O arrependimento é
uma graça do Espírito de Deus por meio da qual um pecador é humilhado em
seu íntimo e transformado em seu exterior. A fim de proporcionar melhor
entendimento, saiba que o arrependimento é um remédio espiritual
formado de seis componentes especiais… Se um for deixado fora, o
arrependimento perde o seu poder.
Componente 1: Percepção
do pecado. A primeira parte do remédio de Cristo são olhos abertos (At
26.18). Este é um dos fatos importantes a observarmos no arrependimento
do filho pródigo: ele caiu em si (Lc 15.17). Ele se viu como pecador e
nada mais do que um pecador. Antes que um homem venha a Cristo, ele tem
primeiramente de vir a si mesmo. Em sua descrição de arrependimento,
Salomão considerou isto como o primeiro componente: “Caírem em si” (1 Rs
8.47). Uma pessoa deve, antes de tudo, reconhecer e considerar o que é o
seu pecado e conhecer a praga de seu coração, antes que seja
devidamente humilhado por ela. A primeira coisa que Deus criou foi a
luz. Portanto, a primeira coisa que deve haver em uma pessoa arrependida
é a iluminação. “Agora, sois luz no Senhor” (Ef 5.8). Os olhos são
feitos tanto para ver como para chorar. Antes de lamentarmos pelo
pecado, temos de vê-lo. Disso, podemos inferir que, onde não percepção
do pecado, não pode haver arrependimento. Muitos que acham falhas nos
outros não vêem nenhum erro em si mesmos… Pessoas são vendadas por
ignorância e amor próprio. Por isso, não vêem o que deforma a sua alma. O
Diabo faz com elas como o falcoeiro faz à sua ave: ele as cega e as
leva encapuzadas ao inferno.
Componente 2: Tristeza
pelo pecado. “Suporto tristeza por causa do meu pecado” (Sl 38.18).
Ambrósio chamava essa tristeza de amargura da alma. A palavra hebraica
que se traduz por ficar triste significa “ter a alma, por assim
dizer, crucificada”. Isso precisa estar presente no verdadeiro
arrependimento. “Olharão para aquele a quem traspassaram… e chorarão”
(Zc 12.10), como se sentissem os cravos da cruz penetrando o seu lado.
Uma mulher pode esperar ter um filho sem dores, assim como alguém pode
esperar arrepender-se sem tristeza. Aquele que crê sem duvidar, põe sob
suspeita a sua fé; aquele que se arrepende sem entristecer-se nos deixa
incertos de seu arrependimento… Esta tristeza pelo pecado não é
superficial; é uma agonia santa. Nas Escrituras, ela é chamada de
quebrantamento de coração: “Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito
quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus”
(Sl 51.17); um rasgamento do coração: “Rasgai o vosso coração” (Jl
2.13). As expressões bater no peito (Jr 31.19; Lc 18.13), cingir o
cilício (Is 22.12), arrancar os cabelos (Ed 9.3) – todas essas
expressões são apenas sinais exteriores de tristeza.
Essa tristeza implica (1) tornar a Cristo precioso.
Oh! quão precioso é o Salvador para uma alma atribulada! Agora, Cristo
é, de fato, Cristo; e a misericórdia é realmente misericórdia. Enquanto o
coração não estiver repleto de compunção, ele não estará pronto para o
arrependimento. Quão bem-vindo é um cirurgião para um homem que sangra
por suas feridas! (2) Implica repelir o pecado. O pecado gera tristeza, e a tristeza mata o pecado… A água salgada das lágrimas mata o verme da consciência. (3) Implica preparar-se para receber firme consolo.
“Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão” (Sl 126.5). O
penitente tem uma semeadura de lágrimas, mas uma colheita deliciosa. O
arrependimento rompe os abscessos do pecado, e, em seguida, a alma fica
tranqüila… O ato de Deus em afligir a alma por causa do pecado é como o
agitar da água que trazia cura, no tanque (Jo 5.4)
Contudo, nem toda tristeza evidencia o verdadeiro arrependimento… o que é esse entristecer piedoso? Há seis descrições:
1. A verdadeira tristeza espiritual é interior.
É interior em duas maneiras: (1) é uma tristeza de coração. A tristeza
dos hipócritas evidencia-se somente em sua face. “Desfiguram o rosto”
(Mt 6.16). Mostram um rosto melancólico, mas a tristeza deles não vai
além disso, como o orvalho que umedece a folha, mas não penetra a raiz. O
arrependimento de Acabe foi uma exibição exterior. Seus vestidos foram
rasgados, mas não o seu espírito (1 Rs 21.27). A tristeza segundo Deus
avança mais além; é como uma veia que sangra internamente. O coração
sangra por causa do pecado – “Compungiu-se-lhes o coração” (At 2.37).
Assim como o coração tem a parte principal no ato de pecar, o mesmo deve
acontecer no caso do entristecer-se. Paulo lamentava por causa da lei
em seus membros (Rm 7.23). Aquele que lamenta verdadeiramente o pecado
se entristece por conta das incitações do orgulho e da concupiscência.
Ele se entristece por causa da “raiz de amargura”, embora ela nunca
prospere até ao ponto de levá-lo a agir. Um homem ímpio pode sentir-se
atribulado por pecados escandalosos; um verdadeiro convertido lamenta os
pecados do coração.
2. A tristeza espiritual é sincera.
É a tristeza pela ofensa, e não pela punição. A lei de Deus foi
infringida, e seu amor, abusado. Isso leva a alma às lágrimas. Uma
pessoa pode ficar triste e não se arrepender. Um ladrão fica triste
quando é apanhado, mas não por causa do roubo, e sim porque tem de
sofrer a pena… A tristeza piedosa se expressa principalmente por causa
da transgressão contra Deus. Portanto, se não houvesse uma consciência a
ferir, uma diabo a acusar, um inferno para servir de castigo, a alma
ainda se sentiria triste por causa da ofensa praticada contra Deus… Oh!
que eu não ofenda o meu bom Deus, nem entristeça o meu Consolador! Isso
parte o meu coração!…
3. A tristeza espiritual Deus é repleta de confiança.
É mesclada com fé… A tristeza bíblica afundará o coração, se a roldana
da fé não o erguer. Assim como o nosso pecado está sempre diante de
Deus, assim também a promessa de Deus tem de estar sempre diante de nós…
4. A tristeza espiritual é uma grande tristeza.
“Naquele dia, será grande o pranto em Jerusalém, como o pranto de
Hadade-Rimom” (Zc 12.11). Dois sóis se puserem no dia em que Josias
morreu, e houve um enorme lamento fúnebre. A tristeza pelo pecado deve
chegar a esse nível.
5. A tristeza espiritual é, em alguns casos, acompanhada de restituição.
Aquele que, por injustiça, errou contra outrem, em seus bens, lidando
com fraude, deve em sã consciência realizar a compensação. Há um
mandamento claro quanto a isso: “Confessará o pecado que cometer; e,
pela culpa, fará plena restituição, e lhe acrescentará a sua quinta
parte, e dará tudo àquele contra quem se fez culpado” (Nm 5.7). Por
isso, Zaqueu fez restituição: “Se nalguma coisa tenho defraudado alguém,
restituo quatro vezes mais” (Lc 19.8).
6. A tristeza espiritual é permanente.
Não são algumas lágrimas derramadas ocasionalmente que servirão. Alguns
derramarão lágrimas ao ouvirem um sermão, mas isso é como uma chuva de
abril – logo acaba – ou como uma veia aberta e fechada novamente. A
verdadeira tristeza tem de ser habitual. Ó cristão, a doença de sua alma
é crônica, e a recaída, freqüente. Portanto, você tem de tratar-se com
remédio continuamente, por meio do arrependimento. Essa é a tristeza
“segundo Deus”.
Componente 3: Confissão
de pecado. A tristeza é um sentimento tão forte, que terá expressões.
Suas expressões são lágrimas nos olhos e confissão nos lábios. “Os da
linhagem de Israel… puseram-se em pé e fizeram confissão dos seus
pecados” (Ne 9.2). Gregório de Nazianzo chamou a confissão de “um
bálsamo para a alma ferida”.
A confissão é auto-acusadora. “Eu é que
pequei” (2 Sm 24.17)… E a verdade é que por meio desta auto-acusação
impedimos Satanás de acusar-nos. Em nossas confissões, nos identificamos
com orgulho, infidelidade e paixão. Assim, quando Satanás, chamado de
acusador dos irmãos, lançar essas coisas contra nós, Deus lhe replicará:
“Eles já acusaram a si mesmos. Então, Satanás, você está destituído de
motivos legítimos; suas acusações surgiram muito tarde…” Agora, ouça o
que diz o apóstolo Paulo: “Se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos
julgados” (1 Co 11.31).
Entretanto, homens ímpios, como Judas e
Saul, não confessaram seus pecados? Sim, mas as suas confissões não eram
verdadeiras. Para que a confissão de pecado seja correta e genuína,
estas… qualificações precisam estar presentes:
1. A confissão tem de ser espontânea.
Tem de surgir como a água que brota do manancial, livremente. A
confissão do ímpios é obtida à força, como a confissão de um homem sob
tortura. Quando uma faísca da ira de Deus atinge a consciência dos
ímpios ou estão sob o temor da morte, eles se prostrarão em confissão…
Mas a verdadeira confissão flui dos lábios tal como a mirra jorra da
árvore ou o mel da colméia, espontaneamente…
2. A confissão tem ocorrer com contrição.
O coração precisa ressentir profundamente o pecado. As confissões de um
homem natural procede de seu íntimo assim como uma água que passa por
um cano. Elas não o afetam de maneira alguma. Mas a confissão verdadeira
deixa impressões que pungem o coração. Ao confessar seus pecados, a
alma de Davi sentiu-se sobrecarregada: “Já se elevam acima de minha
cabeça as minhas iniquidades; como fardos pesados, excedem as minhas
forças” (Sl 38.4). Uma coisa é confessar o pecado, outra coisa é sentir o
pecado.
3. A confissão tem de ser sincera.
Nosso coração precisa estar em harmonia com a confissão. O hipócrita
confessa o pecado, mas o ama, assim como um ladrão que confessa os bens
roubados e continua a amar o roubo. Quantos confessam o orgulho e a
cobiça, com seus lábios, mas se deleitam neles ocultamente… Um
verdadeiro cristão é mais honesto. Seu coração anda em harmonia com usa
língua. Ele é convencido dos pecados que confessa e detesta os pecados
dos quais é convencido.
4. Na confissão verdadeira, o crente especifica o pecado.
O ímpio reconhece que é um pecador como todos os outros. Ele confessa o
pecado de maneira geral… Um verdadeiro convertido reconhece seus
pecados específicos. Ele se comporta à semelhança de uma pessoa enferma
que vai ao médico e lhe mostra as feridas, dizendo: “Levei um corte na
cabeça, recebi um tiro no braço”. O pecador entristecido confessa as
diversas imperfeições de sua alma… Por meio de uma inspeção diligente de
nosso coração, podemos achar alguns pecados específicos que tratamos
com indulgência. Confessemos com lágrimas esses pecados, indicando-os
pelo nome.
5. Um pessoa verdadeiramente arrependida confessa o pecado em sua fonte.
Ela reconhece a contaminação de sua natureza. O pecado de nossa
natureza não é somente uma falta do bem, mas também uma infusão do mal…
Nossa natureza é um abismo e uma fonte de todo mal, dos quais procedem
os escândalos que infestam o mundo. É essa depravação de natureza que
envenena nossas coisas santas. Isso traz os juízos de Deus e paralisa em
sua origem as nossas misericórdias. Oh! Confesse o pecado em sua
fonte!…
Componente 4: Vergonha
pelo pecado. O quarto componente no arrependimento é a vergonha. “Para
que… se envergonhe das suas iniquidades” (Ez 43.10). O envergonhar-se é a
força da virtude. Quando o coração se enegrece por causa do pecado, a
graça faz o rosto envergonhar-se com rubor – “Estou confuso e
envergonhado, para levantar a ti a face” (Ed 9.6). O filho pródigo,
arrependido, ficou tão envergonhado de seus excessos que se julgava
indigno de ser, outra vez, chamado filho (Lc 15.21). O arrependimento
causa um acanhamento santo. Se Cristo não estivesse no coração do
pecador, não haveria tanta vergonha se expressando no rosto. Há… algumas
considerações sobre o pecado que nos causa vergonha:
1. Todo pecado nos torna culpados, e a culpa nos deixa envergonhados.
2. Em todo pecado, há muita ingratidão. E
essa é a razão da vergonha. Abusar da bondade de Deus, como isso nos
envergonha!… Ingratidão é um pecado tão grave, que Deus mesmo se admira
dele (Is 1.2).
3. O pecado mostra o que somos, e isso
nos causa vergonha. O pecado nos rouba as vestes de santidade. E nos
deixa destituídos de pureza, deformados aos olhos de Deus; e isso nos
envergonha…
4. Nossos pecados expuseram Cristo à vergonha. E não nos envergonharemos deles? Vestimos a púrpura; não vestiremos o carmesim?
5. Aquilo que nos deixa envergonhados é o
fato de que os pecados que cometemos são piores do que os pecados dos
incrédulos. Agimos contra a luz que possuímos.
6. Nossos pecados são piores do que os
pecados dos demônios. Os anjos caídos nunca pecaram contra o sangue de
Cristo. Cristo não morreu por eles… Com certeza, se sobrepujamos o
pecado dos demônios, isso deve nos causar muita vergonha.
Componente 5: Ódio pelo
pecado. O quinto componente do arrependimento é o ódio pelo pecado. Os
eruditos distinguem dois tipos de ódio: o ódio das iniquidades e o ódio
da inimizade.
Primeiramente, há um ódio ou abominação das iniquidades.
“Tereis nojo de vós mesmos por causa das vossas iniquidades e das
vossas abominações” (Ez 36.31). Um cristão verdadeiramente arrependido é
alguém que detesta o pecado. Se uma pessoa detesta aquilo que faz seu
estômago adoecer, ela deve, com muito mais intensidade, detestar aquilo
que deixa enferma a sua consciência. É mais fácil abominar o pecado do
que deixá-lo… Não amamos a Cristo enquanto não odiamos o pecado. Nuca
anelamos o céu enquanto não detestamos o pecado.
Em segundo, há um ódio da inimizade.
Não há melhor maneira de descobrir vida do que por meio do movimento.
Os olhos se movem, o pulso bate. Portanto, para constatar o
arrependimento, não há sinal melhor do que uma antipatia santa para com o
pecado… O arrependimento correto começa no amor a Deus e termina no
ódio ao pecado.
Como podemos discernir o verdadeiro ódio para com o pecado?
1. Quando a pessoa se mantém resoluta contra o pecado.
A língua lamenta amargamente o pecado, e o coração o odeia, de modo
que, embora o pecado se apresente de forma atraente, nós o achamos
detestável e o abominados com ódio mortal, sem levarmos em conta a sua
aparência agradável… O diabo pode vestir e disfarçar o pecado com prazer
e proveito, mas um verdadeiro penitente, que tem ódio secreto pelo
pecado, sente repulsa e não se envolverá nele.
2. O verdadeiro ódio pelo pecado é abrangente.
Isso se aplica a dois aspectos: no que diz respeito às faculdades e ao
objeto. (a) O ódio pelo pecado é abrangente no que concerne às
faculdades da alma, ou seja, há um desgosto para com o pecado não
somente no juízo, mas também na vontade e nas afeições. Há alguns que
são convencidos de que o pecado é maligno e, em seu juízo, têm uma
aversão para com ele. Mas acham-no agradável e têm satisfação íntima
nele. Nesse caso, há um desprazer do pecado no juízo e um aceitação dele
nas afeições. No verdadeiro arrependimento, o ódio pelo pecado está
presente em todas as faculdades da alma; não somente no intelecto, mas,
principalmente, na vontade. “Não faço o que prefiro, e sim o que
detesto” (Rm 7.15). Paulo não era livre do pecado, mas a sua vontade se
posicionava contra o pecado. (b) O ódio pelo pecado é abrangente no que
concerne ao objeto. Aquele que odeia um pecado odeia todos… Os
hipócritas odeiam alguns pecados que mancham sua reputação, mas o
verdadeiro convertido odeia todos os pecados: os pecados que produzem
vantagem, os pecados resultantes de nossas inclinações naturais, as
próprias instigações da corrupção. Paulo odiava as obras do pecado (Rm
7.23).
3. O verdadeiro ódio pelo pecado se manifesta contra o pecado em todas as suas formas.
Um coração santo detesta o pecado por causa de sua contaminação
natural. O pecado deixa uma mancha na alma. Uma pessoa regenerada
aborrece o pecado não somente por causa da maldição, mas também por
causa do contágio. Ele odeia essa serpente não somente por causa de sua
picada, mas também por causa de seu veneno. Abomina o pecado não somente
por causa do inferno, mas como o próprio inferno.
4. O verdadeiro ódio pelo pecado é implacável.
O cristão genuíno nunca mais se conciliará com o pecado. A ira pode
experimentar conciliação, porém o ódio não pode experimentá-la…
5. Onde há verdadeiro ódio pelo pecado, nos opomos ao pecado em nós mesmos e nos outros.
A igreja de Éfeso não podia suportar aqueles que eram maus (Ap 2.2).
Paulo repreendeu arduamente Pedro por causa de sua dissimulação, embora
este fosse um apóstolo. Com insatisfação santa, Cristo expulsou os
cambistas do templo (Jo 2.15). Ele não tolerou que o templo sofresse uma
mudança. Neemias repreendeu os nobres por sua usura (Ne 5.7) e pela
profanação do sábado (Ne 13.17). Aquele que odeia o pecado não suportará
a iniqüidade em sua família – “Não há de ficar em minha casa o que usa
de fraude” (Sl 101.7). Que vergonha se manifesta quando os magistrados
mostram força de espírito em suas paixões e nenhum heroísmo em suprimir o
erro! Aqueles que não tem qualquer antipatia para com o pecado não
conhecem o arrependimento. O pecado está neles como o veneno está em uma
serpente e, por ser natural, lhe proporciona deleite.
Quão distantes estão do arrependimento
aqueles que, ao invés de odiarem o pecado, amam-no! Para os santos, o
pecado é um espinho nos olhos; para os ímpios, é uma coroa na cabeça –
“Que direito tem na minha casa a minha amada, ela que cometeu vilezas?
Acaso, ó amada, votos e carnes sacrificadas poderão afastar de ti o mal?
Então, saltarias de prazer” (Jr 11.15). Amar o pecado é pior do que
praticá-lo. Um homem bom pode precipitar-se cair em uma atitude
pecaminosa, mas amar o pecado é desesperador. O que faz um porco amar o
revolver-se na lama? O que faz um demônio amar aquilo que se opõe a
Deus? Amar o pecado mostra que a vontade está no pecado; e, quanto mais a
vontade estiver no pecado, tanto maior ele será. A obstinação faz com
que não haja mais purificação para o pecado (Hb 10.26). Oh! quantos
existem que amam o fruto proibido! Amam as imprecações e os adultérios.
Amam o pecado e odeiam a repreensão… Portanto, quando os homens amam o
pecado, apegam-se àquilo que será a sua morte e brincam com a
condenação, isso indica que “o coração dos homens está cheio de maldade”
(Ec 9.3). Isso nos persuade a mostrar nosso arrependimento por meio de
um ódio amargo para com o pecado…
Componente 6:
Converter-se do pecado. O sexto componente no arrependimento é
converter-se do pecado… Esse converter-se é chamado de abandonar o
pecado (Is 55.7), tal como um homem que abandona a companhia de um
ladrão ou de um feiticeiro. É chamado de lançar para longe o pecado (Jó
11.14), como Paulo lançou de si aquela víbora, atirando-a ao fogo (At
28.5). Morrer para o pecado é a vida do arrependimento. No
mesmo dia em que o crente se converte do pecado, deve se regozijar com
um gozo eterno. Os olhos devem fugir de vislumbres impuros. O ouvido tem
de fugir dos escárnios. A língua, do praguejamento. As mãos, dos
subornos. Os pés, dos caminho das meretrizes. E alma, do amor à
impiedade.
Esse converter-se do pecado implica uma
mudança notável. Converter-se do pecado é tão visível, que os outros
podem percebê-lo. Por isso, é chamado de uma mudança das trevas para a
luz (Ef 5.8). Paulo, depois de ter recebido a visão celestial, ficou tão
diferente, que todos se admiraram da mudança (At 9.12). O
arrependimento transformou o carcereiro em um enfermeiro e médico (At
16.33). Ele cuidou dos apóstolos, lavou-lhes as feridas e serviu-lhes
comida. Um navio se dirige ao leste; e o vento muda seu rumo para o
oeste. De modo semelhante, um homem se encaminhava para o inferno, mas o
vento contrário do Espírito soprou, mudou o seu rumo e o fez andar em
direção ao céu… Essa mudança visível que o arrependimento produz em uma
pessoa é como se outra alma se abrigasse no mesmo corpo.
Para identificar corretamente o converter-se do pecado, essas poucas coisas são necessárias:
1. Tem de haver um volver-se sinceramente do pecado. O coração é o primum vivens,
a primeira coisa que vive. E tem de ser o primum vertens, a primeira
coisa que se volve. O coração é aquilo por que o Diabo se empenha
arduamente… No cristianismo, o coração é tudo. Se o coração não é
convertido do pecado, ele não passa de uma mentira… Deus quer todo o
coração convertido do pecado. O verdadeiro arrependimento não pode ter
reservas nem outros ocupantes.
2. Tem de haver um volver-se de todo pecado.
“Deixe o perverso o seu caminho” (Is 55.7). Uma pessoa verdadeiramente
arrependida abandona o caminho do pecado. Ela deixa todo pecado… Aquele
que esconde um subversivo em sua casa é um traidor da nação. E aquele
que satisfaz um pecado é um hipócrita traiçoeiro.
3. Tem de haver um volver-se do pecado por motivos espirituais.
Um homem pode restringir seus atos de pecados e não converter-se do
pecado da maneira correta. Atos de pecados podem ser restringidos por
temor ou desígnio, mas uma pessoa verdadeiramente arrependida deixa o
pecado com base em um princípio espiritual, ou seja, o amor de Deus…
Três homens perguntaram um ao outro o que os fizera abandonar o pecado.
Um disse: “Acho que são as alegrias do céu”. Outro respondeu: “Acho que
são os tormentos do inferno”. Mas o terceiro disse: “Acho que é o amor
de Deus; e isso ainda me faz abandonar o pecado. Como eu ofenderia o
amor de Deus?”
Extraído de The Doctrine of Repentance, reimpresso por The Banner of Truth Trust.
Fonte: Sítio da Editora Fiel
VIA: http://www.monergismo.com/thomas-watson/seis-componentes-do-arrependimento/
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