Antje Naujoks
Em muitas cidades israelenses, encontra-se
 uma rua chamada Kaf-Tet-BeNovember (= “29 de novembro”), porque nesse 
dia, em 1947, as Nações Unidas votaram no plano de partição da 
Palestina.
Em maio de 2018 Israel comemorará o seu 70º Dia da Independência. Mas
 neste ano ainda há um outro evento que muitos veem como um dos marcos 
mais importantes no caminho para a fundação do Estado judeu. Há 70 anos 
atrás, no dia 29 de novembro de 1947, muitos da comunidade judaica na 
terra de Israel, de apenas 600 mil pessoas, reuniram-se em lugares 
públicos para ouvir a votação pelo rádio. Muitos estavam contando 
entusiasmados os votos “sim”. Era claro para todos que a renúncia do 
mandato britânico, estabelecido pela Liga das Nações em 1922, aproximou a
 fundação futura de um Estado judeu. Desiludido, o Reino Unido devolveu o
 mandato da região para as Nações Unidas (ONU) em fevereiro de 1947. A 
ONU havia sido fundada na sequência do fracasso da Liga das Nações, 
imediatamente após a Segunda Guerra Mundial.
Como mandante, os britânicos esperavam encontrar uma solução para o 
“problema da Palestina”. Mas, em vez disso, o potencial de conflito 
aumentou. Por um lado, os judeus estavam com o sombrio capítulo do 
Holocausto nas memórias e, do outro, eles precisavam assistir a tudo com
 grande frustação, pois inúmeros sobreviventes estavam presos na Europa 
porque os britânicos continuaram a mantê-los longe da sua terra. 
Aconteceram tragédias, como a odisseia dos sobreviventes do Holocausto 
no navio Exodus. O Yishuv – o assentamento judeu no Israel 
pré-Estado – tornou-se bem estabelecido no país e contribuiu 
significativamente para a construção de uma infraestrutura moderna. Ela 
inclui escolas e instituições de ensino superior, hospitais, grandes 
empresas bem como empresas de eletricidade e água, mas também a 
Orquestra Filarmônica de Israel. Ao mesmo tempo, houve ondas de ataques 
de assaltos sangrentos e maciços por residentes árabes. Mas o lado árabe
 também parecia frustrado com a situação: embora eles eram superiores em
 número aos judeus que viviam na região, com cerca de 1,2 milhão de 
habitantes, os árabes se sentiram reajustados, traídos e vendidos. 
Também estavam desencorajados devido ao contínuo controle estrangeiro 
por uma grande potência. Afinal, eles não haviam lutado contra a 
ocupação otomana apenas para ver seu próprio destino ser dirigido 
novamente por outro poder.
E então ele se aproximou, esse momento memorável em novembro de 1947.
 Foi precedido pelas avaliações do Comitê Especial das Nações Unidas 
para a Palestina (UNSCOP na sigla original). Os onze estados-membros do 
comitê da ONU (que representavam a organização) mantiveram conversas com
 ambos os lados; entre outros, com a Agência Judaica e o Alto Comitê 
Árabe, e também fizeram viagens à região. O Alto Comitê Árabe rejeitou a
 cooperação com a UNSCOP, em junho de 1947. Várias tentativas de 
mediação indicaram que nenhuma solução política foi deixada aberta pelo 
lado árabe. Eis o que os representantes da Agência Judaica escutaram 
quando quiseram negociar, em uma reunião com o secretário-geral da Liga 
Árabe, o egípcio Abdul Rahman Hassan Azzam, mais conhecido apenas como 
Azzam Pasha: “O mundo árabe não está disposto a fazer qualquer 
compromisso. Sua proposta [...] pode parecer razoável e lógica 
externamente, mas o destino dos povos não é decidido pela lógica e 
razão. Os povos não fazem concessões; eles lutam [...]. Vamos tentar 
vencê-los. Não tenho certeza se teremos sucesso, mas tentaremos. 
Conseguimos combater os cruzados – por outro lado, perdemos a Espanha e a
 Pérsia. Talvez possamos perder a Palestina, mas definitivamente é tarde
 demais para falar sobre soluções pacíficas”.
Embora os membros da UNSCOP estavam apresentando as suas 
recomendações, concordaram que, em setembro de 1947, a independência 
palestina deveria ser proclamada depois de uma fase de transição sob 
supervisão da ONU. A Palestina deveria tornar-se uma entidade econômica.
 Mas não se pôde concordar sobre mais nada. Assim, levando em 
consideração recomendações anteriores, como por exemplo a Comissão Peel 
de 1937, foram apresentados um plano maioritário e um minoritário: 
naquela época o plano de divisão já se opunha ao plano para estabelecer 
um Estado federal binacional. Por fim, as Nações Unidas votaram se 
aceitariam o plano maioritário e se apoiariam sua implementação. Foi, 
por um lado, sobre a divisão da Palestina em um Estado judeu e árabe, e,
 por outro, sobre a internacionalização do status da cidade de Jerusalém
 como Corpus separatum.
Em 29 de novembro de 1947, 56 países votaram em relação a esse plano.
 Em sequência, cada representante anunciou o “sim”, “não” ou a 
abstenção. Esse foi o momento em que não só a terra de Israel e todos os
 habitantes dos Yishuv colaram seus ouvidos no rádio: todo o 
mundo judeu estava assistindo ao vivo a votação. Para os judeus, não se 
tratava apenas da chance tangível de recuperar a independência de 
Estado. Após a experiência da tentativa de genocídio do povo judeu, 
procuravam muito mais conseguir um refúgio seguro para os judeus da 
perseguição e extinção.
Finalmente, entre as dez abstenções e os 13 votos contrários, um 
total de 33 vezes o esperado “sim” aos judeus foi ouvido. Não só em 
Israel, mas em todo o mundo os judeus estouraram em júbilo. Em Tel Aviv,
 bem como nos kibutzim, os habitantes judeus da área ainda 
mandatada dançavam nas ruas. Mas em breve deveriam cair os primeiros 
tiros que colocariam um fim ao zumbido de alegria. Esses tiros marcaram o
 início do que aconteceria com a retirada do mandato britânico e com a 
proclamação do Estado de Israel: a Guerra da Independência israelense, 
em 14 de maio de 1948. Enquanto a liderança do futuro Estado judeu 
adotou o plano de partição da ONU apesar da quebra do território judeu, o
 lado árabe permaneceu em sua estrita rejeição e, em vez disso, pegou em
 armas.
Os habitantes judeus da área ainda mandatada dançavam nas ruas. Mas
em breve deveriam cair os primeiros tiros...
Cerca de sete décadas depois, ainda lutam por estes meios, e mais 
munições foram adicionadas, como mostra uma cerimônia no Museus de 
Queens. Neste museu, em Nova York, no distrito de Queens, foram 
realizadas aquelas votações da ONU. A comissão israelense da ONU tinha 
quartos reservados ali para uma celebração. Em junho de 2017, a reserva 
foi confirmada juntamente com o feedback da administração do 
museu, de que eles estavam ansiosos para “este evento maravilhoso e 
significativo nas premissas originalmente relevantes”. À medida que o 
plano se tornou público, os ativistas do BDS (Boicote, Desinvestimento e
 Sanções contra Israel) entraram em ação. Eles ganharam uma vitória: o 
museu cancelou o evento. No entanto, foi uma vitória de curta duração, 
porque a promessa de cancelamento também foi retirada, ao que o 
embaixador israelense da ONU, Danny Danon, disse: “Qualquer tentativa de
 discriminar o Estado de Israel é completamente inaceitável e 
continuaremos combatendo tais injustiças. Estamos ansiosos para celebrar
 com orgulho esta histórica decisão das Nações Unidas”. 
Antje Naujoks
http://www.chamada.com.br/mensagens/marco_israel.html
 
 
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