Em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. (Colossenses 2:3)

Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por essas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.(Efésios5:6)
Digo isso a vocês para que não deixem que ninguém os engane com argumentos falsos. (Colossenses 2:4)

27 de outubro de 2017

A TRISTEZA E A SUBMISSÃO DE JÓ





Jó 1:20 – 22.

Por Pr. Plínio Sousa


O diabo havia feito contra Jó tudo o que pediu permissão para fazer, para incitá-lo a blasfemar contra Deus. Ele havia tocado tudo o que Jó possuía, e o fez de uma forma terrível, aquele em quem o sol nascente viu o mais rico de todos os homens do Oriente estava, antes do anoitecer, tão pobre que poderia servir como um provérbio. Se a sua riqueza fora, como Satanás havia insinuado, o único princípio da sua religião, agora que ele a havia perdido, teria certamente abandonado a sua crença, mas o relato que temos nestes versículos, sobre a conduta devota de Jó, sob as suas aflições, demonstra suficientemente que o diabo não passa de um mentiroso, e que Jó sempre foi um homem honesto.

1 – Estando sob as suas aflições, Jó se comportou como um homem, não tolo e insensato, como um idiota ou insensível, nem anormal nem impassível diante da morte de seus filhos e servos, não (v. 20), ele se levantou, rasgou o seu manto, e raspou a sua cabeça, que eram expressões habituais de grande tristeza, para mostrar que estava ciente da mão do Senhor que havia saído contra ele, ainda assim, não irrompeu em qualquer vulgaridade, nem revelou nenhuma cólera exagerada.

Ele não fraquejou imediatamente, mas levantou-se para resistir como um vencedor, ele não se desfez de suas roupas em um ímpeto de fúria, mas muito solenemente, em conformidade com o costume da nação, rasgou o seu manto, a sua capa, ou vestimenta exterior, ele não arrancou os seus cabelos de forma tempestuosa, mas raspou sua cabeça intencionalmente. Por tudo isso se tornou óbvio que manteve a calma, e bravamente conservou o controle e a tranquilidade da sua própria alma, no meio de todas essas adversidades. O momento em que ele começou a revelar os seus sentimentos é perceptível, não ocorreu até que ele ouvisse falar da morte dos seus filhos, então ele se levantou e rasgou o seu manto.

Um coração mundano teria dito: — “Agora que a comida se foi, é bom que as bocas tenham partido também, agora que não há dotes, é bom que não haja filhos”, — mas Jó não incorreu nesse erro, e teria ficado agradecido se a Providência tivesse poupado os seus filhos, embora dispusesse de quase nada para eles, pois ele servia a Jehovah–jireh — o Senhor proverá.

Alguns intérpretes, lembrando que era habitual os judeus rasgarem as suas vestes quando ouviam blasfêmias, presumem que Jó rasgou as suas roupas em uma indignação santa contra os pensamentos profanos que Satanás naquele momento tentava colocar em sua mente, na tentativa de induzi-lo a amaldiçoar a Deus.

2 – Estando sob as suas tribulações, ele se comportou como um homem sábio e bom, impecável, perfeito e honesto, como alguém que temia a Deus e evitava o mal do pecado mais do que o mal que poderia ser trazido pelas dificuldades externas.

[1] – Ele se humilhou sob a mão de Deus e sujeitou-se às providências sob as quais estava como alguém que sabia tanto passar necessidade como também estar em abundância.

Quando Deus o convidou ao choro e à lamentação, ele chorou e se lamentou, rasgou seu manto e raspou sua cabeça, e, como alguém que se humilhava até o pó diante de Deus, se lançou em terra, em uma compreensão penitente do pecado e em uma resignada submissão à vontade de Deus, aceitando o castigo pela sua iniquidade. Desse modo Jó mostrou a sua sinceridade, pois os hipócritas não choram quando Deus os imobiliza, capítulo 36:13.

Por meio disso, ele se preparou para aprimorar-se através da tribulação, pois como podemos tirar proveito de uma tribulação que não nos afeta?

[2] – Ele se acalmou por meio de reflexões tranquilizadoras, para que não ficasse perturbado e perdesse a sua alma por causa desses acontecimentos.

Ele raciocina a partir da condição natural da vida humana, que ele descreve aplicando-a a si próprio: — Nu saí (como os outros) do ventre de minha mãe, e nu tornarei para lá, no colo de minha mãe natural – a terra, como o filho, quando está doente ou fatigado, pousa a sua cabeça no colo de sua mãe. Pó, éramos em nosso princípio, e para o pó retornamos em nossa morte (Gênesis 3:19), à terra como éramos (Eclesiastes 12:7), nu tornaremos para lá, de onde fomos tomados, isto é, para o barro, capítulo 33:6.

O apóstolo Paulo se refere a esse aspecto de Jó, 1 Timóteo 6:7. Não trouxemos nada do que há neste mundo, mas os recebemos de outros, e é certo que daqui nada podemos levar, devemos deixar tudo para os outros. Entramos no mundo nus, não apenas desarmados, mas despidos, desamparados, incapazes, não tão bem abrigados e protegidos como as outras criaturas. O pecado no qual nascemos nos torna nus, para a nossa humilhação, aos olhos do Deus santo. Saímos deste mundo, despidos, o corpo sai nu, embora a alma santificada parta vestida, 2 Coríntios 5:3. A morte nos despoja de todos os nossos prazeres, as vestimentas não podem aquecer nem enfeitar um cadáver. Essa reflexão silenciou Jó em meio a todas as suas perdas.

[A] – Ele está meramente onde estava no princípio. Ele se considera apenas nu, não mutilado, nem ferido, ele mesmo ainda era o seu próprio esteio quando nada mais era seu, portanto, ele estava reduzido simplesmente à sua condição primitiva.

“Nemo tam pauperpotest esse quam natus est – ninguém pode ser tão pobre como era quando nasceu” – Min. Felix.

Se formos empobrecidos, não seremos prejudicados nem machucados, pois nos encontraremos na situação em que nascemos.

[B] – E afinal, ele está exatamente onde deveria ter estado, e está apenas despido, ou melhor, aliviado, um pouco mais cedo do que esperava. Se nos despirmos antes de irmos dormir, isto será uma inconveniência, mas poderá ser menos incômodo quando se aproximar a hora de dormir.

3 – Ele glorificou a Deus, e se manifestou nessa ocasião com uma grande veneração pela Providência divina e com uma humilde submissão às suas disposições. Podemos perfeitamente nos alegrar ao percebermos Jó nesse bom estado de espírito, porque este era o mesmo ponto sobre o qual o teste de sua integridade foi fundamentado, embora ele não soubesse disso. O diabo disse que durante as suas aflições, ele blasfemaria contra Deus, mas Jó louvou ao Senhor, e assim demonstrou que era um homem honesto.

[1] – Ele reconheceu a mão de Deus tanto nas misericórdias que havia desfrutado anteriormente, quanto nas tribulações com as quais ora era exercitado: — “O Senhor o deu e o Senhor o tomou”. Devemos reconhecer a Providência divina: — [A] – Em todos os nossos consolos. Deus nos deu a existência, nos criou, e não nós mesmos, foi Ele que nos concedeu a nossa riqueza, não foi a nossa própria engenhosidade ou empenho que nos enriqueceram, mas a bênção de Deus em nossos cuidados e esforços. Ele nos deu poder para obtermos riquezas, não apenas criou os animais para nós, mas determinou, da melhor maneira possível, a parte que nos cabia. [B] – Em todas as nossas tribulações. Aquele que o deu o tomou, e não pode Ele fazer o que quiser com o que lhe pertence? Veja como Jó olha para além dos agentes, e se concentra em Deus. Ele não diz: — “O Senhor concedeu, e os sabeus e os caldeus o tomaram, Deus me tornou rico, e o diabo me tornou pobre”, mas: — “Aquele que o deu o tomou”, e por essa razão ele está estupefato, e não tem nada para dizer, porque pensou que Deus havia feito isso. Aquele que tudo concedeu, pode tomar o que, quando, e quanto lhe aprouver. Sêneca pode argumentar assim: — Abstulit, sed et dedit – Ele o tomou, mas Ele também o deu; e Epíteto diz esplendidamente (capítulo 15), “Quando és privado de qualquer consolo, como, por exemplo, um filho que é levado pela morte, ou se perderes parte dos teus bens, não digas apolesa auto – Eu o perdi, mas apedoka – Eu o restituí ao verdadeiro dono, mas tu alegarás (diz ele), kakos ho aphelomenos – foi um homem perverso que me roubou, ao que ele responde, ti de soi melei – O que te importa com qual mão aquele que dá toma aquilo que deu?”.

[…] “Saí nu do ventre da minha mãe, e nu partirei. O Senhor o deu, o Senhor o levou; louvado seja o nome do Senhor” – Jó 1:21.

[2] – Jó adorou a Deus nos dois casos. Quando tudo havia terminado, ele se ajoelhou e adorou (v. 20). Note que as tribulações não devem nos desviar das práticas da religião, mas sim nos estimular ao exercício delas. O pranto não deve impedir a semeadura, nem a adoração. Ele percebeu não apenas a mão, mas o nome de Deus, em suas aflições, e o honrou: — Jó louvou o nome do Senhor. Ele ainda tem os mesmos pensamentos nobres e bons a respeito de Deus, sim, que sempre tivera, e está ansioso como sempre para expressá-los em seu louvor, Jó é capaz de decidir em seu coração louvar a Deus tanto quando Ele concede bênçãos, assim como quando Ele as retira. Desse modo devemos cantar a misericórdia e o juízo, Salmos 101:1.

[3] – Ele louva a Deus pelo que foi dado, embora agora fosse tomado. Quando os nossos consolos nos são retirados, devemos agradecer a Deus por tudo aquilo que tivemos, e por desfrutarmos deles por mais tempo do que merecemos. Além disso, [A] – Ele adora a Deus até mesmo na perda, e o honra com uma submissão disposta, sim, de muito bom grado, e mais ainda, Jó agradece ao precioso e bendito Senhor pelo bem que lhe foi destinado através de suas tribulações, pelo amparo generoso que recebeu estando sob tal situação, e reafirma a sua fé esperançosa em um resultado feliz no final.

Por fim: — Eis aqui o honorável testemunho que o Espírito Santo presta a respeito da fidelidade e da boa conduta de Jó durante as suas aflições. Ele passou em seu teste com louvor (v. 22). Em tudo isso, Jó não agiu de maneira imprópria, pois não atribuiu a Deus falta alguma, nem fez sequer a menor crítica à sua sabedoria naquilo que Ele fez. O descontentamento e a impaciência fazem, na verdade, com que Deus seja acusado de insensatez. Jó se manteve cuidadosamente atento aos efeitos destes, e assim devemos proceder, reconhecendo que Deus age corretamente, mas nós agimos impiamente, e que, portanto, Deus sempre age sabiamente, mas nós agimos tolamente, muito tolamente. Aqueles que não apenas conservam a sua calma sob as tribulações e provocações, mas também mantêm bons pensamentos a respeito de Deus e uma doce comunhão com Ele, quer sejam ou não elogiados pelos homens, o serão por Deus, como aconteceu aqui com Jó.

Paz e graça.

[1] — Comentário Matthew Henry.


http://teologia.exitoied.com.br/blog/2017/10/19/tristeza-e-submissao-de-jo/

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