A maioria
das pessoas diz que acredita no “livre arbítrio”. Você tem alguma ideia
do que isso significa? Creio que existe uma boa dose de superstição
sobre este assunto. A vontade é exaltada como a grandiosa capacidade da
alma humana que é completamente livre para dirigir nossas vidas. Mas, do
que ela é livre? E de que ela é capaz?
O MITO DA LIBERDADE CIRCUNSTANCIAL
Ninguém
pode negar que o homem tem vontade - que é a faculdade de escolher o que
deseja dizer, fazer e pensar. Mas, já refletiu sobre a lastimável
fraqueza da sua vontade? Embora tenha a capacidade de tomar uma decisão,
você não tem o poder de realizar o seu propósito. A vontade pode
projetar um curso de ação, mas não tem em si mesma a capacidade de
realizar o que intenta.
Os irmãos
de José o odiavam e venderam-no como escravo. Mas Deus utilizou o que
eles fizeram para torná-lo um governante sobre eles mesmos. Eles
escolheram, com o seu curso de ação, prejudicar a José, mas Deus, em Seu
poder, dirigiu os acontecimentos para o bem de José, que disse: “Vós
bem intentastes mal contra mim, porém Deus o tornou em bem” (Gn 50.2).
Quantas das
suas decisões são miseravelmente frustradas? Você pode desejar ser um
milionário, mas é possível que a providência de Deus impeça isso. Você
pode desejar ser um erudito, mas uma saúde comprometida, um lar
instável, ou insuficiência financeira pode frustrar a sua vontade. Você
pode querer sair de férias, mas um acidente de automóvel pode mandá-lo
para o hospital.
Ao dizer
que a verdade é livre, certamente não queremos dizer que ela determina o
curso da sua vida. Você não escolheu a doença, a dor, a guerra e a
pobreza que espoliaram a sua felicidade. Você não optou por ter
inimigos. Se a vontade do homem é tão potente, por que não desejar
vivendo sempre e sempre? Mas você certamente vai morrer. Os principais
fatores que moldam sua vida não se devem à sua vontade. Você não
escolheu a sua inteligência, cor da pele, pais, cor dos olhos, lugar de
nascimento...
Uma sóbria
reflexão sobre sua própria experiência levará à conclusão que: “O
coração do homem propõe o seu caminho, mas o Senhor lhe DIRIGE os
passos” (Pv 16.9). Em vez de exaltarmos a vontade humana, deveríamos
humildemente louvar ao Senhor, cujos propósitos formam as nossas vidas.
Assim como confessou Jeremias: “Eu sei, ó Senhor, que não é do homem o
seu caminho, nem do homem que caminha o dirigir os seus passos” (Jr
10.23).
Sim, você
pode escolher e planejar o que tiver vontade. mas sua vontade não é
livre para realizar nada contrário à vontade de Deus. Nem tem você a
capacidade de alcançar qualquer meta que não seja aquela que Deus
permitiu. Da próxima vez que estiver tão fascinado com a sua vontade,
lembre-se da parábola de Jesus sobre o homem rico que disse: “Farei
isto: derribarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali
recolherei todas as minhas novidades e os meus bens; e direi à minha
alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa,
come, bebe, e folga; mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a
tua alma; e o que tens preparado, para quem será?” (Lc 12.18-21). Ele
era livre para planejar, mas não para realizar; desse mesmo modo é você.
O MITO DA LIBERDADE ÉTICA
Mas o livre
arbítrio é citado como um importante fator na tomada de decisões
MORAIS. Diz-se que a vontade do homem é livre para escolher entre o bem e
o mal. Mas devemos perguntar novamente: Ela é livre do quê? Ela é livre
para escolher o quê?
A vontade
do homem é a sua capacidade de escolher entre alternativas. A sua
vontade, de fato, decide qual a sua ação entre um certo número de
opções. Você tem a faculdade de dirigir seus próprios pensamentos,
palavras e feitos. Suas decisões não são formadas por uma força externa,
mas internas, em você mesmo. Nenhum homem é compelido a agir contrário à
sua vontade, nem forçado a dizer aquilo que não quer. Sua vontade guia
suas ações.
Isso,
entretanto, não significa que sua capacidade de decidir está livre de
qualquer influência. Você escolhe com base no seu entendimento,
sentimentos, gestos e desgostos, e seus anseios. Em outras palavras: sua
vontade não é livre de você mesmo! Suas escolhas são determinadas pelo
seu próprio caráter básico. Sua vontade não é independente da sua
natureza, mas escrava dela. Sua escolha não forma o seu caráter, mas o
seu caráter guia a sua escolha. A vontade é inclinada àquilo que você
conhece, sente, ama e deseja. Você sempre escolhe com base em sua
disposição, de acordo com a condição do seu coração.
É apenas
por esta razão que sua vontade não é livre para fazer o bem. Sua vontade
é escrava do seu coração que é mau. “Viu o Senhor que a maldade do homem se
havia multiplicado na terra, e que era CONTINUAMENTE MAL TODO DESÍGNIO
do seu coração” (Gn 6,5), “Não há quem faça o bem, não há nem um sequer”
(Rm 3.12), “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e
desesperadamente corrupto, quem o conhecerá?”(Jr 17.9). Não há força que
obrigue o homem a pecar contra sua vontade, entretanto os descendentes
de Adão são tão maus que sempre escolhem o mal.
As suas
decisões são moldadas pelo seu entendimento, e a Bíblia diz que todos os
homens “se tornaram nulos em seus próprios raciocínios,
obscurecendo-lhes o coração insensato” (Rm 3.11). Suas concupiscências
desejam ardentemente o pecado; portanto, você não pode escolher a Deus.
Escolher a Deus é contrário à natureza humana. Se você decidisse
obedecer a Deus, seria o resultado de uma compulsão externa. Mas você é
livre para escolher, e por isso sua escolha está escravizada à sua
própria má natureza.
Se carne
fresca e salada fossem colocadas diante de um leão faminto, ele
escolheria a carne. É a sua natureza que dita qual a sua escolha. É
desse mesmo modo com o homem. A vontade do homem é livre da força
exterior, mas não é livre dos pendores da natureza humana. E este pendor
é contra Deus (Rm 8.7). A capacidade de escolhas do coração do homem é
livre para escolher qualquer coisa que o coração do homem assim ditar;
assim, não existe a possibilidade de um homem escolher agradar a Deus
sem que haja a prévia operação a Sua graça divina.
Aquilo que a
maioria entende por livre arbítrio é a ideia de que o homem é neutro,
e, portanto, capaz de escolher tanto o bem quanto o mal. Isto
simplesmente não é verdade. O arbítrio humano, assim como toda a
natureza humana, é inclinado SÓ e CONTINUAMENTE para o mal. Jeremias
indagou: “pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas?
Nesse caso também vós podereis fazer o bem, sendo ensinados a fazer o
mal” (Jr 13.23). É impossível. É contrário à natureza. Por isso que os
homens precisam desesperadamente da transformação sobrenatural de suas
naturezas, de outro modo seus desejos estão escravizados na escolha do
mal.
A despeito
da grande exaltação que é dada ao “livre arbítrio”, temos visto que a
vontade do homem não é livre para escolher um curso contrário aos
propósitos de Deus, nem livre para agir contrária à sua própria natureza
moral. Sua vontade não determina nem os acontecimentos nem as
circunstâncias de sua vida. Escolhas éticas não são tomadas por uma
mente neutra, mas são ditadas sempre pelas características de sua
personalidade.
O MITO DA LIBERDADE ESPIRITUAL
Entretanto,
muitos asseveram que a vontade humana faz a escolha final entre a vida e
a morte espiritual. Aqui a vontade é totalmente livre para escolher ou
rejeitar a vida eterna oferecida por Jesus Cristo. Dizem que Deus
concederá um novo coração a todos que, pelo poder de seu próprio livre
arbítrio, desejarem aceitar a Jesus Cristo.
Não pode
haver dúvida que aceitar a Jesus Cristo é um ato da vontade humana. Isto
é frequentemente denominado de “fé”. Mas como podem os homens vir de
boa vontade para receber ao Senhor? É comumente respondido: “pela
disposição de seu próprio livre arbítrio”. Mas como pode ser isso? Jesus
é o Profeta, e recebê-lO significa acreditar em tudo o que Ele diz. Em
Jo 8.41-45 Jesus deixa claro que você é nascido de Satanás. Este pai
maligno odeia a verdade e transmitiu esta mesma inclinação a seu
coração. Por isso disse Jesus: “Porque vos digo a verdade e não me
credes” (Jo 8.45). Como pode a vontade humana brotar do homem e decidir
naquilo que a mente humana odeia e nega?
Aceitar a
Jesus significa, adicionalmente, acolhê-lO como sacerdote - isto é:
recorrer a Ele e Dele depender para obter a paz com Deus pelo Seu
sacrifício e intercessão. Paulo nos diz que a mente com a qual nascemos é
hostil a Deus (Rm 8.7). Como pode a vontade escapar da influência da
natureza humana, que nasceu com uma violenta inimizade contra Deus?
Seria insano para a vontade escolher a paz quando cada osso e gota de
sangue clama por rebelião?
Então,
receber a Cristo significa também aclamá-lO como REI. Significa obedecer
a todos os Seus mandamentos, confessar Seu direito de governar, e
adorar diante do Seu trono. Mas a mente, as emoções e os desejos humanos
clamam todos: “Não queremos que este reine sobre nós!” (Lc 19.14). Se
todo o meu ser odeia Sua verdade, odeia Seu governo e odeia a paz com
Deus, como pode a minha vontade ser responsável por receber a Jesus?
Como pode tal pecador ter fé?
Não é a
vontade humana, mas a graça de Deus que deve ser exaltada por conceder
ao pecador um novo coração. A menos que Deus mude o coração e crie um
novo espírito de paz, em verdade e submissão, o homem não pode
decidir-se por Jesus Cristo e pela vida eterna Nele. É preciso ter um
novo coração antes que o homem possa crer, ou de outro modo a vontade do
homem está desesperadamente escravizada à maligna natureza humana -
mesmo quanto à conversão. Jesus disse: “Não te maravilhes de ter dito:
NECESSÁRIO vos é nascer de novo” (Jo 3.7). Se você não o for, jamais
verá o Seu Reino.
Leia Jo
1.12 e 13. Lá é dito que aqueles que creem em Jesus nasceram, não da
“vontade do homem, mas de Deus”. Do mesmo modo que a sua vontade não é a
responsável por você ter vindo ao mundo, ela não é a responsável pelo
seu novo nascimento. É ao seu Criador que você deve ser agradecido por
sua vida, e “se alguém está em Cristo, é nova criatura” (2 Co 5.17).
Quem jamais escolheu ter sido criado? Quando Lázaro ressuscitou da morte
ele decidiu responder à chamada de Cristo, mas não pôde decidir ter
vida. Assim disse Paulo em Efésios 2.4,5: “Estando nós ainda mortos em
nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (Pela graça sois
salvos)”. A fé é o primeiro ato de uma vontade tornada nova pelo Santo
Espírito. Receber a Cristo é um ato tão humano quanto a respiração, mas é
necessário primeiro que Deus tenha concedido vida.
Não é de
admirar que Martinho Lutero tenha escrito um livro intitulado Nascido
Escravo, que ele considerou um de seus mais importantes tratados. A
vontade está presa às cadeias da maligna natureza humana. Você, que
exalta o livre arbítrio como um grande poder, está apegado a uma raiz de
soberba. O homem, como um pecador perdido, está definitivamente sem
socorro e esperança. A vontade do homem não oferece esperança. Foi a
vontade de escolher o fruto proibido que nos atirou na miséria. Somente o
poder da graça de Deus pode oferecer livramento. Lance-se à
misericórdia de Deus para a salvação. Rogue ao Espírito de Graça para
que Ele crie um novo espírito dentro de você.
por Walter J. Chantry
FONTE:
http://cpurosimples.blogspot.com.br/2015/10/o-mito-do-livre-arbitrio.html
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