Por Mike Riccardi
Quando
os cristãos pensam e falam sobre apologética – sobre defender a fé
cristã contra os ataques dos que não creem – pode ser que às vezes a
própria Escritura seja uma das últimas coisas que passam por suas
mentes. Quando empenhados em defender a fé, muitos de nós pensam
imediatamente em arqueologia, argumentos filosóficos, provas científicas
e contra-argumentos, canonicidade e crítica textual, e em refutações
para os clássicos argumentos ateístas. Embora todas essas coisas tenham
seu lugar em um defensor da fé coerente e bem preparado, é triste que as
Escrituras sejam um dos últimos lugares que pensamos para informar
nossa metodologia apologética. Mas, de fato existem muitas passagens na
Bíblia que nos ensinam muito a respeito da defesa da fé e da
argumentação com os incrédulos. Eu gostaria de explorar algumas dessas
lições hoje.
Uma epistemologia dependente de Deus
Uma das
tarefas da apologética é determinar um terreno adequado para acreditar
em algo. Essa disciplina é chamada epistemologia – o estudo de como
sabemos o que sabemos. Provérbios 1.7 nos informa de forma simples que o
temor do Senhor é o princípio da sabedoria. Nessa pequena afirmação,
Deus nos declara que o único alicerce seguro para saber qualquer coisa
propriamente é temer e adorar a Ele. Rejeitar a existência de Deus – ou
mesmo aceitar a existência de Deus e falhar em adorá-lo como Ele requer –
impede qualquer um de saber qualquer coisa sadia. É por isso que os
Salmos repetem que é tolo o que disse, “Não há Deus” (Sl. 14.1; 53.1).
Uma antropologia bíblica
De fato,
a Bíblia nos diz que Deus claramente se fez conhecido no mundo, então
não há desculpa para rejeitar sua existência. Romanos 1.20 diz: “Porque
as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno
poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas
coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis.” Além
disso, todas as pessoas são criadas à imagem de Deus (Gn 1.26-27) e com a
lei de Deus escrita em seus corações, de forma que sua própria
consciência naturalmente os informa de sua rejeição a Ele (Rm 2.14-15)
Esses textos nos falam que o problema primário do incrédulo é ético, não
intelectual. O problema com a mente do incrédulo não é que lhe falta a
informação certa ou evidências o suficiente. Em vez disso, o incrédulo
sabe a verdade, mas ativamente suprime a verdade em injustiça (Rom 1.18)
porque ele ama o seu pecado (João 3.20). Toda evidencia a qual ele é
apresentado será filtrada por uma visão pecaminosa, porque, como Paulo
disse em 2 Coríntios 4.4, a mente deles foi cegada para a glória. Você
pode apresentar evidências para um homem cego todo dia, mas ao menos que
sua cegueira seja curada, ele nunca será capaz de avaliar aquilo
corretamente.
Implicações da depravação para a apologética
Isso
leva o cristão a pelo menos três conclusões. Primeira, nosso método
apologético é inextricavelmente ligado à pregação do evangelho. O
Espírito Santo deve abrir os olhos cegos antes que a evidência possa ser
interpretada corretamente (2 Coríntios 4.6; cf. 1 Coríntios 2.14).
Segunda, não existe tal coisa como pensamento neutro e em nossa
apologética não devemos nunca tratar um incrédulo como se ele
raciocinasse autonomamente. Todos têm pressuposições. Nós devemos ter em
mente as pressuposições do incrédulo quando o enfrentamos, e nós não
devemos render as nossas – pois elas são as pressuposições das
Escrituras, que são, por assim dizer, as pressuposições da realidade.
Finalmente, como nosso pensamento é tão infectado de pecado, o único
fundamento próprio para o conhecimento é a Revelação de Deus. As
Escrituras devem ser fundamentais nos nossos encontros apologéticos.
1 Pedro 3.15
Um texto
com boas implicações para apologética é 1 Pedro 3.15. Pedro esperava
que a resistência dos cristãos diante de uma grande perseguição iria
fazer com que os “de fora” perguntassem a eles o porquê deles serem tão
esperançosos no meio de tanto sofrimento. Ele diz a ele, “Santificai ao
Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder
com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que
há em vós.” Isso nos ensina muitas coisas. Primeiro, cristãos devem
sempre estar preparados para defender sua fé. Isso significa que nós
devemos fazer toda preparação necessária para estarmos equipados a este
respeito. Segundo, isso presume que deve ser feita uma defesa contra os
ataques da fé. Uma função maior da apologética é responder mal
entendidos e interpretações errôneas do Cristianismo. Terceiro, nos
ensina sobre nossa atitude. Muitos dos cristãos enfrentam a apologética
com o espirito combativo e controverso. Ao invés disso, o cristão
apologista deve defender a fé com mansidão e temor.
Defensiva e ofensiva
A
apologética não está apenas preocupada em defender a fé de ataques
exteriores, mas também refutar as reivindicações do sistema não-cristão.
Paulo usa linguagem gráfica para tornar esse ponto claro: “Destruindo
os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de
Deus, e levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo.” (2 Co
10.5). Então, nossa tarefa não é apenas mostrar que o Cristianismo é
sensato, mas demonstrar que outras visões de mundo são insensatas. De
acordo com as Escrituras, apologética é tanto defensiva quanto ofensiva –
tanto negativa quanto positiva.
A necessidade de sabedoria
Além
disso, Provérbios 26.4-5 nos ensina que a sabedoria é requerida na
apologética. Existem certas ocasiões nas quais nós não devemos responder
um tolo de acordo com sua tolice, para não ser como ele. Ainda terão
outros momentos nos quais de fato nós devemos responder um tolo de
acordo com sua tolice, para ele não ser sábio aos seus próprios olhos.
Nós devemos orar por sabedoria para sabermos quando um ou outro é mais
apropriado a cada situação (cf.Tiago 1.5).
Exemplos bíblicos
As
Escrituras também nos dão alguns exemplos observáveis da apologética
cristã. Nos versos de abertura de seu Evangelho, Lucas torna o propósito
de sua escrita conhecido: ele queria que Teófilo soubesse a exata
verdade sobre as coisas que ele foi ensinado a respeito de Jesus Cristo
(1.4). Para Lucas, isso poderia ser conseguido através de uma cuidadosa
observação de “tudo” (1.3) – inclusive testemunhas presentes (1.2) – e
apresentado em “ordem consecutiva”. Lucas estava “arrumando sua
bagagem”, por assim dizer, sobre a realidade e veracidade da doutrina de
Cristo.
Na
interação de Jesus com os fariseus, em Mateus 12, nós O vemos
contradizendo a reivindicação que não corresponde com a realidade
(12.24) por argumentos fundamentados. Ele reduz o argumento deles ao
absurdo (12.25-26), os mostra inconsistentes (12.27) e os oferece seus
milagres como prova de que Ele é o Rei (12.28). Cada um desses
componentes fornece uma visão dentro de uma metodologia apologética
bíblica.
Em Atos
17, podemos aprender do Apostolo Paulo com sua pregação de Cristo aos
filósofos em Atenas. Nós devemos entender que ele argumentou
especificamente o contrário das pressuposições de seus ouvintes (At
17.24-26,31), sem fazer nenhuma tentativa de achar algum ponto inicial
de concordância e, em seguida, buscar um método neutro de argumentação.
Quando ele discutia com os judeus que, pelo menos na teoria, aceitavam a
autoridade da Escritura, ele começa com a Escritura como evidência do
senhorio de Jesus. Ainda com pagãos que não tinham acesso a Bíblia
hebraica, ele argumentava a partir da criação e os desafiava a
abandonarem sua idolatria. Em ambos os casos, seu quadro epistemológico
não mudou, já que o evangelho que ele pregava era “de acordo com as
Escrituras” (1 Co 15.3-4). Seu trabalho era pregar a verdade, dar razões
para o seu ponto de vista, apresentar o evangelho de Cristo e exigir o
arrependimento (At 17.30).
Você
consegue pensar em algum outro texto bíblico que informa a maneira de
defender a fé de uma vez por todas entregue a todos os santos?
Traduzido por Ju Néris | iPródigo.com | Original aqui
http://bereianos.blogspot.com.br/2013/03/licoes-da-escritura-para-apologetica.html#.UTqOkTdqnvL
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