Desde o tempo do Iluminismo, a ética religiosamente baseada teve uma má
reputação entre muitos intelectuais do ocidente. Sigmund Freud poderia
ser tomado como um porta-voz de muitos estudiosos e educadores na forma
como ele via a ética judaico-cristã como irracional, produtora de culpa,
e falsamente restritiva da liberdade natural. Juntamente com muitos
outros, Freud queria uma abordagem mais racional” da ética. E se essa
rejeição da ética religiosamente baseada tivesse tido um ponto central
de conflito, poderia facilmente ser em rejeitar a ética judaico-cristã
com respeito ao casamento e sexo, uma rejeição que veio à proeminência
cultural com a “revolução sexual” de uma geração passada. É
provavelmente menos comum que intelectuais seculares tenham
explicitamente rejeitado padrões morais judaico-cristãos a respeito de
assassinato, roubo ou mentira.
Mas agora essa rejeição da ética religiosamente baseada está sendo
questionada a partir de uma direção que pode ser surpreendente para
alguns: a pesquisa empírica nas ciências sociais. Vários estudos
empíricos recentes em psicologia e sociologia têm mostrado que as
pessoas geralmente experimentam um nível bem mais alto de bem-estar e
felicidade se permanecem casados por toda a vida e mantêm relações
sexuais dentro do casamento. Não há mais nenhuma razão para ver as
regras tradicionais religiosas contra o divórcio e o sexo fora do
casamento como imposições irracionais de um Deus arbitrário ou
inexistente.
I. A Visão Tradicional
Antes de olharmos para o trabalho dos cientistas sociais, seria bom revisar com maior precisão o que era realmente alegado por pensadores da moral judaico-cristã. A alegação não era somente que regras morais procedem de Deus. Era também que regras morais apropriadas tendem a contribuir para o bem do homem, pois estas regras estão arraigadas em ou correspondem à natureza e relacionamentos humanos. Isso era verdade, quer alguém estivesse falando sobre a ética do sexo, de dizer a verdade, de proteger a vida e a propriedade, ou qualquer outra coisa. Pelo menos desde o tempo de Kant, a filosofia tem geralmente separado as questões de dever (éticas deontológicas) das questões que contribuem para o bem humano (éticas teleológicas ou utilitárias). E esta tendência filosófica é freqüentemente vista em discussões populares que separam os deveres religiosos da felicidade humana.
Mas na tradição bíblica não há uma separação entre consideração de
deveres e consideração do que contribui para o bem-estar humano. Na
própria Bíblia parece não haver tensões entre dizer que alguém deve
seguir certa regra moral porque ela procede de Deus, e dizer que alguém
deve seguir essa regra moral porque a mesma contribui para o bem humano.
Por um lado, após ter recebido os Dez Mandamentos de Deus e dado ao
povo, Moisés pôde usar a linguagem de dever para com Deus para explicar a
importância de guardar as regras. “Deus veio para vos provar, e para
que o seu temor esteja diante de vós, afim de que não pequeis” (Êxodo
20:20). Por outro lado, Moisés pôde usar também a linguagem moral que
soa teológica, que conecta regras morais com o bem humano, quando
explicou o porquê as pessoas deveriam seguir as regras morais. “Andareis
em todo o caminho que vos manda o SENHOR vosso Deus, para que vivais e
bem vos suceda, e prolongueis os dias na terra que haveis de possuir”
(Deuteronômio 5:33). A separação moderna entre dever moral e
considerações do bem humano está simplesmente ausente na perspectiva
bíblica. Os dois estão perfeitamente unidos porque Deus é visto como a
fonte de ambos.
Um pensador cristão que compreendeu isso especialmente bem foi o teólogo
de Princeton Charles Hodge. Ele viu uma unidade completa das regras
morais ordenadas por Deus e os princípios que servem para o bem humano,
pois “há uma revelação imperfeita da lei [de Deus] na própria
constituição da nossa natureza.” E muitas das leis de Deus mencionadas
na Bíblia “são encontradas nas relações permanentes dos homens no
presente estado de existência deles.” Muitas leis bíblicas “estão
fundamentadas sobre a natureza das coisas; isto é, sobre a constituição a
qual pareceu bem Deus ordenar.” Com isso em mente podemos retornar para
as ciências sociais.
Um cientista social que é altamente estimado pela sua habilidade de
sintetizar os resultados de experimentos em ciência social por centenas
de pesquisadores ao redor do mundo é David G. Myers. Seus livros-texto
sobre introdução à psicologia e psicologia social são muito amplamente
usados por universidades em países de língua inglesa. Em seus diversos
livros ele parece ter grande prazer em usar os resultados de pesquisas
empíricas para destruir os mitos que todos supostamente “conhecem”. Uma
pessoa deveria ler Myers somente se estiver disposto a ter o seu
pensamento desafiado pela ciência real. Neste estudo usaremos a
compilação que Myers fez dos resultados de pesquisas nas ciências
sociais.
II. Coabitação
Apesar de parecer muito comum as pessoas dizerem que um casal deve
coabitar (viver junto sem casar) para ver se eles são compatíveis, na
prática real, a co-habitação geralmente não traz bons resultados. De
fato, há diversos resultados ruins que tendem a vir.
Diversos estudos amplos, tanto na Europa como na América do Norte,
descobriram que casais que coabitam têm um índice de divórcio bem maior
do que aquele encontrado entre os que não viveram juntos antes do
casamento. Nos estudos diferentes em vários países, o crescimento do
número de divórcios entre aqueles que coabitavam é de 35% a 80% mais
alto. Ao invés de aumentar a felicidade e a estabilidade matrimonial
ajudando a pessoa a encontrar o parceiro ideal, a coabitação promove
fortemente o divórcio (p. 29).
Em adição, coabitações tendem a ser bem mais violentas do que casamentos. Vários estudos mostram que as mulheres são espancadas pelos seus parceiros com maior freqüência do que esposas pelos seus maridos. Estudos mostram que há de 80% a 400% mais violência em relacionamentos de coabitação do que em relacionamentos matrimoniais. Um estudo descobriu que mulheres que têm relacionamentos de coabitação têm oito vezes mais chance de serem assassinadas pelos seus parceiros do que esposas pelos seus maridos (pp. 31, 32). Contrastes adicionais são que parceiros que coabitam geralmente relatam um nível mais baixo de satisfação sexual do que casados. E elas são geralmente menos felizes e mais propensas a ter depressão do que pessoas casadas. Embora esteja bem estabelecido pela ciência que um casamento feliz é o melhor indicador de que uma pessoa será feliz com a vida como um todo, aqueles que vivem juntos são apenas um pouco mais felizes do que os solteiros (pp. 41, 42).
Em adição, coabitações tendem a ser bem mais violentas do que casamentos. Vários estudos mostram que as mulheres são espancadas pelos seus parceiros com maior freqüência do que esposas pelos seus maridos. Estudos mostram que há de 80% a 400% mais violência em relacionamentos de coabitação do que em relacionamentos matrimoniais. Um estudo descobriu que mulheres que têm relacionamentos de coabitação têm oito vezes mais chance de serem assassinadas pelos seus parceiros do que esposas pelos seus maridos (pp. 31, 32). Contrastes adicionais são que parceiros que coabitam geralmente relatam um nível mais baixo de satisfação sexual do que casados. E elas são geralmente menos felizes e mais propensas a ter depressão do que pessoas casadas. Embora esteja bem estabelecido pela ciência que um casamento feliz é o melhor indicador de que uma pessoa será feliz com a vida como um todo, aqueles que vivem juntos são apenas um pouco mais felizes do que os solteiros (pp. 41, 42).
III. Divórcio e Mães Solteiras
Provavelmente estamos todos cientes do alto índice de divórcios na maior
parte da Europa e América do Norte. Com algumas diferenças regionais e
nacionais, parece que aproximadamente metade dos nossos casamentos
termina em divórcios. Ao mesmo tempo, inúmeras mulheres estão sendo mães
sem nunca terem casado com o homem que é o pai dos seus filhos, fazendo
surgiu a nova expressão: “pais que batem e correm”. Isso tem impelido
os cientistas sociais a investigarem o divórcio e a maternidade
solteira. O retrato não é bonito.
Os estudos confirmam o que muitos suspeitavam. O divórcio faz com que as
pessoas se sintam solitárias, depressivas e rejeitadas, freqüentemente
por muitos anos. O que não é bem conhecido é que o divórcio prejudica
também a saúde física, quase tanto quanto fumar uma carteira de cigarros
por dia. O aumento do índice de mortes mostra que pessoas divorciadas
tendem a viver alguns anos menos do que seus vizinhos ainda casados (p.
43). Divórcios também tendem fortemente a levar pessoas à pobreza,
especialmente se há crianças envolvidas. Dois lares custam mais que um.
Por causa da redução da felicidade, a motivação por trabalho e ganhos
financeiros pode diminuir. E relativamente poucos homens, na verdade,
pagam boa pensão alimentícia ou suporte para os filhos. A ausência dos
pais biológicos parece ser um fato predominante na pobreza entre as
crianças, pelo menos nos Estados Unidos, mas provavelmente em outros
países também (p. 75).
Muitos dos efeitos do divórcio e maternidade independente são sentidos
pelas crianças envolvidas. Simplificando: a ausência dos pais cria
vários problemas para as crianças, não importa se a ausência é causada
por divórcio ou por falta de casamento. Filhos de pais solteiros têm um
índice muito maior de abuso ou negligência por parte de um dos pais (p.
63). Crianças que vivem com sua mãe biológica e padrasto, ou namorado da
mãe, também correm riscos especiais: altos índices de abuso, índices
muito mais altos de assassinato, e um tabu mais fraco de incesto com os
resultados previsíveis.
Alguns cientistas sociais falam de um “número mágico” de 70% (setenta),
pois 70% daqueles com as principais doenças sociais cresceram num lar
sem pais: 70% dos presidiários, 70% dos adolescentes assassinos, 70% dos
adolescentes que fogem de casa, e 70% dos delinqüentes. Alguns
cientistas começaram a falar de uma “invasão de bárbaros” como uma forma
de se referir a garotos que crescem sem o pai e, portanto, sem a
expectativa de assumir uma posição de marido e provedor de um lar (p.
76, 77). Crianças de famílias de pais solteiros e famílias com padrasto
ou madrasta são duas a três vezes mais propensas a necessitar de ajuda
psicológica. E são muito mais propensos a se envolverem em sexo sem
proteção, fumar cigarros, e fazer uso de álcool e drogas. Enquanto
apenas aproximadamente 12% das crianças que vivem com os dois pais
biológicos têm problemas sérios na escola, isso salta para 22% se a
criança vive com uma mãe divorciada, e para 30% se a mãe nunca casou (p.
83).
IV. Conclusões Científicas
Sobre as bases da sua exaustiva revisão da pesquisa da ciência social,
Myers afirma o que ele chama de “ideal transcultural: crianças prosperam
melhor quando criadas por dois pais que são permanentemente
comprometidos um com o outro e com o bem-estar dos seus filhos” (p. 87).
E ele aponta que 70% dos divórcios vêm no fim de casamentos com baixo
nível de conflitos, casamentos nos quais o nível de conflito não causa
danos sérios às crianças (p. 89, 90). Alguém poderia adicionar que em
tais casamentos de conflitos pequenos, o divórcio não parece ser de
forma alguma sábio, dado os desgastes humanos, e tais casamentos
poderiam prontamente ser reconciliados se existir o desejo de assim
fazê-lo.
Algum movimento em direção a esse “ideal transcultural” é possível.
Passos práticos e úteis podem ser tomados. “Comprometimento
matrimonial, mostram estudos, é sustentado não somente por atração, mas
também por uma convicção moral da importância do casamento e por temor
dos custos sociais e financeiros de uma quebra de relacionamento” (p.
47). Essa convicção moral e temor dos custos da quebra matrimonial
podem ser elevados nos jovens por uma nova geração de livros-texto para
escolas e universidades, livros que possam identificar esses fatos
científicos mais claramente que aqueles do passado, enquanto também
sendo orientados para o bem humano. Atitudes e ações podem ser
significantemente mudadas por leis e regulamentos a respeito de
casamento e divórcio, e talvez até mesmo por regras financeiras e de
impostos. Aulas bem definidas de preparação para casamento podem ser
extremamente eficazes em dar aos casais a idéia, motivação, e
habilidades práticas necessárias para fazer com que um casamento
realmente dê certo. As ciências sociais nos dizem que casamentos que
duram até o fim da vida (e a rejeição de sexo fora do casamento) é um
fator muito grande na felicidade de indivíduos e para o bem da sociedade
como um todo. A ciência pode também nos dizer que existem algumas
coisas que podemos fazer para chegarmos mais perto desse ideal.
V. Conclusões Filosóficas
Sobre a base da ciência real, alguém pode afirmar agora a regra moral
judaico-cristã, “não adulterarás”, como era tradicionalmente
interpretada: você não pode acabar um casamento ou noivado com sexo fora
do casamento. Mesmo um ateu pode afirmar que essa regra tem sido
cientificamente mostrada como sendo crucial para o bem-estar humano. A
rejeição dessa regra é agora não somente anti-religiosa, mas também
anticientífica. Historicamente, os cristãos têm afirmado que essa regra
foi encravada por Deus tanto na natureza e relacionamentos humanos, como
também proclamada por Ele na consciência e nos Dez Mandamentos. A
ciência pode não ser capaz de provar que essa regra vem de Deus, mas
hoje o salto da ciência para a fé é bem menor do que pensávamos no
passado.
http://www.estudosgospel.com.br/estudos/familia/a-etica-no-casamento.html
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