Por várias razões, cristãos de diferentes
tendências têm feito modificações no “Evangelho de Cristo”, como se
este precisasse de ajustes. A maioria deles vai dizer que não se trata
de alterações significativas, mas apenas de ínfimas pinceladas aqui e
ali. Essas mudanças normalmente começam com alguém declarando que não
existe modificação alguma envolvida e que está ocorrendo simplesmente um
ajuste na ênfase. Contudo, não importa qual seja a argumentação, o que
acontece realmente é que eles “se envergonham do Evangelho de Cristo”.
Envergonhar-se do Evangelho expressa-se
por meio de uma série de atitudes diferentes, desde ficar embaraçado com
ele até supor que alguém possa melhorá-lo um pouco para torná-lo mais
aceitável. Um exemplo desse embaraço foi a recente declaração de um
autor ligado à Igreja Emergente, que afirmou: o ensino de que Cristo
pagou a pena total pelos pecados da humanidade através de Sua morte na
cruz do Calvário em nosso lugar é irrelevante e “uma forma cósmica de
abuso infantil”.
Exemplos mais sutis incluem tentativas de
fazer o Evangelho parecer menos exclusivista, “abrandando” as
consequências do pecado, como a ira de Deus e o lago de fogo, das quais o
Evangelho de Jesus nos livra.
Prevalece entre muitos líderes
religiosos, que professam ser cristãos evangélicos (ou seja, cristãos
crentes na Bíblia), a promoção de um evangelho mais aceitável, que possa
até mesmo ser admirado pelas pessoas do mundo inteiro. Hoje em dia, a
forma mais popular desse tipo de evangelho é conhecida como “evangelho
social”.
Embora esse evangelho social
seja comum entre os muitos novos movimentos evangélicos, ele não é
novidade para a cristandade. Seu princípio moderno deu-se nos idos de
1800, quando pretendeu-se tratar das várias condições da sociedade que
seriam causadoras do sofrimento da população. A crença era de que o
Cristianismo atrairia seguidores quando demonstrasse o seu amor pela
humanidade. Isso poderia ser mais bem realizado aliviando os sofrimentos
causados pela pobreza, pelas enfermidades, pelas condições opressoras
de trabalho, pelas injustiças sociais, pelos abusos dos direitos civis,
etc.
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Os que apoiavam esse movimento também
acreditavam que o alívio das condições miseráveis em que as pessoas
viviam poderia melhorar a natureza moral dos que sofriam essas
carências.
Outra força motivadora por trás do evangelho socialfoi
a visão sobre os tempos finais (Escatologia) dos envolvidos nessa
corrente de pensamento. Quase todos eles eram amilenistas e
pós-milenistas. Os primeiros acreditavam estar vivendo em um Milênio
simbólico, período em que Cristo estaria governando a partir do céu,
Satanás estaria preso e eles seriam os obreiros escolhidos por Deus para
estabelecer o reino milenar na terra. Os pós-milenistas também
acreditavam já estar no Milênio, e seu objetivo era restaurar a Terra a
um estado semelhante ao Éden, para que Cristo pudesse voltar do céu a
fim de implantar aqui o Seu reino terreno.
O evangelho social,
em todas as suas variadas aplicações, ajudou a produzir algumas
realizações (leis contra o trabalho infantil e a favor do sufrágio
feminino), que contribuíram para o bem-estar social. Ele tornou-se a
mensagem central dos teólogos católicos adeptos da Teologia da
Libertação e das principais denominações protestantes durante o século
20. Embora sua popularidade tenha crescido e diminuído alternadamente,
muitas vezes foi energizada pela combinação entre religião e políticas
libertárias, por exemplo, de Martin Luther King Jr. e do movimento dos
direitos civis. A médio prazo, através do século passado, o evangelho social influenciou movimentos como a Teologia da Libertação católica e o socialismo da ala esquerdista dos cristãos evangélicos. Contudo, foi no século atual que o evangelho social conseguiu sua promoção mais acentuada. Dois homens, ambos professando ser evangélicos, têm liderado esse caminho.
George W. Bush começou sua presidência instituindo o White House Office of Faith-Based & Company Initiatives
(departamento da Casa Branca encarregado de lidar com iniciativas
sociais religiosas e empresariais). Seu objetivo foi prover fundos
governamentais às igrejas, sinagogas, mesquitas e outros ministérios
religiosos que estivessem oferecendo serviços sociais junto às suas
comunidades. Bush acreditava que os programas desenvolvidos pelo “povo
de fé” poderiam ser pelo menos tão efetivos no auxílio aos necessitados
como os das organizações seculares, e talvez até mais do que elas, por
seu compromisso moral de “amar e ajudar o próximo”. Quando se preparava
para deixar o cargo, ele declarou que considera o seu programa
“Faith-Based” como uma das mais relevantes realizações do seu tempo como
presidente. Barack Obama, o novo presidente eleito, declarou que
pretende dar prosseguimento ao programa “Faith-Based” com suas
iniciativas comunitárias.
Rick Warren, autor dos livros recordistas em vendas “Uma Igreja Com Propósito” e “Uma Vida Com Propósito” alçou o evangelho social
a um patamar jamais alcançado: ele não apenas está tendo alcance
mundial, mas fazendo parte do pensamento e do planejamento dos líderes
mundiais. Warren credita a Peter Drucker, o gênio em gerenciamento de
negócios, o conceito básico do que ele está executando. Drucker
acreditava que os problemas sociais como a pobreza, a doença, a fome e a
ignorância estariam além da capacidade de resolução dos governos e das
corporações multinacionais. Para Drucker, a solução mais viável seria
encontrada no setor sem fins lucrativos da sociedade, especialmente nas
igrejas, com as suas hostes de voluntários dedicados ao alívio dos males
sociais dos carentes de suas comunidades.
Warren, ao reconhecer por vinte anos o
falecido Drucker como seu mentor, certamente aprendeu suas lições. Seus
dois livros “Com Propósito”, traduzidos em 57 idiomas e com mais de 30
milhões de cópias vendidas, revelam as regras do jogo que Drucker havia
visualizado. Warren fez com que as igrejas locais colocassem em prática a
visão dos seus livros através dos programas comunitários enormemente
popularizados como “40 Dias com Propósito”. Até o presente, 500
mil igrejas em 162 nações tornaram-se parte dessa rede mundial. Elas
formam a base do seu plano global chamado P.E.A.C.E. (“Paz”, em inglês).
Mas o que é o Plano P.E.A.C.E? Warren apresenta seu plano à igreja no site http://www.thepeaceplan.com.
No vídeo ele identifica os “gigantes” que assolam a humanidade, como
sendo vazio espiritual, liderança autocentrada, pobreza, doença e
analfabetismo, que ele pretende erradicar pelo P.E.A.C.E: “P”: plantação
de igrejas; “E”: equipamento de líderes; “A”: assistência aos pobres;
“C”: cuidado dos enfermos; “E”: educando a próxima geração.
Warren usa a ilustração de um tripé para descrever a melhor maneira de liquidar esses gigantes. Duas das pernas seriam governo e negócios,
até hoje ineficazes, do mesmo modo como um tripé de dois pés não pode
se manter de pé. A terceira perna, muito necessária, é a igreja:
Existem milhares de vilas no mundo sem escolas, sem clínicas, sem comércio e sem governo – mas sempre têm uma igreja. O que aconteceria se mobilizássemos as igrejas para atacar esses cinco gigantes globais?
Já que existem 2,3 bilhões de cristãos no
mundo inteiro, Warren chega à conclusão de que eles poderiam formar o
que Bush chamou de enorme “exército da compaixão” do“povo de fé”, como até hoje nunca se viu no mundo.
Warren expandiu sua “visão cristã” para uma visão inclusivista
do Plano P.E.A.C.E., que tem atraído o apoio e o louvor dos líderes
políticos e religiosos e das celebridades do mundo todo. No Fórum
Econômico Mundial de 2008 [em Davos, na Suíça], Warren declarou: “O futuro do mundo não é o secularismo, mas o pluralismo religioso…” Referindo-se aos males que atacam o mundo, ele afirmou:
Não podemos resolver esses problemas sem envolver as pessoas de fé e suas instituições religiosas. De outra forma não será possível. Neste planeta existem aproximadamente 20 milhões de judeus, 600 milhões de budistas, 800 milhões de hindus, mais de um bilhão de muçulmanos e 2,3 bilhões de cristãos. Se excluirmos o povo de fé da equação, estaremos excluindo 5/6 da população mundial. E se deixarmos apenas nas mãos dos seculares a solução desses problemas, ela não será realizada”.
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A fim de acomodar a cooperação com
pessoas de todas as crenças, Warren substituiu o “P” do seu P.E.A.C.E.
(plantar igrejas evangélicas) para o “P” de “promover reconciliação”. O
“E” de “equipamento de líderes” (de igrejas) para “equipamento de
líderes éticos”. Warren reconhece sua virada para o pluralismo:
Quem é o homem de paz em qualquer vila… ou, quem sabe, a mulher de paz… que goza do maior prestígio entre os seus?… Não precisam ser cristãos. Na prática, poderiam até ser muçulmanos, mas que estejam abertos e tenham influência, para se trabalhar com eles para atacar os cinco gigantes (aos quais ele adicionou o aquecimento global).
Ele cita um líder secular que aprova o
que ele está fazendo.: “Eu entendo, Rick. Locais de culto são os centros
de distribuição de tudo o que temos a fazer”.
Warren agora é membro do Conselho da Faith Foundation
[Fundação de Fé], criada pelo ex-primeiro-ministro britânico Tony
Blair, recentemente convertido ao catolicismo romano. O alvo dessa
instituição é fomentar a cooperação e o entendimento entre as seis
maiores religiões: cristã, muçulmana, hindu, budista, sikh e judaica.
Mas onde fica a cruz nesse ajuntamento ecumênico? Ora, ela não fica!
Decisiva para a realização desse alvo ecumênico é a eliminação do
problema das religiões exclusivistas, uma preocupação articulada com muita clareza por um dos painelistas no Fórum Econômico Mundial:
Existem alguns líderes religiosos de diferentes crenças que, para reforçar sua própria fé e legitimá-la… negam legitimidade e autenticidade às outras pessoas e suas crenças. Não creio que possamos continuar agindo assim sem… trazer à tona o tipo de ódio para o qual todos nós estamos tentando encontrar uma solução. Acho que a nós cabe pressionar os líderes espirituais, seja qual for sua fé. Insistimos em fortalecer aquilo que é belo em nossas tradições, enquanto nos negamos a denegrir outras tradições de fé sugerindo que elas sejam erradas ou predestinadas a ter um fim infeliz”.
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A Bíblia explica que todas as religiões
do mundo são “ilegítimas” [“falsas”] e não simplesmente “predestinadas” a
ter um “fim infeliz” – elas terão um fim “justo”. Somente a fé no
Evangelho bíblico salva a humanidade. Lemos em Atos 4.12 e João 3.16: “E
não há salvação em nenhum outro, porque abaixo do céu não existe nenhum
outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos”…“Porque
Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para
que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
A história do evangelho social
é, em quase cada caso, uma tentativa sincera de cristãos buscando fazer
o que eles supõem que honrará a Deus e beneficiará a humanidade. Em
cada caso, porém, a prática de “benefícios à humanidade” tem
comprometido a fé bíblica e desonrado a Deus. Por que isso é assim?
Porque Deus não deu à Igreja a tarefa de resolver os problemas do mundo.
Os que tentam fazê-lo começam pela premissa falsa, como já diz
Provérbios 14.12: “Há caminho que ao homem parece direito”, mas não é o caminho de Deus. Para onde leva esse caminho? “…mas ao cabo dá em caminhos de morte”, ou seja, à destruição. Além do mais, os problemas do mundo são apenas sintomas. A causa real é o pecado.
Qual a porcentagem do “povo de fé” (que
engloba todas as religiões, que seriam 5/6 da população mundial) que
entende e aceita o Evangelho – a única solução para o mal chamado
pecado? Ou quantos dos 2,3 bilhões de “cristãos”, no mundo inteiro,
crêem realmente no Evangelho bíblico? Os números caem exponencialmente.
“Sim, mas… eles formam uma força maciça de voluntários e centros de
distribuição muito além dos nossos recursos, aptos a liquidar os
gigantes do mundo sofredor!” Mas, que aproveita se esses bilhões de
“pessoas de fé” puderem aliviar alguns dos sofrimentos do mundo mas
perderem justamente suas almas?
O evangelho social
é uma doença mortal para o “povo de fé”. Ele reforça a idéia de que a
salvação pode ser obtida pela prática de boas obras, colocando de lado
as diferenças em favor de um bem comum, tratando os outros como
gostaríamos de ser tratados, agindo de forma moral, ética e sacrificial –
e que, agindo assim, as pessoas vão se tornar agradáveis a Deus. Não!
Esses são esforços auto-enganosos, que desprezam a salvação de Deus,
negando o Seu padrão perfeito e rejeitando Sua perfeita justiça. A
salvação não acontece por meio de obras, para que ninguém se glorie. Na
realidade, ela se processa assim: “Porque pela graça sois salvos,
mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não vem das obras,
para que ninguém se glorie” (Ef 2.8-9). Jesus anunciava que Ele era a única esperança, para a humanidade condenada, reconciliando-a com Deus. Ele declarou: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6). Não existe outro caminho, porque a perfeita justiça de Deus exige que a pena do pecado seja paga individualmente, pois “todos pecaram” (Rm 3.23).Somente
o Homem-Deus perfeito e sem mácula tinha condições de pagar totalmente
essa penalidade infinita, e o fez morrendo na cruz. Somente a fé em
Jesus reconcilia o homem com Deus.
O vergonhoso evangelho social de hoje não apenas promove “outro evangelho” como ajuda a preparar um reino completamente contrário às Escrituras. Pois “…a nossa cidade está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3.20). Ele
voltará do céu (Jo 14.3) para arrebatar os que nEle crêem (Sua Noiva),
ou seja, para elevá-los às nuvens e levá-los para o céu (1 Ts 4.17). O
reino que ficar na Terra será o reino do Anticristo.
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Em concordância com seus princípios amilenistas/pós-milenistas, os esforços doevangelho social são tentativas terrenas de restaurar aqui o reino de Deus. Eugene Peterson infiltrou essa heresia em sua Bíblia “The Message”:
Deus não teve todo esse trabalho de enviar o Seu Filho simplesmente para apontar o seu dedo acusador, dizendo como o mundo era mau. Ele veio ajudar a colocar o mundo novamente em ordem (uma perversão de João 3.17).
Rod Bell, em seu livro “Velvet Elvis”, reflete a escatologia da “terra restaurada” de quase todos os líderes da Igreja Emergente:
Salvação é quando todo o universo é trazido à harmonia com o seu Criador. Isso tem conseqüências enormes na forma com que as pessoas apresentam a mensagem de Jesus. Sim, Jesus pode vir a nossos corações. Mas podemos nos juntar a um movimento que é tão amplo como o próprio universo. Rochas, árvores, pássaros, pântanos e ecossistemas. O desejo de Deus é restaurar tudo isso… O objetivo não é fugir deste mundo, mas transformá-lo no tipo do lugar para onde Deus possa vir. E Deus está nos transformando na espécie de gente que pode realizar esse tipo de obra.
Para Brian McLaren, líder da Igreja Emergente, essa é a futura maneira de ser dos cristãos. Numa entrevista ao ChristianPost.com de 28/7/2008 ele declarou:
Acho que no futuro também teremos de nos unir de forma humilde e tolerante a pessoas de outras crenças – muçulmanos, hindus, budistas, judeus, secularistas e outros – na busca pela paz, na preservação do meio-ambiente e na justiça para todos, as coisas que são importantes ao coração de Deus.
Não! O que realmente importa ao coração de Deus é que “todos se arrependam” e creiam no Evangelho.
Qualquer pessoa que deposita sua esperança nesse evangelho social,
que usa “pessoas de fé” para “fazer deste mundo um lugar para onde Deus
possa vir”, deve dar atenção às palavras de Jesus em Lucas 18.8b: “Contudo, quando vier o Filho do homem, achará, porventura, fé na terra?” Certamente Ele vai encontrar pessoas de todas as crenças, mas não a fé verdadeira, aquela
fé pela qual Judas nos exorta a batalhar diligentemente (Jd 3). Que o
Senhor nos ajude a todos para que jamais nos envergonhemos do Seu
Evangelho!
(T. A. McMahon – The Berean Call – Chamada.com.br)
Extraído de Revista Chamada da Meia-Noite janeiro de 2009
VIA: https://discernimentocristao.wordpress.com/2015/08/07/o-vergonhoso-evangelho-social/
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