O relato que
encontramos no Evangelho de Mateus nos apresenta três reações
ao nascimento de Jesus, que se repetem até hoje: 1. Fé, 2. Perplexidade
e 3. Indiferença.
1.
Fé
Em Mateus 2.1-2
lemos: "Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, em dias
do rei Herodes, eis que vieram uns magos do Oriente a Jerusalém. E perguntavam:
Onde está o recém-nascido Rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela
no Oriente e viemos para adorá-lo".
Quem
crê, vem
O que levou
os magos do Oriente a virem a Israel buscando um encontro pessoal com o Rei
dos judeus? Não foi, em primeiro lugar, a estrela que os levou a essa
decisão, pois ela foi apenas um fato visível posterior. A realidade
do nascimento de Jesus foi o motivo de sua viagem. Lemos duas vezes: "Tendo
Jesus nascido em Belém da Judéia... Onde está o recém-nascido
Rei dos judeus? Pois vimos a sua estrela no Oriente..." Eles não
buscavam a estrela, eles saíram em busca de Jesus.
Jesus veio
– e por isso também podemos vir a Ele!
A certeza dos
magos de que Jesus realmente havia nascido levou-os a Belém. Certamente
o sinal visível da estrela guiando seu caminho foi para eles uma grande
ajuda em sua longa jornada. Esse fato deixa bem claro que qualquer pessoa pode
vir a Jesus, porque Ele existe! Hebreus 11.6 diz: "De fato, sem fé
é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário
que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador
dos que o buscam".
Essa história
se repete nos tempos de hoje: conhecemos o Evangelho, temos a Bíblia.
Mas é a fé viva em Jesus, a certeza de que Ele existe, que nos
atrai a Ele e nos leva a falar com Ele em oração.
Quem
crê vai – mesmo sem estrela
É muito
animador e um testemunho alentador vermos que os magos do Oriente não
permitiram que sequer um pensamento de dúvida fizesse vacilar seus corações,
roubando-lhes sua certeza de encontrar o Rei que procuravam. E nós? Cremos
realmente que Ele existe? Então, por que vamos tão pouco a Ele?
E, por que oramos com tão pouca convicção? Por que duvidamos
e voltamos a duvidar? Será que vamos até Jesus apenas quando vemos
sinais ou somente quando sentimos vontade?
A maneira como
os magos vieram até Jesus continua sendo um mistério para nós,
mas mesmo assim sabemos que não foi a estrela que os levou a Israel e
até Belém. Essa é uma idéia falsa. Eles vieram pela
fé. Está escrito muito claramente na Bíblia: "Porque
vimos a sua estrela no Oriente e viemos para adorá-lo." E quando
já estavam em Jerusalém e se punham a caminho de Belém,
a estrela voltou a lhes aparecer: "Depois de ouvirem o rei, partiram;
e eis que a estrela que viram no Oriente os precedia, até que, chegando,
parou sobre onde estava o menino" (Mt 2.9).
Esses magos
foram até Israel e procuraram pelo Rei, mesmo sem a direção
da estrela. Eles foram simplesmente porque criam que Ele existia. Cremos mesmo
sem a presença de sinais? Cremos sem ter provas? Seguimos pelo caminho
e perseveramos nele mesmo quando nada vemos à nossa frente?
Quem
crê é guiado mesmo que o inimigo interfira
É o
que vemos em Mateus 2.8-9: "E, enviando-os a Belém, disse-lhes:
Ide informar-vos cuidadosamente a respeito do menino; e, quando o tiverdes encontrado,
avisai-me, para eu também ir adorá-lo. Depois de ouvirem o rei,
partiram; e eis que a estrela que viram no Oriente os precedia, até que,
chegando, parou sobre onde estava o menino." Os magos criam firmemente
que Jesus havia nascido e vieram a Jerusalém. Estavam bem próximos
do alvo. Mas nesse momento Herodes e os escribas se intrometeram como inimigos
de Deus. Herodes mandou os magos a Belém, porém com uma motivação
escusa. Seu alvo era matar o recém-nascido Messias. Mas Deus voltou a
enviar a estrela, que guiou os magos exatamente para o lugar onde Jesus estava.
O inimigo pode
se interpor no caminho dos crentes – mas o Senhor mantém a vitória
e dirige Seus filhos até o alvo. Apesar dos empecilhos, continuamos sob
Sua direção.
O Senhor poderia
ter conduzido os magos diretamente a Belém, pois eles já se encontravam
muito próximos de seu destino. Por que Ele não o fez e permitiu
essa interferência? Porque Ele queria que as intenções dos
inimigos fossem manifestas! Talvez Ele também o tenha feito para nos
animar espiritualmente com o exemplo dos magos. Talvez o Senhor esteja nos dizendo
através disso: "Meu filho querido! Muitas vezes o inimigo vai tentar
pará-lo quando você já estiver bem próximo do alvo.
Talvez ele tente pegá-lo numa cilada. Pense nisso: muitas vezes não
sou encontrado na ‘capital Jerusalém’, em meio à multidão
de grandes e poderosos, como muitos pensam. Muitas vezes é em ‘Belém’,
nas coisas pequenas e aparentemente insignificantes, que me revelo, pois nos
fracos revela-se o meu poder. Se você somente crer, jamais permitirei
que você siga pela direção que o inimigo quer, mas vou levá-lo
sempre ao meu objetivo! Não desanime com interferências temporárias,
mesmo que a ‘estrela’ não esteja brilhando por um certo tempo. Eu o guiarei".
A
fé nos conduz para onde Jesus está
Também
os magos foram conduzidos exatamente ao lugar onde estava o menino, eles não
erraram de endereço. Jesus é o caminho de nossa fé, o objeto
de nossa fé e o alvo de nossa fé. A fé é que nos
une a Jesus. Aquele que crê sempre estará onde Ele está.
Os magos tinham como alvo a pessoa de Jesus, o Rei dos judeus, e por isso não
podiam perder-se. "...Ele é um escudo que protege quem obedece
a Deus de todo o coração" (Pv 2.7b, A Bíblia Viva).
O
sol nasce para quem crê
"E,
vendo eles a estrela, alegraram-se com grande e intenso júbilo"
(Mt 2.10). "Intenso júbilo", alegria muito grande – esse
é o alvo da fé: "Assim, ó Senhor, pereçam
todos os teus inimigos! Porém os que te amam brilham como o sol quando
se levanta no seu esplendor" (Jz 5.31). Já nesta terra podemos
ter a experiência de que, quem crê não é envergonhado,
quem crê é constantemente animado pelo Senhor. Aquele que tem fé
no Senhor alcança uma alegria muito grande e uma paz muito profunda,
porque segue seu caminho com Jesus. E quando as portas do céu se abrirem
para nós, quando virmos Aquele que nos amou e nos salvou, quando nossos
olhos enxergarem o Sol da Justiça em todo o seu esplendor, teremos chegado
ao alvo de nossa fé! Deus fará "algo novo", e haverá
"um novo céu e uma nova terra". Aleluia!
Quem
crê, vê mais
"Entrando
na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, o adoraram;
e, abrindo os seus tesouros, entregaram-lhe suas ofertas: ouro, incenso e mirra"
(Mt 2.11). Quem crê certamente não vê como os católicos.
Na Bíblia não está escrito: "Viram Maria, sua mãe,
com o menino" (como mostra a maioria das imagens católicas), mas:
"o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, o
adoraram."
Quem crê
consegue ver o objetivo da salvação e jamais erra o alvo. "Então,
eles, levantando os olhos, a ninguém viram, senão a Jesus"
(Mt 17.8). O olhar da fé é dirigido diretamente a Jesus, que
é nosso Mediador e nossa salvação perfeita. Quem crê
também vê que, com Jesus, só pode haver entrega total, consagração
da vida inteira, sem segurar nada para si mesmo. Abrimos nossas vidas e entregamos
a Ele nossos tesouros? Ele é o dono de nossa vida? Nossa vida é
um sacrifício pleno e completo ao Senhor?
Quem
crê segue por novos caminhos
"Sendo
por divina advertência prevenidos em sonho para não voltarem à
presença de Herodes, regressaram por outro caminho a sua terra"
(Mt 2.12). Quem crê coloca-se sob a direção de Deus
e não vive mais regido pelas "diretrizes" deste mundo. Quem
crê busca a direção de Deus e faz Sua vontade. Quem crê
segue por novas veredas e deixa os velhos caminhos que trilhou anteriormente.
Em Romanos 12.2 somos conclamados: "E não vos conformeis com
este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa
mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade
de Deus".
Se esses homens
que vieram do Oriente para buscar a Jesus não tivessem seguido as orientações
que Deus lhes dava, eles teriam voltado a encontrar Herodes e, ter-se-iam tornado
inconscientemente auxiliares do inimigo de Cristo. Quando andamos pelo caminho
deste mundo, estamos seguindo pelo caminho da inimizade para com Deus (veja
Fp 3.18). Mas o Salmo 119.1,3 diz: "Bem-aventurados os irrepreensíveis
no seu caminho... e andam nos seus caminhos". Na trilha da fé,
no caminho da odediência pela fé, seremos conduzidos por novos
rumos, passaremos por caminhos maravilhosos e abençoados e nos manteremos
sob a direção de Deus.
2. Perplexidade
"Tendo
ouvido isso, alarmou-se o rei Herodes, e, com ele, toda a Jerusalém"
(Mt 2.3). Herodes, o Grande, era um idumeu, designado pelo senado romano
para reinar sobre a Judéia. Ele descendia de Esaú e supõe-se
que se converteu ao judaísmo apenas por conveniência.
Ele multiplicou
o esplendor de Jerusalém como nenhum outro e era considerado extremamente
capaz em seu tempo. Suas edificações foram insuperáveis.
Ele reconstruiu o templo de Zorobabel, transformando-o em uma obra incomparável.
O templo herodiano era considerado uma das maravilhas da Antigüidade. Flávio
Josefo observou a respeito: "Quem ainda não viu o templo herodiano
nunca viu algo realmente belo." Herodes, portanto, fez muito em prol do
culto judeu.
Mas, por outro
lado, Herodes era um tirano cruel e ciumento, incorrigível e destemperado,
que via rivais em tudo e em todos. Praticamente não havia um dia sem
execuções. Ele matou dois de seus cunhados, sua própria
esposa Mariane, e dois de seus filhos. Cinco dias antes de morrer ele mandou
prender muitas pessoas e ordenou a execução delas para o dia de
sua morte, para ter certeza que o povo iria realmente ficar de luto naquele
dia. Ele era possuído pelo medo de perder o poder e erigiu para si grandiosas
construções, como monumentos em honra a si próprio.
Quando Herodes
ficou sabendo que o Rei dos judeus havia nascido, assustou-se, e, com ele, toda
a Jerusalém. Para ele era óbvio que precisava matar todos os bebês
nascidos em Belém.
Por
que Herodes ficou perplexo?
Só porque
temia perder o trono! Em Jesus ele via um rival. Quem não estiver disposto
a descer do trono de seu próprio coração, deixando Jesus
reinar sobre ele, viverá sempre com medo. Qualquer notícia sobre
a bênção na vida de outra pessoa causará perplexidade,
pois não é Jesus quem reina nesse coração, mas a
inveja e o ciúme. Uma pessoa invejosa sempre vê seu próximo
como seu concorrente.
Não
é assustador ver que um homem tão empenhado na reconstrução
de Jerusalém, um homem que chegou a construir um impressionante templo
para o culto judeu, não foi capaz de entregar e consagrar sua vida a
Deus?! Ele próprio não possuía conhecimento das Escrituras,
pois teve de mandar chamar os sacerdotes e escribas. Apesar das muitas obras
religiosas, seu coração continuou cheio de trevas. Quantos "cristãos"
trabalham no Reino de Deus, mas não chegam nunca até o próprio
Cristo!
Como
podemos examinar se é um "Herodes" ou Jesus Cristo que reina
em nosso coração?
Através
da pequena palavra secretamente. Em Mateus 2.7 lemos: "Com isto
Herodes, tendo chamado secretamente os magos..." Quem não
é sincero sempre agirá de maneira dissimulada e escondida. Uma
pessoa assim sempre está preocupada consigo mesma e envolvida com seus
próprios interesses. Ela não consegue ser franca, aberta e transparente.
Por perseguir sempre seus próprios alvos, não se exporá
à luz livremente. Os "cristãos" que agem secretamente
e de maneira dissimulada, manipulando as coisas em seu próprio favor,
representam um grande perigo para o Reino de Deus. Paulo diz em 2 Coríntios
4.2:
– "...rejeitamos
as coisas que, por vergonhosas, se ocultam, não andando com astúcia,
nem adulterando a palavra de Deus; antes, nos recomendamos à consciência
de todo homem, na presença de Deus, pela manifestação da
verdade."
– "Não
procuramos enganar o povo para que creia – não estamos interessados em
fazer trapaças com ninguém. Nunca procuramos fazer com que alguém
creia que a Bíblia ensina o que ela não ensina. Nós nos
abstemos de todos os métodos vergonhosos. Achamo-nos na presença
de Deus quando falamos, e por isso dizemos a verdade, como todos quantos nos
conhecem concordarão" (A Bíblia Viva).
As verdadeiras
intençãos de Herodes eram extremamente cruéis, pois ele
agiu como se estivesse ajudando os magos, indicando-lhes o caminho para Belém
e até dizendo que planejava ir até lá para adorar o menino
Jesus, mas na verdade ele estava planejando assassinatos: "Vendo-se
iludido pelos magos, enfureceu-se Herodes grandemente e mandou matar todos os
meninos de Belém e de todos os seus arredores, de dois anos para baixo,
conforme o tempo do qual com precisão se informara dos magos" (Mt
2.16).
Não
foi só Herodes que ficou perplexo, mas, com ele, toda a cidade de Jerusalém
"...alarmou-se
o rei Herodes, e, com ele, toda a Jerusalém." Em Israel esperava-se
pelo Messias. As pessoas poderiam ter se alegrado, mas ficaram alarmadas. Por
quê? Porque não desejavam mudanças e porque estavam satisfeitas
com as tradições. Mas elas também se alarmaram por temerem
um banho de sangue e pelo medo que tinham dos romanos. Parece que consideravam
os romanos mais poderosos que o próprio Deus. Eles sempre queriam a intervenção
de Deus em relação aos romanos, seus odiados inimigos – mas não
dessa maneira!
Hoje a situação
é semelhante. Vivemos em um cristianismo satisfeito consigo mesmo e cultuamos
tradições cristãs. Somos oprimidos pelo inimigo e desejamos
mudanças, mas não através do Nome de Jesus. Quando alguém
fala concretamente de Jesus, quando diz porque Ele veio, quem Ele é e
o que Ele quer, então muitos ficam perplexos e alarmados. Quem não
deseja mudar sua própria vida e está satisfeito com o que é
e o que tem, ficará inquieto quando o Espírito de Deus tocar em
seu coração para mudar certas coisas e para começar a fazer
algo novo em sua vida.
3.
Indiferença
"Então,
convocando todos os principais sacerdotes e escribas do povo, indagava deles
onde o Cristo deveria nascer. Em Belém da Judéia, responderam
eles, porque assim está escrito por intermédio do profeta: E tu,
Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor
entre as principais de Judá; porque de ti sairá o Guia que há
de apascentar a meu povo, Israel" (Mt 2.4-6).
Os escribas
detinham a incumbência de fazer cópias das Sagradas Escrituras
e de zelar fielmente por toda letra do Antigo Testamento. Eles eram responsáveis
pelo cumprimento exato das leis transmitidas oralmente. Para isso escreviam
comentários sobre o Antigo Testamento.
Eles eram versados
na Palavra de Deus mais que qualquer outra pessoa. Eles conheciam a Palavra
Profética e criam nela – mas não em seu cumprimento, pois não
tinham uma relação pessoal com ela. Mesmo lidando com a Palavra
em nível religioso, tradicional e profissional, seu cumprimento deixou-os
assustadoramente frios. Justamente a cúpula da religiosidade de Jerusalém
mostrou-se desinteressada pelo nascimento de Jesus, indicado por tantas profecias.
Conhecimento das Escrituras não significa automaticamente conhecimento
de Deus. Já no nascimento de Jesus ficou evidente que os escribas e fariseus
viviam uma vida aparentemente piedosa, mas na realidade estavam mortos espiritualmente.
Eles, que deveriam ter sido os primeiros a visitarem Jesus, nem se dirigiram
até Ele.
Aqui fica evidente
de uma maneira muito trágica que os escribas e principais sacerdotes
nunca tinham buscado ao Senhor Jesus. O mistério do Senhor manteve-se
oculto aos seus olhos, por não O temerem e por não O buscarem.
Não é assustador observar que os mais piedosos dos religiosos
mantiveram-se na mesma escuridão espiritual que encobria o ímpio
Herodes?
Com Jesus o
que importa não é saber muito, falar muito ou fazer muito. O que
importa é largar tudo e ir até Ele! "E, vendo eles a estrela,
alegraram-se com grande e intenso júbilo. Entrando na casa, viram o menino
com Maria, sua mãe. Prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros,
entregaram-lhe suas ofertas: ouro, incenso e mirra" (Mt 2.10-11).
Venha também
você a Jesus, adore-O e entregue-Lhe sua oferta (toda a sua vida, veja
Romanos 12.1), pois Ele fez tudo por você ao tornar-se homem e ao morrer
na cruz do Calvário!
(Norbert Lieth - http://www.chamada.com.br)
Publicado na revista Chamada da Meia-Noite, dezembro de 2000.
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