Nesse estudo bíblico numismático apresentamos as moedas no velho testamento bem como as moedas do tempo de Jesus Cristo. Esclarecemos a relação da moeda nesses tempos bíblicos e abordaremos ainda as unidades de medida de valores dos primeiros livros do Pentateuco, que os patriarcas tiveram contato, bem como as que Jesus teve contato e que usou em suas parábolas.
É um artigo muito profundo, cheio de significados e carga histórica, recomendado para quem quer se aprofundar no mundo da numismática bíblica.
São apresentadas referências bíblicas e opiniões do autor sempre com ênfase numismática.
Se seu interesse é o estudo numismático ou o entendimento bíblico, este artigo irá guiá-lo em uma viagem super interessante pelo tempo, a mais de 2 anos atrás.
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As moedas do antigo testamento
Nos
livros mais antigos da Bíblia, nenhuma moeda é mencionada. Então, como
as transações comerciais eram pagas? Com artigos ou elementos diversos,
principalmente de ouro e prata, que eram calculados de acordo com seu
peso.
O primeiro personagem bíblico que é mencionado fazendo uma
compra e pagar por ela foi Abraão, no dia em que sua esposa Sara
faleceu. De acordo com Gênesis 23:14-16, Abraão comprou uma parcela de
terra para enterrá-la e pagou pela terra à Efrom, o heteu, 400 siclos de prata.
14. Respondeu-lhe Efrom:
15. Meu senhor, ouve-me: um terreno que vale quatrocentos siclos de prata, que é isso entre mim e ti? Sepulta ali a tua morta.
16. Tendo Abraão ouvido isso a Efrom, pesou-lhe a prata, de que este lhe falara diante dos filhos de Hete, quatrocentos siclos de prata, moeda corrente entre os mercadores.
— Gênesis 23:14-16
Alguns dos pesos usados como moedas no tempo do antigo testamento foram:
1. O siclo
O siclo (em hebraico "shékel", do verbo shakál = pesar, pagar) era uma unidade de peso, e equivalia a cerca de 12 gramas. Então, pela terra, Abraão pagou 4 quilos e 800 gramas de prata.

2. A mina
Outra medida de peso antiga mencionada na Bíblia é a mina, que equivalia a 60 siclos e, portanto, pesava cerca de 720 gramas.
Assim,
por exemplo, quando os judeus retornaram do exílio de Babilônia
(cativos de Nabucodonosor), um grupo de repatriados doou 5.000 minas de
prata, ou seja, 3.600 quilos de prata para reconstruir o Templo.
Os
chefes de famílias deram para o tesouro da obra 20.000 dracmas de ouro
(aproximadamente 144 quilos de ouro) e 2.200 libras de prata
(aproximadamente 1.254 quilos de prata) (ver Neemias 7:71), o que
demonstra o quanto os judeus foram enriquecidos em seu cativeiro na
Babilônia.
71. E alguns mais dos chefes dos pais contribuíram para o tesouro da obra, em ouro, vinte mil dracmas, e em prata, duas mil e duzentas libras.
— Neemias 7:71
4. O talento
Uma terceira medida de peso foi o talento, equivalente a 60 minas, ou 43 quilos.
Na
Bíblia, o rei Ezequias de Jerusalém, quando da invasão dos assírios,
teve que pagar ao rei Senaquerib 300 talentos de prata e 30 talentos de
ouro (ver II Reis 18:14), isto é, 12.900 quilos de prata e 1.290 quilos
de ouro.
14. Então Ezequias, rei de Judá, enviou ao rei da Assíria, a Laquis, dizendo: Pequei; retira-te de mim; tudo o que me impuseres suportarei. Então o rei da Assíria impôs a Ezequias, rei de Judá, trezentos talentos de prata e trinta talentos de ouro.
— II Reis 18:14
Esse
método de pagar as compras ou indenizações de guerra com metais ou
outros itens não eram fáceis, porque uma vez que as vendas eram feitas,
era difícil carregar os pesados pagamentos.
Moeda: uma invenção redonda
Durante
séculos, a humanidade comprou, vendeu e negociou sem dinheiro. Como
eles faziam? Através do sistema de troca, ou seja, mudar uma mercadoria
para outra. Mas era uma operação desconfortável, e às vezes difícil de
finalizar, porque três condições eram necessárias para troca:
- Um teria que querer o bem ou objeto do outro;
- O outro também teria que querer o bem ou objeto do primeiro; e
- Os bens ou objetos negociados teriam que ter o mesmo valor.
Para
superar essas desvantagens, aos poucos as pessoas concordaram em
atribuir valor a certos objetos, que trocavam para aqueles objetos que
precisavam.
Estes bens eram muito variados ao longo dos séculos:
tabaco, cerveja, óleo, vinho, sal, sementes de cacau, até mesmo
mulheres; mas entre todos esses bens, os metais prevaleceram, devido a facilidade de transporte, de sua simples conservação e de dividi-los sem dificuldades.
No
século VII a.C., o inconveniente da "troca" de objetos foi superada
graças à invenção da moeda. De fato, um rei chamado Giges, de Lydia
(agora Turquia), teve a formidável ideia de derreter o metal em pedaços
pequenos, e fundi-los com o mesmo peso e o mesmo cunho.
Como seu
reino era muito rico e com muitas minas de ouro, seus metalúrgicos
transformaram o metal em discos e em torno do ano 680 a.C., nasceram as
primeiras moedas da história, na cidade de Sardes, capital do reino de
Lydia.
Eles eram de um metal chamado "elétron" (mistura natural de
ouro e prata) e tinham o rosto de um leão cunhado somente de um lado (anverso).
O
sucesso da moeda foi sem precedentes e cem anos depois, em torno de 550
aC, outro rei de Lydia chamado Creso emitiu uma nova moeda, o Estáter
(Figura 1), a primeira no mundo a ter um selo real no reverso. Era de ouro puro, e tinha de um lado um leão rugindo e, do outro lado, a marca do rei.

No ano 546 a.C. os persas invadiram o reino de Lydia e encontraram as moedas. Isso os motivou a fabricá-las.
O
primeiro rei persa que as cunhou foi Dario I "o Grande", em torno de
510 a.C., e ele os chamou Dárico (Figura 2) em homenagem ao seu nome.
Eles
eram de ouro, pesavam 7 gramas e tinham de um lado a figura do rei com
um arco (anverso) e, do outro lado, o selo real (reverso).
Darío
impôs seu sistema monetário em todo o império e, como a Palestina
pertencia ao império persa (do 589 a.C.), essas moedas foram as
primeiras que circulavam naquele território.

Assim,
a primeira moeda mencionada na Bíblia é o "Dárico". Aparece no livro
das Crônicas, quando o Rei Davi recebe dos israelitas, como uma doação
para o Templo, 10 mil dáricos (1 Crônicas 29,7), mas este era um
anacronismo, porque na época do rei Davi (século X a.C.) não existia o
dárico, nem mesmo inventou a moeda, mas como para o autor do Livro das
Crônicas, que escreveu há cerca do ano 300 a.C., é a única moeda que ele
conhece naquele momento, ele menciona isso na passagem bíblica.
As moedas do período intertestamentário
Em
332 a.C., os gregos invadiram a Palestina e, a partir dessa data, as
moedas gregas começaram a circular. A base desse sistema monetário foi:
1. A dracma
A dracma (Δραχμή) de prata, moeda equivalente a 6 óbulos, com peso aproximado de 4,3 gramas.

2. O didracma
A didracma (Δίδραχμον), moeda a 2 dracmas, pesava aproximadamente 8,6 gramas.

3. O estáter
O estáter
ou tretrobol (Τετρώβολον) tinha um valor equivalente a 3 dracmas. O
estáter cunhado em na cidade de Corinto tinha em torno de 8,6 gramas e
equivalia a 3 moedas de dracmas de 2,9 gramas, mas frequentemente era
relacionado a dracma de prata de Athenas, pesando 8,6 gramas.
O
estáter foi cunhado em várias cidades-estados gregas como Egina,
Aspendo, Delfos, Cnossos, Cidônia, Jônia, Lampsacus, Megalópolis,
Metaponto, Olímpia, Festo, Pesto, Siracusa, Tasos, Tebas e outras.

4. O óbolo
Correspondia a 1/6 de dracma e pesava de 0,69 a 0,72 gramas.

5. O calco
A moeda de menor valor, equivalente a 1/8 óbulos.
As moedas dos evangelhos
Em
63 a.C., a Palestina foi conquistada por Roma e, por esse motivo, as
moedas romanas começaram a circular como moeda oficial da região naquela
época que antecedeu os evangelhos.
Jesus conhecia muito bem as
moedas de seu tempo, e também seus valores. Exemplos disso podem ser
encontrados nos Evangelhos que nos dizem que ele sabia o quanto era o
salário de um trabalhador (Mateus 20:2-14), o preço de um quarto em uma
pousada (Lucas 10:35), a punição da prisão por dívidas (Mateus 5:25-26),
o valor dos impostos (Lucas 20:24) ou o pagamento da tarifa ao Templo
(Mateus 17:27).
Ele mesmo conhecia a instituição bancária, como
pode ser visto em uma de suas parábolas em que ele censurava um servo
por não ter colocado o dinheiro em um banco e depois retirou-o com
interesse (Mateus 25:27).
27. Cumpria, portanto, que entregasses o meu dinheiro aos banqueiros, e eu, ao voltar, receberia com juros o que é meu.
— Mateus 25:27
Mas
é oportuno nos perguntar: Quais são as moedas que Jesus conheceu?
Abaixo estão as 7 moedas que circularam no período que antecedeu o
evangelhos:
1. O denário

2. O sestércio

3. O dupôndio

4. O as

5. O semis

6. O quadrante

7. o lépton
O lépton, também conhecido como branco era a menor moeda da época e equivalia a 1/128 de um denário.

Moedas próprias de governantes do tempo bíblico
Logo depois também o fez seu sucessor, Alejandro Janeo (103-76 a.C.). Ele escreveu nas moedas "Rei Jonatas" sobre eles, que foi o primeiro monarca da história de Israel cujo nome apareceu em uma moeda (Figura 13).


Ou seja, no tempo de Jesus circularam na Palestina
principalmente três tipos de moedas:
- As romanas (imperiais);
- As gregas (provinciais); e
- As judias (locais, moedas de conta, cunhadas em Cesareia).
De
todos elas, o Novo Testamento menciona apenas sete, dos quais três são
gregas (a dracma, a didracma e o estáter) e quatro romanas (o Denário, o
Ás, o Quadrante e o Lépton ou branco).
Moedas das parábolas e dia-a-dia de Jesus
Uma moeda na boca de um peixe
Três moedas gregas aparecem apenas moderadamente nos Evangelhos, a dracma, a didracma e o estáter.
A dracma
aparece apenas na parábola da mulher que teve 10 dracmas e perde uma
(Lucas 15:8-10). Não era difícil perder uma moeda naquela época, porque
em uma casa de camponeses, eram escuras, sem janelas e com um piso
térreo irregular.
Se uma moeda caísse no chão, não era fácil encontrá-la. Por esta razão, a mulher na parábola teve que "acender uma lâmpada, varrer a casa, procurar com cuidado", para encontrá-la (v.8).
Além disso, 10 dracmas eram o que uma jovem usava como ornamento em seu véu de noiva no dia do seu casamento. As jovens mulheres juntavam-nas por anos para reuni-las no dia do casamento e, quando se casavam, guardavam-nas como um símbolo do matrimônio, da mesma forma que hoje fazemos com a aliança de casamento.
Talvez fosse uma dessas moedas que a mulher perdeu. Isso explica seu desespero por encontrá-la.
8. Ou qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma, não acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até a achar?
9. E achando-a, convoca as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque já achei a dracma perdida.
10. Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende.
— Lucas 15:8-10
Além disso, a didracma e o estáter
são mencionados apenas uma vez, no mesmo episódio: quando as
autoridades religiosas pedem a Pedro se Jesus pagou o imposto ao templo,
que era de um didracma (Mateus 17:24-27). Talvez suspeitassem que o Mestre se recusasse a fazê-lo, mas Pedro respondeu que sim.
E quando Pedro chegou em sua casa para buscar o dinheiro e pagar por Jesus, ele se antecipou e perguntou: "Que te parece, Simão? De quem cobram os reis da terra o imposto ou tributo? dos seus filhos, ou dos alheios?" Pedro respondeu: "dos alheios".
Jesus então disse a ele: "logo,
são isentos os filhos. Mas, para que não os escandalizemos, vai ao mar,
lança o anzol, tira o primeiro peixe que subir e, abrindo-lhe a boca,
encontrarás um estáter (que valia 2 didracmas); toma-o, e dá-lho por mim e por ti."
24. Tendo eles chegado a Cafarnaum, dirigiram-se a Pedro os que cobravam o imposto das duas dracmas e perguntaram: Não paga o vosso Mestre as duas dracmas?
25. Sim, respondeu ele. Ao entrar Pedro em casa, Jesus se lhe antecipou, dizendo: Simão, que te parece? De quem cobram os reis da terra impostos ou tributo: dos seus filhos ou dos estranhos?
26. Respondendo Pedro: Dos estranhos, Jesus lhe disse: Logo, estão isentos os filhos.
27. Mas, para que não os escandalizemos, vai ao mar, lança o anzol, e o primeiro peixe que fisgar, tira-o; e, abrindo-lhe a boca, acharás um estáter. Toma-o e entrega-lhes por mim e por ti.
— Mateus 17:24-27
A cada um, um denário
Das moedas romanas, a que é mencionada com mais frequência nos evangelhos é o denário.
Parece na parábola dos trabalhadores da vinha, que conta como um homem
contratou um grupo de trabalhadores para trabalhar em seu campo, e
concordou em pagar a cada um um denário (Mateus 20:1-16).
1. Porque o reino dos céus é semelhante a um dono de casa que saiu de madrugada para assalariar trabalhadores para a sua vinha.
2. E, tendo ajustado com os trabalhadores a um denário por dia, mandou-os para a vinha.
3. Saindo pela terceira hora, viu, na praça, outros que estavam desocupados
4. e disse-lhes: Ide vós também para a vinha, e vos darei o que for justo. Eles foram.
5. Tendo saído outra vez, perto da hora sexta e da nona, procedeu da mesma forma,
6. e, saindo por volta da hora undécima, encontrou outros que estavam desocupados e perguntou-lhes: Por que estivestes aqui desocupados o dia todo?
7. Responderam-lhe: Porque ninguém nos contratou. Então, lhes disse ele: Ide também vós para a vinha.
8. Ao cair da tarde, disse o senhor da vinha ao seu administrador: Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, começando pelos últimos, indo até aos primeiros.
9. Vindo os da hora undécima, recebeu cada um deles um denário.
— Mateus 20:1-9
Mas,
no momento do pagamento, os primeiros contratados reivindicavam mais
salários, aos quais o dono da vinha se recusava beneficiar mais que os
últimos, mostrando-nos que para Deus tudo que é feito com amor tem o
mesmo valor.
10. Ao chegarem os primeiros, pensaram que receberiam mais; porém também estes receberam um denário cada um.
11. Mas, tendo-o recebido, murmuravam contra o dono da casa,
12. dizendo: Estes últimos trabalharam apenas uma hora; contudo, os igualaste a nós, que suportamos a fadiga e o calor do dia.
13. Mas o proprietário, respondendo, disse a um deles: Amigo, não te faço injustiça; não combinaste comigo um denário?
14. Toma o que é teu e vai-te; pois quero dar a este último tanto quanto a ti.
15. Porventura, não me é lícito fazer o que quero do que é meu? Ou são maus os teus olhos porque eu sou bom?
16. Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos [porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos].
— Mateus 20:10-16
Graças a esta parábola, sabemos que o denário era o salário de um dia de trabalho de um trabalhador.
Também
aparece na primeira multiplicação dos pães, quando Jesus pede aos seus
discípulos que alimentem as pessoas e respondem que precisam de cerca de
200 denários para alimentar os 5.000 homens com suas esposas e filhos
(Marcos 6:37; João 6:7).
37. Porém ele lhes respondeu: Dai-lhes vós mesmos de comer. Disseram-lhe: Iremos comprar duzentos denários de pão para lhes dar de comer?
— Marcos 6:37
7. Respondeu-lhe Filipe: Não lhes bastariam duzentos denários de pão, para receber cada um o seu pedaço.
— João 6:7
O denário
é mencionado novamente na parábola dos dois devedores, no qual um devia
500 denários e os outros 50, e ambos são perdoados pelo credor (Lucas
7:41).
41. Certo credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários, e o outro, cinqüenta.
— Lucas 7:41
Também
aparece na parábola do Bom Samaritano, onde ele paga ao proprietário da
pousada 2 denários para o estalajadeiro cuidar dos feridos (Lucas
10:35).
35. No dia seguinte, tirou dois denários e os entregou ao hospedeiro, dizendo: Cuida deste homem, e, se alguma coisa gastares a mais, eu to indenizarei quando voltar.
— Lucas 10:35
Alguns
pensam que 2 denários, naquela época, poderiam ter servido para pagar
um mês de acomodação, comida e cuidado de uma pessoa.
Se assim
for, os 2 denários não são um detalhe simples na história, mas uma chave
para a leitura: mostra até que ponto o amor e a compaixão do bom
Samaritano vieram do estranho que encontrou deitado na estrada para
Jericó.
César e sua moeda
O denário
também é a moeda que os fariseus mostraram a Jesus, quando eles
montaram uma armadilha, perguntando-lhe se era justo ou não pagar o
imposto a Roma (Marcos 12:13-15).

O denário tinha de um lado a imagem do Imperador Tiberius (anverso), com a inscrição "Tiberius César Augusto, filho do divino Augusto", e, no outro lado (reverso), a figura da Deusa Paz sentada.
Quando
eles mostraram o denário, Jesus perguntou à eles: "De quem é a imagem e
a inscrição?" Eles responderam: "De César". Ele então disse sua famosa
frase: "Dê a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus".
13. E enviaram-lhe alguns dos fariseus e dos herodianos, para que o apanhassem em alguma palavra.
14. Chegando, disseram-lhe: Mestre, sabemos que és verdadeiro e não te importas com quem quer que seja, porque não olhas a aparência dos homens; antes, segundo a verdade, ensinas o caminho de Deus; é lícito pagar tributo a César ou não? Devemos ou não devemos pagar?
15. Mas Jesus, percebendo-lhes a hipocrisia, respondeu: Por que me experimentais? Trazei-me um denário para que eu o veja.
16. E eles lho trouxeram. Perguntou-lhes: De quem é esta efígie e inscrição? Responderam: De César.
17. Disse-lhes, então, Jesus: Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. E muito se admiraram dele.
— Marcos 12:13-15
Finalmente,
pouco antes de sua paixão, durante um jantar em Betânia, uma mulher
derramou alabastro, um perfume muito caro na época, na cabeça de Jesus, e
os presentes a criticaram dizendo que poderiam ter vendido por 300
denários e dar o dinheiro aos pobres (Marcos 14:5).
5. Porque este perfume poderia ser vendido por mais de trezentos denários e dar-se aos pobres. E murmuravam contra ela.
— Marcos 14:5
Vamos
analisar essa passagem: se com 200 denários era possível alimentar
5.000 homens, o valor desse perfume era suficiente para pagar um jantar
para 7.500 pessoas! Essa mulher deu isso a Jesus porque era a coisa mais
valiosa que ela tinha.
Os pássaros do mercado
A segunda moeda romana mencionada é o As. Era equivalente a 1/16 parte do denário.
Só
aparece em um sermão de Jesus, quando ele ensina seus discípulos a
confiar na providência, e ele lhes diz: "Não se vendem dois pardais por
um asse (as)? E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso
Pai." (Mateus 10:29).
O evangelho de Lucas transmite esta frase
de uma maneira diferente: "Não se vendem cinco pardais por dois asses?
Entretanto, nenhum deles está em esquecimento diante de Deus." (Lucas
12:6).
Ou seja, o preço era de dois pássaros para um as, mas se o
comprador pagasse dois asses, ao invés de quatro pássaros, ele levaria
cinco pássaros, ou seja, uma promoção onde o quinto era um presente.
Isso
expressa quão grande é o amor de Deus, que cuida até mesmo do pequeno
pássaro livre, aquele que vai como um presente, aquele que, de acordo
com as contas humanas, não tem nenhum valor!
A terceira moeda romana chamada é o quadrante.
Valia 1/64 parte do denário e é citado no sermão da montanha, quando
Jesus diz: "Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto
estás com ele a caminho, para que o adversário não te entregue ao juiz, o
juiz, ao oficial de justiça, e sejas recolhido à prisão. Em verdade te
digo que não sairás dali, enquanto não pagares o último
quadrante."(Mateus 5:26-27).
É um conselho muito prático:
recomenda evitar grandes problemas, resolvendo-os quando ainda são
pequenos. Às vezes, por não ter resolvido a tempo, tivemos que pagar um
preço alto (o último quadrante).
A última moeda é o Lépton (do adjetivo neutro grego λεπτόν / "letón": "pequeno") ou branco, neutro, a mais insignificante das moedas romanas: equivalia a 1/128 parte do denário.
Aparece
na cena da viúva pobre, que deu oferta no Templo, colocou no
gazofilácio dois leptos (ou leptas: plural) (Marcos 12:42 e Lucas 21:2),
valor equivalente a 1 quadrante.
42. Vindo, porém, uma viúva pobre, depositou duas pequenas moedas correspondentes a um quadrante.
— Marcos 12:42
Viu também certa viúva pobre lançar ali duas pequenas moedas;
— Lucas 21:2
Ninguém
além de Jesus havia notado, e ele disse a seus discípulos: "Em verdade
vos digo que esta viúva pobre depositou no gazofilácio mais do que o
fizeram todos os ofertantes. Porque todos eles ofertaram do que lhes
sobrava; ela, porém, da sua pobreza deu tudo quanto possuía, todo o seu
sustento.". A moeda menos importante (para homens) tornou-se, para
Jesus, a moeda mais valiosa de todos.
Transportada por um exército
Finalmente,
haviam duas moedas dos tempos de Jesus que, apesar de não serem
cunhadas e que realmente não existiam, foram usadas simbolicamente para
indicar grandes quantidades de dinheiro.
Um era o talento,
uma palavra que fazia alusão à antiga medida de peso. Foi usado para
indicar 6.000 denários. (Mais ou menos como quando dizemos "1 tonelada"
para referir a 1.000 quilos").
Veja na tabela abaixo os pesos do talento em cada país.
| País | Peso | |||
|---|---|---|---|---|
| 1 talento grego (ático) | 26 kg | |||
| 1 talento romano | 32,3 kg | |||
| 1 talento egípcio | 27 kg | |||
| 1 talento babilônico (leve) | 30,3 kg | |||
| 1 talento babilônico (pesado) | 60,6 kg | |||
| 1 talento do Novo Testamento | 58,9 kg |
O talento aparece duas vezes nos evangelhos. O
primeiro, na parábola do senhor que perdoa seu servo 10.000 talentos, e
então o servo perdoado não quer perdoar uma dívida de 100 denários seu
conservo (Mateus 18,23-35).
O centro da parábola é a comparação
entre ambas as moedas. Os 10.000 talentos (cerca de 60 milhões de
denários), era uma soma incrível, nunca visto por qualquer judeu (os
judeus chamavam o talento de kikkar). O montante era superior ao orçamento de toda a província da Judéia.
Por outro lado, a dívida do conservo, 100 denários, era insignificante: quinhentos denários.
Para
comparar ambas as dívidas, os 100 denários caberiam no bolso do
conservo. Por outro lado, os 10.000 talentos teriam de ser transportados
por cerca de 8.600 pessoas, cada uma com um saco de moedas pesando em
torno de 30 quilos (talento romano), o que, enfileirando cada pessoa a
uma distância de um metro de distância, teria formado uma fila de mais
de 8 quilômetros.
O contraste entre ambas as dívidas é esmagador.
Com o qual Jesus ensinou que, se Deus perdoou nossa dívida, maior que
que os 10.000 talentos, nós também devemos perdoar nossos irmãos.
23. Por isso, o reino dos céus é semelhante a um rei que resolveu ajustar contas com os seus servos.
24. E, passando a fazê-lo, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos.
25. Não tendo ele, porém, com que pagar, ordenou o senhor que fosse vendido ele, a mulher, os filhos e tudo quanto possuía e que a dívida fosse paga.
26. Então, o servo, prostrando-se reverente, rogou: Sê paciente comigo, e tudo te pagarei.
27. E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora e perdoou-lhe a dívida.
28. Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem denários; e, agarrando-o, o sufocava, dizendo: Paga-me o que me deves.
29. Então, o seu conservo, caindo-lhe aos pés, lhe implorava: Sê paciente comigo, e te pagarei.
30. Ele, entretanto, não quis; antes, indo-se, o lançou na prisão, até que saldasse a dívida.
31. Vendo os seus companheiros o que se havia passado, entristeceram-se muito e foram relatar ao seu senhor tudo que acontecera.
32. Então, o seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste;
33. não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti?
34. E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que lhe pagasse toda a dívida.
35. Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão.
— Mateus 18:23-35
A
segunda menção é a parábola dos talentos (Mateus 25, 14-30), em que um
proprietário antes de viajar dá a um de seus servos 5 talentos, a outro 2
e a outro, de acordo com sua capacidade.
É desta parábola que
deriva a palavra atual "talento", que já não significa "moeda" (no
sentido de peso do valor), mas a "capacidade ou aptidão para fazer
algo", haja vista que foi interpretado que esses talentos deixados pelo
dono simbolizam as diversas capacidades dadas por Deus aos homens.
A outra "moeda" usada para expressar grandes quantidades era a mina. Era equivalente a 100 dracmas, e só aparece na versão de Lucas da parábola dos talentos (Lucas 19:13-25).
Como
os leitores de Mateus eram de um nível social bastante próspero e
bem-sucedido, ele não teve problemas para mencionar o talento como uma
quantidade exorbitante. Mas, como Lucas escreve para leitores bastante
pobres, ele preferiu trocar a moeda pela mina, uma quantidade mais
modesta e de mais fácil comparação.
13. Chamou dez servos seus, confiou-lhes dez minas e disse-lhes: Negociai até que eu volte.
— Lucas 19:13
Resumo final
Conforme
descrito acima, vemos claramente que as referências das diferentes
moedas relacionadas em inúmeras passagens bíblicas são principalmente as
interessantes, ilustrativas e precisas parábolas que Jesus declarou nos
anos de sua pregação e peregrinação aos muitos povos da antiga
Palestina, demonstrando que nosso Salvador conhecia perfeitamente as
moedas circulantes, seus valores e poder de compra de cada uma delas.
Comparativo de pesos, moedas, valores e metais
Antigo testamento
| Unidade de peso | Tipos de moedas | Equivalência | Peso / Metal |
|---|---|---|---|
| Siclo (Shekel de Tiro) | Unidade de peso | 2 becas | 3,85 gramas de prata |
| Mina | Unidade de peso | 50 ciclos 1 libra de prata |
550 gramas de prata |
| Talento | Unidade de peso | 3.000 ciclos | 33/34 quilos de prata |
| - | Gera | 1/20 siclos | 0,55 grama de prata |
| - | Dracma | 1 siclo | 2,85 gramas de prata |
| - | Beca | 10 geras | 5,50 gramas de prata |
| - | Pim | 2/3 siclos | 7 gramas de prata |
| - | LIbra de prata | 50 siclos 1 mina |
550 gramas de prata |
Novo testamento
| Unidade de peso | Tipos de moedas | Equivalência | Peso / Metal |
|---|---|---|---|
| Siclo | Unidade de peso | 4 Denários 4 Dracmas |
14,4 gramas de prata |
| Mina | Unidade de peso | 60 ciclos 240 Denários |
720 gramas de prata |
| Talento | Unidade de peso | 6.000 denários 6.000 Dracmas 30 minas |
21,6 quilos de prata |
| 60 minas | - | 3.600 siclos 1 talento |
43,2 quilos de prata |
| - | Lépton (Branco / Neutro) | 1/128 denário 1/8 Asarión 1/2 Quadrante |
0,078 grama de prata |
| - | Quadrante | 1/4 Asarión 2 Léptons |
0,156 gramas de prata |
| - | Asarión | 4 Quadrantes | 0,624 gramas de prata |
| - | Quarto | 1/16 Denário | 2,5 gramas de prata |
| - | Dracma | 1 Denário | 3,6 gramas de prata |
| - | Denário | 10 Asarión 40 Quadrantes |
~4 gramas de prata |
| - | Libra | - | 327,5 gramas de prata |
| - | Libra de prata | - | 360 gramas de prata |
Sistemas monetários da bíblia
Sistema monetário do antigo testamento
Como já vimos, o "shekel" e o "talento", não são moedas, mas pedaços de prata para representar quantidades de moedas circulantes.
Nas terras bíblicas, não foram encontradas moedas cunhadas antes de 700 aC.
É
difícil determinar o valor exato de ouro e prata em vista da flutuação
do poder de compra em diferentes períodos, com exceção da dracma persa,
as moedas diferiram em peso e variaram de valor.
Haviam de moedas
leves a moedas pesadas; as leves esram eram metade do valor das pesadas,
embora fossem designados pelo mesmo nome.
Confira abaixo os pesos e medidas do antigo testamento:
| Pesos hebreus | Equivalente hebreu | Equivalente métrico | Outro equivalente | Referências |
|---|---|---|---|---|
| Talento | 60 minas 3000 ciclos |
34 quilos | 75 libras | Êxodo 38:25-26 2 Reis 18:14 Mateus 25:15-28 |
| Talento comum Talento real |
- | 45-68 quilos | 100 a 150 libras | - |
| Siclo | 2 Becas | Gênesis 23:15 | ||
| Siclo comum | 11,5 gramas | 0,4 onças | ||
| Siclo real | 23 gramas | 0,8 onças |
| Pesos romanos | Equivalente hebreu | Equivalente métrico | Outro equivalente | Referências |
|---|---|---|---|---|
| Libra | 30 siclos | 327,45 gramas | 12 onças | João 12:3 |
Sistema monetário do novo testamento
Nos
tempos do Novo Testamento, circulavam não apenas moedas romanas, mas
também moedas gregas, sírias e egípcias, que em alguns casos tinham
imitações locais de valores variados.
Existem grandes diferenças
nas estimativas do valor desse dinheiro em moeda corrente, e a variação
depende do que constitui a base desse valor: ouro, prata ou poder de
compra. Além disso, o valor monetário dos metais preciosos varia
constantemente.
A moeda mais comum era o denário romano, uma moeda
de prata que representava o salário diário comum de um trabalhador
(Mateus 18:28, 20:2-13, 22:19, Marcos 6:37, 12:1, 14:5, Lucas 7:41;
10:35, 20:24; João 6:7, 12:5, Apocalipse 6:6).
O equivalente grego era a dracma, mencionada apenas em Lucas 15:8. Alguns dracmas localmente cunhados tiveram menor valor.
As "duas dracmas" de Mateus 17:24 provavelmente foram cunhadas localmente e eram usadas para pagar o imposto do templo.
As "peças de prata"
referidas em Mateus 26:15, 27:3-9, provavelmente eram tetradracmas, ou
seja, uma moeda equivalente a quatro dracmas e correspondente ao siclo
do Antigo Testamento (Zacarias 11:12-13).
Mas as moedas de prata que em Atos 19:19 são chamados de "peças de prata" provavelmente eram dracmas gregos.
O
estáter ou estátero, era uma moeda de prata equivalente a quatro
dracmas gregos ou um siclo, é mencionado no Mateus 17:27. Era o montante
exato do imposto para duas pessoas, ou seja, o pagamento de Cristo e
Pedro.
As moedas de ouro, não mencionadas na Bíblia, pesavam
metade de um recipiente de prata. O áureo romano, uma moeda de ouro, não
é mencionado na novo testamento, exceto indiretamente como "ouro" em
Mateus 10:9. Muitas outras moedas foram cunhadas em cobre ou bronze.
Uma moeda chamada "cobre" (grego: chalkos)
em Mateus 10:9 e "dinheiro" no Marcos 6:8, provavelmente era uma
pequena moeda grega ou romana de pouco valor, aproximadamente 1/32 de
denário, ou seja, o pagamento de quinze minutos de trabalho de um
jornaleiro.
Um quadrante (Mateus 5:26; Sr. 12:42) não valia
praticamente nada e era cerca de metade do valor de "cobre". Quatro
quadrantes fizeram um quarto (grego: assario) (Mateus 10:29; Lucas
2:16), aproximadamente 1/16 de um denário.
O branco (grego: lépton), a moeda menos valiosa (Marcos 12:42), era meio quadrante e valia cerca de 1/128 de denário.
As somas de dinheiro foram indicadas por "minas" (grego: mna), que correspondiam a 100 denários e por "talentos", que totalizavam 6.000 denários.
| Nome | Nome greto | Valor | Comentário |
|---|---|---|---|
| Denário | Denarion | Salário diário de um jornaleiro | Moeda romana (Mateus 18:28, 20:2-13 |
| Dracma | Drachme | 1 denário | Equivalente grego do denário (Lucas 15:8) |
| 2 dracmas | Didrachma | Salário de 2 dias de trabalho | Moeda local na Palestina, usada para o imposto do templo (Mateus 17:24) |
| Estáter | Stater | 4 dracmas gregas | Imposto do templo para 2 pessoas Moeda de prata (Mateus 17:27) |
| Ouro | Chusos | - | Áureo romano. Moeda de ouro (Mateus 10:9) |
| Cobre / Dinheiro | Chalkos | 1/32 denario | Moeda grega ou romana de cobre ou bronze (Mateus 10:9, Marcos 6:8, 12:41) |
| Quadrante | Kodrantes | 1/64 denario | Moeda romana de cobre (Mateus 5:26, Marcos 12:42) |
| Quarto | Assarion | 4 quadrantes 1/16 denario |
Meda romana de cobre (Mateus 10:29, Lucas 12:6) |
| Branco | Lépton | 1/2 quadrante 1/28 denário |
Moeda de cobre ou bronze. A moeda de menor valor (Marcos 12:42, Lucas 19:13) |
| Talento | Talenton | 6.000 denários de prata 180.000 denários de ouro |
Unidade monetária grega (Mateus 18:24, Mateus 25:15-28) |
Fonte:
Artigo original de Cr. Mario E. Demarchi, publicado em espanhol pelo Centro Filatélico y Numismático San Francisco.
Traduzido e adaptado para o português por Plínio Pierry.
Plínio Pierry
Colecionador de moedas desde os 7 anos, ingressou no estudo numismático há 13 anos e desde então tem cultivado essa paixão diariamente. É membro ativo da Sociedade Goiana de Numismática.
VIA:
https://collectgram.com/blog/moedas-dos-tempos-de-jesus
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