Para uma análise de um tema tão capcioso e que a muitos têm
confundido, não devemos nos basear em pesquisas e análises que ao longo
dos anos foram produzidas; não porque elas sao inúteis, e sim porque não
possuímos conhecimento o suficiente para julgar se tais experimentos
estão certos. Para ilustrar, relembre quantas vocês já viu algum estudo
dizendo que o café faz mal e depois outro de que faz bem; que vinho é
bom para a saúde, mas que também ajuda a matar; que pessoas magras são
mais saudáveis, mas que não é bom ser magro demais… As variações são
inúmeras e por isso não nos ateremos a elas.
Falar em “poder fumar maconha” envolve alguns temas importantes, como a suficiência das Escrituras e o dever de cuidar de si próprio.
Não nos delongaremos sobre a suficiência da Bíblia para os cristãos,
vez que se este ponto não for aceito, de nada valerá a conversa; a
Bíblia precisa ser a única regra de fé e conduta para todos, de maneira
que se algum cristão não a tem como base de sua crença, é melhor rogar
ao Senhor para que se apiede de sua vida. Noutro lado, temos o dever
bíblico de cuidar do próprio corpo, o qual analisaremos.
A Bíblia
orienta os crentes a apresentarem suas vidas ao Senhor de maneira
semelhante a como Cristo viveu: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão
de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e
agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Rm 12.1). Nosso Senhor
Jesus Cristo veio à terra em cumprimento à lei, os profetas e os salmos
(Lc 24.27, 44), para ser o cabeça da Igreja (Ef 1.22) e cumprir na
Igreja toda a sua plenitude (Ef 1.23). Como puro cordeiro, Ele não
somente morreu pelo injustos eleitos (1Pe 3.18), mas também viveu para
fazer a vontade do Pai (Jo 5.30).
Desta forma, o primeiro
indicativo de como devemos viver e se seria lícito fumar maconha, diz
respeito a buscar uma vida parecida com a de nosso Salvador. Um
problema, contudo, começa quando se inicia a seguinte pergunta: “mas
Jesus não jogou futebol, por exemplo; também não surfou e não temos
relatos de que tenha comido alguma costela com os discípulos”. Para
resolver este pequeno problema, é preciso notar que não estamos nos
referindo a viver estritamente o que a literalidade da Bíblia diz que
Cristo fez, porque a própria Escritura nos diz: “Jesus, pois, operou
também em presença de seus discípulos muitos outros sinais, que não
estão escritos neste livro” (Jo 20.30). Jesus fez inúmeras outras coisas
que não estão relatadas, de modo que viver como Cristo viveu, tem
referência à passagem bíblica: “Aquele que diz que está nele, também
deve andar como ele andou” (1Jo 2.6), isto é, buscando fazer a vontade
de Deus.
Dando seguimento, embora não conheçamos muitos crentes
que fumem maconha, talvez alguns fumem sem saber se estão fazendo certo
ou errado, acabando por pecar: “Mas aquele que tem dúvidas, se come está
condenado, porque não come por fé; e tudo o que não é de fé é pecado”
(Rm 14.23). Nesta passagem o apóstolo está instruindo os cristãos em
Roma acerca da licitude de comerem tudo o que lhes posto à mesa e
vendido para consumo, mas devendo sempre observar o irmão mais fraco (Rm
14.3). Certamente que Paulo não estava advogando o comer alimentos
estragados e nitidamente danosos à saúde, e sim fazendo um contraponto à
pretensa liberdade que muitos estava usando da maneira errada, sendo
pedras de tropeço na vida dos mais fracos.
A liberdade cristã
precisa ser corretamente entendida, pois quando lemos que “Foi para a
liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permaneçam firmes e não se
deixem submeter novamente a um jugo de escravidão” (Gl 5.1), devemos ter
em mente que o apóstolo Paulo, na carta aos gálatas, estava tratando da
judaização do cristianismo, devido a que muitos estavam voltando às
antigas práticas, desejando introduzir antigos ritos na igreja, fazendo
com que o sacrifício de Cristo fosse negado. Os irmãos na Galácia
precisavam compreender que a liberdade para qual haviam sido chamados,
fazia com que eles não mais vivessem na “sombra das coisas futuras” (Cl
2.17) e passassem a viver na realidade, em Cristo Jesus.
Assim, se
alguém fuma maconha ou faz qualquer outra coisa sob a desculpa de que
“é livre”, demonstra que não entendeu a Palavra da Verdade e precisa a
ela dedicar tempo, a fim de a ter como única coluna basilar de sua vida.
Diante
disso, após termos ciência da necessidade de vivermos como Cristo e não
escandalizarmos nossos irmãos, tenhamos em mente um versículo de suma
importância: “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra
qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus” (1Co 10.31). A pergunta
que poderá responder nossa indagação sobre se é lícito fumar maconha,
será: é possível fumar maconha para a glória de Deus?
Geralmente
esta pergunta – “é possível [atividade/atitude] para a glória de Deus?” –
é respondida por algumas pessoas como sendo impossível fazer todas as
coisas para a glória de Deus. Bem, se isso é verdade, então Deus é
mentiroso, afirmando que deveríamos fazer uma coisa que não pode ser
feita. Graças ao bondoso Senhor, sabemos que é possível fazermos todas
as coisas para o Seu louvor, conforme links no final deste
artigo. Mas no que consiste fazer todas as glórias de Deus? Talvez um
excelente resumo seja: “Filho meu, guarda as minhas palavras, e esconde
dentro de ti os meus mandamentos” (Pv 7.1); “Se guardardes os meus
mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho
guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor” (Jo 15.10).
Guardar
os mandamento do Senhor indica que O amamos e permanecemos em Sua
palavra. Evidente que, conforme já salientou o reformador Matinho
Lutero, os mandamentos de Deus demonstram nossa fraqueza, pois vemos o
quão altos são e chegamos à conclusão dada por nosso Salvador: “sem mim
nada podeis fazer” (Jo 15.5). Falar em obedecer os mandamentos não
significa alcançar a salvação por meritocracia, e sim buscar viver de
acordo com a graça do Senhor que habita na Igreja pelo Seu Espírito
Santo, conforme lemos: “Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua
graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos
eles; todavia não eu, mas a graça de Deus, que está comigo” (1Co 15.10).
Portanto, não nós, mas a bondade do Senhor para conosco.
Tendo
por certo que devemos guardar os mandamentos do Senhor, mesmo sabendo
que iremos fraquejar (daí a necessidade de entendermos que eles somente
podem ser cumpridos em Cristo, em quem somos adotados – Ef 1.5), notamos
que a Escritura prescreve os frutos do Espírito Santo atuando na
Igreja, os quais estão elencados no capítulo cinco da carta aos
gálatas: “Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade,
benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança” (Gl 5.22).
É
preciso sempre notar que os frutos do Espírito Santo não são a mesma
coisa dos dons do Espírito Santo. Os crentes possuem dons variados (1Co
12.29-30), segundo a boa vontade de Deus, porém os frutos do Espírito
Santo devem habitar em todos os crentes, sem qualquer excessão. Nenhum
crente pode ter falta de amor, gozo (alegria), paz e os demais
elencados. Não é uma faculdade ter alguns deles, e sim uma obrigação; ou
melhor, se alguém não os possui, não tem o Espírito do Senhor.
Novamente, convém lembrar que tais dons não são manifestos de maneira
plena da vida dos crentes, pois ainda lutamos contra as concupiscências
da vida (Rm 7.4-25) – mas um fato notável é que todos precisam
frutificar de acordo com a Palavra.
Importa observar que um dos frutos do Espírito Santo é a “temperança” ou “domínio próprio”. A palavra no grego original é Egkrateia [1]
e significa “domínio próprio, a virtude dos que dominam seus desejos e
paixões”. Este significado é de grande importância, porque dominar os
desejos e paixões, ainda que não em plenitude de perfeição, é uma clara
demonstração da libertação que o Evangelho causou: “E, libertados do
pecado, fostes feitos servos da justiça” (Rm 6.18). Agora, porque o
crente não é mais escravo do pecado, pode resistir à tentação (Tg 4.7) e
a vencer pelo sangue do Cordeiro. Isto implica em que se alguma coisa
escraviza o crente (drogas, futebol, internet, alguma amizade, dinheiro,
fama…), o mesmo precisa buscar guarida junto ao Refúgio (Salmo 46) e
buscar saber se controlar.
Em contraponto aos frutos do Espírito
Santo, a Escritura nos revela os frutos da carne: “Porque as obras da
carne são manifestas, as quais são [...] feitiçaria” (Gl 5.19-20). A
palavra que temos traduzido por “feitiçaria” (em boa parte das
traduções), no grego original é Pharmakeia [2] e significa “o uso
ou a administração de drogas de envenenamento/intoxicação, feitiçaria,
artes mágicas, geralmente em conexão com a idolatria e promovendo a
mesma”. Não é preciso muito malabarismo para se entender que a partir
desta palavra surgiu “farmácia”, ou como era nos tempos antigos,
“drogaria”.
O fato é que a Bíblia revela ser uma obra da carne, ou seja, não vinda do Espírito Santo, a manifestação de Pharmakeia,
o uso de substâncias que trazem malefícios ao corpo, podendo ser
acompanhada de outros rituais (é como o uso de drogas em determinadas
seitas, a fim de alcançar um outro “estado de espírito”). Por isso, aqui
temos um precioso indicativo bíblico sobre a necessidade do cristão
vigiar sobre o que come, bebe ou realiza, a fim de verificar se não está
incorrendo em Pharmakeia; se não está utilizando de drogas (lícitas ou ilícitas) para “viajar” ou ficar mais “relaxado”.
Neste
deságue, temos outros exemplos bíblicos de intoxicação, como em Romanos
13.13: “Andemos honestamente, como de dia; não em glutonarias, nem em
bebedeiras, nem em desonestidades, nem em dissoluções, nem em contendas e
inveja”. A palavra “bebedices” é Methe [3] em grego e significa
“intoxicação, embriaguez” – é a mesma palavra usada em Lucas 21.34 e
Gálatas 5.21. Também lemos: “E não vos embriagueis com vinho, em que há
contenda, mas enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18) – aqui a palavra é Methusko [4] e significa “se intoxicar, ficar bêbado, vir a estar intoxicado”.
Neste
instante, alguém pode vir pensar: “mas muitas outras coisas também
intoxicam! Mortes pelas complicações da diabetes, álcool, frituras, fast-foods,
embutidos… Muitas coisas intoxicam!”. Tal questionamento é certo e
precisa ser ponderado, afinal, que diferença existe entre um crente que
consome altas quantidades de fritura e um que fuma maconha? Ambos não
prejudicam o próprio corpo? O que vive comendo doçuras e está bem acima
do peso, não comete tamanho pecado e demonstra não ter domínio próprio?
É
preciso, por isso, atentarmos para as palavras de Cristo: “E por que
atentas tu no argueiro que está no olho de teu irmão, e não reparas na
trave que está no teu próprio olho?” (Lc 6.41). Inúmeras vezes os
cristãos acabam por “tornar demoníaca” certas coisas e se esquecem de
que praticam tantas outros pecados diante do Senhor. Para ilustrar, há
algum tempo atrás um irmão me indagou acerca de um grupo de amigos seus
(cristãos) que estavam usando Narguile para fumar, o que o estava
deixando espantado; questionei-o, então, que mesmo concordando em não
ser lícito fumar aquilo (pois segundo consta, possui sérias
consequências para o corpo – tão ruins quanto ou pior que o cigarro),
muitas vezes ele mesmo comia e ingeria bebidas maléficas para sua saúde,
devendo ser cauteloso quanto ao “zelo” pela santidade, afinal, muitas
vezes não se enxerga o próprio erro.
Creio, todavia, que mesmo
entendendo o até aqui exposto, alguns crentes podem se lembrar do
seguinte versículo: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as
coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas
edificam” (1Co 10.23). Tal versículo é usado, frequentemente, como um
respaldo para dizer, “bem, eu até poderia fazer isso ou aquilo, mas não
convém”. Este pensamento reflete a ideia de que todas as coisas são
lícitas – absolutamente tudo -, mas que algumas é melhor não fazer. A
grande questão é que o versículo seguinte explana o real
entendimento: “Ninguém busque o proveito próprio; antes cada um o que é
de outrem” (1Co 10.24). O combate do apóstolo era contra a pretensa
liberdade de fazer, dentre as coisas lícitas, algumas que levavam os
irmãos a se escandalizarem, e não que qualquer coisa no mundo seria
lícita ao crente!
Em vias de finalização, sabemos que a maconha,
assim como tantas outras plantas, foram criadas por Deus – o próprio
tabaco, inclusive. Se Ele criou todas estas coisas, então elas são
“boas”, pois “viu Deus que era bom” (Gn 1.12). Mas o fato de algo ser
bom, não significa que o modo como se utiliza é igualmente puro, além do
que, o pecado corrompeu todas as coisas, trazendo “Espinhos, e cardos”
(Gn 3.18) à terra, fazendo com que a criação sofra as consequências da
desobediência: “Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente
com dores de parto até agora” (Rm 8.22).
Como exemplo, de algo
bom, mas que sendo usado de maneira errada, pode trazer prejuízos, é o
caso dos animais – não é qualquer pecado matar animais para os comer (Gn
9.3), mas seria um pecado comer o animal sem o cozinhar e não
observando algumas regras sanitárias, vindo a trazer inúmeras doenças;
ou noutro sentido, assar o animal ainda vivo, desprezando o sofrimento
do mesmo, o que é estaria em completa desarmonia com o governar e cuidar
da criação de Deus (Gn 2.15).
Assim, podemos finalizar este breve
artigo da seguinte forma: a maconha foi criada por Deus e na medicina
possui a sua validade, tal qual inúmeras outras plantas; não deve,
porém, ser usada para o consumo por meio de “baseados”, pois nenhum
benefício traz ao ser que faz uso desta maneira (não preciso discorrer
sobre os efeitos maléficos). Por outro lado, os que não fumam maconha,
devem olhar para a “trave” que está em seus olhos e perceberem que,
conquanto não fumem esta erva, consomem inúmeras outras “porcarias”, de
maneira que não possuem nenhuma razão para se acharem mais ou menos
crentes do que aqueles que fumam, pois ambos estão errados.
Que a graça de nosso Senhor esteja com todos os que O amam em sinceridade (Ef 6.24).
Notas:
[1] http://www.biblestudytools.com/lexicons/greek/kjv/egkrateia.html
[2] http://www.biblestudytools.com/lexicons/greek/kjv/pharmakeia.html
[3] http://www.biblestudytools.com/lexicons/greek/kjv/methe.html
[4] http://www.biblestudytools.com/lexicons/greek/kjv/methusko.html
FONTE:
http://2timoteo316.blogspot.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário