Os maus filmes podem ser subdivididos em três grupos: os ruins, os muito ruins e os péssimos. "A Cabana", que entrou em cartaz nesta quinta (6), cabe com perfeição na última categoria.
Trata-se de um exemplar dessa safra, relativamente recente, de filmes religiosos, nos quais, ao contrário do cinema bíblico hollywoodiano clássico, ignora-se o poder persuasivo do espetáculo sobre as plateias.
Os religiosos de hoje correspondem às produções ficcionais para os grupos reunidos sob o rótulo "diversidade", seja ela sexual, étnica, de gênero ou, como aqui, de crenças.
Em comum, são produções bem cuidadas, reúnem elencos respeitáveis, mas servem somente para espelhar identidades e confirmar certezas.
Resumindo: são pregação para convertidos.
O fiel vai encontrar no filme "A Cabana" motivos de sobra para acreditar ainda mais. Já os que questionam terão que pedir a Deus muita força para alcançar a luz ao fim da sessão.
À PROVA
Sam Worthington "interpreta", sem outro recurso que não a voz sussurrante, o papel de Mack, homem ideal cujo único defeito é não se submeter por completo aos mandamentos religiosos.
Essa desobediência se resolve quando Mack é posto à prova, como Jó. Ao perder o que mais ama, ele reage ao contrário, afastando-se da fé.
Logo sua descrença será desafiada quando é posto diante de Deus em si, que ganha as formas roliças e o aspecto de mãezona de Octavia Spencer. Detalhe saboroso: Deus faz as melhores tortas de maçã deste mundo e do outro.
Não basta? Ao lado desse Deus politicamente corretíssimo encontram-se dois assistentes, um árabe e uma asiática.
O elenco ecumênico se completa com a súbita aparição de Alice Braga, encaixada para demonstrar que no mundo ideal o regime de cotas garante a representatividade de todos.
Daí em diante, "A Cabana" converte-se em celebração mística, com direito a apoteose de espíritos de luz e a um número cafoníssimo de "assim é o paraíso".
Quando tudo parece estar resolvido e próximo do fim, a trama ainda dá algumas piruetas para ter certeza de que todo mundo absorveu direitinho a mensagem.
O efeito é como o do discurso do fiel que não se contenta com sua fé, precisa convencer todo mundo de sua verdade.
No final, nem é preciso ser ateu para só sentir náuseas.
A CABANA (The Shack)
QUANDO: em cartaz
ELENCO: Sam Worthington, Octavia Spencer e Tim Mcgraw
PRODUÇÃO: EUA, 2017, 12 anos
DIREÇÃO: Stuart Hazeldine
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/04/1873250-a-cabana-e-um-longa-nauseante-que-tenta-doutrinar-espectador.shtml
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