https://i1.wp.com/www.tererenews.com/wp-content/uploads/2018/03/sinaisdotempo.jpg?resize=708%2C445&ssl=1
Ron J. Bigalke
A humanidade é obcecada pelo tempo, até ao ponto extremo em que o tempo se tornou uma mercadoria. Em um artigo denominado “Advice to a Young Tradesman, Written by an Old One” (Conselho a um Jovem Negociante, Escrito por um Velho Negociante), de 21 de julho de 1748, Benjamin Franklin, de modo excelente, declarou: “Lembre-se de que tempo é dinheiro”. O tempo é um recurso valioso (porque a nossa experiência neste mundo é finita); assim, é melhor realizarmos as tarefas tão logo quanto possível, além de gastarmos tempo e esforços em direção a empreitadas que valham à pena. Contudo, no esforço para controlarmos e protegermos o “nosso tempo”, muitos justificam a administração neurótica dele.
Seria possível que alguém tivesse uma falsa noção de tempo? A resposta é sim, se for baseada no orgulho, tal como encontrar prazer em suas ocupações uma vez que elas dão a esse alguém impressão de ser importante. Outra noção enganosa de tempo é a devoção obsessiva a agradar os outros, assumindo compromissos demais porque a aprovação dos outros é desesperadamente desejada. Ainda outras dinâmicas que levam à fixação com relação ao tempo são a apreensão e o desconforto associados ao aprofundamento de um relacionamento com Deus. Por exemplo, dar prioridade ao tempo no estudo da Bíblia pode fazer com que algo que precisa ser mudado em nossa vida seja revelado pelo Senhor Deus.
O próprio relógio estimula a noção sobre quão rapidamente o tempo passa. “‘O relógio’, concluiu [Lewis] Mumford, ‘é um maquinário cujo “produto” são os segundos e os minutos’. Ao manufaturar tal produto, o relógio tem o efeito de desassociar o tempo dos acontecimentos humanos e, desta forma, nutrir a crença em um mundo independente de sequências mensuráveis matematicamente. Percebe-se que o momento a momento não é concepção de Deus ou da natureza. É o homem conversando consigo mesmo a respeito de e através de um maquinário que ele mesmo criou.”
Seria possível que alguém tivesse uma falsa noção de tempo? A resposta é sim, se for baseada no orgulho, tal como encontrar prazer em suas ocupações uma vez que elas dão a esse alguém impressão de ser importante. Outra noção enganosa de tempo é a devoção obsessiva a agradar os outros, assumindo compromissos demais porque a aprovação dos outros é desesperadamente desejada. Ainda outras dinâmicas que levam à fixação com relação ao tempo são a apreensão e o desconforto associados ao aprofundamento de um relacionamento com Deus. Por exemplo, dar prioridade ao tempo no estudo da Bíblia pode fazer com que algo que precisa ser mudado em nossa vida seja revelado pelo Senhor Deus.
O próprio relógio estimula a noção sobre quão rapidamente o tempo passa. “‘O relógio’, concluiu [Lewis] Mumford, ‘é um maquinário cujo “produto” são os segundos e os minutos’. Ao manufaturar tal produto, o relógio tem o efeito de desassociar o tempo dos acontecimentos humanos e, desta forma, nutrir a crença em um mundo independente de sequências mensuráveis matematicamente. Percebe-se que o momento a momento não é concepção de Deus ou da natureza. É o homem conversando consigo mesmo a respeito de e através de um maquinário que ele mesmo criou.”
“No grandioso livro de Mumford, Technics and Civilization (Técnicas e Civilização), ele mostra como, começando no século XIV, o relógio nos tornou guardadores do tempo, e depois economizadores do tempo, e agora servidores do tempo. No processo, aprendemos a irreverência em relação ao sol e às estações, pois, em um mundo feito por segundos e minutos, a autoridade da natureza é substituída. De fato, como aponta Mumford, com a invenção do relógio, a Eternidade deixou de servir como a medida e o foco dos acontecimentos humanos. Assim, embora poucas pessoas tivessem imaginado a conexão, o inexorável tic-tac do relógio pode ter tido mais a ver com o enfraquecimento da supremacia de Deus do que todos os tratados produzidos pelos filósofos do Iluminismo; isto quer dizer que o relógio introduziu uma nova forma de comunicação entre o homem e Deus, na qual Deus parece ter sido o perdedor. Talvez Moisés devesse ter incluído outro Mandamento: Não farás representações mecânicas do tempo” [Neil Postman, Amusing Ourselves to Death (Divertindo-nos ao Extremo) (Nova York: Penguin, 1985), p. 11-12].
Precisamos que as Escrituras nos lembrem de que podemos realizar mais ao priorizarmos o tempo com Deus – através do estudo bíblico e das orações – do que jamais poderíamos esperar alcançar por meio do tempo sem Ele. Quando perguntaram a Martinho Lutero sobre seus planos para o dia seguinte, ele respondeu: “Trabalhar, trabalhar, desde cedo até tarde. Na verdade, tenho tanto o que fazer que deverei passar as primeiras três horas em oração” [E. M. Bounds, Purpose in Prayer (Propósito na Oração) (Grand Rapids: CCEL, s.d.), p. 7].
Considerar a natureza das interrupções em relação às nossas prioridades é inestimável. Em Marcos 5, Jesus encontra-Se com “certa mulher que havia doze anos vinha sofrendo de hemorragia”. No momento da interrupção, Jesus havia partido com “um dos dirigentes da sinagoga, chamado Jairo”, cuja filha estava à beira da morte. Como diz a expressão popular, “Jesus tinha lugares para ir e coisas para fazer”.
Jesus não curava meramente para diminuir o sofrimento humano ou para demonstrar o Seu poder. Jesus curava porque a cura O autenticava como o Messias. Jesus estava realizando a obra para a qual Ele fora comissionado. A mulher foi uma obstrução à atenção, coisa que ela bem sabia, por isso pensou em simplesmente tocar a veste de Jesus para ser curada. Sua crença era supersticiosa, contudo, ainda assim fé. Jesus agradou-Se da mulher, e disse a ela: “Filha, a sua fé a curou! Vá em paz e fique livre do seu sofrimento”. Curar a mulher não era uma tarefa que constava na agenda de Jesus. Você consegue perceber suas conexões com tais interrupções? Meu dia, minha semana e meu mês (até com meses de antecipação) estão planejados. Inevitavelmente, alguém ou algo tende a interferir em meus planos.
Como deveríamos reagir às interrupções que nos incomodam? Primeiro, lembre-se que Deus é o Senhor das interrupções. Em Atos 16, Paulo, Silas e Timóteo estavam tentando chegar à Bitínia, “mas o Espírito de Jesus os impediu”. Podemos pressupor, com acerto, que aquela experiência foi uma interrupção. Mais tarde, no capítulo 27, Paulo passou por um naufrágio quando viajava para Roma (uma viagem que começou com um aprisionamento não planejado em Jerusalém). Houve uma interrupção após a outra.
As Escrituras revelam como Deus “faz todas as coisas segundo o propósito da sua vontade” (Ef 1.11). Seja o que for que pensemos que Deus está realizando em nossa vida, certamente que aquilo não é uma interrupção para Ele. Jamais poderemos ter Deus à nossa disposição para nos ajudar a cumprir com as nossas próprias agendas. O Livro de Tiago nos relembra o que segue: “Ouçam agora, vocês que dizem: ‘Hoje ou amanhã iremos para esta ou aquela cidade, passaremos um ano ali, faremos negócios e ganharemos dinheiro’. Vocês nem sabem o que acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa. Em vez disso, deveriam dizer: ‘Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo’” (4.13-15). Quando adotamos o princípio bíblico, podemos fazer vistas grossas para a irritação e observar a interrupção com gratidão. Efésios 5.20 afirma a verdade de que os crentes devem dar sempre “graças constantemente a Deus Pai por todas as coisas”.
As interrupções ao nosso roteiro podem nos levar a maravilhosas oportunidades para servir a Deus; porém, tão facilmente quanto isso, podem nos impedir de realizar a vontade do Senhor. Deus promete sabedoria em Sua Palavra – a Bíblia Sagrada – para discernirmos o que deve ser realizado e o que deve ser evitado. A perspectiva bíblica nos corrige da noção moderna de que temos uma imagem a defender. “Não obstante, os hebreus eram um povo muito intenso; eles não escondiam nem suprimiam suas emoções. Os hebreus – tanto homens quanto mulheres – conseguiam afirmar toda a sua humanidade. Eles não tinham problemas em dar vazão aos seus sentimentos, pois cada emoção tinha um ‘tempo’ adequado para ser expressa: ficar irado, chorar, rir, cantar, festejar, dançar, bater palmas, gritar, abraçar e amar (ver Ec 3.1-8)” [Marvin R. Wilson, Our Father Abraham (Nosso Pai Abraão) (Grand Rapids: Eerdmans, 1989), p. 139].
Eclesiastes 3 demonstra a necessidade de sermos mais livres para abraçar a realidade de que tudo tem um tempo adequado. Uma pessoa pode trabalhar diligentemente, porém evitar as obsessões neuróticas do momento presente. Os versículos 1-15 indicam como parece que Deus tem um tempo predeterminado para que tudo ocorra; contudo, o motivo pelo qual isto é verdadeiro permanece um enigma. A presença do mal no mundo, além da dor e do sofrimento, às vezes pode ser bastante difícil de explicar, especialmente quando estamos discutindo sobre um Deus de compaixão e de amor. Em muitos aspectos, é muito mais fácil entendermos Satanás, o Diabo, do que compreendermos Deus. A razão é que Satanás – em determinado sentido – é um tanto simplista porque é um ser de maldade absoluta e, assim, as motivações para suas ações são prontamente entendidas (cf. Jo 8.44).
Deus, não obstante, é mais difícil de entender (Jó 36.26; 38.4–42.6; Ec 8.17; Rm 11.33), e é especialmente desafiador compreender as ações do Senhor em experiências momentâneas. Deus é onibenevolente (totalmente bom) e onipotente (totalmente poderoso); desta forma, nos perguntamos o motivo pelo qual existe tanta dor e tanto sofrimento no mundo. A defesa da bondade e da onipotência de Deus em comparação com a existência do mal (teodiceia) é tratada em Eclesiastes 3.
As Escrituras afirmam que, embora alguém possa tentar resolver a verdade de que Deus é bom e que o mal é uma realidade, ninguém consegue responder afirmando que o Senhor não é soberano. Os versículos 1-8 de Eclesiastes 3 afirmam que Deus tem um propósito do qual Ele não Se desvia. O Senhor fez as coisas de modo que “há um tempo certo para cada propósito” (v. 1).
Deus não é um Papai Noel cósmico, nem coopera com a humanidade como sempre se imagina que Ele devesse fazer. Na alegoria de C. S. Lewis, As Crônicas de Nárnia, o autor mostrou Aslam como um tipo da figura de Cristo. O Sr. Castor diz a Susana: “se alguém chegar na frente de Aslam sem sentir medo, ou é o mais valente de todos ou então é um completo tolo”. A próxima declaração é famosa e consta no segundo volume da série. Em resposta à pergunta de Lúcia sobre Aslam “ser perigoso”, o Sr. Castor responde: “Quem foi que disse que ele não era perigoso? Claro que é, perigosíssimo [indomável]. Mas acontece que é bom. Ele é rei, disse e repito” [C. S. Lewis, As Crônicas de Nárnia (São Paulo: Martins Fontes, 2002), p. 140].
Assim que percebemos que Deus não é domável, nossa resposta natural é perguntar: “O que ganha o trabalhador com todo o seu esforço?” (v. 9). A Escritura assevera que Deus fez “tudo apropriado ao seu tempo” (v. 10-11; cf. Sl 37.23). Embora possamos desejar ardentemente conhecer os planos eternos de Deus, isto é algo impossível. Como vivemos em um mundo que está além do nosso controle?
Primeiro, não devemos ficar desiludidos; em vez disso, devemos nos dedicar a agradecer, a fazer o bem, a ver o bem em todo o nosso trabalho (v. 12-13). Perceber o bem em nossos esforços é “o dom de Deus”, uma vez que somos lembrados de que nada pode ser realizado sem a capacitação sobrenatural de Deus. O Senhor está redimindo todas as coisas, inclusive as almas da humanidade, e também o nosso trabalho. Tudo o que Deus realiza é eternamente significativo (v. 15).
Eclesiastes 3.16 observa a desigualdade da vida. “Debaixo do sol” haverá injustiça e maldade, contudo, o povo de Deus pode encontrar conforto no fato de que, no tempo divinamente designado, o Senhor julgará todas as pessoas (v. 17-18; cf. 8.8-9; 12.13-14). A paciência de Deus é o motivo pelo qual todas as pessoas não experimentam Seu julgamento imediato (2Pe 3.8-9). Deus fará surgir beleza a partir de tudo o que acontece (Is 61.1-7; Rm 8.28). Deus “pôs no coração do homem o anseio pela eternidade” (Ec 3.11) e, em Cristo Jesus, receberemos a vida eterna (1Jo 5.9-13).
Devemos nos regozijar em nossas atividades presentes porque isto é o que Deus ordenou. A incerteza do futuro é uma motivação resoluta para desfrutarmos da vida no presente. Muitos de nós já desenvolvemos uma falsa noção de tempo e por isso não experimentamos inteiramente o presente. Todos devemos apreciar a vida como ela se nos apresenta, especialmente com vistas à eternidade. Evite ser “pressionado pelo tempo”, e readquira os benefícios morais e espirituais da Bíblia Sagrada.
— Ron J. Bigalke
Extraído de Revista Chamada da Meia-Noite Fevereiro de 2017
Extraído de Revista Chamada da Meia-Noite Fevereiro de 2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário