A Teologia é a gramática do Espírito Santo.
(Martinho Lutero)
Nesse mês de outubro comemoramos os 500 anos da Reforma Protestante e como parte das comemorações, nós do Instituto Êxito de Teologia, preparamos para você um artigo contando um pouco dessa história que impactou a sua geração e mudou a forma de pensar a teologia.
A Pré Reforma:
Quando falamos em Reforma Protestante, logo, nos vem em mente nomes como Lutero ou Calvino, porém, não podemos esquecer, que antes desses, outros homens de Deus já lutavam por uma reforma dentro da igreja.
É fato que a Reforma eclodiu apenas no início do século XVI, porém, essas sementes foram lançadas muito antes por homens como John Wycliffe, John Huss, que já em suas épocas se mostraram insatisfeitos com os rumos da igreja.
Conhecer a vida e os ensinamentos desses homens é muito importante para um entendimento sobre a reforma, pois influenciaram diretamente no pensamento de Lutero e contribuíram diretamente para Reforma Protestante.
John Wycliffe:
O professor da Universidade de Oxford, John Wycliffe (1330-1384), desferiu duras críticas ao clero católico ainda no século XIV. Ele era pároco em Lutterworth, no condado de Yorkshire, na Inglaterra, e também era funcionário do rei inglês, tendo enorme influência sobre este, principalmente quando o assunto era a mediação com o clero.
Wycliffe foi contemporâneo dos embates teológicos e filosóficos nominalistas, que influenciariam grandemente o pensamento moderno, inclusive o teológico/reformista.
Wycliffe foi um dos primeiros a denunciar a corrupção no clero católico e a anunciar a tese (que depois seria amplamente defendida por Lutero) de que qualquer um que tivesse fé poderia ter a salvação eterna, sem necessariamente ter que se dedicar ao cultivo das virtudes e às boas obras.
Outra de suas críticas, mais de viés teológico, tinha como alvo a doutrina católica da transubstanciação de Cristo, no ritual eucarístico, isto é, na cerimônia eucarística do pão e do vinho.
Outro ponto importante das críticas de Wycliffe foi à defesa da “autoridade suprema” das Escrituras e da não interferência da opinião papal sobre elas e sobre a tradição cristã.
Esse princípio atacava a autoridade do papa como sendo representante de Pedro, na Terra, e portador da “chave da Igreja”. Wycliffe chegou a qualificar alguns papas de anticristos por conta disso.
Um de seus principais tratados foi o De veritate Sacrae Scripturae (Da veracidade nas Sagradas Escrituras), publicado em 1378. Para Wycliffe, ao contrário do papa, as escrituras eram infalíveis.
Essa tese influenciou tanto o luteranismo quanto o calvinismo e suas ramificações. Uma das últimas ações de Wycliffe foi traduzir a Bíblia para o inglês, tal como o faria Lutero, ao traduzir a Bíblia para o alemão no século XVI.
John Huss:
John Huss nasceu por volta de 1369 na Aldeia de Husinec no sul da Boêmia, em 1390 ingressou na Universidade Carolina de Praga e tornou-se sacerdote no ano de 1400. Huss foi nomeado pregador da capela dos Santos Inocentes de Belém em 1402 e no mesmo ano foi Empossado como Reitor na Universidade de Praga.
Com dedicação Huss pregou sobre a reforma eclesiástica e nacional que tanto os tchecos queriam, desde, o tempo do Imperador Carlos V, Na Universidade os ensinos de Wycliffe ganhavam força e influenciavam as discussões.
A crítica de Huss incidia sobre a riqueza da Igreja Católica e a venda de indulgências por parte dos clérigos. Seguindo os ensinamentos de Wycliffe, a autoridade dos ensinamentos das Escrituras contra a autoridade da tradição católica e da palavra do papa era também defendida por Jan Huss.
Nesse sentido, ele pregava a existência de uma igreja pobre e a constituição de um mundo onde prevaleceria a justiça social, aproximando-se do mundo perfeito de Deus a partir de ações terrenas. Huss defendia ainda que todos os cristãos deveriam realizar a comunhão, o que naquele momento era prática exclusiva dos membros do clero.
A postura de John Huss levou a Igreja Católica a decretar seus ensinamentos como heréticos. O papa declarou um interdito a Praga, proibindo práticas cerimoniais religiosas enquanto Huss permanecesse na cidade. Com essas pressões, Venceslau IV tirou John Huss do cargo de reitor da universidade.
Porém, essa medida não o impediu de continuar suas pregações. Em 1412, ele foi excomungado por insubordinação, em virtude de posicionamentos divergentes ao do arcebispo da cidade. Essa situação estava inserida no contexto do Cisma do Ocidente, quando a Igreja Católica chegou a ter três papas ao mesmo tempo.
Em 1414, Jan Huss foi chamado a se apresentar ao Concílio de Constança, em terras alemãs. Nesse Concílio, a alta hierarquia da Igreja católica pretendia resolver os problemas decorrentes do referido Cisma.
Ao se apresentar às autoridades católicas, foi exigido de John Huss o abandono de suas ideias críticas à Igreja. Ele recusou-se a refutar seus posicionamentos. Mesmo portando um salvo-conduto dado pelo imperador Segismundo, Huss foi condenado à morte na fogueira. Em 1415, foi cumprida sua sentença, sendo queimado vivo às portas da cidade de Constança.
A Reforma Protestante
A Reforma protestante foi em suma, a redescoberta do verdadeiro evangelho de Jesus Cristo, onde, essa redescoberta gerou uma restauração que influenciou não apenas a igreja, mas o mundo.
Sob a direção de Deus, a reforma foi conduzida em razão de todas as necessidades que se apresentavam na época dentro e fora da igreja, o que obrigou a uma tomada de atitude drástica para romper com tais ideias.
A Igreja encontrava-se perdida espiritualmente, a Bíblia era um livro fechado, a ignorância espiritual dominava a mente do povo, o evangelho foi pervertido, a tradição da igreja triunfava sobre a verdade divina e a santidade individual foi esquecida.
Dentro deste quadro, surgem no cerne da igreja, homens chamados por Deus e influenciados pelas ideias de mudança semeadas no passado, que decidem romper com toda essa estrutura.
Homens como Martinho Lutero, João Calvino e Ulrico Zuíglio que conheceremos a seguir, que através de suas vidas e ensinamentos contribuíram para essa ruptura e desenharam a nova face da igreja de Cristo.
Martinho Lutero:
Lutero nasceu em 1483 na Alemanha e foi criado sob as estritas disciplinas da Igreja Católica Romana e foi preparado para se tronar um acadêmico, o que aconteceu se formando em Direito, Filosofia e Arte.
Em 1505 Lutero sofre um acidente e faz uma promessa de virar monge caso escapasse. Essa promessa ele cumpri e em 1507 ele é ordenado ao sacerdócio sendo enviado posteriormente para Roma, onde, testemunha a corrupção da igreja.
Em 1512 Lutero recebe o grau de doutorado em teologia pela universidade da Wittenberg e ali é nomeado professor da Bíblia. Em 1517 um fato ocorreria que mudaria toda a sua história.
John Tetzel começa a vender indulgências nas proximidades de Wittenberg e este abuso, injetou coragem em Lutero e o levou a no dia 31 de outubro de 1517, fixar na parte externa da Igreja de Wittenberg as 95 teses combatendo a indulgência.
Afixar tais teses nas portas de igreja era uma prática comum em debates de erudição, porém, uma cópia caiu nas mãos de um tipógrafo, que imprimiu e espalhou por toda Alemanha e Europa.
Em 1519 Lutero entende através da iluminação que a justificação vem pela fé, o que ia contra os ensinos de Roma. Lutero defende essa ideia em Leipzig no mesmo ano e em 1921 é chamado pelo imperador Carlos V para retratar-se dessas ideias, o que não faz, gerando no imperador ódio que o faz declarar guerra à reforma.
Lutero produziu muito, e entre suas obras, podemos destacar; Apelo a Nobreza Alemã, Cativeiro Babilônico da Igreja, A liberdade o Cristão, Catecismo Menor e a Bíblia de Lutero, uma tradução para o Alemão.
Em meados de 1928, a Reforma Protestante já havia dominado toda a Alemanha e estava nas principais cidades da Europa, além disso, começam a se destacar nomes como o de Calvino e Zuíglio que ajudaram na consolidação da Reforma.
Lutero morre em 18 de fevereiro de 1546 e seu corpo foi transportado para a Igreja de Wittenberg, onde foi sepultado diante do púlpito e pranteado por milhares de alemães gratos por sua contribuição para a mudança da história.
Ulrico Zuíglio
Ulrico Zuíglio nasceu no dia 1º de janeiro de 1484 na pequena cidade de Wildhaus, situada no nordeste da Suíça. Ele foi educado pelos seus pais na religião católica e logo cedo se destacou por sua inteligência e amor pela verdade.
Em 1518 se tornou sacerdote da principal igreja da cidade de Zurique. Tendo lido recentemente a tradução do Novo Testamento feita por Erasmo, começou em 1519 a pregar uma série de sermões bíblicos que causaram forte impacto.
A partir dessa época, defendeu um grande programa de reformas em cooperação com os magistrados civis. Suas ideias sobre o culto público e os sacramentos representaram uma ruptura mais radical com as antigas tradições do que fez o movimento luterano.
O ano de 1522 foi decisivo. Zuíglio protestou contra o jejum da quaresma e o celibato clerical, casou-se secretamente com Ana Reinhart, escreveu Apologeticus Archeteles (seu testemunho de fé) e renunciou ao sacerdócio, sendo contratado pelo concílio municipal como pastor evangélico. Nos dois anos seguintes, uma série de debates públicos levou à progressiva implantação da reforma em Zurique, culminando com a substituição da missa pela Ceia do Senhor em 1525.
Infelizmente, alguns de seus primeiros colaboradores, tais como Conrado Grebel e Félix Mantz, adotaram posturas radicais quanto ao batismo, dando início ao movimento anabatista, que gerou fortes reações das autoridades.
Os últimos anos da vida de Zuínglio foram marcados por crescente atividade política. No interesse da causa reformada, ele defendeu a luta contra o império alemão e também contra os cantões católicos da Suíça.
Buscando fazer uma aliança com os protestantes alemães, encontrou-se com Lutero no célebre Colóquio de Marburg, convocado pelo príncipe Filipe de Hesse em 1529. Embora concordassem em quase todos os pontos discutidos, os dois reformadores não puderam chegar a um acordo com relação à Ceia do Senhor.
No dia 11 de outubro de 1531, quando acompanhava as tropas protestantes na segunda batalha de Kappel, Zuínglio foi morto em combate. Segundo se afirma suas últimas palavras foram: “Eles podem matar o corpo, mas não a alma”.
João Calvino:
João Calvino nasceu na cidade em 10 de Julho de 1509. Quando criança Calvino recebeu um beneficio eclesiástico na catedral, que o ajudou a custear seus estudos, ao qual se dedicou bastante. Estudou na mesma escola dos nobres de sua cidade, posteriormente foi para Paris e aprendeu Humanidades, Latim, Gramática, filosofia e teologia.
Depois de concluir sua licenciatura em Artes e bacharelado em Direito foi estudar literatura clássica. Em 1533 Calvino foi convertido e no final desse ano teve que fugir de Paris por causa de sua fé.
Em meados de 1536 ele publicou a primeira edição da então conhecida obra “Institutas”, cuja introdução era uma carta dirigida ao rei Francisco I da França, em favor dos evangélicos perseguidos.
Sua vida após a conversão tornou-se cheia de perigos que o forçavam a mudar-se de cidade. Em uma dessas mudanças ele foi parar em Genebra, mas logo foi expulso.
Em 1538 Calvino foi para foi para Estrasburgo, onde residiu por três anos e pastoreou uma pequena igreja de refugiados franceses.
Nesse período ele escreveu um comentário sobre Romanos, lecionou em uma escola que serviria de modelo para a futura Academia de Genebra, participou de conferencias e casou-se com uma viúva paroquiana chamada Idellete de Bure.
No final do período de três anos que ele passou em Estrasburgo, Genebra passou a ser controlada por amigos de Calvino, esses o convidaram a voltar para Genebra. Em 1541 Calvino foi nomeado pastor da Antiga catedral de Saint Pierre.
Ele se esforçou para tornar Genebra uma cidade cristã, tal esforço o fez travar lutas com as autoridades e famílias influentes. Também enfrentou alguns adversários teológicos, o mais famoso foi o médico espanhol Miguel Serveto que negava a existência da trindade.
Calvino ajudou na criação de escolas, hospitais acessíveis a todos e em instituições de assistência a pessoas humildes, criou a Academia de Genebra foi inaugurada em 1559, além de outras contribuições sociais.
Antes de sua morte, em 27 de Maio de 1564, aos 55 anos ele pediu para ser sepultado discretamente em um local desconhecido, a fim de evitar homenagens após sua morte.
Outros nomes também foram importantes para a consolidação da Reforma Protestante, nomes como: Philipp Melanchthon, Thomas Müntzer, Martin Bucer, John Knox. Todos esses contribuíram com suas vidas e ensinamentos para transformar a igreja de Cristo
A Reforma Protestante completa 500 anos e os desafios a serem enfrentados pela igreja continuam a existir. Que você venha a ser tão relevante para essa geração como aqueles homens foram para as deles, pois, a história da igreja continua e o futuro da igreja também está em suas mãos.
http://teologia.exitoied.com.br/blog/2017/10/19/461/
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