* Luiz Sayão
Recentemente, a Comissão da Câmara dos Deputados decidiu por uma posição antiaborto, afirmando que a vida começa na concepção e mantendo a possibilidade de aborto em caso de estupro, de risco de morte da gestante e na gestação de anencéfalos. Nesse debate polarizado e acalorado, a nova tendência surpreendeu a muitos.
Talvez não seja tão difícil entender o que acontece. A defesa da prática do aborto, tão generalizado na Europa, na América do Norte, na Ásia e no mundo todo, tem sido questionada. Ainda que seja discutível cada ponto mais sensível da discussão da lei, permanece a ideia de que o aborto é indesejável, evitável, e que as mulheres merecem mais do aborto, especialmente numa época de tantos avanços da humanidade.
Falando sobre a questão, o que os atores Jack Nicholson e Jim Caviezel, o tenor Andrea Bocelli, a atriz Patricia Heaton e o cantor Justin Bieber têm em comum além de serem celebridades? São radicalmente contra o aborto. Com eles, milhões se posicionam em sintonia com essa perspectiva. Por que essa tendência em muitos lugares no mundo? Alguns pontos devem ser considerados:
Talvez não seja tão difícil entender o que acontece. A defesa da prática do aborto, tão generalizado na Europa, na América do Norte, na Ásia e no mundo todo, tem sido questionada. Ainda que seja discutível cada ponto mais sensível da discussão da lei, permanece a ideia de que o aborto é indesejável, evitável, e que as mulheres merecem mais do aborto, especialmente numa época de tantos avanços da humanidade.
Falando sobre a questão, o que os atores Jack Nicholson e Jim Caviezel, o tenor Andrea Bocelli, a atriz Patricia Heaton e o cantor Justin Bieber têm em comum além de serem celebridades? São radicalmente contra o aborto. Com eles, milhões se posicionam em sintonia com essa perspectiva. Por que essa tendência em muitos lugares no mundo? Alguns pontos devem ser considerados:
O valor da vida humana;
A dificuldade de se comprovar que um feto não é vida de um ser humano;
As decorrências psicológicas para as mulheres que decidiram pelo aborto;
Os 56 milhões de abortos por ano no mundo (cerca de 2 por minuto);
A sugestão de que a liberação do aborto traria uma diminuição da prática;
O viés unilateral presente na grande mídia, pouco aberto ao diálogo;
Os possíveis interesses econômicos por trás da prática;
A queda da natalidade do chamado primeiro mundo e suas decorrências econômicas e sociais;
A indisposição de pagar uma conta que envolve um estilo considerado inconsequente.
Muitas vezes, tem sido sugerido que uma pessoa contra o aborto é alguém pouco esclarecido que possui fortes convicções religiosas. Isso não reflete a realidade. Existem até grupos ateus e seculares contra o aborto atualmente: http://www.prolifehumanists.org/secular-case-against-abortion/.
Além disso, muitos dos religiosos que militam contra o aborto têm se tornado religiosos recentemente porque não conseguem mais viver sob o sistema vazio de valores de hoje; estão em busca de alternativas de compreensão da vida e da realidade.
Há uma busca efervescente de fé e espiritualidade. Parece que a proposta secular tem se mostrado incompleta para muita gente. Portanto, essas pessoas encontram uma perspectiva que valorize e celebre a vida em todos os seus aspectos. Para elas, a vida é sagrada, desde o seu início. É preciso compreender o fascínio bíblico pela vida, que explica a dificuldade de aceitar o aborto com naturalidade.
Voltando a atenção para as Escrituras, ali vemos que Deus é descrito como o Deus que dá a vida e tem poder sobre ela (Dt 30.15; 1Sm 2.6; Ne 9.6). No Antigo Testamento há uma teologia da vida. A polarização “vida-morte” marca muito a proposta do texto. O primeiro pecado humano tem como retribuição o castigo da morte (Gn 2.17). Em seguida, o que é vedado ao homem, que deseja independência de Deus, é a árvore da vida (Gn 3.22-24).
Toda impureza ritual vista em Levítico está relacionada com a morte. Os animais ligados à morte (carnívoros e rastejantes) não podem ser comidos (Lv 11). A impureza do fluxo do homem e da mulher os tornam imundos (Lv 15), pois o que era para ser vida tornou-se morte. Toda a promessa de bênção para Israel envolve bênçãos da terra e de prosperidade, que são, em resumo, uma celebração da vida. Basta ler as decorrências da aliança de Deus com Israel em Deuteronômio 27-29 e observar como a distinção básica é bênçãos para a vida e ameaças que significam morte.
O salmista louva a Deus e clama ao Senhor por causa daquilo que representa a diferença entre a vida e a morte (e.g. Sl 30). A renovação das promessas de Deus por ocasião do exílio está claramente apresentada por Jeremias: “Ponho diante de vocês o caminho da vida e o caminho da morte” (21.8). No Novo Testamento, essa polaridade permanece, mas, o enfoque é distinto. A qualidade de vida sobe! A vida que está em vista é de qualidade plena e superior é a vida eterna (Jo 3.16). O próprio Jesus é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14.6). Já a morte absoluta descrita no Novo Testamento também é a morte eterna.
Como se vê, o Deus da Bíblia cria, enfatiza, valoriza e concede vida e vida em plenitude (Jo 10.10). Quem crê tem vontade de viver e razão para celebrar a vida. A vida é um valor importante por causa da perspectiva bíblica da realidade. Segundo as Escrituras, o ser humano é imagem de Deus (Gn 1.26), o que lhe dá significado e dignidade intrínseca. Possui origem e propósito definidos e caminha teleologicamente para um destino, sob o domínio divino. O ser humano sobrevive após a morte e terá de prestar contas de sua vida a Deus, o justo juiz. Neste sistema bíblico, faz sentido viver. Mas, se isso é deixado de lado, o sistema desmorona e passamos a caminhar na direção de uma cultura “da morte”. Muitos têm escolhido esta opção.
Há uma busca efervescente de fé e espiritualidade. Parece que a proposta secular tem se mostrado incompleta para muita gente. Portanto, essas pessoas encontram uma perspectiva que valorize e celebre a vida em todos os seus aspectos. Para elas, a vida é sagrada, desde o seu início. É preciso compreender o fascínio bíblico pela vida, que explica a dificuldade de aceitar o aborto com naturalidade.
Voltando a atenção para as Escrituras, ali vemos que Deus é descrito como o Deus que dá a vida e tem poder sobre ela (Dt 30.15; 1Sm 2.6; Ne 9.6). No Antigo Testamento há uma teologia da vida. A polarização “vida-morte” marca muito a proposta do texto. O primeiro pecado humano tem como retribuição o castigo da morte (Gn 2.17). Em seguida, o que é vedado ao homem, que deseja independência de Deus, é a árvore da vida (Gn 3.22-24).
Toda impureza ritual vista em Levítico está relacionada com a morte. Os animais ligados à morte (carnívoros e rastejantes) não podem ser comidos (Lv 11). A impureza do fluxo do homem e da mulher os tornam imundos (Lv 15), pois o que era para ser vida tornou-se morte. Toda a promessa de bênção para Israel envolve bênçãos da terra e de prosperidade, que são, em resumo, uma celebração da vida. Basta ler as decorrências da aliança de Deus com Israel em Deuteronômio 27-29 e observar como a distinção básica é bênçãos para a vida e ameaças que significam morte.
O salmista louva a Deus e clama ao Senhor por causa daquilo que representa a diferença entre a vida e a morte (e.g. Sl 30). A renovação das promessas de Deus por ocasião do exílio está claramente apresentada por Jeremias: “Ponho diante de vocês o caminho da vida e o caminho da morte” (21.8). No Novo Testamento, essa polaridade permanece, mas, o enfoque é distinto. A qualidade de vida sobe! A vida que está em vista é de qualidade plena e superior é a vida eterna (Jo 3.16). O próprio Jesus é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14.6). Já a morte absoluta descrita no Novo Testamento também é a morte eterna.
Como se vê, o Deus da Bíblia cria, enfatiza, valoriza e concede vida e vida em plenitude (Jo 10.10). Quem crê tem vontade de viver e razão para celebrar a vida. A vida é um valor importante por causa da perspectiva bíblica da realidade. Segundo as Escrituras, o ser humano é imagem de Deus (Gn 1.26), o que lhe dá significado e dignidade intrínseca. Possui origem e propósito definidos e caminha teleologicamente para um destino, sob o domínio divino. O ser humano sobrevive após a morte e terá de prestar contas de sua vida a Deus, o justo juiz. Neste sistema bíblico, faz sentido viver. Mas, se isso é deixado de lado, o sistema desmorona e passamos a caminhar na direção de uma cultura “da morte”. Muitos têm escolhido esta opção.
* Luiz Sayão é pastor, teólogo e hebraísta da Igreja Batista Nações Unidas (São Paulo-SP)
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