por Augustus Nicodemus
1) Toda autoridade procede de Deus (Romanos 13). Os governantes são vistos como servos de Deus neste mundo, para através da política e do exercício do poder promover o bem comum, recompensar os bons e punir os maus. Como tal, haverão de responder diante de Deus pela corrupção na política, pela insensibilidade e pelo egoísmo. A visão do cargo político como sendo uma delegação divina desperta no povo o devido respeito pelas autoridades, mas, ao mesmo tempo, produz nestas autoridades o senso crítico do dever.
2) Por outro lado, a Escritura não reconhece “o conceito da soberania absoluta do Estado, “um produto do panteísmo filosófico alemão” (Abraham Kuyper, 2002, p. 96) e nem o conceito da soberania absoluta do povo, conforme defendido pela revolução francesa. O poder reside em Deus. Tanto o poder do Estado quanto do povo são delegados por ele visando a organização da humanidade. Como consequência, nenhum ser humano tem poder sobre seus semelhantes, a não ser quando delegado por Deus, ao ocupar um cargo de autoridade. Portanto, é antibíblica toda opressão política à mulher, ao pobre e ao estrangeiro, todo sistema político que produza escravidão, todo conceito de castas e qualquer distinção entre sacerdotes e leigos.
3) Já que o poder não é intrínseco ao ser humano, mas uma delegação divina, deve-se resistir pelos meios corretos a quem exerce o poder político em desacordo com a vontade de Deus. Esta vontade divina para os governantes se encontra claramente expressa na Bíblia, como por exemplo, nos Dez Mandamentos. Entre eles encontramos proposições como “não furtarás”, “não dirás falso testemunho”, “não matarás”. Esses mandamentos refletem absolutos éticos presentes em todas as civilizações, em função de todos os seres humanos levarem em sua constituição a imagem e semelhança de Deus – com maior ou menor precisão, em função da imperfeição moral existente na humanidade. Nenhum governante tem imunidade contra a Lei de Deus. Resistir à corrupção na política é dever de todos e a vontade de Deus para cada pessoa.
4) A corrupção na política é vista na Bíblia como tendo origem primariamente no coração dos seres humanos. A Bíblia afirma que não há sequer uma pessoa justa neste mundo. “Todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23). Jesus Cristo disse que é do coração dos homens e das mulheres que procedem “maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias” (Mateus 15.19-20). Quando a causa é identificada, há condições de se buscar o remédio adequado. Aqui se percebe a insuficiência de éticas humanistas reducionistas, que analisam apenas aspectos sociológicos e antropológicos da corrupção na política, deixando de incluir a dimensão pessoal: egoísmo, maldade, crueldade, despotismo, avareza, inveja, cobiça. As Escrituras pregam uma conversão interior dos governantes e dos governados a Deus, que se arrependam do mal e pratiquem obras de justiça.
5) Por fim, a Escritura nos ensina, ainda que de forma indireta, o conceito de graça comum (concedida a todos). Há princípios gerais estabelecidos por Deus que, se seguidos e aplicados, produzirão a ética na política. Deus abençoa a humanidade em geral com virtudes e qualidades, independentemente das convicções religiosas e políticas das pessoas. É por este motivo que encontramos quem se professa cristão e não tem ética, e encontramos a ética funcionando pelas mãos de quem não se declara cristão. Ao reconhecer a graça comum de Deus, o cristão entende que o caminho para a ética na política não é necessariamente colocar em cargos políticos quem se professa cristão, mas contribuir para que os princípios de igualdade, justiça, honestidade, verdade, transparência, equidade, misericórdia e outros acima mencionados sejam reconhecidos e exercidos por todos, independentemente da convicção religiosa.
Fonte: Blog Editora Mundo Cristão
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