Por Marcelo Berti
Aquele que foi manifestado na carne foi
justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre os
gentios, crido no mundo, recebido na glória. (1Ti 3:16 ARA)
As Escrituras não deixam dúvidas de que
Cristo é divino. Mesmo no Velho Testamento existem evidências de um
Messias divino: Sl.2.6-12, 45.6-7, 110.2; Is.9.6; Jr.23.6; Dn.7.13;
Mq.5.2; Zc.13.7; Ml.3.1. O Novo Testamento é muito mais enfático e
claro nesse sentido. Os escritos joaninos expõem esse fato
incansavelmente: Jo.1.1-3, 14,18; 2.2,25; 3.16-18, 35, 36; 4.14,15;
5.18, 2-22,25-27; 11.41-44; 20.28; 1Jo.1.3, 2.23; 4.14, 15; 5.5, 10-13,
20. Para Paulo a questão tem resposta clara, e por isso muitas
evidências são declaradas em seus escritos: Rm.1.7; 9.5; 1Co.1.1-3; 2.8;
2Co.5.10; Gl.2.20; 4.4; Fp.2.6; Cl.2.9; 1Tm.3.16. O autor de Hebreus,
além de ter por propósito demonstrar a supremacia de Cristo, evidencia
esse fato: Hb.1.1-3, 4.14; 5.8 entre outros. Os evangelhos sinóticos são
versados sobre essa ideia: Mt.5.17; 9.6; 11.1-6, 27; 14.33; 16.16, 17;
25.31-46; 28.18; Mc.8.38; 13.35-37;Lc.10.22 entre muitas outras.
Não existem
duvidas de que Cristo é humano, e verdadeiramente humano, em diferença
clara entre os conceitos do gnosticismo (realidade da humanidade),
Docetismo (integralidade da humanidade) e Apolinarismo (integralidade da
humanidade). Atualmente, o debate sobre Cristo envolve muito mais sua
divindade que sua humanidade. Seitas, por todos os lados, crescem
anunciando a humanidade de Cristo, ou apenas sua humanidade (Legião da
Boa Vontade, Espíritas, Testemunhas de Jeová, Muçulmanos, entre outros).
E, neste ponto o Novo Testamento é claro: Jo.8.40; At.2.22; Rm.5.15;
1Co.15.21; Jo.1.14; 1Tm.3.16; 1Jo.4.2; Mt.26.26,28, 38; Lc.23.46;
24.39;Jo.11.33; Hb.2.14; Lc.2.40, 52; Hb.2.10, 18; 5.8; Mt.4.2; 8.24;
9.24; 9.36; Mc.3.5; Lc.22.44; Jo.4.6; 11.35; 12.27; 19.28, 30; Hb.5.7.
Segue-se que é impossível negar que
Cristo é integralmente homem e plenamente Deus diante da evidência
apresentada nas escrituras . A esse fato a Teologia Reformada denomina “União Hipostática”.
União Hipostática é a expressão que descreve a existência de duas
naturezas distintas, juntas e sem mistura, humana e divina, na pessoa
única de Jesus Cristo, de forma que sua humanidade não diminuiu sua
divindade, bem como sua divindade não detratou sua humanidade. De modo
claro e sucinto, Rm.9.5 afirma: “e também deles [os judeus] descende o Cristo segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre“.
Sobre essas questões a sã teologia
contemporânea não apresenta dificuldades. Entretanto, os fatos
evidenciados testemunham outro questionamento: “Qual é a razão para que os autores bíblicos defendessem a humanidade de Cristo?” ou “Por que era necessário que Cristo fosse homem?“.
Anselmo de Cantuária desenvolveu uma
teoria muito conhecida sobre a necessidade da humanidade de Cristo, de
modo que tratou logicamente do assunto sem faltar com as escrituras no
processo. Seu método foi muito interessante, pois além de defender a
necessidade da humanidade de Cristo, defendeu sua divindade. Ou seja, a
pessoa teantrópica de Cristo, tal como compreendida pelas escrituras foi
plenamente defendida de modo lógico. Observe o que ele diz:
Temos que investigar agora como Deus pode ser homem. As naturezas divina e humana não podem alternar-se mutuamente, de sorte que a divina torne-se humana ou a humana divina; nem elas podem ser tão misturadas como se uma terceira devesse se produzir das suas que não seria nem totalmente divina nem totalmente humana. Pois, se fosse possível que uma delas se transformasse ou se convertesse na outra, ou resultaria somente Deus e não homem, ou somente o homem e não Deus; e se da mistura e corrupção das duas resultasse uma terceira, do mesmo modo que de dois indivíduos animais de espécies diversas, macho e fêmea, nasce um terceiro que não reproduz integralmente nem a natureza do pai nem a da mãe, mas uma terceira, mistura de ambas, então nem seria Deus nem homem.
Não pode, pois, o Deus-homem que buscamos ser o resultado da natureza divina e humana pela conversão de uma na outra ou pelo nascimento de uma terceira como resultante da decomposição de ambas, pois esta decomposição não cabe nelas, e, ainda que fosse possível, não diria respeito ao caso que aqui nos interessa. Também temos de descartar qualquer outra união destas duas naturezas em que permaneçam íntegras, de sorte que o homem seja um ser distinto de Deus, e Deus distinto do homem, pois neste caso é impossível que estas realizem o que se necessita, pois Deus não o fará, pois Ele não está obrigado, e o homem tampouco, pois este não poderá; e para que isto o torne Deus-homem, é necessário que aquele que tem de cumprir esta satisfação seja perfeito Deus e perfeito homem, pois não poderá cumpri-la se não for verdadeiro Deus, e nem estará obrigado a ela, se não for verdadeiro homem.
E como é necessário que exista um Deus-homem com as duas naturezas bem distintas, também o é que estas duas naturezas bem distintas e perfeitas se reúnam em uma só pessoa, como o corpo e a alma racional se reúnem em um só homem, pois do contrário não pode ser perfeitamente Deus e perfeitamente homem[2]
Abaixo, a teoria de Anselmo é apresentada de modo resumido, observe:
1. Se os homens sempre dessem a Deus o que lhe é devido, nunca pecariam, pois pecar nada mais é do que não conceder a Deus o que lhe é devido;2. Se pecar é não dar a Deus o que lhe é devido, estamos desonrando a Deus, e tiramos-lhe o que lhe é devido. Segue-se que, enquanto não for restituído, a culpa permanece;3. Se, porventura, resolvemos conceder tudo o que é devido a Deus, não estamos fazendo mais do que a nossa obrigação, e assim, não cancelamos a dívida lançada anteriormente;4. Ou seja, a dívida que o homem tem diante de Deus é impagável por sua condição;Nós, normalmente, não temos ideia da gravidade do pecado diante de Deus, pois temos convicção que a culpa dos nossos atos já foi removida. Entretanto, note o grau da gravidade da dívida do homem diante de Deus:1. O grau da gravidade da ofensa depende do nível de dignidade do ofendido;2. O Pecado é uma ofensa direta a infinitude da dignidade de Deus;3. Logo, a culpa do homem é infinita, e para supri-la exige uma satisfação infinita;4. Se isto é verdade, o homem nunca poderá supri-la, pois é finito;5. Assim, apenas Deus pode sanar essa dívida. Mas a culpa não é de Deus, mas do homem. Logo, Deus não deve pagá-la.6. Ou seja, o homem deveria pagar, mas não pode. Deus poderia, mas não deve.
2. O Testemunho das Escrituras:
O testemunho lógico lançado acima é bem demonstrado pela literatura bíblica. Pois, “desde
que o homem pecou, era necessário que o homem sofresse a penalidade.
Além, disso, o pagamento envolvia sofrimento de corpo e alma, sofrimento
incabível ao homem, Jo.12.27; At.3.18; Hb.2.14, 9.22“ (Berkhof).
Assim, era necessário que Cristo assumisse a natureza humana, e como
representante capital da raça, pagasse a dívida perante Deus, do gênero
humano.
O fato de que Cristo assumiu a raça
humana, não significa que Ele possuía pecado, ou natureza pecaminosa,
pois o pecado não é inerente a natureza humana, é um acréscimo
depreciador da realidade original desta natureza. Por isso, não se deve
acoplar pecado com humanidade, nem Cristo com pecado, pois o pecado é
acessório (não fundamental, não essencial) à natureza humana
(Hb.2.14-18).
Assim, Cristo, isento de pecado, se fez
pecado por nós para que pudéssemos ser feitos justiça de Deus
(2Co.5.21). E, era necessário que não conhecesse o pecado, pois se
possuísse pecado, estaria destituído de sua vida, o que consequentemente
o privaria da possibilidade de prover redenção a si mesmo (Hb.7.26).
Assim, “unicamente um Mediador verdadeiramente humano, que tivesse
conhecimento experimental das misérias da humanidade e se mantivesse
acima de todas as tentações, poderia identificar-se com todas as
experiências, provações e tentações do homem, Hb.2.17, 18, 4.15-5.2, e
ser um perfeito exemplo humano para Seus
seguidores, Mt.11.29; Mc.10.39; Jo.13.13-15; Fp.2.5-8;Hb.12.2-4;
1Pe.2.21“ (Berkhof).
[1]
Anselmo de Aosta (1033-1109), arcebispo de Cantuária de 1093 a 1109,
que é também conhecido pelo nome de Anselmo da Cantuária, é uma das
personalidades mais importantes da história do pensamento cristão. O Cur
Deus Homo (Por que Deus se fez Homem?), provavelmente a mais influente e
conhecida de suas obras, é um clássico da teologia
[2] Por que Deus se fez Homem?, Santo Anselmo, Editora Novo Século, páginas 107 e 108. Material retirado do site: http://www.monergismo.com
FONTE:
http://www.napec.org/apologetica/por-que-deus-se-fez-homem/
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