma vez que a ação
desses espíritos tenham sido disfarçadas de poderes psíquicos, ou
poderes da mente inconsciente, torna-se impossível reconhecer a sua
atividade pelo que ela realmente é: contato real com espíritos”5 (grifo
do autor).
Com este disfarce, atividades mediúnicas camuflam-se em poderes mentais, aprisionando os praticantes e espalhando influência demoníaca. Com este recurso a falsa parapsicologia tem conseguido popularizar práticas que eram comuns apenas entre bruxos e feiticeiros. Se os limites dos seres humanos estão sendo vencidos, isto acontece por meio de envolvimento e influência do mundo dos espíritos. A busca pelo “poder mental”, o “eu superior” ou o “potencial divino” tem posto o homem em contato com fontes maléficas.
Quando a parapsicologia erra o alvo
Existe
ainda um outro desvio que precisa ser verificado com mais atenção. É
quando a parapsicologia tenta explicar todos os fenômenos espirituais
negando os fundamentos bíblicos. É a ciência tentando entrar no campo da
religião e dar um veredicto infalível no mesmo nível que faz com outras
áreas do conhecimento humano.
Um exemplo claro deste tipo de
procedimento vem do chamado padre Quevedo (padre?), fundador do Centro
Latino Americano de Parapsicologia (CLAP) www.clap.org.br, que vê na
parapsicologia dados suficientes para explicar quaisquer fenômenos
espirituais.
A seu ver, cabe à parapsicologia explicar os milagres, e não outra autoridade qualquer. Nem mesmo a Bíblia é reconhecida como uma autoridade para fornecer explicação aceitável a esse respeito. Quevedo declara: “Outro aspecto da importância da parapsicologia é o estudo do milagre. A ninguém escapa a importância científica, social e pastoral que a Parapsicologia pode alcançar do estudo do Milagre. Dado que os milagres têm um aspecto histórico e fenomenológico, em nosso mundo, também é objeto de estudo da parapsicologia, que precede ao estudo da teologia. E o cientista, por sua parte, não deve se afastar do estudo do milagre por receio das possíveis conseqüências religiosas ou pelo ambiente religioso que cerca o possível milagre. Os milagres são de tal categoria, importância e transcendência que seu estudo deveria ser tomado muito a sério por qualquer pessoa que tivesse interesse e capacidade científicas, por todo sábio consciente de suas responsabilidades individuais e sociais”.
Em outras palavras,
Quevedo tenta estabelecer a ciência como padrão para o estudo do
sobrenatural, antes mesmo que a teologia. Isto o tem levado a negar a
existência dos demônios e de outros seres espirituais claramente
revelados na Palavra de Deus. Sua presença na mídia geralmente tem sido
para negar fatos espirituais, num ceticismo extremista que busca
explicar manifestações divinas e demoníacas como atuações mentais. É um
outro beco sem saída trilhado pelos “parapsicólogos”.
Em seu
texto, Possessão demoníaca, o chamado “padre” Quevedo coloca a
parapsicologia como a chave que desvenda este mistério, atropelando a
revelação bíblica de uma forma céptica: “No Ritual Romano se lê: ‘Os
sinais de possessão demoníaca são […] falar várias línguas desconhecidas
[…] revelar coisas distantes ou ocultas […] manifestar forças
superiores à idade ou aos costumes. Nenhum destes sinais hoje é válido. A
Parapsicologia explica como perfeitamente naturais a xenoglossia6, a
adivinhação e o sansonismo”7 (grifo do autor).
Com certeza, nenhum cientista sério concordaria com ele. E, considerando o que ele pensa a respeito da Bíblia e possessão demoníaca – Foi a Bíblia a causa do erro da possessão demoníaca… – nenhum teólogo sério concordaria com ele também. Sua fama é produto mais de marketing pessoal do que legítima autoridade científica ou religiosa.
· Ver em nosso site
www.icp.com.br o testemunho de um médico que questiona a validade
científica de um curso de parapsicologia ministrado pelo Pe. Oscar
Quevedo.
Nem tudo que reluz é ouro
Ao lidar com os poderes
psíquicos, como telepatia, telecinese, clarividência e outros, o fato
que se levanta é: este poder, exibido por algumas pessoas, têm origem em
suas próprias mentes ou deriva de uma fonte externa? É a manifestação
de algum poder oculto do ser humano ou o ser humano é apenas um “canal”
para a manifestação de tais poderes?
Na parapsicologia séria,
geralmente a exibição de tais poderes é atribuído à própria mente do
indivíduo. Mas o mesmo não se dá quando manifestações semelhantes
ocorrem com pessoas de alguma religião específica. No caso do
espiritismo, a pessoa é apenas um “médium”, ou seja, um meio, um veículo
pelo qual um espírito exibe poderes paranormais. O movimento Nova Era
dá o nome de “canalização” a um fenômeno que, igualmente, faz da pessoa
um mero “canal” de forças alheias a ela mesma. Tal força pode ser
chamada de “mestre ascencionado” ou energia cósmica.
Assim, mesmo que alguém não professe alguma crença religiosa, a semelhança dos poderes manifestados não impede que o mesmo esteja sendo também um mero canal.
Logo, o maior problema com as manifestações psíquicas não
é, para nós, cristãos, se elas são ou não fatos verdadeiros, mas o poder
que está por trás delas. Os apóstolos, que realizaram grandes milagres
como curas, conhecimentos de fatos ocultos (como no caso de Ananias e
Safira, em Atos 5), nunca atribuíram este poder a si mesmos. Ao curar o
paralítico à porta do Templo de Jerusalém, Pedro disse: “Ou, por que
olhais tanto para nós, como se por nossa própria virtude ou santidade
fizéssemos andar este homem?” (At 3.12). Pedro sabia que o poder curador
não pertencia a ele, antes, que tinha sido apenas um canal. Paulo
também se expressou de maneira semelhante: “Porque não ousarei dizer
coisa alguma, que Cristo por mim não tenha feito […] pelo poder dos
sinais e prodígios, na virtude do Espírito de Deus…” (Rm 15.18,19).
Temos
em Atos 16.16-19 uma amostra dos poderes envolvidos em casos como este,
só que se tratando de poderes provenientes de espíritos malignos. Esta
passagem se refere a uma jovem que tinha “um espírito de adivinhação”
(v.16). Pessoas pagavam para ouvir “seus dons”, o que resultava em lucro
financeiro para os senhores desta jovem, que era uma escrava (v.16).
Embora não seja possível especificar o tipo de adivinhação manifestado
por ela, é óbvio tratar-se de algo semelhante à telepatia ou à
clarividência estudada pelos parapsicólogos. É justamente este tipo de
pessoas que são estudadas e analisadas.
Todavia, esta mulher foi
confrontada pela autoridade do nome de Jesus pelo apóstolo Paulo, o qual
disse: “Em nome de Jesus Cristo, ordeno-te que saias dela” (v. 18), e
na mesma hora o espírito saiu. Como resultado disso, ela perdeu “seus
poderes” (v. 19) de adivinhação. Isto deixa inconteste que não era ela a
fonte.
As Escrituras Sagradas são bem claras, tanto no Antigo
quanto no Novo Testamento, em mostrar duas fontes de poder que podem vir
a agir por meio do homem. Uma é o Espírito de Deus e a outra, os
espíritos malignos, liderados por Satanás. Por isso, quando se trata de
poderes sobrenaturais é importante conhecer o que diz a Bíblia.
A
Palavra de Deus proibiu a feitiçaria, a necromancia e a adivinhação (Lv
19.26; Dt 18.12). Todas estas práticas produzem fenômenos muito
parecidos com aqueles estudados pelos parapsicólogos. Neste caso, as
Escrituras não alegam tratar-se de fraudes ou de superstição, mas de
algo que possui uma natureza nociva.
No livro de Êxodo, temos o
confronto de Moisés com os magos do Egito. Pelo menos três milagres
efetuados por Moisés pelo poder de Deus foram imitados pelos magos: a
vara que se transformou em cobra (Êx 7.10-12), a água do rio que virou
sangue (Êx 7.20-22) e a praga das rãs (Êx 8.6,7).
As Escrituras
mostram claramente que o libertador dos hebreus foi um instrumento nas
mãos de Deus. O Senhor era a fonte de todas as realizações de Moisés. Se
os magos egípcios que se opunham a Moisés e praticavam a adoração a
falsos deuses realizaram milagres semelhantes, isto significa que o
fizeram dependendo de outra fonte. Visto que se opunham aos propósitos
divinos, tal fonte só podia ser maligna.
Em Deuteronômio 13.1-6,
temos uma amostra de que a fonte de manifestações psíquicas pode ser de
origem maligna. Uma pessoa pode fazer premonição, seja em forma de
profecia ou de sonho, e isto não proceder do Senhor. A fonte, neste
caso, era maligna, e aquele que fizera o “sinal” ou “prodígio” não fora
inspirado por Deus.
O Novo Testamento é ainda mais explícito
quanto à questão de milagres e maravilhas satânicos. Jesus disse que
surgiriam muitos falsos profetas que fariam tantos sinais e maravilhas
que se possível fosse enganariam até os escolhidos (Mc 13.22).
Tivemos,
na História recente, pessoas que foram fenômenos na área de previsão de
futuro e clarividência, como Edgar Cayce e Jane Dixon. Seus feitos
nesta área espantaram cientistas e parapsicólogos do mundo todo. Nada
impede de classificá-los no grupo predito por Cristo. Paulo, em sua
segundo epístola aos tessalonicenses, fala da “eficácia de Satanás, com
todo poder, e sinais, e prodígios de mentira” (2Ts 2.9) e em Apocalipse
16.14 a Bíblia fala de “espíritos de demônios, que operam sinais”. Logo,
os poderes psíquicos não precisam derivar necessariamente do homem, mas
de uma fonte maligna externa a ele.
O uso destes poderes para o bem
Há
a alegação de que muitos dos que manifestam poderes paranormais o
utilizam para fins benéficos, sendo, portanto, precipitado julgar a
fonte de suas capacidades como sendo maléfica. Alguns paranormais já
foram até utilizados pela polícia a fim de encontrar pessoas
desaparecidas e resolver certos crimes. Ou como no caso de Edgar Cayce e
outros paranormais famosos que forneceram solução para doenças e
problemas quando se encontravam em estado de transe.
Mas não há
registros de acompanhamento posterior das pessoas “beneficiadas” por
meio dessas operações psíquicas. Não há nada que ateste resultados
permanentes ou se houve “efeitos colaterais”. O alívio imediato
alcançado por esses métodos não representa uma prova de que no geral é
uma experiência benéfica.
Temos, porém, um registro biográfico de
Joseph Milard, referente à vida de Edgar Cayce. Ele foi sem dúvida um
dos maiores paranormais registrados na história. Mas, segundo o seu
biógrafo, sua vida foi marcada por tormentos posteriores inexplicáveis,
caso se imagine que o poder que operava nele fosse algo bom. Segundo
conta Milard, “Cayce era um homem forte e robusto, mas morreu na miséria
com 27 kg, ao que tudo indica, ‘consumido’ fisiologicamente pelo número
excessivo de preleções mediúnicas que realizou. Os males que as
atividades de Cayce lhe causaram foram diversos, como ataques psíquicos a
incêndios misteriosos, perda periódica, mudanças erráticas de
personalidade, tormentos emocionais, constante ‘má sorte’ e reveses
pessoais, assim como culpa induzida por preleções mediúnicas que
arruinaram a vida de outras pessoas”.8
Existe, ainda, a questão da
verdade. As ações de Deus produzem bons frutos, tanto no sentido de
ajudar definitivamente as pessoas quanto nas questões destas se
aproximarem mais de Deus. Deuteronômio 13.1-6, já citado, mostra que
alguém poder realizar um sinal ou prodígio, até mesmo um sonho
revelador, e com isso ganhar crédito para levar as pessoas para longe do
Deus verdadeiro, envolvendo-as em práticas escusas. E 2Tessalonicenses
2.9, também já citado, diz que Deus permite a operação do erro para que
as pessoas creiam na mentira, uma vez que não aceitaram o amor à verdade
para se salvarem.
Hoje, aquilo que se chama de poder mental busca
tão-somente a glorificação do homem, a exaltação do ego, a negação das
verdades bíblicas. “Pelos seus frutos os conhecereis” (Mt 7.16). Não
procedem de Deus e, por isso, não levam o homem para mais perto dele.
Tornaram-se mais um incentivo à antropolatria9, além dos já existentes.
Poderes involuntários
Cabe-nos
também tentar fornecer uma explicação sobre as pessoas que apresentam
fortes poderes psíquicos, sem que tenham se envolvido com qualquer
prática oculta ou mesmo sem qualquer envolvimento religioso. Para
alguns, isto nada mais é do que uma prova de que algumas pessoas podem
possuir poderes “mentais” inatos. O “dom”, neste caso, seria
involuntário ao possuidor.
Temos, porém, um caso nas Escrituras em
que uma criança, desde cedo, fora atormentada por espíritos malignos
(Mc 9.21). Mesmo que não saibamos porque ela começou a manifestar aquele
espírito, é óbvio que não foi uma escolha sua. Foi algo involuntário.
Mas nem por isso deixou de ser algo demoníaco (Mc 9.25).
Embora
saibamos que tal manifestação era algo obviamente mal, não podemos
esquecer, no entanto, que tais pessoas eram vistas pelo paganismo antigo
como especiais, sendo utilizadas, muitas vezes, como oráculos dos
deuses. Até hoje certas culturas veneram crianças e adultos possessos
por acreditarem tratar-se de pessoas especiais. É bem possível que a
jovem de Filipos estivesse na mesma situação (At 16.16-19).
Parapsicologia não é ciência
Observe agora o que afirma certo estudioso crítico quanto à parapsicologia.
A
parapsicologia é uma disciplina que se enquadra dentro das
pseudociências. Tem a duvidosa honra de ser a única pseudociência
experimental, embora -a rigor- é difícil chamar de experimento um teste
de parapsicologia. Os fenômenos parapsicológicos ou fenômenos “psi”
foram arbitrariamente divididos em:
- Telepatia, ou captação do conteúdo mental de outra pessoa.
- Clarividência, ou captação extra-sensorial de um objeto ou acontecimento objetivo.
- Precognição, ou captação extra-sensorial de acontecimentos futuros.
- Psicocinese, ou influência da mente sobre a matéria.
Os
três primeiros pertencem à mal chamada percepção extra-sensorial, e o
último engloba o grupo de fenômenos “físicos”. A parapsicologia concebe a
mente como uma entidade separada do corpo e, em alguns casos os
parapsicólogos afirmam que os fenômenos não pertencem ao âmbito do
mental, pondo a “psi” em um nível que estaria “mais além do psíquico ou
mental”.
Os fenômenos psi seriam:
a) independentes do espaço e do tempo;b) erráticos, ou seja, não se pode saber quando vão apresentar-se;c) involuntários; ed) inconscientes.
Vejamos.
a)
Ao serem independentes do espaço e do tempo, violam várias leis
físicas, mas os parapsicólogos -em vez de duvidar da existência de um
fenômeno tão peculiar- sustentam que é preciso reformar toda a física
para que psi possa ser explicada (quando nem sequer está demonstrado que
exista).
b) Com a desculpa da erraticidade, os parapsicólogos
podem explicar seus fracassos dizendo que “como é errático, o fenômeno
esta vez não se apresentou”. Quando obtém um resultado positivo dizem
“esta vez se apresentou”. Isto é equivalente a afirmar que um remédio
para a dor de cabeça deu resultado depois que a dor passou. Se a dor não
passa, então se recorre à explicação seguinte: algo inibiu o efeito do
remédio, a concentração dos componentes não era a correta, o paciente
não estava predisposto, etc, etc.
c) Estes pretensos fenômenos não
se podem manejar à vontade, de maneira que não se pode propor produzir
um fenômeno quando se deseje, em qualquer momento ou lugar. Esta vulgar
desculpa é também frequentemente usada pelos supostos “mentalistas”,
“videntes”, etc., quando a colher não se dobra ou as cartas não se
acertam.
d) Outra característica -dizem os parapsicólogos- é que
os fenômenos psi são inconscientes. Não se sabe quando nem como se
experimenta a telepatia ou a clarividência. Às vezes pode-se perceber
algo extra-sensorialmente e “transformá-lo” em uma sensação de tristeza,
alegria, dor, sem dar-se conta de que se trata de um fenômeno psi
genuíno. Com o mesmo rigor podemos dizer que temos um dragão verde
dentro de nossa cabeça, só que o dragão dá um jeito para
desmaterializar-se cada vez que nos tiram uma radiografia, ou se
“transforma” em uma sensação de calor, ansiedade, etc, etc.
Como
vemos, a parapsicologia ignora a física, a biologia, a psicologia
científica e todo e qualquer conhecimento que provenha da ciência. Não
possue uma teoria que explique satisfatoriamente como um ente imaterial
(psi) pode interagir com um sistema material (o cérebro). Tentou-se
correlacionar os fenômenos psi com diversos aspectos: a personalidade, a
atitude crédula ou incrédula, os estados alterados da consciência, a
idade, o sexo, e se utilizou uma grande gama de instrumentos para levar a
cabo investigações delineadas para pôr à prova a hipótese da existência
de psi.
Fica ridículo começar a correlacionar a psi com qualquer
característica ou habilidade se ainda não se provou sequer sua própria
existência. Por isso dizemos que a parapsicologia não faz experimentos
propriamente ditos. Primeiro deveria provar que a variável crucial psi
existe. De igual maneira poder-se-ia propor a existência dos duendes
plutonianos, os quais são invisíveis, erráticos e independentes do
espaço e do tempo e começar a correlacionar sua presença com o estado de
ânimo das pessoas, a personalidade, etc., sem corroborar primeiro que
realmente existam.
Pelo que se vê, a parapsicologia está longe de
transformar-se em uma ciência, apesar de que os parapsicólogos falam de
“parapsicologia científica”, ou “nova ciência”. Mais de 100 anos de
pesquisas não conseguiram provar um só fenômeno psi. Foram feitos testes
com animais, com plantas, com material subatômico, com cartas,
desenhos, estados alterados de consciência, drogas, etc. Foram
publicados experimentos assombrosos, mas quando se tentou repeti-los, o
resultado foi o fracasso, com as consequentes desculpas
pseudoexplicativas. As mais prestigiosas revistas dedicadas à
parapsicologia deveriam publicar os milhares e milhares de testes que
produziram resultados negativos para a hipótese psi.
Tendo em
conta as objeções precedentes, devemos agregar a fraude, seja ela por
parte dos investigadores ou pelos sujeitos “dotados” ou “sensitivos” que
fazem trapaça durante os experimentos. Vários ilusionistas peritos têm
recomendado que um mágico experimentado se encontre presente quando se
faz uma investigação com sujeitos como o famoso Uri Geller, tão
propensos à fraude. E o panorama desalentador se completa mencionando os
delineamentos experimentais defeituosos, as análises estatísticas
errôneas e outras falhas do gênero.
Será preciso agregar algo mais para percebermos que a parapsicologia é uma pseudociência?
FONTE:
http://www.cacp.org.br/parapsicologia/
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