Os
escritos clássicos da Grécia e de Roma ilustram de modo extraordinário o
caráter da preservação dos manuscritos bíblicos. Em contraposição ao
número total de mais de cinco mil manuscritos do Novo Testamento
conhecidos hoje, outros livros históricos e religiosos do mundo antigo
praticamente desaparecem. Só 643 exemplares da Ilíada de Homero
sobreviveram em forma de manuscrito. Da “História de Roma”, de Tito
Lívio, restaram apenas 20 exemplares, e a obra “Guerras gálicas”, de
César, só se conhece mediante 9 ou 10 manuscritos. Da obra de Tucídides,
“Guerra do Peloponeso”, dispomos em apenas 8 manuscritos; as Obras de
Tácito só podem ser encontradas em 2 manuscritos. Uma pesquisa das
evidências em manuscritos do Antigo Testamento, embora não sejam tão
numerosas como as do Novo, revela a natureza e a comprovação
documentária dos textos originais da Bíblia hebraica.
Os manuscritos do Antigo Testamento
Os manuscritos do Antigo Testamento
Em
comparação com o Novo Testamento, há relativamente poucos manuscritos
antigos do texto do Antigo Testamento. Era o que se verificava sobretudo
antes da descoberta, em 1947, dos rolos do mar Morto. Mas esse
acontecimento proporcionou ensejo para nosso estudo das tradições do
Texto massorético e dos rolos do mar Morto.
O Texto massorético
O Texto massorético
Até
recentemente, só uns poucos manuscritos hebraicos do Antigo Testamento
eram conhecidos. Aliás, antes da descoberta dos manuscritos “Cairo
Geneza”, em 1890, só 731 manuscritos hebraicos haviam sido publicados. É
por isso que a edição corrente da “Bíblia Hebraica”, de Kittel,
basei-se só em apenas quatro principais manuscritos, mas sobretudo em um
deles, o “Códice de Leningrado”. Nessa tradição, os principais textos
foram copiados durante o período massorético, como comprovam as
seguintes amostras. O manuscrito “Códice do Cairo” ou “Códice cairota”
(c) (895 d. C.) talvez seja o manuscrito massorético mais antigo dos
profetas, e contém tanto os profetas antigos como os posteriores mais
recentes. O Códice de Leningrado dos profetas ou Códice babilônico dos
profetas posteriores (MX B 3), também conhecido como Códice de [São]
Petersburgo (916 d. C.), contém apenas os últimos profetas (Isaías,
Jeremias, Ezequiel e os Doze), tendo sido escrito com vocalização
babilônica. O Códice Aleppo (930 d.C.) do Antigo Testamento já não está
mais completo. Deve ser a principal autoridade em Bíblia hebraica a ser
publicada em Jerusalém, tendo sido corrigida e vocalizada por Aaron ben
Asher, em 930 d.C. O Códice do Museu Britânico (Oriental 4445) data de
950 d.C.; trata-se de um manuscrito incompleto do Pentateuco. Contém
apenas de Génesis 39.20 a Deuteronômio 1.33. O Códice de Leningrado (B
19 A ou L) (1008 d.C.) é o maior manuscrito do Antigo Testamento, o mais
completo. Foi escrito em velino, com três colunas de 21 linhas por
página. Os sinais vocálicos e os acentos seguem o padeão babilônico,
colocados acima da linha. O Códice Reuchlin (MS Ad. 21161) dos profetas
(1105 d.C.) contém um texto revisto que atesta a fidelidade do Códice de
Leningrado. Os fragmentos de Cairo Geneza (500-800 d.C.), descobertos
em 1890, no Cairo, estão espalhados por diversas bibliotecas. Ernst
Wurthwein afirma existirem cerca de 10 mil manuscritos bíblicos e
fragmentos de manuscritos desse depósito.
O número relativamente reduzido de antigos manuscritos do Antigo Testamento, com exceção do Cairo Geneza, pode ser atribuído a vários fatores. O primeiro e mais óbvio é a própria antiguidade dos manuscritos, combinada com sua inerente destrutibilidade; esses dois fatores concorrem para o desaparecimento dos manuscritos. Outro fator que militou contra a sobrevivência dos manuscritos foi a deportação dos Israelitas à Babilônia e ao domínio estrangeiro após o retorno à Palestina. Jerusalém foi conquistada 47 vezes em sua história, só no período de 1800 a 1948 d.C. Isso também explica por que os textos massoréticos foram descobertos fora da Palestina. Outro fator que influi na escassez de manuscritos do Antigo Testamento diz respeito às leis sagradas dos escribas, que exigiam que os manuscritos gastos pelo uso, ou com erros, fossem enterrados. Secundo uma tradição talmúdica, todo manuscrito que contivesse erro, ou falha, e todo aquele que estivesse demasiado gasto pelo uso eram sistemática e religiosamente destruídos. Tais práticas sem dúvida alguma fizeram diminuir o número de manuscritos que se poderiam encontrar algures. Por fim, durante os séculos V e VI d.C., quando os massoretas (escribas judeus) padronizaram o texto hebraico, acredita-se que de modo sistemático e completo destruíram todos os manuscritos que discordassem do sistema de vocalização (adição de letras vocálicas) e de padronização do texto das Escrituras. Muitas evidências arqueológicas e a ausência de manuscritos mais antigos tendem a dar apoio a esse julgamento. O resultado é que o texto massorético impresso do Antigo Testamento, como o temos hoje, baseia-se nuns poucos manuscritos, nenhum dos quais com origem anterior ao século X d.C.
Ainda que haja relativamente poucos manuscritos massoréticos primitivos, a qualidade dos manuscritos disponíveis é muito boa. Isso também se deve atribuir a vários fatores. Em primeiro lugar, há pouquíssimas variantes nos textos disponíveis, visto serem todos descendentes de um tipo de texto estabelecido por volta de 100 d.C. Diferentemente do Novo Testamento, que baseia sua fidelidade textual na multiplicidade de cópias de manuscritos, o texto do Antigo Testamento deve sua exatidão à habilidade e à confiabilidade dos escribas que o transmitiram. Com todo o respeito às Escrituras judaicas, só a exatidão dos escribas, no entanto, não basta para garantir o produto genuíno. Antes, a reverência quase supersticiosa que dedicavam às Escrituras é de primordial importância. Segundo o Talmude, só determinados tipos de peles podiam ser utilizados, o tamanho das colunas era controlado por regras rigorosas, o mesmo acontecendo com respeito ao ritual que o escriba deveria seguir ao copiar um manuscrito. Se se descobrisse que determinado manuscrito continha um único erro, a peça era descartada e destruída. Tão severo formalismo dos escribas foi responsável, pelo menos em parte, pelo extremo cuidado aplicado no processo de copiar as Escrituras Sagradas.
Outra categoria de evidências quanto à integridade do texto massorético encontra-se na comparação de passagens duplas do próprio texto massorético do Antigo Testamento. O salmo 14, por exemplo, reaparece de novo como salmo 53; grande parte de Isaías 36-39 reaparece em 2Reis 18.20; Isaías 2.2-4 corresponde a Miquéias 4.1-3, e grande parte de Crônicas se encontra de novo em Samuel e em Reis. Um exame dessas passagens, bem como de outras, revela não somente substancial acordo textual, mas também, em certos casos, igualdade quase absoluta, palavra por palavra. Resulta disso a conclusão de que os textos do Antigo Testamento não sofreram revisões radicais, ainda que as passagens paralelas tenham origem em fontes idênticas.
Outra prova substancial quanto à exatidão do texto massorético procede da arqueologia. Robert Dick Wilson e William F. Albright, por exemplo, fizeram numerosas descobertas que confirmam a exatidão histórica dos documentos bíblicos, até mesmo no que concerne aos nomes obsoletos de reis estrangeiros. A obra de Wilson, “A scientific investigation of the Old Testament" [Uma Investigação científica do Antigo Testamento], e a de Albright, “From the Stone Age to Christianity" [Da Idade da Pedra ao cristianismo], podem ser consultadas em busca de apoio para essa concepção. Talvez o melhor tipo de evidências em apoio à integridade do texto massorético é encontrada na tradução grega do Antigo Testamento, conhecida como Septuaginta ou LXX. Esse trabalho foi executado durante os séculos II e III a.C, em Alexandria, no Egito. Na maior parte, é pratica¬mente urna reprodução livro por livro, capítulo por capítulo, do texto massorético e contém diferenças estilísticas e idiomáticas comuns. Além disso, a Septuaginta foi a Bíblia que Jesus e os apóstolos usaram, e a maior parte das citações no Novo Testamento foram tiradas diretamente dessa tradução. No todo, a Septuaginta constitui-se no correspondente do texto massorético e tende a confirmar a fidelidade do texto hebraico do século X d.C. Se não houvesse nenhuma outra evidência, a comprovação da fidelidade ao texto massorético poderia ser aceita com confiança, em ra¬zão das evidências aqui apresentadas.
Os rolos do mar Morto
Essa
grande descoberta ocorreu em março de 1947, quando um jovenzinho árabe
(Muhammad adh-Dhib) estava perseguindo uma cabra perdida nas grutas, a
doze quilómetros ao sul de Jericó, e um e meio quiló¬metro a oeste do
mar Morto. Numa das grutas ele descobriu umas jarras que continham
vários rolos de couro. Entre esse dia e fevereiro de 1956, onze grutas
que continham rolos e fragmentos de rolos foram escavadas próximo a
Qumran. Nessas grutas, os essênios, seita religiosa judaica que existiu
por volta da época de Cristo, haviam guardado sua biblioteca. Somando
tudo, os milhares de fragmentos de manuscritos constituíam os restos de
seiscentos manuscritos.
Os manuscritos que trazem o texto do Antigo Testamento são os de maior interesse para nós. A Gruta l é a que havia sido descoberta pelo jovem árabe, a qual continha sete rolos mais ou menos completos e alguns fragmentos, dentre os quais o mais antigo livro que se conhece da Bíblia (Isaías A), um Manual de disciplina, um Comentário de Habacuque, um Apócrifo de Génesis, um texto incompleto de Isaías (Isaías B), a Regra da guerra e cerca de trinta Hinos de ação de graça. Na Gruta 2 foram encontra¬dos outros manuscritos; essa gruta havia sido descoberta por beduínos que roubaram alguns artigos. Descobriram-se ali fragmentos de cerca de cem manuscritos; nenhum desses achados, porém, foi tão espetacular quanto ao que se descobriu nas demais grutas. Na Gruta 3 foram achadas duas metades de um rolo de cobre que dava instruções sobre como achar sessenta ou mais lugares que continham tesouros escondidos, a maior parte dos quais em Jerusalém ou em seus arredores.
A Gruta 4 (a Gruta da Perdiz) também havia sido pilhada por beduínos, antes de ser escavada em setembro de 1952. No entanto, verificou-se que haveria de ser a gruta mais produtiva de todas, visto que literalmente milhares de fragmentos foram recuperados e reconstituídos, quer mediante compra dos beduínos, quer em decorrência da peneiração arqueológica da poeira do solo da gruta. Um fragmento de Samuel que se encontrou ali é tido como o mais antigo trecho de hebraico bíblico conhecido, pois data do século IV a.C. Na Gruta 5 acharam-se alguns livros bíblicos e outros apócrifos em avançado estado de deterioração. A Gruta 6 revelou a existência de mais fragmentos de papiro que de couro. As Grutas de 7 a 10 forneceram dados de interesse para o arqueólogo profissional, nada, porém, de interesse relevante ao estudo que estamos empre¬endendo. A Gruta 11 foi a última a ser escavada e explorada, em começos de 1956. Ali se encontrou uma cópia do texto de alguns salmos, incluindo-se o salmo apócrifo 151, que até essa data só era conhecido em textos gregos. Encontrou-se, ainda, um rolo muito fino que continha parte de Levítico e um Targum (paráfrase) aramaico de Jó.
Estimulados por essas descobertas originais, os beduínos insistiram nas buscas e descobriram outras grutas a sudoeste de Belém. Aqui, em Murabba'at, descobriram alguns manuscritos que traziam a data e alguns documentos da segunda revolta judaica (132-135 d.C.). Esses docu¬mentos ajudaram a confirmar a antiguidade dos rolos do mar Morto. Descobriu-se também outro rolo dos profetas menores (de Joel a Ageu), cujo texto se aproxima muito do texto massorético. Além disso, descobriu-se ali um palimpsesto, o papiro semítico (o primeiro texto havia sido raspado) mais antigo de que se tem notícia. O segundo texto nele gravado era em hebraico antigo, dos séculos VII e VIII a.C.
Vários tipos de evidências tendem a dar apoio às datas dos rolos do mar Morto. Em primeiro lugar, está o processo do carbono 14, que dá a esses documentos a idade de 1917 anos, com margem de variação de 200 anos (10%). Isso significa que tais documentos datam de 168 a.C. a 233 d.C. A paleografia (estudo da escrita antiga e de seus materiais) e a ortografia (redação correta das palavras) marcam a data de alguns desses manuscritos anterior a 100 a.C. A arqueologia trouxe mais algumas evidências paralelas, mediante o estudo da cerâmica encontrada nas grutas: descobriu-se que era da baixa Era Helenística (150-163 a.C.) e da alta Era Romana (63 a.C.-lOO d.C.). Por fim, as descobertas de Murabba'at corroboraram as descobertas de Qumran.
A natureza e o número dessas descobertas do mar Morto produziram as seguintes conclusões gerais a respeito da integridade do texto massorético. Os rolos fornecem espantosa confirmação da fidelidade do texto massorético. Millar Burrows, em sua obra “The Dead Sea scrolls” [Os rolos do mar Morto], mostra que existiram pouquíssimas alterações do texto, num período aproximado de mil anos. R. Laird Harris, em sua obra “Inspiration and canonicity of the Bible” [A inspiração e a canonicidade da Bíblia], sustenta que existem menos diferenças nessas duas tradições, em mil anos, do que em duas famílias de manuscritos do Novo Testamento. Gleason Archer, autor de “A survey of Old Testament introduction” [Uma Pesquisa para introdução ao Antigo Testamento] apoia a integridade do texto massorético ao declarar que tal texto concorda com o manuscrito de Isaías encontrado na Gruta l em 95% de seu conteúdo. Os restantes 5% compreendem lapsos óbvios da pena e variações de grafia que ocorreram naquele ínterim.
Manuscritos do Novo Testamento
A
integridade do Antigo Testamento foi confirmada em primeiro lugar pela
fidelidade do processo de transmissão, posteriormente confirmada pelos
rolos do mar Morto. Por outro lado, a fidelidade do texto do Novo
Testamento baseia-se na multiplicidade de manuscritos existentes. É fato
que do Antigo Testamento restaram apenas alguns manuscritos completos,
todos muito bons; mas do Novo possuímos muito mais cópias, em geral de
qualidade mais precária. Chama-se manuscrito um documento escrito a mão,
em contraste com uma cópia ou exemplar impresso. Como dissemos antes, o
Novo Testamento foi escrito em letras de imprensa, conhecidas pelo nome
de unciais (ou maiúsculas). A partir do século VI esse estilo caiu em
desuso, sendo gradualmente substituído pelos manuscritos chamados
minúsculos. Estes predominaram no período que vai do século IX ao XV.
Outros testemunhos sobre a fidelidade do texto do Novo Testamento procedem de outras fontes básicas: manuscritos gregos, antigas versões e citações patrísticas. Os manuscritos gregos são a fonte mais importante, e podem ser divididos em três categorias. Essas categorias de manuscritos comumente recebem o nome de papiros, unciais e minúsculos, em vista de suas características diferenciadas.
Os papiros
Os
manuscritos classificados como papiros datam dos séculos II e III,
quando o cristianismo ainda era ilegal, e as Escrituras Sagradas eram
copiadas nos materiais mais baratos possíveis. Existem cerca de 26
manuscritos do Novo Testamento em papiro. O testemunho comprobatório que
esses manuscritos proporcionam ao texto é valiosíssimo, visto que
surgiram a partir do alvorecer do século II, apenas uma geração depois
dos autógrafos originais, e contêm a maior parte do Novo Testamento.
Vamos comentar aqui os representantes mais importantes dos manuscritos de papiro. O p52 ou Fragmento de John Rylands (117-138) é o mais antigo e genuíno que se conhece e traz um trecho do Novo Testamento. Foi escrito de ambos os lados e traz partes de cinco versículos do evangelho de João (18.31-33,37,38). O p45, o p46 e o p47, os Papiros Chester Beatty (250), consistem de três códices que abrangem a maior parte do Novo Testamento. O P45 compreende trinta folhas de um códice de papiro que contêm os evangelhos e Atos. O p46 traz a maior parte das cartas de Paulo, bem como Hebreus, faltando, porém, algumas partes de Romanos, 1Tessalonicenses e toda 2Tessalonicenses. O p47 contém partes do Apocalipse. O p66, o p72 e o p75, os Papiros Bodmer (175-225), compreendem a mais importante descoberta de papiros do Novo Testamento, desde o Papiro Chester Beatty. O p66 data de 200 d.C; contém algumas porções do evangelho de João. O p72 é a mais antiga cópia de Judas e de 1 e 2Pedro que se conhece; data do século III e contém vários livros, alguns canônicos, outros apócrifos. O p75 contém Lucas e João em unciais cuidadosamente impressos, com toda a clareza; data de 175 a 225. Por isso, é a mais antiga cópia de Lucas de que se tem notícia.
Os unciais
Os
mais importantes manuscritos do Novo Testamento como um todo são
considerados em geral os grandes unciais, escritos em velino e em
pergaminho, nos século IV e V. Existem cerca de 297 desses manuscritos
unciais. Descreveremos a seguir alguns dos mais importantes desses
manuscritos. Os mais importantes deles, o א, o B, o A e o c, não
estiveram à disposição dos tradutores da Bíblia do rei Tiago. Na
verdade, só o D esteve à disposição desses tradutores, que o utilizaram
pouco. Bastaria esse fato para que se exigisse uma nova tradução da
Bíblia, depois que esses grandes documentos unciais foram descobertos.
O Códice Vaticano (B) talvez seja o mais antigo uncial em velino ou em pergaminho (325-350), sendo uma das mais importantes testemunhas do texto do Novo Testamento. Foi desconhecido dos estudiosos bíblicos até depois de 1475, quando foi catalogado na Biblioteca do Vaticano. Foi publicado pela primeira vez em 1889-1890 em fac-símile fotográfico. Contém a maior parte do Antigo Testamento grego (LXX), o Novo Testamento grego e os livros apócrifos, com algumas omissões. Faltam também nesse códice Génesis 1.1— 46.28; 2Reis 2.5-7,10-13; Salmos 106.27—138.6, bem como Hebreus 9.14 até o fim do Novo Testamento. Marcos 16.9-20 e João 7.58—8.11 foram omitidos do texto de propósito; o texto todo foi escrito em unciais pequenos e delicados, sobre velino fino.
O Códice sinaítico (א, Álefe) é o manuscrito grego do século IV considerado em geral a testemunha mais importante do texto, por causa de sua antiguidade, exatidão e inexistência de omissões. A história de sua descoberta é das mais fascinantes e românticas da história do texto bíblico. O manuscrito foi descoberto por Tischendorf, conde alemão, no Mosteiro de Santa Catarina, no monte Sinai. Em 1844 ele descobriu 43 folhas de velino que continham porções da Septuaginta (1Crónicas, Jeremias, Neemias e Ester), num cesto cheio de fragmentos usados pelos monges com o fim de acender fogueiras. O conde apanhou esses fragmentos e os levou para Leipzig, na Alemanha, onde até hoje permanecem com o nome de Códice Frederico-Augustanus. Numa segunda visita, em 1853, o conde Tischendorf nada encontrou de novidade, mas em 1859 partiu para sua terceira visita, sob a direção do czar Alexandre II. Quando ele estava prestes a partir, voltando para casa, o mordomo do mosteiro mostrou-lhe uma cópia quase completa das Escrituras e mais alguns livros. Todas as peças foram subsequentemente entregues ao czar como "presente condicional". Esse manuscrito é conhecido hoje como Códice sinaítico (א); contém mais da metade do Antigo Testamento (LXX) e todo o Novo (com exceção de Mc 16.9-20 e Jo 7.58—8.11), todos os livros apócrifos do Antigo Testamento, a Epístola de Barnabé e O pastor, de Hermas. O texto foi escrito em excelente velino, feito de peles de antílopes. O manuscrito sofreu várias "correções" de escribas, as quais se denominam א. Em Cesaréia, no século VI ou VII, um grupo de escribas introduziu outras alterações textuais conhecidas como א ca ou א cb. Em 1933, o governo inglês comprou o Códice sinaítico por cem mil libras esterlinas. E depois foi publicado num volume intitulado Scribes and correctors of Codex Sinaiticus [Escribas e corretores do Códice sinaítico] em 1938.
O Códice alexandrino (A) é um manuscrito do século V, muito bem conservado, que se posiciona logo depois de B e de Álefe, como representante do texto do Novo Testamento. Embora alguns tenham datado esse códice em fins do século IV, provavelmente é o resultado do trabalho de um escriba de Alexandria, no Egito, por volta de 45 d.C. Em 1078 esse códice foi dado de presente ao patriarca de Alexandria, que lhe deu a designação que ostenta até hoje. Em 1621 foi levado a Constantinopla, antes de ser entregue a sir Thomas Roe, embaixador inglês na Turquia, em 1624, para apresentação ao rei Tiago I (James I). Ele morreu antes de o manuscrito chegar à Inglaterra, pelo que foi entregue ao rei Carlos I, em 1627. A ausência do manuscrito nesses anos todos impediu que o documento fosse consultado pelos tradutores da Bíblia do rei Tiago, em 1611, embora todos soubessem de sua existência na época. Em 1757, Jorge II ofertou o manuscrito à Biblioteca Nacional do Museu Britânico. Contém integralmente o Antigo Testamento, exceto algumas partes que sofreram mutilações (Gn 14.14-17; 15.1-5,16-19; 16.6-9; 1Rs [1Sm] 12.18—14.9; SI 49.19-79.100 e a maior parte do Novo Testamento, faltando apenas Mt 1.1—25.6; Jo 6.50—8.52 e 2Co 4.13—12.6). O códice contém 1 e 2Clemente e Salmos de Salomão, com a ausência de algumas partes. Suas grandes letras quadradas, unciais, estão escritas em velino muito fino; o texto é dividido em seções mediante o emprego de letras maiores. O texto é de qualidade variável.
O Códice efraimita (c) provavelmente se originou na Alexandria, no Egito, por volta de 345. Foi levado à Itália ao redor de 1500 por John Lascaris e depois vendido a Pietro Strozzi. Catarina de Medici, italiana, mãe e esposa de reis franceses, o comprou em 1533. Após sua morte, o manuscrito foi colocado na Biblioteca Nacional de Paris, onde permanece até hoje. Falta a esse códice a maior parte do Antigo Testamento, constando dele partes de Jó, Provérbios, Eclesiastes, Cânticos dos Cânticos e dois livros apócrifos — Sabedoria de Salomão e Eclesiástico. Ao Novo Testamento faltam 2Tessalonicenses, 2João e parte de outros livros. O manuscrito é um palimpsesto (raspado, apagado) reescrito em que originariamente estavam gravados o Antigo e o Novo Testamento. O texto sagrado foi apagado para que nesses pergaminhos se escrevessem sermões de Efraim, pai da igreja do século IV. Mediante reativação química, o conde Tischendorf foi capaz de decifrar as escritas quase invisíveis dos pergaminhos. Esse manuscrito está guardado na Biblioteca Nacional de Paris, e deixa à mostra sinais e evidências de duas fases de correções: a primeira, c2 ou cb, foi realizada na Palestina, no século VI, e a segunda, c3 ou cc, foi acrescentada no século IX, em Constantinopla.
O Códice Beza (D), também chamado Códice de Cambridge, foi transcrito em 450 ou 550. É o manuscrito bilíngue mais antigo que se conhece do Novo Testamento, escrito em grego e em latim, na região geral do sul da Gália (França) ou do norte da Itália. Foi descoberto em 1562 por Teodoro Beza, teólogo francês, no Mosteiro de Santo Ireneu, em Lião, na França. Em 1581 Beza deu-o à Universidade de Cambridge. Contém os quatro evangelhos, Atos e 3João 11—15, com variações tiradas de outros manuscritos, nele indicadas. Há muitas omissões no texto, tendo permanecido apenas o texto latino de 3João 11—15.
O Códice claromontano (D2 ou Dp2) é um complemento do século VI do códice D, datado de 550. Contém grande parte do Novo Testamento que está faltando em D. D2 aparentemente originou-se na Itália, ou na Sardenha, tendo recebido seu nome de um mosteiro de Clermont, na França, onde foi descoberto por Beza. Após a morte de Beza, o códice ficou na posse de vários indivíduos, até ser comprado pelo rei Luís XIV, para integrar a Biblioteca Nacional de Paris, em 1656. Foi publicado integralmente pelo conde Tischendorf em 1852. Esse códice contém todas as cartas de Paulo e Hebreus, embora estejam faltando Romanos 1.1-7,27-30 e 1Coríntios 14.13-22, em grego, e 1Coríntios 14.8-18 e Hebreus 13.21-23, em latim. Esse manuscrito bilíngue foi escrito de modo artístico, em velino finíssimo, de alta qualidade. O grego é bom, mas a gramática latina em alguns trechos é inferior.
O Códice washingtoniano I (w) data do século IV ou início do V. Charles F. Freer, de Detroit, em 1906, o havia adquirido de um negociante do Cairo, no Egito. Entre 1910 e 1918 foi editado pelo professor H. A. Sanders, da Universidade de Michigan, estando hoje na Instituição Smithsoniana, em Washington, DC. Esse manuscrito contém os quatro evangelhos, porções das epístolas de Paulo (exceto Romanos), Hebreus, Deuteronômio, Josué e Salmos. A ordem dos evangelhos é: Mateus, João, Lucas e Marcos. Marcos contém o final mais longo (Mc 16.9-20); entretanto, acrescenta uma inserção após o versículo 14. É um códice volumoso, feito de velino, cujos tipos de letras são misturados de modo curioso.
Os minúsculos
O Códice Vaticano (B) talvez seja o mais antigo uncial em velino ou em pergaminho (325-350), sendo uma das mais importantes testemunhas do texto do Novo Testamento. Foi desconhecido dos estudiosos bíblicos até depois de 1475, quando foi catalogado na Biblioteca do Vaticano. Foi publicado pela primeira vez em 1889-1890 em fac-símile fotográfico. Contém a maior parte do Antigo Testamento grego (LXX), o Novo Testamento grego e os livros apócrifos, com algumas omissões. Faltam também nesse códice Génesis 1.1— 46.28; 2Reis 2.5-7,10-13; Salmos 106.27—138.6, bem como Hebreus 9.14 até o fim do Novo Testamento. Marcos 16.9-20 e João 7.58—8.11 foram omitidos do texto de propósito; o texto todo foi escrito em unciais pequenos e delicados, sobre velino fino.
O Códice sinaítico (א, Álefe) é o manuscrito grego do século IV considerado em geral a testemunha mais importante do texto, por causa de sua antiguidade, exatidão e inexistência de omissões. A história de sua descoberta é das mais fascinantes e românticas da história do texto bíblico. O manuscrito foi descoberto por Tischendorf, conde alemão, no Mosteiro de Santa Catarina, no monte Sinai. Em 1844 ele descobriu 43 folhas de velino que continham porções da Septuaginta (1Crónicas, Jeremias, Neemias e Ester), num cesto cheio de fragmentos usados pelos monges com o fim de acender fogueiras. O conde apanhou esses fragmentos e os levou para Leipzig, na Alemanha, onde até hoje permanecem com o nome de Códice Frederico-Augustanus. Numa segunda visita, em 1853, o conde Tischendorf nada encontrou de novidade, mas em 1859 partiu para sua terceira visita, sob a direção do czar Alexandre II. Quando ele estava prestes a partir, voltando para casa, o mordomo do mosteiro mostrou-lhe uma cópia quase completa das Escrituras e mais alguns livros. Todas as peças foram subsequentemente entregues ao czar como "presente condicional". Esse manuscrito é conhecido hoje como Códice sinaítico (א); contém mais da metade do Antigo Testamento (LXX) e todo o Novo (com exceção de Mc 16.9-20 e Jo 7.58—8.11), todos os livros apócrifos do Antigo Testamento, a Epístola de Barnabé e O pastor, de Hermas. O texto foi escrito em excelente velino, feito de peles de antílopes. O manuscrito sofreu várias "correções" de escribas, as quais se denominam א. Em Cesaréia, no século VI ou VII, um grupo de escribas introduziu outras alterações textuais conhecidas como א ca ou א cb. Em 1933, o governo inglês comprou o Códice sinaítico por cem mil libras esterlinas. E depois foi publicado num volume intitulado Scribes and correctors of Codex Sinaiticus [Escribas e corretores do Códice sinaítico] em 1938.
O Códice alexandrino (A) é um manuscrito do século V, muito bem conservado, que se posiciona logo depois de B e de Álefe, como representante do texto do Novo Testamento. Embora alguns tenham datado esse códice em fins do século IV, provavelmente é o resultado do trabalho de um escriba de Alexandria, no Egito, por volta de 45 d.C. Em 1078 esse códice foi dado de presente ao patriarca de Alexandria, que lhe deu a designação que ostenta até hoje. Em 1621 foi levado a Constantinopla, antes de ser entregue a sir Thomas Roe, embaixador inglês na Turquia, em 1624, para apresentação ao rei Tiago I (James I). Ele morreu antes de o manuscrito chegar à Inglaterra, pelo que foi entregue ao rei Carlos I, em 1627. A ausência do manuscrito nesses anos todos impediu que o documento fosse consultado pelos tradutores da Bíblia do rei Tiago, em 1611, embora todos soubessem de sua existência na época. Em 1757, Jorge II ofertou o manuscrito à Biblioteca Nacional do Museu Britânico. Contém integralmente o Antigo Testamento, exceto algumas partes que sofreram mutilações (Gn 14.14-17; 15.1-5,16-19; 16.6-9; 1Rs [1Sm] 12.18—14.9; SI 49.19-79.100 e a maior parte do Novo Testamento, faltando apenas Mt 1.1—25.6; Jo 6.50—8.52 e 2Co 4.13—12.6). O códice contém 1 e 2Clemente e Salmos de Salomão, com a ausência de algumas partes. Suas grandes letras quadradas, unciais, estão escritas em velino muito fino; o texto é dividido em seções mediante o emprego de letras maiores. O texto é de qualidade variável.
O Códice efraimita (c) provavelmente se originou na Alexandria, no Egito, por volta de 345. Foi levado à Itália ao redor de 1500 por John Lascaris e depois vendido a Pietro Strozzi. Catarina de Medici, italiana, mãe e esposa de reis franceses, o comprou em 1533. Após sua morte, o manuscrito foi colocado na Biblioteca Nacional de Paris, onde permanece até hoje. Falta a esse códice a maior parte do Antigo Testamento, constando dele partes de Jó, Provérbios, Eclesiastes, Cânticos dos Cânticos e dois livros apócrifos — Sabedoria de Salomão e Eclesiástico. Ao Novo Testamento faltam 2Tessalonicenses, 2João e parte de outros livros. O manuscrito é um palimpsesto (raspado, apagado) reescrito em que originariamente estavam gravados o Antigo e o Novo Testamento. O texto sagrado foi apagado para que nesses pergaminhos se escrevessem sermões de Efraim, pai da igreja do século IV. Mediante reativação química, o conde Tischendorf foi capaz de decifrar as escritas quase invisíveis dos pergaminhos. Esse manuscrito está guardado na Biblioteca Nacional de Paris, e deixa à mostra sinais e evidências de duas fases de correções: a primeira, c2 ou cb, foi realizada na Palestina, no século VI, e a segunda, c3 ou cc, foi acrescentada no século IX, em Constantinopla.
O Códice Beza (D), também chamado Códice de Cambridge, foi transcrito em 450 ou 550. É o manuscrito bilíngue mais antigo que se conhece do Novo Testamento, escrito em grego e em latim, na região geral do sul da Gália (França) ou do norte da Itália. Foi descoberto em 1562 por Teodoro Beza, teólogo francês, no Mosteiro de Santo Ireneu, em Lião, na França. Em 1581 Beza deu-o à Universidade de Cambridge. Contém os quatro evangelhos, Atos e 3João 11—15, com variações tiradas de outros manuscritos, nele indicadas. Há muitas omissões no texto, tendo permanecido apenas o texto latino de 3João 11—15.
O Códice claromontano (D2 ou Dp2) é um complemento do século VI do códice D, datado de 550. Contém grande parte do Novo Testamento que está faltando em D. D2 aparentemente originou-se na Itália, ou na Sardenha, tendo recebido seu nome de um mosteiro de Clermont, na França, onde foi descoberto por Beza. Após a morte de Beza, o códice ficou na posse de vários indivíduos, até ser comprado pelo rei Luís XIV, para integrar a Biblioteca Nacional de Paris, em 1656. Foi publicado integralmente pelo conde Tischendorf em 1852. Esse códice contém todas as cartas de Paulo e Hebreus, embora estejam faltando Romanos 1.1-7,27-30 e 1Coríntios 14.13-22, em grego, e 1Coríntios 14.8-18 e Hebreus 13.21-23, em latim. Esse manuscrito bilíngue foi escrito de modo artístico, em velino finíssimo, de alta qualidade. O grego é bom, mas a gramática latina em alguns trechos é inferior.
O Códice washingtoniano I (w) data do século IV ou início do V. Charles F. Freer, de Detroit, em 1906, o havia adquirido de um negociante do Cairo, no Egito. Entre 1910 e 1918 foi editado pelo professor H. A. Sanders, da Universidade de Michigan, estando hoje na Instituição Smithsoniana, em Washington, DC. Esse manuscrito contém os quatro evangelhos, porções das epístolas de Paulo (exceto Romanos), Hebreus, Deuteronômio, Josué e Salmos. A ordem dos evangelhos é: Mateus, João, Lucas e Marcos. Marcos contém o final mais longo (Mc 16.9-20); entretanto, acrescenta uma inserção após o versículo 14. É um códice volumoso, feito de velino, cujos tipos de letras são misturados de modo curioso.
Os minúsculos
As datas dos
manuscritos minúsculos (do século IX ao XV) mostram que em geral são de
qualidade inferior, se comparados aos manuscritos em papiros ou unciais.
A importância desses manuscritos está no relevo dispensado às famílias
textuais e não à sua quantidade. Somam 4 643, dos quais 2 646 são
manuscritos e 1997, lecionários (livros antigos que a igreja usava no
culto). Alguns desses manuscritos minúsculos mais importantes estão
identificados abaixo.
Os minúsculos da família alexandrina são representados pelo ms. 33, "rei dos cursivos", datado do século IX ou X. Contém todo o Novo Testamento, menos o Apocalipse. É propriedade da Biblioteca Nacional de Paris.
O texto cesareense emprega um tipo que sobreviveu na Família l, den¬tre os manuscritos minúsculos. Essa família contém os manuscritos l, 11 H, 131 e 209, e todos datam do século XII até o XIV.
A subfamília italiana do tipo cesareense é representada por cerca de doze manuscritos conhecidos por Família 13. Tais manuscritos haviam sido copiados entre os séculos XI e XV. Incluem os manuscritos 13,69,124, 230, 346, 543, 788, 826, 828, 983, 1689 e 1709. Julgava-se de início que alguns desses manuscritos tinham texto de tipo sírio.
Muitos dos demais manuscritos minúsculos podem ser colocados em uma ou outra das várias famílias textuais, mas sustentam-se por seus próprios méritos e não por pertencerem a uma das famílias de manuscritos mencionadas acima. Entretanto, no todo, foram copiados de manuscritos minúsculos ou manuscritos unciais primitivos, e poucas evidências novas acrescentam ao Novo Testamento. Proporcionam uma linha contínua de transmissão do texto bíblico, enquanto os manuscritos de outras obras clássicas apresentam brechas de novecentos a mil anos entre os autógrafos e suas cópias manuscritas, como se pode ver nos exemplos das Guerras gálicas, de César, e das Obras, de Tácito.
FONTE:
http://introduobiblica.blogspot.com.br/2007/10/11-os-principais-manuscritos-da-bblia.html
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