Daniel de Almeida e S Junior *
No
Brasil, até um tempo atrás, corrupção era vista como coisa normal; não
havia tanta tensão sobre o assunto. Alguns aceitavam de forma
pragmática; o suborno sendo visto como um pouco mais do que 'um jeito
diferente de fazer negócios'. Outros apenas faziam 'vista grossa'.
Existe, é verdade, essa cultura do 'jeitinho', da 'malandragem' como
parte da maneira de ser do brasileiro, quase que uma 'exaltação' dessa
habilidade da nossa gente de encontrar formas 'criativas' para resolver
problemas. A corrupção, como ela se manifesta em nosso país, entra
também por meio dessa 'validação cultural' e quase que
'institucionaliza' a sua prática.
Com o desenvolvimento econômico do país, a indignação contra a corrupção, de alguma forma, se dilui.
Alexandro Salas, diretor para as Américas da Transparência Internacional diz o seguinte:
"Quando um país começa a ter uma economia mais sólida, é mais fácil ver um cidadão comum perdoando atos corruptos, porque ele não faz um vínculo direto de como a corrupção o afeta. Se agora ele tem um bom trabalho, um carro e se o ministro rouba, ele fica irritado, claro, mas acha que isso não o atinge diretamente."
No ranking de Percepção da Corrupção da ONG em 2011, o Brasil ocupou a
73ª posição, entre 183 países. Já no que lista o grau de propinas pagas,
o país ficou no 14º lugar - foram 28 países analisados.
O Promotor de Justiça Jairo da Cruz Moreira aponta os dez atos de corrupção mais presents no dia a dia do cidadão comum:
– Não dar nota fiscal
– Não declarar Imposto de Renda
– Tentar subornar o guarda para evitar multas
– Falsificar carteirinha de estudante
– Dar/aceitar troco errado
– Roubar TV a cabo
– Furar fila
– Comprar produtos falsificados
– No trabalho, bater ponto pelo colega
– Falsificar assinaturas
"Aceitar essas pequenas corrupções legitima aceitar grandes corrupções", afirma o promotor. "Seguindo esse raciocínio, seria algo como um menino que hoje não vê problema em colar na prova ser mais propenso a, mais pra frente, subornar um guarda sem achar que isso é corrupção."
O antropólogo Roberto DaMatta defende que essa prática sistêmica é uma
forte razão pela qual o brasileiro é complacente com a corrupção na
política, por exemplo. Nas palavras dele, 'uma sociedade de rabo preso
não pode ser uma sociedade de protesto'.
O ex-secretário geral da Nações Unidas, Kofi Annan, certa vez disse:
"A corrupção é uma praga insidiosa que tem um largo espectro de efeitos corrosivos nas sociedades. Ela sabota a democracia e o texto da lei, leva a violações dos direitos humanos, distorce os mercados, corrói a qualidade de vida e facilita o crime organizado, terrorismo e outras ameaças ao florescimento da segurança da humanidade. A corrupção fere o pobre desproporcionalmente através dos desvios de fundos que deveriam ir para o desenvolvimento, compromete a habilidade do governo em prover serviços básicos, alimenta a desigualdade e a injustiça, além de desencorajar a ajuda e o investimento externo. Corrupção é o elemento chave no mau desempenhos das economias e o principal obstáculo ao desenvolvimento e ao combate à pobreza". (Kofi Anan)
Chico Buarque escreveu uma 'letra' em que homenageia o malandro às
avessas; aquele que tem família, trabalha, que deixou a criminalidade.
Penso que ela retrata bem essa mudança na maneira de enxergar o questão
da corrupção no contexto brasileiro, apontando que há algo problemático
com essa 'ética do jeitinho'.
Homenagem ao Malandro (Chico Buarque)
Eu fui fazer um samba em homenagem
à nata da malandragem, que conheço
de outros carnavais.
Eu fui à Lapa e perdi a viagem,
que aquela tal
malandragem não existe mais.
Agora já não é normal, o que dá de
malandro
regular profissional, malandro com o aparato de malandro
oficial,
malandro candidato a malandro federal,
malandro com retrato na
coluna social;
malandro com contrato, com gravata e capital, que nunca
se dá mal.
Mas o malandro para valer, não espalha,
aposentou a navalha,
tem mulher e filho e tralha e tal.
Dizem as más línguas que ele até
trabalha,
Mora lá longe chacoalha, no trem da central.
De que corrupção nós estamos falando?
A Bíblia trata do tema da corrupção da raça humana e do plano redentor de Deus, do Gênesis ao Apocalipse; a corrupção lato sensu (o pecado, de uma forma geral), que se desdobra em corrupções stricto sensu (manifestações específicas da rebelião humana).
Nosso foco é na corrupção como ferramenta de opressão econômica, afronta
ao pobre; a negação do acesso do outro aos direitos básicos pela
malversação de dinheiro público, pagamentos de propinas,
superfaturamentos, etc...
Bryan
R. Evans, da Tearfund, em sua livro 'O custo da corrupção',
circunscreve o entendimento de corrupção à fraude, apropriação indébita e
suborno que podem ocorrer através do abuso de poder, formação de cartel
ou negócios escusos/nebulosos; além disso ele categoriza a corrupção em
três tipos: a incidental, a sistemática e a sistêmica.
O fato é que 'corrupção' andará sempre de mãos dadas com a pobreza e,
por esse motivo, ela é uma questão de ordem moral e de direitos humanos.
Vejamos alguns efeitos práticos da corrupção: o alto custo do acesso aos
serviços de saúde e educação; padrões de saúde e segurança públicas
precárias, riscos ambientais, violação dos direitos humanos,
precariedade do acesso à justiça. Além das mulheres e das crianças, os
portadores de deficiência, pessoas com vírus HIV, idosos e os refugiados
estão entre os que mais sofrem as consequências da corrupção.
O que a Bíblia tem a dizer sobre o assunto? E, ao refletirmos sobre e as
Escrituras, o que se espera que seja a nossa práxis como igreja de
Cristo.
"E criou Deus o homem à Sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou" (Gn 1:27)
"E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom; e foi a tarde e a manhã, o dia sexto" (Gn
1:31) p>
A desobediência da criatura humana abre as portas para toda a cultura de
violência e morte que vai descaracterizar a imagem de Deus no homem.
"A terra, porém, estava corrompida diante de Deus, e cheia de
violência. Viu Deus a terra, e eis que estava corrompida; porque toda a
carne havia corrompido o seu caminho sobre a terra." (Gn 6:11-12)
A corrupção, como a conhecemos e a tratamos hoje, é talvez a violência
em sua forma mais cruel. Não é possível dissociarmos a ideia de
corrupção daquilo que entendemos como violência à dignidade humana, seja
pela precarização dos serviços públicos, seja pela facilitação do crime
ou pelo aumento da miséria.
A corrupção aflige a terra desde a Queda. Não é surpresa, portanto, que
muitos a vejam como algo normal, inevitável; um mal necessário na
condução dos negócios e a forma como o rico e o poderoso levam sempre
vantagem sobre o pobre e o fraco.
Porém as Escrituras deixam claro que a corrupção é uma injustiça e, mais
do que isso, elas nos chamam a um posicionamento contra a corrupção.
O relato de corrupção, propina ou suborno mais conhecido da história
está na Bíblia. Foram as 30 moedas de prata dadas pelos sacerdotes
judeus a Judas Iscariotes para que ele os levassem até o Jardim do
Getsemani, onde Jesus e os discípulos passavam a noite. Lá Judas mostrou
a eles através do beijo da traição quem era Jesus. Judas era ganancioso
e o dinheiro significava para ele, muito mais do que lealdade ou amor.
Ele foi motivado por ganância e ganho pessoal. Quando ele se deu conta
do mal feito e das consequências da sua traição, jogou as moedas no
pátio do templo e cometeu suicídio (Mt 26 e 27; Mc 14; Lc 22).
Corrupção em forma de propina ou suborno é condenada ao longo de toda a
Escritura Sagrada.
Samuel foi o primeiro dos profetas do Antigo Testamento e um grande
líder em Israel. Porém, mais tarde em sua vida, em sua casa, ele acusou
os seus filhos de não andarem em seus caminhos. Foram avarentos,
aceitaram subornos, torceram a lei (I Sm 8:3). A distorção da justiça é
uma das piores consequências do suborno porque permite que o rico
explore o pobre. Na despedida que Samuel fez junto ao seu povo na
coroação do rei Saul, ele perguntou: "...diga-me de quem recebi suborno e
com ele encobri meus olhos, e eu vo-lo restituirei?" (I Sm 12:3). Ele
teve uma vida exemplar e a multidão não hesitou em responder: "em nada
nos defraudaste, nem nos oprimiste, nem recebeste coisa alguma da mão de
ninguém." (I Sm 12:4)
Davi, rei de Israel, fez uma pergunta retórica no Salmo 24: "Quem subirá
ao monte do Senhor ou quem estará no seu lugar santo? Aquele que é
limpo de mãos e puro de coração. Que não entrega a sua alma à vaidade e
nem jura enganosamente." No Salmo 26, porém, ele apresenta o homem que
tem a mão direita cheia de subornos em contraste com o outro homem do
Salmo 15:5 que "não empresta o seu dinheiro visando lucro e nem aceita
suborno contra o inocente."
O profeta Isaías elogia "...aquele cuja mão não aceita suborno." (Is
33:15). E o profeta Amós denuncia "vocês oprimem o justo, recebem
suborno e impedem que se faça justiça ao pobre nos tribunais." (Amós
5:12)
Em seu artigo 'O que a Bíblia diz sobre corrupção', Hermes C.
Fernandes apresenta textos bíblicos categorizados em modos distintos de
fraude financeira nas esferas pública e privada, mostrando a corrupção
como algo inaceitável diante de Deus:
Advertência contra a corrupção no funcionalismo público:
"Chegaram também uns cobradores de impostos, para serem batizados, e
lhe perguntaram: Mestre, que devemos fazer? Respondeu-lhes: Não peçais
mais do que o que vos está ordenado". Lucas 3:12-13
Advertência contra a corrupção policial:
"Então uns soldados o interrogaram: E nós, o que faremos? Ele lhes
disse: A ninguém trateis mal, não deis denúncia falsa, e contentai-vos
com o vosso soldo". Lucas 3:14
Advertência contra a corrupção no Poder Judiciário:
"Não torcerás a justiça, nem farás acepção de pessoas. Não tomarás
subornos, pois o suborno cega os olhos dos sábios, e perverte as
palavras dos justos. Segue a justiça, e só a justiça, para que vivas e
possuas a terra que o Senhor teu Deus te dá". Deuteronômio 16:19-20,
"Também suborno não aceitarás, pois o suborno cega os que têm vista, e perverte as palavras dos justos". Êxodo 23:8
"O ímpio acerta o suborno em secreto, para perverter as veredas da justiça". Provérbios 17:23
"Ai dos que...justificam o ímpio por suborno, e ao justo negam justiça". Isaías 5:22a,23
"Até
quando defendereis os injustos, e tomareis partido ao lado dos ímpios?
Defendei a causa do fraco e do órfão; protegei os direitos do pobre e do
oprimido. Livrai o fraco e o necessitado; tirai-os das mãos dos ímpios.
Eles nada sabem, e nada entendem. Andam em trevas". Salmos 82:2-5a
"Não farás injustiça no juízo; não favorecerás ao pobre, nem serás
complacente com o poderoso, mas com justiça julgarás o teu próximo". Levítico 19:15
Independência entre os poderes:
"Pereceu da terra o homem piedoso, e não há entre os homens um que
seja reto. Todos armam ciladas para sangue; cada um caça a seu irmão com
uma rede. As suas mãos fazem diligentemente o mal; o príncipe exige
condenação, o juiz aceita suborno, e o grande fala da corrupção da sua
alma, e assim todos eles são perturbadores". Miquéias7:2-3
Advertência contra a corrupção no Poder Executivo:
"Os teus príncipes são rebeldes, companheiros de ladrões; cada um
deles ama o suborno, e corre atrás de presentes. Não fazem justiça ao
órfão, e não chega perante eles a causa das viúvas". Isaías 1:23
"Pela justiça o rei estabelece a terra, mas o amigo de subornos a
transtorna". Provérbios 29:4
"Abominação é para os reis o praticarem a impiedade, pois com justiça se estabelece o trono". Provérbios 16:12
Advertência acerca dos assessores corruptos:
"Tira o ímpio da presença do rei, e o seu trono se firmará na justiça". Provérbios 25:5
Advertência contra a corrupção no Poder Legislativo:
"Ai dos que decretam leis injustas, e dos escrivães que escrevem
perversidades, para privar da justiça os pobres, e para arrebatar o
direito dos aflitos do meu povo, despojando as viúvas, e roubando os
órfãos! Mas que fareis no dia da visitação, e da assolação, que há de
vir de longe? A quem recorrereis para obter socorro, e onde deixareis a
vossa glória, sem que cada um se abata entre os presos, e caia entre os
mortos?" Isaías 10:1-4
Advertência contra a corrupção e a ganância no meio empresarial:
"No meio de ti aceitam-se subornos para se derramar sangue; recebes
usura e lucros ilícitos, e usas de avareza com o teu próximo,
oprimindo-o. E de mim te esqueceste, diz o Senhor Deus. Eu certamente
baterei as mãos contra o lucro desonesto que ganhastes..." Ezequiel 22:12-13a
"Melhor é o pouco, com justiça, do que grandes rendas, com injustiça". Provérbios 16:8
"O que oprime ao pobre para aumentar o seu lucro, ou o que dá ao rico, certamente empobrecerá". Provérbios 22:16
Advertência contra juros absurdos praticados pelo Sistema Financeiro:
"O que aumenta a sua fazenda com juros e usura, ajunta-a para o que se compadece do pobre". Provérbios 28:8
"Sendo o homem justo, e fazendo juízo e justiça (...) não oprimindo a
ninguém, tornando ao devedor o seu penhor, não roubando, dando o seu
pão ao faminto, e cobrindo ao nu com vestes; não dando o seu dinheiro à
usura, não recebendo demais, desviando a sua mão da injustiça, e fazendo
verdadeiro juízo entre homem e homem; andando nos meus estatutos, e
guardando os meus juízos, para proceder segundo a verdade, o tal justo
certamente viverá, diz o Senhor Deus". Ezequiel 18:5,7-9
"Se emprestares dinheiro ao meu povo, ao pobre, que está contigo, não te haverás com ele como credor; não lhe imporás juros". Êxodo 22:25
"Aos retos até das trevas nasce a luz, pois é compassivo, compassivo e
justo. Bem irá ao que se compadece e empresta, que conduz os seus
negócios com justiça. (...) É liberal, dá aos pobres, a sua retidão
permanece para sempre; a sua força se exaltará em glória". Salmos 112:4-5,9
Advertência acerca dos Direitos trabalhistas:
"Se desprezei o direito do meu servo ou da minha serva, quando
contendiam comigo, então que faria eu quando Deus se levantasse? E,
inquirindo ele a causa, que lhe responderia?" Jó 31:13-14
"Chegar-me-ei a vós para juízo, e serei uma testemunha veloz contra
os feiticeiros e contra os adúlteros, e contra os que juram falsamente, e
contra os que defraudam o trabalhador, e pervertem o direito da viúva, e
do órfão, e do estrangeiro, e não me temem, diz o Senhor dos Exércitos". Malaquias 3:5
"Vós, senhores, dai a vossos servos o que é de justiça e equidade, sabendo que também vós tendes um Senhor nos céus". Colossenses 4:1
"Não oprimirás o teu próximo, nem o roubarás. O salário do operário não ficará em teu poder até o dia seguinte". Levítico 19:13
Advertência contra lucros desonestos:
"O mercador tem balança enganadora em sua mão; ele ama a opressão". Oséias 12:7
"Não terás dois pesos na tua bolsa, um grande e um pequeno. Não terás
duas medidas em tua casa, uma grande uma pequena. Terás somente pesos
exatos e justos, e medidas exatas e justas, para que se prolonguem os
teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá. Pois o Senhor teu Deus
abomina todo aquele que pratica tal injustiça". Deuteronômio 25:13-16
"Balança enganosa é abominação para o Senhor, mas o peso justo é o seu prazer". Provérbios 11:1
"O peso e a balança justos são do Senhor; obra sua são todos os pesos da bolsa". Provérbios 16:11
"Poderei eu inocentar balanças falsas, com um saco de pesos enganosos?" Miquéias 6:11
"Não cometereis injustiça nos julgamentos, nas medidas de
comprimento, de peso ou de capacidade. Balanças justas, pesos justos,
efa justo, e justo him tereis. Eu sou o Senhor vosso Deus, que vos tirei
da terra do Egito." Levítico 19:35-36.
No primeiro século depois de Cristo, o apóstolo Paulo se recusou pagar
suborno ao governador romano Félix. O governador admitiu que Paulo não
havia feito nada de errado. Mas ele ainda assim o manteve na prisão
porque "esperava que Paulo oferecesse a ele algum dinheiro" (At
24:26). Paulo não pagou o suborno e como resultado ele permaneceu preso.
Esse tempo na prisão poderia ser gasto em visitas e encorajamento às
igrejas que ele havia fundado ou, quem sabe, fazendo a tão sonhada
viagem missionária à Espanha. Porém ele escolheu não pagar essa quantia
em dinheiro que poderia ser facilmente arrecadada entre os cristãos
ricos. Nenhuma 'justificativa' para o suborno poderia ser maior do que
essa que o apóstolo teve; mas ele se recusou a faze-lo. Ao invés de
visitar as igrejas, ele escreveu cartas para elas. Cartas que nós lemos
hoje. O nosso sofrimento pelo evangelho não se perde dentro da
providência divina.
Essas passagens nos mostram que, tanto no Antigo como no Novo
Testamentos, o suborno é entendido como um pecado contra Deus. Uma
perversão da justiça que permite que o rico explore o pobre; e dentre os
pobres, mulheres e crianças são os que mais sofrem. Abusos de poder que
só satisfazem a ganância.
A corrupção não é apenas moralmente errada. Ela mina o desenvolvimento
econômico, distorce a lisura na tomada de decisões e destrói a coesão
social.
A corrupção mata! A corrupção é desonra a Deus e, por isso, é a antítese
do amor ao próximo.
No episódio de Caim e Abel, em Gênesis 4, vemos Caim buscando 'comprar' o
reconhecimento do Senhor e para tanto, Caim decide tirar a vida do seu
irmão. O Senhor Deus questiona a Caim sobre o paradeiro de seu irmão.
Caim responde com uma pergunta que tenta justificar a sua independência
arrogante: "Acaso sou eu o guardador do meu irmão?" (vs 9).
Somos, ou deveríamos ser, os guardadores do nosso próximo; promotores de
conciliações, construtores de pontes e não agentes de violência e
morte.
Como vimos no texto de Gn 6 "... a terra estava corrompida aos olhos de Deus e cheia de violência."
Considerando que a corrupção, na perspectiva que estamos tratando-a
hoje, é um dos maiores, se não o maior, ato de violência direta ou
indireta do homem contra o seu semelhante e contra a criação, o que,
então, nós, discípulos de Jesus, podemos fazer? Que contribuição podemos
dar na luta contra a corrupção?
Considerando que toda lei de Deus converge em Cristo nos conclamando ao
amor a Deus e ao próximo (Mt 22:36-38), e ele é a expressão perfeita da
vontade do Pai para o homem, penso que o próprio Cristo nos aponta o
caminho a seguir.
1. Jesus nos apresenta o modelo da não-violência
Na noite em que foi preso, quando um soldado veio na direção de Jesus, o Mestre advertiu Pedro que já estava pronto pra briga: "Ponha a espada de volta...o que vive pela espada, morrerá por ela"
(Mt 26:52). Os valores do reino de Deus são outros. Nosso poder é poder
para ser e para servir; não para revidar na mesma moeda. O modelo de
combate do cristão não passa pela reprodução da violência.
2. Jesus apresenta a fonte da violência
"E, chamando outra vez a multidão, disse-lhes: Ouvi-me vós, todos, e compreendei.
Nada há, fora do homem, que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai dele isso é que contamina o homem.
Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios,
Os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem." Marcos 7:14-23
Nada há, fora do homem, que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai dele isso é que contamina o homem.
Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios,
Os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem." Marcos 7:14-23
Ainda que a violência em forma de corrupção possa ser manifestada
através de sistemas, esquemas e estratagemas, sabemos que a fonte será
sempre o coração corrupto do homem. E é muito bom entendermos isso
porque nos ajuda a colocar as coisas em perspectiva e a compreendermos
pelo menos duas coisas:
Primeiro que, potencialmente, todos nós estamos sujeitos à corrupção e precisamos ser cuidadosos em como vivemos a vida. Segundo, ajuda-nos a entender que a corrupção é uma questão de escolha pessoal, e não o fruto de um sistema sem rosto. Para cada escolha, uma responsabilidade.
Primeiro que, potencialmente, todos nós estamos sujeitos à corrupção e precisamos ser cuidadosos em como vivemos a vida. Segundo, ajuda-nos a entender que a corrupção é uma questão de escolha pessoal, e não o fruto de um sistema sem rosto. Para cada escolha, uma responsabilidade.
3. Jesus nos encoraja a enfrentarmos a violência com bravura
Jesus ensinou que o mundo é um lugar perigoso de se viver. Mas ele desafiou seus seguidores a não terem medo. "Não temam aqueles que matam o corpo mas não podem matar a alma." (Mt10:28)
Ele também disse: "Eu lhes disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo". João 16:33
Tenham ânimo! A tradução para o inglês é 'sejam bravos!' Que tipo de bravura é essa que Jesus pede dos seus seguidores?
Ele também disse: "Eu lhes disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo". João 16:33
Tenham ânimo! A tradução para o inglês é 'sejam bravos!' Que tipo de bravura é essa que Jesus pede dos seus seguidores?
4. Jesus exige de nós uma resposta à violência
Penso que é no sermão do monte onde vamos encontrar aquilo que Jesus
deseja que façamos em relação à corrupção e a qualquer forma de
violência. As palavras de Jesus tratam dos desafios da vida real. É
quando ele diz: "Felizes os pacificadores pois eles serão chamados
filhos de Deus." (Mt 5:9). Fazer a paz dá trabalho, trabalho duro,
trabalho frustrante, muitas vezes inconveniente. Felizes aqueles que
gastam as suas vidas a serviço da reconciliação e da shalom.
Em seu livro, O Custo do Discipulado, Dietrich Bonhoeffer diz:"Os
seguidores de Jesus foram chamados para a paz. Quando ele os chamou,
eles encontraram sua paz, porque ele é a sua paz...Mas a eles foi dito
que deveriam não apenas ter paz, mas fazer a paz."
John Stott, em seu comentário do sermão do monte diz, "Agora pacificação é uma obra divina. Por paz entenda-se reconciliação, e Deus é o autor de toda paz e reconciliação."
Pacificadores, portanto, são construtores de pontes num mundo de relações corrompidas.
Pacificadores agem em nome de Jesus, na base dos valores do reino de Deus, promovendo diálogos para a reconciliação.
Pacificadores enfrentam a corrupção de forma pacífica, inteligente e criativa, tendo sempre a justiça do Reino como referência para a Shalom.
Pacificadores vão às ruas e clamam pela paz; articulam-se com outros grupos que tenham interesse comum para fazerem trabalho conjunto; promovem campanhas; mobilizam igrejas na ação contra o mal em forma de violência e corrupção;
Pacificadores acompanham as decisões políticas e buscam incidência pública objetivando a implementação de mecanismos de controle social e transparência;
Pacificadores dão voz aos sem-voz. Pacificadores buscam diálogos possíveis e quando não é possível, falam sozinhos.
Pacificadores são o sal que preserva o mundo da corrupção do mal.
Pacificadores são a luz que traz às claras aquilo que se esconde na escuridão.
Pacificadores bem-aventurados; que têm fome e sede da justiça de Deus.
Pacificadores agem em nome de Jesus, na base dos valores do reino de Deus, promovendo diálogos para a reconciliação.
Pacificadores enfrentam a corrupção de forma pacífica, inteligente e criativa, tendo sempre a justiça do Reino como referência para a Shalom.
Pacificadores vão às ruas e clamam pela paz; articulam-se com outros grupos que tenham interesse comum para fazerem trabalho conjunto; promovem campanhas; mobilizam igrejas na ação contra o mal em forma de violência e corrupção;
Pacificadores acompanham as decisões políticas e buscam incidência pública objetivando a implementação de mecanismos de controle social e transparência;
Pacificadores dão voz aos sem-voz. Pacificadores buscam diálogos possíveis e quando não é possível, falam sozinhos.
Pacificadores são o sal que preserva o mundo da corrupção do mal.
Pacificadores são a luz que traz às claras aquilo que se esconde na escuridão.
Pacificadores bem-aventurados; que têm fome e sede da justiça de Deus.
Corrupção é uma questão de caráter. Não se garante transformação de
caráter através de controle social e transparência na administração
pública. Caráter, nós sabemos, só quem transforma é Deus.
Há, portanto, dois níveis de ação da igreja nesse terreno.
O primeiro é de fazer um chamado à própria igreja a um posicionamento
ético que identifique os frutos de justiça produzidos pela ação do
Espírito Santo na vida daqueles que se dizem nova criação. Ou seja,
precisamos admitir que somos parte do problema desse país. Uma igreja
corrompida e corruptora não tem o que dizer em matéria de ética na
governança pública.
O outro nível de ação nos move na direção de uma maior incidência
pública para a garantia do cumprimento das leis, ou a criação de novas
leis, que contribuam para a construção de um ambiente social onde se
garanta um mínimo de justiça.
Aqui eu quero citar o Pr Carlos Queiroz, para argumentar em favor de um
engajamento da igreja nas questões de justiça e paz no mundo dos homens:
"A justiça de Deus é bem maior que o conceito de justiça do ser humano. É baseada em valores como mansidão, sensibilidade, misericórdia e amor. Mas isso não quer dizer que a justiça de Deus é menor do que o mínimo exigido pela justiça humana, como o direito à habitação, alimentação, saúde, educação, lazer, liberdade de exercer a vocação humana."
"Uma igreja socialmente responsável se utilizará dos instrumentos
democráticos para que a sua espiritualidade em missão tenha incidência
nas políticas públicas, nos direitos do cidadão e nos testemunhos de
boas obras e prática da justiça."
Deus quer vida; a corrupção destrói a vida.
Deus quer justiça; a corrupção oprime o pobre roubando-lhe os direitos.
Deus quer riqueza honesta; a corrupção cria obstáculos ao desempenho econômico.
Deus quer comunidade; a corrupção destrói a confiança e a segurança.
Deus quer dignidade; a corrupção destrói a dignidade e a credibilidade.
Deus quer paz; a corrupção fortalece a violência e os aparatos militares.
A luta contra a corrupção, portanto, faz todo o sentido para aqueles que
dizem conhecer o Deus incorruptível e almejam viver para servi-lo,
refletindo na vida o Seu caráter santo. A revelação de Deus na Sua
Palavra nos confronta, nos transforma e nos move à missão. A missão se
dá no solo real de um mundo corrompido e fraturado. Sempre que a igreja
busca se envolver na justa causa contra a corrupção estará respondendo à
Deus de forma diferente de Caim:
'Eu sei, sim, onde está o meu irmão, porque sou responsável por ele. Sua
vida me diz respeito. Como posso servi-lo?'.
* Daniel de Almeida e Souza Júnior, pastor batista, é missionário da
SEPAL e trabalha com o Núcleo de Ação Urbana, em Macaé (RJ). É assessor
de Missões Urbanas da Aliança Cristã Evangélica Brasileira.
Texto em Aliança Evangélica.
FONTE:
http://netdia.blogspot.com.br/2016/03/corrupcao-aspectos-sociais-biblicos-e.html
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