
João Fonseca
De tempos em tempos vemos pessoas compartilhando vídeos de crianças pregando. A prática é comum em Igrejas Pentecostais, onde acredita-se que o Espírito Santo utiliza quem lhe apraz para entregar uma mensagem. Cabem dezenas de justificativas para que isso seja visto como bons olhos, como dizer que quando os adultos se perdem, Deus clama por meio de uma criança ou que o próprio Jesus aos doze anos já pregava no templo, por exemplo. Mas, não!, - definitivamente púlpito não é lugar de crianças!
Embora Deus use quem ele quer, e cremos nisso, a "expressão quem ele quer" não pode ser recebida como qualquer um independente de ações e atitudes. Se utilizar do argumento de que o próprio Jesus pregava no Templo ainda com doze anos para justificar a prática, é absurdamente desinteligente. Jesus era Deus, Filho do Senhor e recebia, desde menino, instruções diretamente do Pai. (Lc 12:40) Se o Espírito Santo escolhe alguém, cremos que antes da ministração virá a capacitação por meio dos dons. Assim, é nítido que o Espírito Santo utilizará alguém que seja responsável e tenha um bom testemunho, para que sua mensagem seja recebida e aplicada eficazmente, conforme lemos nas recomendações de Paulo à Timóteo, em 1 Tm 3.
Dito isto, compreendemos que a Palavra jamais se contradiz, pois as Escrituras são claras em relação a necessidade de ordem no culto. Isso, porque o Espírito Santo tem como intuito preservar a unidade da Igreja, a sua sabedoria, responsabilidade de ensino, pois disso depende a sua continuidade, o que compreende também a área política de relações públicas.
Tais mensagens, embora bonitinhas, são apenas imitações de contatos que a criança teve com pregações anteriores. As gesticulações, palavras utilizadas e temas definidos sempre relacionados com o caráter principal da igreja a qual frequentam, corroboram com essa compreensão. Isto é, em Igrejas cuja apelação é constante em termos de "Deus me disse", "Deus me revelou", ou, "Jesus está voltando", "Jesus está aqui", nota-se que as crianças nitidamente imitam os adultos que se utilizam de tais bordões. Por isso, são comuns os vídeos onde elas aparecem, claro, inocentemente, brincando de culto e imitando grandes pregadores no youtube. Entregar o microfone a uma criança durante uma ministração devido a sua capacidade de imitação, no entanto, é uma atitude insensata.
O fenômeno é perceptível em duas situações distintas. Na primeira situação, a criança está ligada à familiares que estão diretamente incorporados ao ministério e tendem a ser vistas como uma prova infalível de "continuação do dom" familiar. Na segunda situação, as crianças estão ligadas a famílias cujo os membros participam de um ministério, mas não exercem nenhuma atividade relacionada. Neste caso, a criança, tendo identificado um exemplo que lhe chama atenção no ministério que frequenta com a família, passando a imitá-lo, tende a ser vista como um dom manifesto na família para chamar todos à verdade. Estranhamente, Deus não chama nenhuma criança de fora, mas está preso as observações anteriores. Se cremos que Deus usa quem ele quer e quando quer, não podemos prender a capacidade do Espírito se locomover afirmando que ele age apenas em determinado espaço físico e sobre os que já estão no corpo.
Quando uma criança for identificada com um dom sobressalente, por sua capacidade de reter informações, compilar e aplicar uma teologia concernente a verdade do Evangelho, ela não deve receber espaço nos púlpitos para ministrar aos demais. Antes, conforme cresce, deve ser incentivada ao estudo da teologia e acompanhamento da rotina da igreja, bem como mantida no ambiente com as demais crianças para que não tenha sua infância roubada. Ela deve ser preparada e o dom trabalhado até que possa ser usado com responsabilidade. Inverter essa ordem pode gerar conflitos. Quando a igreja receber visitantes e esses se depararem com uma criança no púlpito ou ocupando posições que deveriam estar sendo ocupadas por adultos, qual impressão passará?
Se não há adulto capacitado, é porque a Igreja tem falhado e desviado-se da verdade, uma vez que a fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus e, sem ela, não há capacitação por meio de dons. As crianças devem participar de coral, de atividades relacionadas aos grupos de jovens, mas não devem ensinar!
Quando Jesus diz: "Deixai as crianças e não as impeçais de virem a mim, porque de tais é o reino dos céus", em Mateus 19:14, está se referindo a que o Evangelho seja também anunciado as crianças, para que estas aprendam desde cedo sobre as Verdades do Reino a fim de que não se corrompam com este mundo, como está escrito: "Instrui a criança no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele." - Provérbios 22:6
Mas o que fazer quando uma criança entrega uma profecia?
A vontade do Senhor é claramente revelada na Sua Palavra. Pois, toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra. - 2 Timóteo 3:16,17
Assim, aqueles que andam atrás de profecias andam segundo os desejos de seus corações, porque ignoram as Palavras do Senhor, que não são para agradar ao homem, mas para salvá-lo!
O culto é lugar de seriedade, de sensatez, de responsabilidade e demonstração de temor. Vamos ao culto louvar ao Senhor, reconhecer o Seu nome, a Sua grandeza e maravilhas entre as nações. Embora o Senhor nos conceda dons, tais dons devem ser utilizados para a edificação do corpo. Como bem disse o apóstolo Paulo em se tratando do assunto, há uma necessidade de ordem no culto!
Graça e paz!
Por João Fonseca
Por João Fonseca
https://www.apostolopauloinconformado.com.br/2020/01/pulpito-nao-e-lugar-de-crianca-joao.html
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