O oposto do erro nem sempre é o certo. Às vezes, é simplesmente um tipo diferente de erro.
Existem dois erros predominantes que o
cristão pode cair e prejudicar sua integridade. Você pode pensar neles
como dois buracos igualmente perigosos de ambos os lados do caminho
estreito (Mateus 7:14).
De um lado, você tem legalismo. Com
regras inexoráveis que governam o comportamento externo, os legalistas
não colocam muita ênfase na integridade. É importante o que você faz –
ou, além e mais do que isso, o que você não faz – não por que ou como
você faz isso.
No legalismo, a conformidade toma o
lugar da fidelidade. Sua rígida adesão às regras é o que importa, não a
atitude que sustenta sua obediência externa ou a verdadeira natureza das
afeições do seu coração. A integridade é apenas a medida de quão
consistente você segue as regras. Não tem nada a ver com a obra
transformadora interna do Espírito nem com a mortificação da carne
(Romanos 8:13).
Os legalistas também medem sua própria
maturidade espiritual pelas falhas que podem detectar em outros. A
parábola que Cristo relatou do fariseu e do coletor de impostos em Lucas
18 é um excelente exemplo. As Escrituras deixam claro que o fariseu
orou com estas palavras para o seu próprio benefício: Ó Deus, graças
te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e
adúlteros, nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e
dou o dízimo de tudo o que ganho (Lucas 18:11-12 ).
Cristo nasceu em um mundo governado e
entregue ao legalismo implacável dos fariseus. Eles reduziram a lei de
Deus – juntamente com o rico simbolismo que apontou para o Messias
vindouro – para uma lista opressiva de prescrições e proibições. Os
apóstolos sabiam em primeira mão a ameaça que o legalismo representava
para a igreja primitiva e advertiram contra a sucumbir à sua influência.
Paulo exortou os Gálatas a resistir às pressões dos judaizantes
legalistas, que tentaram adicionar obras à graça: Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Por isso, permaneçam firmes e não se submetam, de novo, a jugo de escravidão (Gálatas 5: 1).
Um dos perigos do legalismo é que ele
ataca a necessidade de integridade. Quando a piedade não é medida em
santidade e maturidade, mas por como a sua vida se parece relativa aos
outros, não há necessidade de disciplinar seu coração e sua mente. Os
pecados que ninguém mais pode ver essencialmente não contam, e você
acaba vivendo uma vida dupla permeada de hipocrisia. Seu comportamento
externo pode parecer piedoso, mas é um disfarce sem valor se o seu
coração ainda é dominado pelo egoísmo, luxúria, ódio e orgulho. Mas, se a
sua piedade é apenas um disfarce, você pode ter certeza de que acabará
por colapsar e expor a hipocrisia interior.
O erro oposto da pantomima espiritual do legalismo é a ilegalidade.
Assim como o legalismo representava uma ameaça para a igreja primitiva,
o antinomianismo – a crença de que a lei de Deus já não se aplica aos
cristãos – foi uma praga espiritual na igreja do primeiro século.
Paulo escreveu à igreja de Éfeso para
encorajá-los a abandonar seus hábitos pecaminosos e a viver a
transformação que Deus havia operado neles: Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas (Efésios 2:10). Ele destacou o mesmo ponto em sua carta aos Colossenses:
Portanto, se vocês foram
ressuscitados juntamente com Cristo, busquem as coisas lá do alto, onde
Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensem nas coisas lá do alto, e
não nas que são aqui da terra. Porque vocês morreram, e a vida de vocês
está oculta juntamente com Cristo, em Deus. Quando Cristo, que é a vida
de vocês, se manifestar, então vocês também serão manifestados com ele,
em glória. Portanto, façam morrer tudo o que pertence à natureza
terrena: imoralidade sexual, impureza, paixões, maus desejos e a
avareza, que é idolatria; por causa destas coisas é que vem a ira de
Deus sobre os filhos da desobediência. Vocês também andaram nessas
mesmas coisas, no passado, quando viviam nelas. Agora, porém, abandonem
igualmente todas estas coisas: ira, indignação, maldade, blasfêmia,
linguagem obscena no falar. Não mintam uns aos outros, uma vez que vocês
se despiram da velha natureza com as suas práticas e se revestiram da
nova natureza que se renova para o pleno conhecimento, segundo a imagem
daquele que a criou (Colossenses 3:1-10 ).
Ele emitiu uma advertência semelhante em Tito 2:11-12: Porque
a graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos. Ela nos educa
para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos neste
mundo de forma sensata, justa e piedosa…
Apesar destas e outras exortações claras na Escritura, o antinomianismo ainda vive e prospera em muitas igrejas hoje.
Nós lidamos com o movimento Hypergrace
no passado. Em termos simples, ele enfatiza as declarações indicativas
da Escritura (por exemplo, que fomos salvos pela graça – Efésios 2:8),
minimizando seus imperativos (como exortações para andar em santidade –
Efésios 2:10). O resultado é uma espécie de antinomianismo prático que
cede ao pecado enquanto aponta para a obra completa de Cristo.
Todavia, essa ênfase desequilibrada na
graça de Deus despreza a importância de cultivar uma vida de
integridade. Na verdade, isso se torna praticamente impossível.
Considere esta definição do livro de John MacArthur, The Power of Integrity (O Poder da Integridade):
Essencialmente, a integridade
significa ser fiel aos padrões éticos de alguém, em nosso caso, aos
padrões de Deus. Seus sinônimos são honestidade, sinceridade,
incorruptibilidade. Ela descreve alguém sem hipocrisia ou duplicidade –
alguém que é completamente consistente com as suas convicções
declaradas. Uma pessoa que não tem integridade – que diz uma coisa e faz
outra – é um hipócrita.
Se um crente viver com integridade, ele
não pode comprometer as exortações das Escrituras para “negar a
impiedade e os desejos mundanos”, “deixar de lado o eu antigo”, “viver de maneira sensata, justa, piedosa” e seguir as boas obras para as quais o Senhor nos chamou e nos transformou.
De fato, utilizar a graça de Deus como
um passe livre imediato para o seu pecado é o auge da duplicidade. É uma
negação aberta do trabalho de santificação do Espírito dentro de você, e
o leva a encarar o pecado e a graça de Deus levianamente. Produz a
negligência e a corrupção, e pode levar ao trágico naufrágio espiritual.
Viver com integridade significa evitar o
legalismo, a ilegalidade e a hipocrisia inerente em ambos os extremos.
Em vez disso, precisamos seguir o equilíbrio que Paulo ressalta em sua
carta aos Efésios: alguém que abraça o evangelho e busca a santidade.
Vejamos:
Mas Deus, sendo rico em
misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós
mortos em nossas transgressões, nos deu vida juntamente com Cristo —
pela graça vocês são salvos — e juntamente com ele nos ressuscitou e com
ele nos fez assentar nas regiões celestiais em Cristo Jesus. Deus fez
isso para mostrar nos tempos vindouros a suprema riqueza da sua graça,
em bondade para conosco, em Cristo Jesus.
Porque pela graça vocês são salvos,
mediante a fé; e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não de obras,
para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo
Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que
andássemos nelas (Efésios 2:4-10).
Autor: Jeremiah Johnson
Fonte: Grace to You
Tradução: Leonardo Dâmaso
Divulgação: Reformados 21
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