Em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. (Colossenses 2:3)

Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por essas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.(Efésios5:6)
Digo isso a vocês para que não deixem que ninguém os engane com argumentos falsos. (Colossenses 2:4)

19 de abril de 2020

O povo evangélico precisa se libertar dos fariseus que se dizem seus líderes






O Brasil está diante de uma tragédia. Quando acontecer, injustamente, vão dizer que a culpa foi dos evangélicos


O mundo está diante de uma tragédia, que será lembrada por muito tempo: milhões vão morrer, vítimas de uma pandemia. É provável que essa tragédia se abata com força sobre o Brasil, a julgar pela falta de testes sendo feitos, pelas curvas empinadas de contágio e pela dificuldade de coordenar esforços num país dividido.

E é quase certo que seja uma tragédia ainda maior - se é que é possível comparar tragédias - para o povo evangélico. Primeiro porque são evangélicas as comunidades mais desassistidas do país, aquelas onde é menos provável encontrar um respirador.

Mas também porque, infelizmente, um grupo de políticos que se dizem representantes dos evangélicos resolveu usar a saúde pública para ganhar poder político. E saiu conclamando o povo a não interromper os cultos nem o trabalho.

Por tudo que sabemos sobre essa doença, é previsível que essa atitude tenha consequências funestas. A história da Igreja Schincheonji, na Coreia do Sul, é tristemente exemplar: recusou-se a colaborar com o trabalho de contenção dos epidemiologistas, acabou contribuindo para cerca de 60% das transmissões do vírus em todo o país.

Agora os fiéis dessa igreja estão sofrendo a ira da nação, que se aproveita dessa história para externar o preconceito que já tinham contra esses fiéis cristão.

Existe também preconceito contra o povo evangélico no Brasil, e não é pouco. Sei bem que existe. Inclusive, confesso que já senti. Já acreditei na caricatura: a de que os evangélicos são todos fanáticos, intolerantes, ignorantes.

A vida me ensinou que eu estava sendo injusto. Meu trabalho de jornalista e meu hobby de ciclista me fizeram andar por todo canto deste país.

Em todos os lugares, vi igrejas evangélicas: inclusive nos cantos mais miseráveis das piores favelas, nos menores vilarejos sem estrada à beira dos rios amazônicos, até naqueles grupinhos de duas ou três casas, entre uma fazenda e outra nas profundezas do Brasil rural. Sempre abertas, sempre referências nas comunidades, as igrejas evangélicas atendem este país inteiro.

Aos poucos fui entendendo o papel fundamental que elas cumprem num país que abandonou à própria sorte um pedaço grande da população. Mesmo onde não tem uma escola digna do nome, onde não tem uma quadra, um playground, um posto de saúde decente, um centro cultural, tem uma igreja, geralmente neopentecostal, servindo as pessoas.

Algumas das melhores pessoas que conheci nesta vida são evangélicas. Entre elas, muitas mulheres, negras. Não por acaso. Esse é o perfil da maioria da população evangélica: mulheres são 58%, pardos e pretos e indígenas são 61%.

A base da igreja evangélica é feminina neste país violento, de pais ausentes. É jovem também: evangélicos são na média mais jovens que católicos. E essas pessoas muitas vezes são pilares de suas comunidades - o contraponto ao poder do tráfico, a alternativa à cachaça no bar. A possibilidade de uma vida comunitária, ordeira.

Não são esses pilares de comunidade que estão colocando a vida de todos em risco e botando a perder os esforços dos trabalhadores de saúde no Brasil. Essas pessoas se importam com os outros e não estão fazendo bobagem.

Quem faz bobagem, como de hábito, são homens, evangélicos ou não, mas que adotam um tom como se falassem em nome de todos os evangélicos - e são tratados assim pela mídia. Embora muitos nem evangélicos sejam, ganham poder dizendo que representam esse grupo - quem não quer representar essa contingente enorme de eleitores, 30% da população, prestes a ultrapassar os católicos, a igreja evangélica que mais cresce no mundo?

Já dá para ver o que vai acontecer. As curvas exponenciais de progressão da pandemia vão se entortar para cima até ficarem quase verticais. Isso vai acontecer no final deste mês. Muita gente vai morrer, o que vai ser traumático para todos nós.

E aí, como costuma acontecer, vão dizer que a culpa foi dos evangélicos. Igual aconteceu na Coreia. E vai ser tão injusto, porque a culpa, na verdade, é de uma dúzia de políticos picaretas e de pastores bandidos que têm a cara de pau de dizer que representam os evangélicos.

Não representam. E é por isso que é tão importante que o povo evangélico agora denuncie esses fariseus e liberte-se deles. Até para poder velar seus mortos em paz.


https://epoca.globo.com/denis-r-burgierman/coluna-o-povo-evangelico-precisa-se-libertar-dos-fariseus-que-se-dizem-seus-lideres-24364817?
 
https://epoca.globo.com/denis-r-burgierman/
 
 

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