O sacerdote é basicamente um ministro que age como mediador
entre o homem e Deus. Na Bíblia existem inúmeras referências ao
sacerdócio, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, o que acaba
fazendo com que muita gente fique em dúvida sobre o que é um sacerdote e
qual o seu significado.
Nos textos bíblicos, a grande ênfase é dada ao serviço sacerdotal
hebreu, isto é, aos sacerdotes do povo de Israel dentro da religião
judaica, no entanto o conceito de sacerdote ou algo similar existe em
praticamente todas as religiões que objetivam um relacionamento entre o
homem e alguma divindade.
Qual o significado de sacerdote?
Os termos originais kohen e kahen encontrados no
Antigo Testamento são os principais termos que geralmente são traduzidos
como “sacerdote”, além de outras palavras relacionadas, como: kehunna, “sacerdócio”, a forma verbal kahan,
“ser sacerdote”, no sentido de desempenhar a função sacerdotal, e os
termos utilizados para indicar o principal dos sacerdotes, como por
exemplo, hakohen hagadol, “sumo sacerdote”. Juntos, esses termos ocorrem pelo menos 775 vezes.
No Novo Testamento, encontramos alguns termos gregos que se referem aos sacerdotes, sendo eles: hiereus, “sacerdote”; archiereus, “sumo sacerdote”; hierosyne e hierateia, “sacerdócio”; hierateuma, “função sacerdotal”; archieratikos, “sumo sacerdócio”; hierateuo, “ser sacerdote”. Juntos, esses termos ocorrem aproximadamente 165 vezes.
Com base nesses termos originais, o significado da palavra sacerdote é
debatido. Considerando o principal termo utilizado no Antigo Testamento
para designar um sacerdote, o hebraico kohen, alguns estudiosos sugerem que talvez essa palavra tenha origem no termo kun, e aliado à forma verbal kahan,
poderia significar algo como “permanecer”, talvez fazendo uma
referência a função sacerdotal que designa um indivíduo para permanecer
perante Deus como representante do povo.
Os sacerdotes na Bíblia
Quando falamos sobre os sacerdotes mencionados na Bíblia, é preciso
considerar que nem todos os sacerdotes na narrativa bíblica eram
hebreus, bem como, nem todos os indivíduos que aparecem exercendo o
sacerdócio serviam no culto ao Deus de Israel.
Antes de o sacerdócio hebraico ser instituído oficialmente, a Bíblia menciona outros sacerdotes, como:
- O rei Melquisedeque, sacerdote do Deus Altíssimo (Gn 14:18);
- Os sacerdotes que havia no Egito (Gn 41:45; 46:20; 47:22-26);
- Os sacerdotes midianitas (Êx 2:16; 3:1; 18:1)
Além disso, as funções sacerdotais são mencionadas na Bíblia desde os
tempos da primeira família, com Caim e Abel oferecendo ofertas a Deus.
No período patriarcal, podemos notar que as funções sacerdotais também
eram desempenhadas pelos chefes de família, como por exemplo, no caso de
Noé após o Dilúvio (Gn 8:20,21), com o patriarca Abraão que levantou altares ao Senhor em Betel, Manre e Moriá, e com Jó que oferecia sacrifícios a Deus (Jó 1:5).
Mesmo depois da instituição oficial do sacerdócio hebreu, a Bíblia
menciona pessoas que, em ocasiões específicas, exercerão alguma
atividade comum aos sacerdotes, como por exemplo, Gideão (Jz 6:24-26), o
profeta Samuel (1Sm 7:9), o rei Davi (2Sm 6:13-17) e o profeta Elias (1Rs 18:23-38).
Os sacerdotes hebreus
O sacerdócio hebreu foi oficialmente ordenado no tempo de Moisés, com
Arão e seus filhos (Nadabe, Abiú, Eleazar e Itamar) sendo consagrados
como sacerdotes por Moisés de acordo com a ordem divina. A cerimônia
solene da consagração de Arão e seus filhos foi repleta de detalhes e
bastante significativa, durando sete dias (Êx 29:1-37; cf. Lv 8).
Dos quatro filhos de Arão, apenas dois sobreviveram, Eleazar e
Itamar, e, portanto, a linhagem sacerdotal de Arão ficou preservada nos
descendentes de ambos (Lv 10:1,2; Nm 3:4; 1Cr 24:2). No entanto, para
ser um sacerdote não bastava apenas ser descente legítimo de Arão, pois
algumas limitações tanto de ordem física, como deficiências, quanto de
ordem cerimonial, como impurezas, impediam que alguns indivíduos
exercessem o sacerdócio (Lv 21). Além disso, houve muitos casos
complicados em que pessoas não conseguiram comprovar pertencer à genealogia da família de Arão.
Como os sacerdotes não recebiam nenhuma parte na distribuição de
terras na Palestina, seu sustendo dependia de partes dos sacrifícios,
das ofertas oferecidas pelo povo e dos dízimos (Nm 18:3-32; cf. Êx
13:12,13; Lv 2:3-10; 5:13; 7:30-34; 24:5-9;). No entanto,
posteriormente, especialmente no período da monarquia em Israel, os sacerdotes até podiam adquirir propriedades particulares (1Rs 2:26; Jr 32:6-8; Am 7:17).
As funções dos sacerdotes
A principal função dos sacerdotes era servir de representante de Deus
junto ao povo ao mesmo tempo em que também era o representante do povo
perante Deus, oferecendo sacrifícios agradáveis e expiatórios. Logo,
basicamente o sacerdote de fato era um tipo de mediador entre Deus e o
homem.
Além dessa função principal, os sacerdotes também deviam se ocupar
com outras atividades secundárias, como por exemplo, o ensino da Lei (Lv
10:10,11; Dt 33:10; 2Rs 17:27,28); em alguns casos atuar na
jurisprudência e até em alguns diagnósticos na área da saúde (Lv 13; 14;
Dt 21:5), na purificação corporal de homens, mulheres e determinados
objetos (Lv 15), entre outras funções.
O sumo sacerdote e a organização do sacerdócio
Ficava responsável pelo serviço religioso no Antigo Testamento, os
sacerdotes, o sumo sacerdote e os levitas. Os levitas formavam uma
classe subordinada aos sacerdotes, e executavam uma série de funções
relacionadas à adoração e ao cuidado com o santuário.
Já o sumo sacerdote era um tipo de chefe dos sacerdotes. Na ocasião
da consagração da família de Arão, o próprio Arão ocupou esse posto.
Somente o sumo sacerdote podia entrar no Santo dos Santos, e apenas no
Dia da Expiação, uma cerimônia que acontecia uma vez por ano.
As vestes sacerdotais
Os sacerdotes vestiam basicamente calções, uma túnica ou manto,
utilizavam um cinto ou faixa, e na cabeça, usavam um gorro ou tiara que
servia de adorno (Êx 28:40,42).
Já a veste do sumo sacerdote era diferenciada, e representava a
santidade e o próprio sacerdócio (Êx 28:2,4; 29:29; 31:10; etc.). Assim,
a vestimenta do sumo sacerdote incluía: calções ou calças de linho, uma
primeira túnica, um cinto feito com uma longa tira de linho bordado, a
túnica do éfode de material tecido de cor azul onde em sua barra ficavam
sinos de ouro, outra túnica composta por dois aventais, um peitoral
contendo 12 pedras preciosas de diferentes espécies que representavam as
12 tribos de Israel, junto ao peitoral também havia o Urim e o Tumim
que são de natureza desconhecida, o gorro ou tiara de linho e a mitra
que continha uma lâmina de ouro onde estava gravada a frase “Santidade
ao Senhor” (Êx 28).
Precisamos de sacerdotes na atualidade?
O Novo Testamento responde claramente essa pergunta dizendo que não
precisamos mais de sacerdotes, pois Cristo é o nosso Sumo Sacerdote
perfeito. Dessa forma, o sistema sacerdotal do Antigo Testamento era
provisório e deveria ser encerrado com a vinda do Messias prometido.
O autor do livro de Hebreus
foi quem mais falou sobre isso, especialmente enfatizando a
superioridade do Sacerdócio de Cristo em relação ao sacerdócio da Lei,
de modo que o sacerdócio hebreu não era efetivo na expiação dos pecados,
mas apenas servia para apontar para o Sacerdócio de Cristo que é
perfeito e plenamente capaz, pois Ele é Sumo Sacerdote para sempre (Hb
7).
Para quem argumentava que Jesus não poderia ser sacerdote, pois não
pertencia à linhagem de Arão, o escritor da epístola recorreu à figura
de Melquisedeque; ele foi um tipo de sacerdote antes da Lei que
tipificou o Sacerdócio definitivo de Cristo. Daí vem a expressão “Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque”,
emprestada do salmo messiânico de Davi (Sl 110:4). Essa expressão
mostra que desde o início, ainda antes de Arão, Cristo já era o
mediador.
Dessa forma, Cristo é o único intermediário! Não há qualquer
necessidade de que alguém complete sua função, pois seu sacrifício foi
perfeito e definitivo (Hb 7:27). Aqui também vale lembrar que o
sacerdócio histórico dentro da religião judaica, incluindo o sistema
sacrifical, acabou cessando após a destruição de Jerusalém e o Templo em
70 d.C.
O sacerdócio da Igreja
O Antigo Testamento nos mostra que o povo de Israel deveria ser um
reino de sacerdotes (Êx 19:5,6; Lv 11:44,45; Nm 15:40), um objetivo e
promessa cumpridos na Igreja no Novo Testamento, que através da obra de
Cristo foi feita “sacerdócio real”, como assim designou o apóstolo Pedro em sua epístola (1Pe 2:9).
Dessa forma, todo cristão genuíno é feito sacerdote em Cristo; não no
sentido intermediário, representativo e sacrifical, pois a obra
redentora do Sumo Sacerdote que é Cristo é definitiva e eficaz; mas no
sentido de ter um relacionamento direto com Deus através da
reconciliação em Cristo e por meio da obra santificadora do Espírito
Santo que capacita o redimido a viver uma vida santa de acordo com a
vontade do Senhor.
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