Em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. (Colossenses 2:3)

Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por essas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.(Efésios5:6)
Digo isso a vocês para que não deixem que ninguém os engane com argumentos falsos. (Colossenses 2:4)

30 de abril de 2017

Fé Contra Obras ou Fé e Obras


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Tiago 2:14-26
14_Que proveito há meus irmãos se alguém disser que tem fé e não tiver obras? Porventura essa fé pode salvá-lo? 15_Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano. 16_e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito há nisso? 17_Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma. 18_Mas dirá alguém: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me a tua fé sem as obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras. 19_Crês tu que Deus é um só? Fazes bem; os demônios também o creem, e estremecem. 20_Mas queres saber, ó homem vão, que a fé sem as obras é estéril? 21_Porventura não foi pelas obras que nosso pai Abraão foi justificado quando ofereceu sobre o altar seu filho Isaque? 22_Vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada; 23_e se cumpriu a escritura que diz: E creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça, e foi chamado amigo de Deus. 24_Vedes então que é pelas obras que o homem é justificado, e não somente pela fé. 25_E de igual modo não foi a meretriz Raabe também justificada pelas obras, quando acolheu os espias, e os fez sair por outro caminho? 26_Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.
Vamos tratar agora de um dos mais antigos dilemas do cristianismo: Fé ou obras para a justificação? No protestantismo-evangélico, a justificação vem pela graça, por meio da Fé. No catolicismo, a justificação vem pelas obras, administrada pela igreja. E uma das preocupações maiores de Tiago é exatamente o farisaísmo cristão, a mentalidade que começava a se firmar no seio das comunidades de Cristo.

O cristianismo estava se tornando, para alguns, um mero sentimento, apenas emoções. A fé vivencial exibida na prática de uma religião autenticada por atos estava se esvaindo. Parece-me em certo sentido, com nossos dias: O mais importante é sentir, experimentar sensações e fazer afirmações de fé. No movimento evangélico de hoje é muito grande a ênfase no experiencialismo e nas afirmações que se tornam mero assentimento intelectual. Não é mais vida. Exibir a fé em obras não tem sido exigido em nossas igrejas.

O cristianismo é bem mais que regras, é bem mais que visual e liturgia. É essencialmente vida, uma qualidade de vida outra, produto de um encontro com Cristo. Devemos ao teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer o conceito de “graça barata”. Muitos hoje têm transformado o evangelho em “graça barata”, numa mensagem de um Deus bonachão, tipo Papai Noel, que só faz oferecimentos, deseja todo mundo feliz, risonho, sem que quaisquer exigências sejam feitas. Por incrível que pareça, livros com títulos como: Como orar e conseguir que Deus faça o que você deseja é encontrado. Isso é graça barata... É o cristianismo leviano, de alegria e riso afivelados no rosto, como uma festa que se inicia com o principio do culto e segue até o fim, com artificialidades deprimentes. Mas, o fruto de uma vida que marque o mundo não é enxergado. O mundo hoje não sofre os efeitos da igreja de Cristo.

Tiago insiste na necessidade de viver a Palavra. E mostra, então, dois tipos de fé. Uma, inútil, é a que não vive a Palavra. A outra que a vive, é a fé útil. Vai buscar dois vultos do Velho Testamento para exemplificar: Abraão e Raabe, os tipos da fé.

A fé inútil é retratada por Tiago nos vs. 14 a 20 do texto em foco. A fé não pode ser mero sentimento. “Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano; e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito há nisso?” vs, 15 e 16.

Existem muitos cristãos que são corteses, mas não é prestativo. Por amor, Tiago entende prestação de auxilio, como uma ação! No que ele tem razão. Amor não poder ser apenas uma expressão de piedade no semblante. Para Tiago, a verdadeira fé está numa manifestação concreta por alguém. Não adianta dizer “que Deus o abençoe” Ajudar os necessitados da igreja não é algo para Deus fazer. É para a própria igreja fazer. No judaísmo, as esmolas era uma das práticas mais elevadas e respeitadas. Não é isso que Tiago está dizendo. Não se trata de auxiliar os outros para subornar Deus, comprando seu perdão. É contrário: Quem provou o amor de Deus, deve ajudar seu irmão.

A questão central que Tiago discute aqui é esta: A fé se mostra pelas obras. Não são as obras que produzem fé ou favor de Deus. A fé dissociada de ação é inútil. Na versão BLH, o vs. 20, diz: “Seu tolo! Você quer saber de uma coisa? A fé sem boas ações não vale nada”. Nos vs. 18 e 19, Tiago levanta uma questão sobre o conteúdo da fé, quando apela e diz: Até os demônios creem e tremem de medo. O endemoninhado gadareno (Lucas 8), prostrou-se diante de Jesus e gritou: “Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo?” Crer na unicidade de Deus, crer no seu poder e aceitar que Jesus é Filho de Deus é uma profissão de fé assumida até pelos demônios.
Ortodoxia significa “doutrina correta”. Ter doutrina correta é muito importante e necessário. Mas, a palavra que expressa a necessidade maior da igreja hoje é ortopraxia, que significa “conduta correta”. A conduta condizente com a fé, eis o de que necessitamos.

Algumas correntes filosóficas supunham que o simples conhecimento da verdade automaticamente levaria à sua prática. Jesus não ensinou isso. O mero conhecimento intelectual da verdade da fé é insuficiente. O salvador declarou, Mateus 7:21-23: “Não é toda pessoa que me chama de "Senhor, Senhor" que entrará no Reino do Céu, mas somente quem faz a vontade do meu Pai, que está no céu. Quando aquele Dia chegar, muitos vão me dizer”: "Senhor, Senhor, pelo poder do seu nome anunciamos a mensagem de Deus e pelo seu nome expulsamos demônios e fizemos muitos milagres!" Então eu direi claramente a eles: "eu nunca conheci vocês! Afastem-se de mim, vocês que só fazem o mal!" Expulsar demônios não é prova nem mesmo de salvação. Há perdidos efetuando milagres e expulsando demônios! Quando mais presumir que um mero assentimento intelectual sobre doutrinas tem algum valor. E se fizermos a leitura de Mateus 25:31-46 com honestidade, sem tentarmos dar ao texto outro sentido que não seja o que esta ali, confirmaremos Tiago: O cristianismo exige boas obras. Não é apenas cantar, bater palmas e orar. Estas coisas não são a essências do cristianismo.

A fé que se enclausura, que não leva a pessoa a se abrir para os outros, a dar de si, é inútil. A fé deve levar-nos a um sentimento genuíno de amor pelos irmãos e pelos necessitados. Não deve ser uma atitude demagógica para convertê-los, um tipo de amor que seria um meio para um fim ultimo. Uma tese de John Stott – A compaixão de Jesus – é elucidativa quanto a este aspecto, no trecho em que ele trata da atitude do bom samaritano para com o pecador caído na beira da estrada: “Assim que o samaritano ata as suas feridas, leva-o a um albergue, cuida dele, paga ao hospedeiro para que continue atendendo-o e compromete-se a pagar qualquer outro gasto que demande a tratamento. A única coisa que o samaritano não faz é evangelizá-lo! Poe óleo e vinho nas feridas, mas não enche os bolsos do judeu com folhetos.” Isto quer dizer que a nossa fé deve se evidenciar em amor por aquilo que as pessoas são: imagem e semelhança de Deus. Pelo seu valor intrínseco, e não por oportunismo.

A fé autêntica surge-nos vs. 21-26. Tiago não é discursivo. Objetivamente, vai se valer de dois vultos do Velho Testamento para provar sua teoria. O primeiro vulto é Abraão, o chamado “pai da fé”. Aparentemente, existe uma contradição irreconciliável entre Tiago e Paulo, ao tratarem da justificação de Abraão. “Não foi pelas obras que nosso pai Abraão foi justificado?”, pergunta Tiago. Em Romanos 4:1-3, Paulo deixa bem claro que Abraão foi justificado pela fé. Para Tiago, a justificação de Abraão foi pelo que ele fez: dispôs-se a oferecer seu filho Isaque. Para Paulo, ele foi justificado porque creu em Deus.

Como é possível entender essa aparente discordância? Uma das regras de interpretação da Bíblia nos ensina que é necessário saber o propósito do autor do texto estudado, o que se propunha a dizer e para quem dizia. Paulo é um teólogo. Sua carta à igreja em Roma é um tratado teológico onde de discute o que é necessário para a salvação. Tiago é um pastor que elabora um tratado ético. Sua discussão é sobre o comportamento dos crentes, como estes devem proceder, posto que seja salvos. Estão analisando de perspectivas absolutamente diferentes. Paulo ensina teologia. Tiago ensina ética. O que Paulo está ensinando aos romanos é isto: Para o novo nascimento, para a conversão, as obras não têm valor. Só a fé é válida para produzi-los. O que Tiago está dizendo é o seguinte: Após a conversão, a fé sozinha não tem valor. O vs. 22 nos diz muito bem: “Sua fé se tornou perfeita por meio das suas ações.” As obras de Abraão aperfeiçoaram, ou seja, completaram sua fé.

Após citar Abraão, Tiago apresenta outro vulto do Velho Testamento: Raabe. São dois exemplos, aos olhos humanos, opostos: o pai da fé e uma meretriz que creu. Em Hebreus 11:31, ela é colocada como heroína da fé. Na galeria desses heróis, apenas ela e Sara a esposa de Abraão, são citadas nominalmente (Hebreus 11:35 fala de “mulheres”, sem dizer seus nomes). A história de Raabe é bem conhecida e, para efeitos de recordação, devemos ler no livro de Josué, os cap. 2 e 6. O evangelista Mateus, visando alcançar os judeus, faz o registro: Mateus 1:5 “o Salmon nasceu, de Raabe, Booz”. Raabe está como ancestral do rei Davi e do Senhor Jesus. Assim Mateus mostra para os judeus, que valorizavam a ex-meretriz, que o Messias veio dela.

O que fez Raabe, exatamente? Ela escondeu os hebreus que foram enviados a Jericó. Foi então sua obra que a salvou? Não! Sua obra foi consequência de sua fé. Eis a declaração de fé por ela formulada aos espiões, sobre o Deus de Israel, Josué 2:11 “... o Senhor vosso Deus é Deus em cima e embaixo na terra”. Raabe creu em Deus, na sua unicidade (único), no seu poder, e por isso agiu. Em Tiago 2:25 BLH diz: “... ela foi aprovada por Deus por causa da sua ação”. Quando uma pessoa crê, ela age. Sua fé leva a um envolvimento com Deus e não a uma perda de razão, uma fuga mística e contemplativa em que a pessoa se volta para dentro de si. A fé autêntica produz fruto e não uma atitude passiva. Produz envolvimento e não uma limitação entre grupos. Viver cantando corinhos dentro do templo não é a ação mais produtiva do cristão.

Conclusão:

Tiago termina com uma bela figura. Deus criou primeiro o corpo do homem, mas enquanto o espírito não veio habitar no corpo, este não valia muito. Estava sem vida. A vida veio pelo espírito. Quando o Senhor soprou o fôlego de vida no corpo do homem, este foi tornado alma vivente. Antes, tinha toda a aparência. Olhamos para uma vida de fé onde as obras não são presentes. Tudo está nos seus devidos lugar, mas ela é tão viva é tão viva quanto um cadáver. Ou seja, está morta.

Abraão creu e porque creu, agiu. Foi chamado por Deus de “meu amigo”. Está escrito em Isaías, 41:8 “Mas tu, ó Israel, servo meu tu Jacó, a quem escolhi descendência de Abraão, meu amigo”.

Sem dúvida, um elogio maior do que este não pode haver. Crer e não agir é ser como um defunto espiritual, como um corpo sem vida. Quem é você: UM CORPO SEM VIDA ou UM AMIGO DE DEUS?


FONTE:
http://alcyricardo.blogspot.com.br/p/estudo-livro-tiago-cap-02.html 

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