Para que a profecia bíblica sobre o fim
dos tempos faça sentido, é preciso entender primeiro o que aconteceu no
princípio de tudo, a fim de saber para onde vamos e por que a história
humana caminha nessa direção. Embora o ser humano esteja visceralmente
envolvido no desdobramento da história, ninguém vai conseguir entender o
propósito e o objetivo dela sem antes conhecer o que Deus revela acerca
da esfera angelical. Tudo começou quando Satanás declarou a sua
independência de Deus logo depois da criação.
Começa a Batalha Pelo Planeta Terra
Os textos de Ezequiel 28 e Isaías 14 são as duas principais passagens
bíblicas que mostram a entrada do pecado no universo por ocasião da
queda de Satanás. O capítulo 28 de Ezequiel inicia com um pronunciamento
de juízo contra o príncipe de Tiro, que demonstra ser uma referência a
Lúcifer, ou seja, Satanás, aquele que realmente atua por detrás desse
rei humano (Ez 28.11-19). Os versículos 14 e 15 de Ezequiel 28 dizem: “Tu
eras querubim da guarda ungido, e te estabeleci; permanecias no monte
santo de Deus, no brilho das pedras andavas. Perfeito eras nos teus
caminhos, desde o dia em que foste criado até que se achou iniqüidade em
ti”. Apesar de ter sido criado em beleza e perfeição, Satanás, o
anjo de Deus mais elevado na hierarquia angelical, caiu em pecado e
arrastou consigo um terço dos outros anjos (Ap 12.4,9).
“Contudo, serás precipitado para o reino dos mortos, no mais profundo do abismo” (Is 14:15).
O texto de Isaías 14 é a outra passagem bíblica fundamental para nos
esclarecer acerca da queda de Satanás. O profeta registra a famosa
declaração de Satanás em sua rebelião contra Deus: “Tu dizias no teu
coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu
trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do
Norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao
Altíssimo” (vv. 13-14). Deus respondeu a tal declaração da seguinte forma:“Contudo, serás precipitado para o reino dos mortos, no mais profundo do abismo” (v. 15). Satanás
se tornou o inimigo de Deus, um adversário que se levantou com o
intuito de destronar Deus e impedir oplano divino para a história.
Depois que caiu em pecado, Satanás partiu para expandir sua
influência através da tentação de Adão e Eva, que tinham sido criados
recentemente, para levá-los a se unirem a ele em sua rebelião contra
Deus. Em conseqüência da participação de Satanás no engano de Eva a fim
de que o ser humano se juntasse a ele na revolta contra Deus, o Senhor
amaldiçoou a serpente e a mulher nos seguintes termos: “Porei
inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu
descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn
3.15). O grande conflito entre a descendência da serpente e o descendente da mulher começou a ser travado a partir daquele momento.
Satanás Difama a Deus
O livro de Jó é o primeiro livro da Bíblia revelado por Deus ao ser
humano e, portanto, é o mais antigo livro do cânon das Escrituras. Eu
creio que o livro funciona como uma espécie de prolegômeno* da Bíblia.
Identificamos o tema geral da história na vida de Jó, um personagem
bíblico que viveu antes de Abraão. Naquele contexto, percebe-se que Deus
demonstrava alguma verdade ao conselho angelical** através dos
acontecimentos na vida de Jó. Apesar das terríveis provações que Jó
suportou, Deus abençoou esse homem no fim de sua vida muito mais do que o
abençoara no começo, desbancando, desse modo, a falácia da acusação
satânica fundamental de que Deus não sabe o que faz. O restante da
Bíblia e a história comprovam essa tese com muito mais detalhes que
envolvem não somente o povo de Israel , mas também a Igreja e outros
grupos de pessoas redimidas.
No começo do relato da história de Jó, quando os anjos (tanto os
caídos quanto os santos anjos) compareceram perante Deus, perguntou o
Senhor a Satanás: “Donde vens? Satanás respondeu ao SENHOR e disse: De rodear a terra e passear por ela” (Jó 1.7). À medida que acompanhamos o desenrolar do diálogo entre Deus e Satanás, descobrimos que, apesar de o diabo ter poder para investir contra a vida de seres humanos, isso não quer dizer, necessariamente, que ele possa fazê-lo quando bem entender. Satanás precisa da permissão de Deus para provocar calamidades na vida de um ser humano.
O Senhor iniciou sua conversa com Satanás perguntando o seguinte: “Observaste o meu servo Jó?” (Jó 1.8). Em
seguida, Satanás solicitou a permissão do Senhor para causar danos a
Jó. Satanás obviamente não pediria consentimento numa questão como essa,
se não fosse necessário. O diabo admitiu que Deus fizera uma cerca viva
(i.e., uma cerca de proteção) ao redor da vida de Jó e de sua família,
proteção essa que o impedia de atacar sorrateiramente a Jó sem a
permissão de Deus. Após conceder permissão a Satanás, o Senhor
estabeleceu os limites de sofrimento que ele poderia infligir a Jó (cf.
Jó 1.12; Jó 2.6).
Durante o diálogo entre Deus e Satanás, o diabo acusa o Senhor de não
ser um Deus bom, de não saber o que faz e de ser Alguém que só obtém a
lealdade do ser humano porque compra a pessoa com bens e benefícios.
Percebe-se que o alvo de Satanás é obstruir o progresso do plano de Deus
para que possa provar sua tese de que Deus não sabe governar o
universo; na realidade, Satanás acredita que é capaz de governar melhor
do que Deus. Essa é a razão pela qual a luta entre a descendência da
serpente e o descendente da mulher se trava na história e chegará ao seu
clímax nos últimos dias, durante o período de sete anos da Tribulação.
Satanás Ataca Israel
Todo o capítulo 12 do livro de Apocalipse mostra a razão pela qual Satanás atacará Israel no meio do período da Tribulação e tentará eliminá-lo, ou seja, porque Satanás sabe que, àquela altura, pouco tempo lhe restará para evitar o cumprimento final do plano de Deus.
O conflito entre o descendente da mulher e a descendência da serpente
concentrou seu foco sobre Israel porque o Messias viria da nação eleita
de Deus. Portanto, se Satanás em alguma ocasião conseguisse frustrar o
plano de Deus e impedir sua concretização na história, teria atingido
seu intento de obstruir o propósito de Deus e teria provado sua alegação
inicial de que o Senhor não merece ser Deus, o Altíssimo.
Todo o capítulo 12 do livro de Apocalipse mostra a razão pela qual
Satanás atacará Israel no meio do período da Tribulação e tentará
eliminá-lo, ou seja, porque Satanás sabe que, àquela altura, pouco tempo
lhe restará para evitar o cumprimento final do plano de Deus. O
objetivo essencial de Satanás é impedir a Segunda Vinda de Cristo. Como
ele poderia alcançar esse objetivo? Ele acredita que pode atingi-lo pela
destruição dos judeus. A Segunda Vinda de Cristo acontecerá no momento
em que a nação de Israel aceitar Jesuscomo seu Messias e invocar Seu
nome para que Ele os salve no Armagedom. Se esse acontecimento milagroso
não ocorresse, Israel seria aniquilado naquele momento da Grande
Tribulação. Desse modo, o capítulo 12 de Apocalipse oferece uma
compreensão clara desse conflito que vem sendo travado há milênios,
desde o início deste mundo, e que perdura para se tornar uma questão de
extrema importância no ponto culminante da história. O texto de
Apocalipse 12 nos mostra que um terço dos anjos caiu em pecado e seguiu a
Satanás por ocasião da sua revolta inicial. Entendemos esse fato ao
constatarmos que as estrelas nessa passagem simbolizam os anjos
(compare com Apocalipse 9.1; 12.7,9).“Essa foi uma guerra no céu que
ocasionou a expulsão de Satanás e seus anjos para a terra antes do
nascimento do filho da mulher, donde se conclui que tal acontecimento
faz parte da história passada. Uma segunda guerra é mencionada em
Apocalipse 12.7-9, que vem a ser a última tentativa satânica de
conquistar o céu e exterminar o menino após o seu nascimento”.[1]
A segunda parte do versículo 4 é uma clara referência a Satanás
(i.e., “o dragão”) que pára em frente da mulher que está para dar à luz
(i.e., Israel ), numa tentativa de impedir o nascimento de Jesus, o
Messias, o menino ao qual a mulher deu à luz no passado. Satanás não
sabia o momento exato do nascimento do Messias, de forma que aguardou
com muita expectativa pela vinda do descendente da mulher. A tentativa
satânica de “devorar o filho[da mulher] quando nascesse” é
vista no Novo Testamento naquela ocasião em que Satanás instigou o rei
Herodes a tramar uma conspiração para achar o menino Jesus e matá-lo (Mt
2). Diante do fato de que os acontecimentos históricos envolvidos no
nascimento de Jesus faziam parte do conflito angelical, o Senhor
advertiu os magos do Oriente em sonho “para não voltarem à presença de Herodes”, pelo que eles, “regressaram por outro caminho a sua terra” (Mt 2.12). Satanás
estava prestes a incitar Herodes para que este mandasse matar todos os
nenês do sexo masculino da faixa etária de Jesus, porém, “tendo eles
partido, eis que apareceu um anjo do Senhor a José, em sonho, e disse:
Dispõe-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito e permanece lá até
que eu te avise; porque Herodes há de procurar o menino para o matar”
(Mt 2.13). Deus sempre está um passo à frente de Satanás.
Ao longo da história, fatos como os que acabamos de mencionar fazem
parte do conflito angelical, da guerra entre a descendência da serpente e
o descendente da mulher. Robert L. Thomas faz o seguinte resumo dos
principais acontecimentos da história:
As más intenções do dragão para com o filho que estava para nascer à mulher ficam evidentes em toda a história do Antigo Testamento. Indícios da sua hostilidade vêm à tona no assassinato de Abel pelas mãos de Caim (Gn 4.8), na corrupção da linhagem de Sete (Gn 6.1-12), nas tentativas de violar sexualmente tanto Sara (Gn 12.10-20; 20.1-18) quanto Rebeca (Gn 26.1-18), no plano de Rebeca para tirar o direito de primogenitura de Esaú através de uma trapaça, ocasionando a inimizade de Esaú contra Jacó (Gn 27), no assassinato de todos os nenês hebreus do sexo masculino por ordem do Faraó no Egito (Êx 1.15-22), nas tentativas de assassinar Davi (por exemplo, 1 Sm 18.10-11), na tentativa da rainha Atalia de destruir toda a descendência real de Judá (2 Cr 22.10), na trama de Hamã para exterminar os judeus (Et 3-9), e nas constantes tentativas dos israelitas de matarem seus próprios filhos em atos de sacrifício com finalidade expiatória (cf. Lv 18.21; 2 Rs 16.3; 2 Cr 28.3; Sl 106.37-38; Ez 16.20).
A investida de Herodes para matar os nenês da região de Belém (Mt 2.16) e muitos outros incidentes durante a vida de Jesus neste mundo, inclusive Sua tentação, tipificam o contínuo esforço de Satanás para “devorar” o filho da mulher a partir do momento que o menino nasceu. Naturalmente a tentativa mais direta foi a crucificação de Cristo.[2]
A profecia é necessária para que, no decorrer da história, Deus
demonstre por evidências que Jesus Cristo tem o direito de governar o
planeta Terra e que Satanás não passa de um mentiroso em tudo o que
fala, principalmente nas referências que ele faz a Deus. Essa é a razão
pela qual Deus planejou acontecimentos proféticos que se cumprirão no
futuro e que comprovarão que Jesus Cristo é o herói da história.
Maranata!
(Thomas Ice - Pre-Trib Perspectives - http://www.chamada.com.br)
Notas:
- Robert L. Thomas, Revelation 8 22: An Exegetical Commentary, Chicago: Moody Press, 1995, p. 124.
- Thomas, Revelation 8 22, p. 125.
* Prolegômeno vem a ser uma introdução crítica ou analítica de um livro.
** O conselho angelical é uma referência àqueles anjos,
tanto caídos quanto eleitos, que se apresentam diante do trono de Deus
no céu conforme está descrito em Jó 1.6 e Jó 2.1.
** O conselho angelical é uma
referência àqueles anjos, tanto caídos quanto eleitos, que se apresentam
diante do trono de Deus no céu conforme está descrito em Jó 1.6 e Jó
2.1.
Extraído de Revista Chamada da Meia-Noite janeiro de 2008
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