Os
evangélicos brasileiros não sabem bem qual é a sua identidade cristã.
Muitos acreditam que uma ou outra denominação espiritualizam demais.
Outros, porém, entendem que aquela instituição religiosa ou aquele
ministério são carnais demais. O fato é que o amor de muitos está se
esfriando.
A Igreja vive uma fase de busca de identidade e nesse contexto
aparecem aquelas que são falsas e verdadeiras. É justamente nesse
contexto que discute o pastor Jonas Madureira, da Igreja Batista da
Palavra, em São Paulo. Professor de Teologia e Filosofia da Faculdade
Teológica Batista de SP ele entende que esse conceito de identidade
permeia por uma Igreja que prega o verdadeiro Evangelho.
Um de seus discursos é em relação a Identidade do cristão.
De que forma a igreja pode interferir negativamente e ao mesmo tempo
positivamente nesta identidade para que as pessoas não sejam escravos de
escolhas alheias?
Primeiro precisamos entender o conceito de Igreja, temos as
verdadeiras e as falsas. É natural que as instituições religiosas
falsas reproduzem uma falsa identidade e um falso cristão. Nós, crentes
em Jesus, entendemos que os sacramentos bíblicos como a ceia e o batismo
são fundamentais e normativos para uma Igreja. Além disso, precisam ser
administrados de forma correta. Quando a instituição não cumpre com
essa determinação que é bíblica, foge do contexto e por isso prega o
falso evangelho e consequentemente não gera conversão de almas. As
Igrejas verdadeiras reproduzem cristãos verdadeiros. Há que se ressaltar
porém que nem todas as igrejas consideradas verdadeiras são saudáveis
pois podem estar doentes no sentido de enfrentarem dificuldades em seu
contexto, no que tange a evangelização, centralidade da Palavra de Deus,
discipulado, Teologia Bíblica sólida e forte. A igreja pode vacilar e
perder sua saúde. Uma Igreja saudável não significa que não tenha
defeitos, mas pode ter um resfriado. O câncer é mais que um resfriado,
ele ameaça a vida de uma pessoa, a mesma coisa acontece na Igreja. A
identidade natural é o que define uma pessoa e vai determinar também o
nosso estilo de vida. Mas a identidade espiritual, que é o que somos de
fato diante de Deus vai interferir no nosso papel dentro da Igreja. Eu
não acredito que uma pessoa possa saber de fato quem ela é se não for
revelado a ela quem Deus é através do Evangelho. A nossa identidade
precisa estar conectada a Deus. E isso tem que ser visto dentro da
Igreja. E dentro das instituições existem doenças que ameaçam a vida da
igreja, e se elas estiverem muito doentes vão reproduzir cristãos
doentes. A identidade de uma pessoa ou de uma membro de uma igreja vai
refletir o estado espiritual de uma igreja.
Quais seriam essas doenças dentro da Igreja?
Igreja que não evangeliza, que não tem foco missionário, nem na
multiplicação de seus membros, é centrada em afinidades, em eventos, que
não pratica disciplina eclesiástica, não cuida de seus membros, não há
supervisão pastoral, não há prestação de contas, que tem uma liderança
que não segue o padrão bíblico, que não discípula com base no evangelhos tem uma teologia frágil para responder as questões do homem moderno.
Todos esses elementos são características de uma igreja doente em
potencial. Ela pode até ser uma igreja verdadeira, mas se não tiver
ensino teológico e doutrinário, os membros da igreja serão carentes de
fundamentação. O que eu quero dizer é que eles não conseguem aprofundar o
evangelho e irão sofrer por conta disso, principalmente por questões
apologéticas, quando uma pessoa, por exemplo, fizer uma pergunta sobre a
razão da esperança e a liderança não souber responder. Então,
consideramos que são igrejas doentes porque não preparam seus membros.
Os novos convertidos são os principais afetados pois já serão formados
por um contexto de uma identidade já comprometida.
Qual a importância das Afeições Religiosas para a mente de qualquer cristão?
As afeições religiosas dizem respeito a uma temática abordada por um
importante teólogo importante da história moderna, Jonatha Elders, que
foi relevante para aquilo que se chamou de o grande avivamento na
América colonial na Inglaterra. Ele tinha uma preocupação legítima de
falsas interpretações do que seria a verdadeira espiritualidade e
verdadeira religião. Isso acaba polarizando entre uma vida cristã
extremamente intelectualizada e emotiva. Ou seja, os dois caminhos não
representavam a verdadeira religião. A mente e o coração do homem não
pode. ser meramente uma coisa do conhecimento, do entendimento, mas
também das suas inclinações e vontades. É a ideia de que onde há luz e
entendimento há o calor e as afeições. Elas acompanham essa inclinação
do homem para as coisas de Deus e que faz com que ele não se envolva com
as verdades de Deus apenas intelectualmente. Hoje os cristãos acham que
para você vivenciar a conversão basta entender o Evangelho, mas não é
só isso, é uma experiência de inclinação do coração às coisas de Deus e
que começa com a ação do Espírito Santo, porque ele é o agente das
afeições, que desperta a vida de um cristão para que ele entenda que a
experiência do cristão é também de contemplação da beleza de Deus e
todos os seus atributos. Isso mexe com os afetos, que, consequentemente
mexem com as vontades e com o coração. Então o Evangelho não diz
respeito a amar as coisas que são de Deus e odiar aquelas coisas que não
são de Deus. E amar e odiar são afetos e eles não estão negociados com a
inteligência da fé.
A frieza espiritual que observamos hoje se integra nesse contexto? Em que sentido?
Essa ideia de que as emoções são mais importantes fez com que muitas
pessoas dentro da igreja rejeitassem os afetos. O emocionalismo é que
precisa ser banido e não os afetos. Deus é amor e Ele é uma afeição
fundante de todas as outras afeições. Todos eles tem seu fundamento no
amor e se Deus é amor, Ele também é um Deus afetuoso. As afeições de
Deus são inclinações do próprio Deus a si mesmo. Se Ele nos ama é
porque o que nós somos e o que representamos somos o cumprimento da
vontade de D’Ele e por isso amor de Deus pelo seus reflete o amor de
Deus por si mesmo e pela Sua glória.
De que forma podemos fazer isso?
Precisamos entender que a conversão, a regeneração é uma obra do
Espírito Santo, um aspecto elementar de uma experiência afetuosa com
Deus, porque ela que vai fazer a gente tremer diante do evangelho, vai
fazer a gente chorar diante da história da redenção, vai fazer a gente
se comover. Não importa quantos anos de Igreja temos, mas vamos arrepiar
a cada vez que a história do Evangelho for contada e aprofundada.
Aqueles que não foram tocados pelo Espírito Santo são insensíveis pelo
Evangelho. Ao sermos tocados pelo Espirito Santo, temos nosso coração
aquecidos. Isso é um sinal da verdadeira espiritualidade. A atração por
Deus é mais forte que qualquer coisa neste mundo. Não existem pessoas
sem afetos. Ou os afetos estão dirigidos a Deus ou estão dirigidos a
algo que não é Deus, ou seja, profano. O cristão é aquele que foi
afetado por Deus sem medo e não tem nenhum impedimento para que possa
dar vazão a natureza que é amar a Deus.
Qual é o linear do orientar e do impor por parte da família para os filhos?
Tem pessoas que acham que a criação dos filhos é de responsabilidade
da igreja e isso é completamente descabido. A Bíblia diz que os filhos
devem ser orientados pelo pais, que serão responsáveis por orientarem
seus filhos nos caminhos do Senhor. A igreja tem o papel fundamental de
ensinar os pais, mas a educação é dos próprios pais. Ninguém ensina com
discurso e sim com exemplo. Não adianta nada dizer que é crente, mas se
seus atos no dia a dia não condizem como cristãos. Os seus filhos vão
reproduzir o cristianismo que você vive e não o que você professa.
Ninguém ensina com discurso e sim com a vida. Ninguém aprende sem
imitar. O problema é que se os pais não tem padrão cristão para imitar e
seguem padrões mundanos, os seus filhos, por mais que estejam na
igreja, vão seguir os seus padrões de vida que não reflete o padrão de
Deus. Por isso é tão importante os pais se preocuparem com o
discipulado. A salvação da educação familiar está no compromisso que os
pais tem de serem discipulados. Por isso insisto em dizer que o
discipulado é fundamental. Nem o pastor da igreja pode viver uma vida
cristã sem ser discipulado. Jesus não nos deu autorização para vivermos
independentes. Ele disse: fazei discípulos. Nenhum cristão permanece
cristão sem ser discipulado.
Em seu último livro “Inteligência humilhada”, o senhor traz
uma reflexão sobre como se relacionam o conhecimento de Deus e os
limites da razão humana. A obra teve uma explosão de vendas, foram 5 mil
exemplares do livro vendidos em menos de 2 meses. O que atribui para
esse número tão expressivo?
A história do livro é interessante porque começou com uma leitura em
especial das obras de Agostinho. Eu tinha acabado de ler o livro 10 das
confissões e a leitura daquele livro em especial me marcou muito. Quando
fui ministrar em uma Conferência no Rio de Janeiro falei sobre a
relação da racionalidade da fé e acabei aplicando alguns conceitos que
tinha lido no livro. Mas o conteúdo acabou gerando o interesse das
pessoas pelo conceito de ‘Inteligência Humilhada’. Quando comecei a
trabalhar essa questão da humilhação da inteligência e que a teologia se
constitui dessa fragilidade, muita gente ficou curiosa e isso gerou uma
buscar das pessoas em querer entender o assunto. A igreja brasileira
tem profundas resistências ao trabalho intelectual, mesmo assim, o
crente deve colocar sua inteligência a serviço do Reino.
Como buscar no Evangelho resposta às perguntas para a existência do ser humano?
Entendo que o evangelho é a resposta para a pergunta que o homem faz
sobre o significado da vida. É o evangelho que responde as questões de
ordem íntima: de onde viemos, para onde vamos, qual o significado vida, o
que é o belo, o que é a verdade e o que é a justiça. O Evangelho
responde essas perguntas centradas na pessoa de Jesus. Ele e sua obra
são o centro do Evangelho e constituem o epicentro de toda a revelação
de Deus. Toda história da redenção está centrada n’Ele. Nós vamos do
passado ao futuro e do futuro ao passado sempre por meio de Jesus, pois
Ele é o mediador da criação, da redenção e sobre toda a história. Um
cristão não pode ler o mundo e não pode enxergar nada sem Jesus. Ao
mesmo tempo Ele não é visto se não for através de Jesus. O evangelho é
aquilo que orienta a vida, que dá significado para a vida e faz ela
encontrar razão e encontrar uma direção para a peregrinação. Somos
peregrinos e por isso precisamos de teologias, sermões, ensino e
direção pois estamos aqui de passagem.
Como definir uma Igreja centrada?
Igreja centrada é aquela que prega o verdadeiro evangelho. Uma igreja
que não faz isso jamais terá o recurso suficiente para ser centrada. O
Espírito Santo não pode usar uma pregação budista ou de qualquer outra
experiência de ensino religioso para alcançar alguém que não seja o
Evangelho. Uma igreja centrada está comprometida com a pregação do
verdadeiro evangelho. Se estamos numa igreja doente por exemplo, temos a
obrigação de ficarmos ali e trabalharmos para que ela seja curada e
saudável. Se a igreja for falsa precisamos sair dali o mais rápido
possível, pois ela é perigosa e mata. Não dá para ser um agente de
mudança em uma igreja falsa. A única igreja verdadeira é aquela que
prega o Evangelho. É como uma moeda falsa, é apenas um pedaço de metal.
Pr. Jonas Madureira
Igreja Batista da Palavra – São Paulo/SP
Igreja Batista da Palavra – São Paulo/SP
http://www.adiberj.org/portal/2018/09/22/como-definir-uma-igreja-verdadeira/
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