Em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. (Colossenses 2:3)

Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por essas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.(Efésios5:6)
Digo isso a vocês para que não deixem que ninguém os engane com argumentos falsos. (Colossenses 2:4)

21 de dezembro de 2017

Espírito Versus Carne




Norbert Lieth


Números 33 traz uma lista de 40 locais por onde passou e acampou o povo de Israel desde a saída de Ramessés até a chegada à planície de Moabe, depois de 40 anos de peregrinação. A Bíblia diz justamente sobre o tempo que o povo de Israel passou no deserto: “Estas coisas lhes sobrevieram como exemplos e foram escritas para advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado” (1 Co 10.11; veja Rm 15.4).

Assim, Números 33.16-17 relata: “Partiram do deserto do Sinai e acamparam-se em Quibrote-Hataavá (“tumbas da cobiça”); partiram de Quibrote-Hataavá e acamparam-se em Hazerote”.

O que havia acontecido? O povo tornara-se literalmente cobiçoso de carne. Como as coisas chegaram a esse ponto? “E o populacho que estava no meio deles veio a ter grande desejo das comidas dos egípcios; pelo que os filhos de Israel tornaram a chorar e também disseram: Quem nos dará carne a comer?” (Nm 11.4). Os israelitas deixaram-se influenciar pelos não-israelitas em seu meio. Ao invés de dominá-los, foram dominados por eles.

Moisés sentiu-se tão impotente diante da situação que admitiu: “Eu sozinho não posso levar todo este povo, pois me é pesado demais” (Nm 11.14). Muitas vezes também chegamos ao ponto de sermos quase dominados pela carne e pela cobiça, pois ela nos acompanha passo a passo, está sempre conosco e podemos dizer como Moisés: “Eu não aguento mais! Não consigo vencer sozinho! Não suporto mais!”.

Deus deu a Moisés a receita para lidar com a cobiça dos israelitas. Ele deveria escolher 70 anciãos para repartir com eles o fardo da liderança, e o Senhor colocaria Seu Espírito sobre esses homens (Nm 11.16-17,25). Mais tarde, houve mais dois homens no arraial dos israelitas que foram cheios do Espírito Santo, e Josué reclamou disso. Moisés respondeu: “Tens tu ciúmes por mim? Tomara todo o povo do Senhor fosse profeta, que o Senhor lhes desse o Espírito!” (Nm 11.29).
Esse é o ponto! Se o povo todo estivesse sob a direção de Deus e da obediência ao Espírito Santo, não seria dominado pela cobiça dos não-israelitas que o acompanhava. Esses dois homens não estavam dentro do Tabernáculo. Ficaram fora, no arraial, e lá foram cheios do Espírito Santo. Isso nos mostra que não devemos ser santos apenas em certas ocasiões ou em certos lugares, como a igreja, mas que devemos ser santos também no arraial, ou seja, em casa, no trabalho, na escola, em qualquer lugar.

Pouco depois soprou um vento do Senhor trazendo codornizes do mar. O povo que cobiçava carne juntou as aves gananciosamente e começou a comer. Mas, enquanto a carne ainda estava entre seus dentes, eles foram castigados com uma praga muito grande. O lugar desse castigo passou a ser chamado de Quibrote-Hata­avá, que significa “tumbas da cobiça”, porque lá foi sepultado o povo que morreu por sua cobiça (Nm 11.34).

Portanto, por um lado vemos a ação do Espírito Santo, e por outro lado vemos o clamor do povo pedindo e desejando carne. Só existem dois caminhos: aquele dirigido pelo Espírito Santo ou aquele dirigido pela carne, com todas as suas consequências. “Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis” (Rm 8.13).

O grande problema era que a maioria dos israelitas não dava lugar à ação do Espírito Santo. Seu coração ainda estava preso ao Egito. Isso permitia que os não-israelitas os seduzissem e influenciassem com seu mau comportamento. Por isso, Deus mandou registrar através do profeta Ezequiel: “Mas rebelaram-se contra mim e não me quiseram ouvir; ninguém lançava de si as abominações de que se agradavam os seus olhos, nem abandonava os ídolos do Egito” (Ez 20.8).

Deus precisou de três dias para libertar Seu povo do Egito, mas de mais de 40 anos para libertá-lo dos ídolos egípcios. A peregrinação à Terra Prometida, feita em condições normais, teria levado no máximo 11 dias (Dt 1.2). A distância entre Israel e seu alvo não era o longo caminho a ser percorrido, era o estado do seu próprio coração. O que separou Israel de seu alvo por tanto tempo não foi a distância, e sim sua situação interior. Muitos morreram esperando chegar à Terra Prometida. Foi uma longa jornada.

É trágico ver alguém preso ao pecado até morrer, até sucumbir diante de sua “tumba da cobiça”. A situação de Israel naquela época simboliza a batalha entre a carne e o espírito: “Ora, estas coisas se tornaram exemplos para nós, a fim de que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram” (1 Co 10.6). “Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer” (Gl 5.17; veja Rm 8.4,9,13).
Deus precisou de três dias para libertar Seu povo do Egito, mas de mais de 40 anos para libertá-lo dos ídolos egípcios.
Com certeza, todo cristão pode ter sua própria concepção de liberdade em Cristo. Para um, uma taça de vinho já representa pecado, para outro isso não influencia em nada. Um assiste televisão e não vê nada de errado nisso, enquanto outro se escandaliza com o que vê na tela. Há os que valorizam restrições na maneira de se vestir enquanto para outros esse é um assunto secundário. Alguns levam as coisas com mais leveza e até com bom humor, enquanto outros são mais sérios e compenetrados em seu discipulado. Cada cristão tem sua interpretação particular do que significa a liberdade em Cristo, cada um sabe de seus próprios limites e conhece suas próprias tentações. Obviamente não podemos usar nossa percepção subjetiva para fazer dela uma lei para os outros (Rm 14).

Para o caso de vivermos na carne, Deus nos deu a consciência para nos acusar, a Bíblia para nos corrigir e o Espírito Santo para nos convencer do pecado, além da comunhão com os irmãos na igreja, que nos exortam quando falhamos ou estamos em perigo de errar. No fundo, sabemos diferenciar muito bem entre liberdade e pecado. Também sabemos que a graça não pode ser usada para desculpar ou encobrir nossos pecados (veja Rm 6).

Estamos nos referindo a coisas que sabemos que não são boas, coisas que são pecados e cobiça da carne, mas que continuamos a praticar. Continuamos arrastando conosco um comportamento danoso, sempre de consciência pesada, tornando difícil a nossa vida e a vida de quem convive conosco. Essas coisas não nos deixam viver em paz, e somos obrigados a justificá-las o tempo todo.

Quanto tempo Deus precisará para nos levar até onde Ele quer que cheguemos? Nós mesmos atrapalhamos nosso próprio caminho. Nós mesmos entulhamos nossa própria rota de caminhada com coisas que desnecessariamente arrastamos conosco. Por que não deixamos tudo isso para trás? Será que os “estranhos” entre nós seriam os não-cristãos com quem convivemos muito de perto? Ou é o mundo que nos seduz?

E o populacho que estava no meio deles veio a ter grande desejo das comidas dos egípcios; pelo que os filhos de Israel tornaram a chorar e também disseram: Quem nos dará carne a comer?” (Nm 11.4). Em linguagem neotestamentária essa realidade soa assim: “porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo” (1Jo 2.16).
Não é exatamente assim que acontece conosco? Aquilo que ainda arrastamos conosco, aquelas coisas da nossa velha vida de escravidão, que não extirpamos de nossa nova vida, não seriam justamente as que nos fazem tropeçar, que nos seduzem e nos levam a pecar? Que se tornam armadilhas para nós? Que se tornam “tumbas da cobiça” em nossa caminhada com Jesus? Permitimos que a carne nos leve a tropeçar porque não deixamos que o Espírito nos domine? Ficamos atolados sem conseguir seguir em frente. Mas a Bíblia diz: “os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências” (Gl 5.24).

É bem possível que ainda não tenhamos nos libertado de nós mesmos, de nosso eu, de nossas próprias convicções e de nossa própria religiosidade, mesmo sabendo que deveríamos abrir mão de nossas paixões para nos consagrarmos completamente a Jesus e vivermos uma vida cristã plena e vitoriosa. Não falo de uma entrega forçada da própria vida, mas em encontrar nosso sentido de viver e nossa satisfação somente em Cristo. Moisés abriu mão de sua autonomia, dizendo: “Eu sozinho não posso levar todo esse povo”. Aí Deus interveio e agiu por meio do Seu Espírito Santo.

Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão” (Gl 5.1).


Extraído de Revista Notícias de Israel março de 2016



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