Quem acompanhou as minhas postagens sobre o espectro político brasileiro (aqui eaqui), pode se espantar com algumas diferenças que encontrarão aqui e que entretanto, são perfeitamente explicáveis.
Nas postagens sobre o espectro político
eu analisei os partidos, suas ideias e suas práticas quando no exercício
do poder, e para os partidos que nunca mandaram no executivo, utilizei
um excelente post do blog “todas as configurações possíveis” sobre como
funcionava a câmara e o senado para medir onde se encaixavam os
partidos.
Entretanto, neste post pretendo observar o discurso dos pré-candidatos já anunciados; são eles:
Ronaldo Caiado (DEM), Denise Abreu
(PEN), Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB), Everaldo Pereira
(PSC) ,Randolfe Rodrigues (PSOL), Eduardo Campos (PSB), Mauro Iasi
(PCB), Zé Maria (PSTU) e Levy Fidelix (PRTB).
Comecemos pelo Democrata Ronaldo Caiado. O defensor do agronegócio que, sozinho, representa 25% da economia brasileira, já declarou ser pré-candidato à presidência pelo seu partido.
Membro do partido que, historicamente,
representa a direita liberal no país, hoje se vê imprensado por um
espectro cada vez mais pesado a esquerda. Por outro lado há entraves a
sua candidatura por parte do líder do partido Agripino Maia , que ainda
corteja uma vaguinha ao lado do PSDB de Aécio Neves. Após escândalos
ligados ao PFL e o crescimento da esquerda no país, o partido decidiu
adotar uma postura centrista, se abrir aos liberais sociais, e para
sacralizar esta mudança, adotou o nome de Democratas, em menção ao Partido Democrata dos Estados Unidos da América, que representa a esquerda americana. Isso demonstra que o ex-PFL, procurou uma inclinação ao centro nos últimos anos.
Entretanto, Caiado continua acenando com bandeiras liberais em favorecimento do setor do agronegócio.
Ainda não entrou – e provavelmente não pretende entrar – nos assuntos
progressistas da pauta, como aborto e o casamento de homossexuais.
Caiado se apresenta então, como um Liberal, e como tal, o pus mais
próximo ao centro e mais acima do limiar de participação do estado na
economia.
A pré-candidata Denise Abreu deverá ter pouco tempo de TV, visto que o seu partido é de pequena envergadura. Todavia,
ela tem contado com o apoio do filósofo e jornalista Olavo de Carvalho,
um dos ícones do conservadorismo católico brasileiro, o que pode
render os votos dos afamados “olavettes”. Seu partido (PEN) possui uma
tendência incomum, uma junção de conservadorismo e ecologismo que pode
dar uma liga bastante estranha, mas… Só o tempo dirá no que isso pode
dar. O fato da ex-ANAC, ter algumas ligações com o governo Lula,
despertou a desconfiança de muita gente, chegando alguns indivíduos a
acusá-la de populista. Eu nada tenho com isso, mas usando as informações
que tenho a minha disposição a coloquei no campo da direita, sobre a
linha que divide liberalismo e estatismo, para registrar este suposto
caráter populista que lhe é atribuído; se é factual ou não, é outra
conversa.
Dilma Rousseff (PT), a atual presidente
da república, dispensa comentários. O seu modo de governar é visível e
não deve se reverter numa possível reeleição. Sua posição é a mesma do
partido.
Aécio Neves é candidato do PSDB à presidência da república. O candidato “tucano”,
têm adotado o discurso liberal social (terceira-via) que marcou o seu
partido na presidência da república. Quem leu minha descrição do
espectro político brasileiro, percebeu que a aproximação de FHC, Tony
Blair e Bill Clinton rendeu ao “tucanismo” uma aproximação com a ala
mais liberal da socialdemocracia; a terceira-via do sociólogo
esquerdista Anthony Giddens. Seu discurso não se afasta disso, promete mais liberdade de mercado, porém evitando entrar no campo da direita.
“O discurso da eficiência não pode ser um discurso de direita”, afirmou (Aécio Neves).
Seus dois grandes projetos, é transformar o Bolsa Família num programa de estado e
ao mesmo tempo criar uma porta de saída do programa, como se pode
conferir nos links citados. Por esta razão, Aécio faz jus a tradição
tucana de assumir a terceira-via como plano político e econômico.
Por outro lado, a “nova direita”, que é
como se vem dizendo nos últimos anos, é formado majoritariamente pelos
evangélicos. A acensão do protestantismo no Brasil (o seguimento
religioso que mais cresceu) traz um novo viés de direita para o país,
tão ou mais moralista que a direita da década de 50 e com um certo apelo
empreendedor. Embora o país possua naturalmente uma tradição de estado
grande e seu partido represente de certo modo esta tradição (como visto
no espectro), o
candidato Everaldo Pereira, prometendo promissoras privatizações, traz
as bandeiras da Democracia Cristã européia, um discurso que alia o
liberalismo com a preocupação com a qualidade de vida social que o
brasileiro deveria ter. Ao mesmo tempo, não abre mão das bandeiras
da conservação da “moral e dos bons costumes”. Se a candidatura do
social cristão se efetuar, será a primeira vez que a direita estará
ideologicamente representada no seguimento moral desde o fim da UDN.
A ascensão desta direita também é
positiva, pois ela aparece historicamente desligada do período militar e
da direita tradicional, o que além de ser um meio de representar um
seguimento social (evangélicos) que até alguns anos atrás era
solenemente ignorado, é também um renovo para uma direita que estava
marcada pelo fisiologismo, o autoritarismo e a corrupção. Alguns podem
alegar o fato de ser governista como objeção, entretanto, segundo se
sabe, a Frente Parlamentar Evangélica procurou em 2010, os candidatos
José Serra e Dilma Rousseff para debater temas como aborto e casamento
de homossexuais, onde apenas Dilma, teria se compromissado em documento escrito a não promover ou apoiar tais causas em seu mandato. Após
4 anos e muita decepção, o Partido Social Cristão não apenas se lança
como alternativa, mas como também flerta com a oposição.
Do outro extremo da trincheira está o
partido mais progressista do país, o PSOL; embora faça uma oposição
independente, o partido não pretende adotar bandeiras moderadas ou de
direita. Pelo contrário, o partido pretende radicalizar o processo de
caminhada para um socialismo bolivariano, segundo dá a entender o símbolo do partido, Marcelo Freixo.
“Não é quebrando bancos que se destrói o capitalismo!”
( Marcelo Freixo)
Apesar do oximoro no nome, o Partido
Socialismo e Liberdade, formado a partir de uma dissenção do PT,
considera o atual mandatário demasiado comprometido com as oligarquias
para implantar o socialismo no país. E como já mostrado por este blog (aqui),
o partido também dá apoio ao socialista bolivariano Nicolás Maduro.
Fora isto, o partido mais se notabilizou pelas campanhas progressistas, a
favor do aborto, do casamento de homossexuais, da adoção de crianças
por homossexuais e pela eliminação gradual dos religiosos do debate
público. Caso venha realmente com o candidato Randolfe Rodrigues,ele
deverá fazer contraste ao seu maior contraponto no congresso, o PSC.
Por isso, foi colocado no espectro, no lugar mais progressista e,
ligeiramente mais estatista que o PT.
No corner esquerdista mais moderado, pero no mucho; está
o PSB. O Partido Socialista Brasileiro acena com Eduardo Campos e a
ambientalista Marina Silva; o partido promete fazer uma
social-democracia legítima, ao tentar fazer um meio termo entre PT e PSDB. Com o apoio de Marina (que tem sido alvo de investigação deste blog, aqui eaqui),
o partido vai ganhar um tom de verde e, provavelmente, vai ganhar o
voto do que o filósofo Luiz Felipe Pondé chama de “inteligentinhos”, ou
seja, a turma progressista e naturalista dos DCE’s que ainda não fumou
maconha o suficiente para apodrecer o cérebro e ficar estúpido a ponto
de acreditar em comunismo. A social-democracia verde promete bagunçar
essas eleições.
Agora sobram os “ultras”, os ultra-direita e ultra-esquerda.
O PSTU e o PCB avançam com seus
respectivos candidatos, a diferença entre ambas é mínima. Enquanto o
PSTU quer chegar ao socialismo tal como visto no mundo anterior a 1991, o
PCB por sua vez, ainda acredita em Comunismo. O “partidão” lança para a presidência Mauro Iasi, enquanto o PSTU lança Zé Maria.
Já no outro extremo, sobrou para Levy Fidélix o cargo de “extrema-direita”, afinal, desde a morte de Enéas do PRONA, e a recente aproximação do PRTB e do PMB (Partido Militar Brasileiro), como já divulgado aqui, o partido ficou como o mais nacionalista e patriota do país. (Fontes: aqui)
Por esta razão, os últimos três partidos
ocuparam os cargos de ultra-direita e ultra-esquerda respectivamente.
Claro que esta análise pode vir a mudar em breve de acordo com o
prosseguimento das negociações partidárias; contudo, apesar das pequenas
diferenças em relação ao espectro dos partidos, o espectro dos
pré-candidatos é temporariamente este.
Fonte: Tartaruga Democrática
VIA: http://prtb.org.br/2014/02/26/eleicoes-2014-espectro-politico-e-o-discurso-dos-candidatos/
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