Johannes Gerloff
Antes que eu possa chegar a um veredito sobre os recentes acontecimentos em torno de Jerusalém, há uma série de perguntas que eu gostaria de ter uma resposta.
O mundo realmente precisa reconhecer a capital de um Estado soberano? Israel deve agora reconhecer Washington como a capital dos EUA, ou Moscou ou Berlim? Algum outro país no mundo já perguntou à comunidade internacional para reconhecer sua capital?
E: não deveríamos louvar a proximidade de Trump com a realidade? Afinal, ele agora reconheceu uma capital que, pela lei aplicável, já existe há quase sete décadas. Além disso, ele deu o primeiro passo, embora com uma hesitação visível, para a implementação de uma decisão vinculada juridicamente que o Congresso norte-americano já aprovou há mais de duas décadas.
Em paralelo, deve ser notado que os russos não só conseguiram enviar um homem para o espaço na frente dos americanos: meio ano antes dos EUA, eles reconheceram Jerusalém como a capital de Israel. Onde estava o clamor indignado naquele momento?
Os europeus recusam-se a reconhecer até mesmo a Jerusalém Ocidental como capital de Israel. É por isso que todos os Estados membros da UE têm suas embaixadas em Tel Aviv, que nunca foi a capital do Estado de Israel. Israel é o único Estado do mundo onde eu e meus conterrâneos, os europeus, não temos nossas embaixadas na capital do país. Não seria esse o verdadeiro escândalo? Especialmente porque ninguém parece ter um problema em falar de Jerusalém Oriental como a capital de um “Estado da Palestina”? Sendo que nem sequer há um “Estado da Palestina”. Nos tratados existentes, vinculados juridicamente, como os Acordos de Oslo, ele nem mesmo pretende ser um objetivo dos processos políticos entre israelenses e palestinos.
A lógica de políticos e diplomatas europeus para esse comportamento é que, no plano de partição da ONU, de 29 de novembro de 1947, Jerusalém era destinada como “corpus separatum”. No entanto, ao tentar implementar a Resolução 181 da ONU, toda uma confederação respondeu com a guerra – o que é singular na história das Nações Unidas. Ademais, as resoluções da Assembleia Geral da ONU não são vinculadas juridicamente, mas meramente recomendações.
Se os políticos europeus rejeitam no momento o reconhecimento de Jerusalém como a capital de Israel por causa de possíveis tumultos violentos e, em seguida, pronunciam advertências de viagens quase de forma profilática ao mesmo tempo, tal fato não deve ser visto como legitimação do terrorismo? Afinal de contas, eles se inclinam contra a violência mesmo antes de ela ser exercida.
As declarações dos principais políticos ocidentais já têm seus primeiros efeitos. Na rua Jafa, em Jerusalém, três turistas me detêm e perguntam: “Conseguimos ir ao monte das Oliveiras hoje?”. Assustado, um amigo meu em uma viagem a negócios por Tel Aviv pergunta por e-mail: “É possível dirigir até Jerusalém no final de semana?”. Pouco tempo depois, meu telefone toca. Um agente de viagens do sul da Alemanha quer saber: “O que eu digo aos líderes do grupo que agora querem cancelar a viagem planejada para Israel?”.
Que impacto isso terá na arena política a médio e longo prazo se a Europa achar mais fácil reconhecer o poder do terrorismo do que defender fatos históricos? Até então não havia indignação comparável ao fato de recentemente a UNESCO contestar as raízes historicamente judaicas de vários sítios sagrados na Terra Santa. O que os curdos ou os catalães devem aprender desses processos se quiserem tornar suas ambições políticas mais efetivas?
O terror torna-se evidente antes mesmo de ser perpetrado. Ele não leva somente políticos, empresários e turistas a pronunciamentos e perguntas ansiosas. Devido à situação atual em Israel e, ao mesmo tempo, aos eventos no mundo árabe, muitos na sociedade árabe se perguntaram se o terror valia a pena. A obediência antecipada do Ocidente mostra que sim. Isso também levanta perguntas que gritam por respostas.
Johannes Gerloff
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