por Christopher Love
DOUTRINA:
Um homem deve ser levado a um estado de amizade ou de reconciliação com
Deus antes de qualquer oração que ele faça venha a ser aceita.
Eu provarei esta doutrina por três razões e depois a aplicarei.
1. Deus não aceita a pessoa por causa da
oração, mas a oração por causa da pessoa. Lemos em Gênesis 4:4: “atentou
o Senhor para Abel e para a sua oferta”. Deus atentou primeiro pra Abel
e depois para o seu sacrifício. Deus aceitou o serviço de Abel porque
sua pessoa estava em um estado de graça para com Ele. Deus deve estar em
primeiro lugar satisfeito com o trabalhador antes que Ele possa aceitar
o seu trabalho. Isso também é visto em Hebreus 11:5: “Pela fé Enoque
foi trasladado para não ver a morte, e não foi achado, porque Deus o
trasladara; visto como antes da sua trasladação alcançou testemunho de
que agradara a Deus”. Agora, sem a fé em Cristo para justificar a sua
pessoa, você não pode agradar a Deus. Aqui reside a grande diferença
entre os Papistas e nós. Os Romanistas dizem que as obras justificam a
pessoa; nós dizemos que a pessoa justifica as obras, pois fazei a árvore
boa e o seu fruto necessariamente será bom.
2. Até que sejamos trazidos a esse estado
de reconciliação, não temos nenhuma participação na intercessão,
satisfação e justiça de Jesus Cristo. E até que tenhamos uma
participação nos mesmos, nossas orações não podem ser aceitas. Jacó não
pôde receber a bênção do pai, senão com as vestes de seu irmão mais
velho; assim também não podemos receber qualquer coisa das mãos de Deus,
senão vestidos nas vestes de Cristo. Nenhuma oração pode ser aceita por
Deus, senão na e através da intercessão de Jesus Cristo. Se Cristo não é
um intercessor no céu, nenhuma oração será ouvida na terra. Em
Apocalipse 8:3, está escrito: “e veio outro anjo, e pôs-se junto ao
altar, tendo um incensário de ouro; e foi-lhe dado muito incenso, para o
pôr com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro, que está
diante do trono”. A palavra em Grego tem este propósito: que Ele
adicionaria orações às orações dos santos. É como se a oração de Cristo e
de um crente fossem uma só. Em Isaías 56:7, Deus promete: “Também os
levarei ao meu santo monte, e os alegrarei na minha casa de oração”.
Nossas orações são como muitas cifras sem significado até que a
intercessão de Cristo seja adicionada a elas. Sem isso, nossas orações
não podem ser aceitas.
3. Até que nós estejamos em um estado de amizade e reconciliação, não temos a ajuda do Espírito de Deus para nos auxiliar; e se não temos a assistência do Espírito Santo, jamais encontraremos aceitação diante dEle. Todos os pedidos que não são ditados pelo Espírito, nada são senão os sopros da carne, coisas que Deus não considera. Agora, até que sejamos reconciliados com Deus, não podemos ter o Espírito. Gálatas 4:6: “E, porque sois filhos, Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai”. Assim, pois, até que vocês sejam filhos, vocês não podem ter o Espírito. Tendo falado sobre as razões, venho agora para a aplicação.
Aplicação
1. Se isto é assim, a saber, que um homem
deve estar em um estado de amizade antes que suas orações possam ser
aceitas, então entendemos que tudo o que você faz antes deste estado de
reconciliação é odioso para Deus. Não somente as suas ações pecaminosas,
mas mesmo suas ações civis, naturais e religiosas. Não que elas são
reprovadas em si mesma, ou em relação a Deus, mas por causa daquele que
as faz. Salmos 109:7: “e a sua oração se lhe torne em pecado”. Você faz
uma oração contra o pecado, mas Deus transformará as suas orações em
pecado. Muitas orações não podem transformar um pecado em graça, mas o
pecado deliberada e resolutamente praticado e continuado pode
transformar todas as suas orações em pecado. Provérbios 21:27: “O
sacrifício dos ímpios já é abominação; quanto mais oferecendo-o com má
intenção!”.
Um corpo enfermo torna toda a comida em
humores corruptos, a qual um corpo saudável torna em sadia nutrição. Eu
li sobre uma pedra preciosa que tinha uma excelente virtude nela, mas
que perdia toda a sua eficácia se ela fosse colocada na boca de um homem
morto. A oração é uma ordenança de grande excelência, de grande
eficácia, mas se estiver na boca de um homem morto, se ela sai do
coração de alguém que está morto em delitos e pecados, ela perde toda a
sua virtude. A água que é pura na fonte é corrompida no canal.
2. Esta doutrina derruba um dos principais
pilares da Religião Romana, a justificação pelas obras. Se Deus aceita a
pessoa antes de aceitar as obras, como pode uma pessoa ser justificada
pelas obras? A menos que sua pessoa seja justificada, a menos que seja
reconciliada, suas obras são más obras, e más obras podem justificar?
Boas obras não fazem um bom homem, mas um homem bom faz boas obras. E
poderá uma obra que um homem fez bem, retornar e fazer o homem bom? Se
não tivéssemos nenhuma outra razão contra a justificação pelas obras
(disse William Perkins), somente isto seria suficiente.
3. Permita que isso nos ensine não somente a olhar para a aptidão e disposição do seu coração na oração, mas também a examinar quem é aquele que ora. É nosso dever, e é muito bom olhar para a boa disposição do coração na oração, e olhar para a qualidade na execução do dever; mas o trabalho principal é cuidar da qualificação da pessoa, e ver se você está em um estado de graça e reconciliação com Deus. Porque, se a pessoa não está no favor de Deus, você pode ter certeza de seus pedidos não serão ouvidos nem aceitos; antes Deus olhará para seus pedidos como os suspiros corruptos de seu coração pecaminoso e corrupto. Você deve olhar, portanto, na realização do dever, se você pode ir a Deus em oração, como um Pai.
Há muitos que cuidam da qualificação do
seu dever, mas poucos cuidam da qualificação da pessoa para ver se elas
são ou não justificadas, se Deus é seu amigo ou não. Mas devemos olhar
principalmente para isso, pois, mesmo que o coração de um homem seja o
mais disposto, contudo se o homem não é justificado, a sua oração não
pode ser aceita. Deus não se importa com a retórica das orações (quão
eloquentes elas possam ser), nem para a aritmética das orações (quantas
elas são), nem para a lógica delas (quão racionais e metódicas elas
possam ser), nem para a música delas (que harmonia e melodia de palavras
você possa ter); mas Deus olha para o caráter teocêntrico das orações,
que brota a partir da qualificação de uma pessoa, de uma pessoa
justificada e santificada. É bom perguntar: “Será que meu coração é
reto? Meu espírito é manso? As minhas afeições são estimuladas e
fervorosas durante a oração?”, mas antes pergunte principalmente: “Será
que a minha pessoa é aceita por Deus?”.
4. Deixe-me fazer uma advertência aqui.
Acautele-se para que você não faça confusão com essa doutrina. Que
ninguém pense que pelo fato de que Deus não aceita nenhuma oração a
menos que o homem seja justificado, portanto, homens ímpios estão
dispensados da oração. Pois, ainda que Deus não aceite a oração de todo
homem, ainda assim, cada homem no mundo deve orar, e isto por estas
razões:
1) Eles devem orar como criaturas que estão em necessidade de seu Criador. Os corvos clamam e Deus lhes dá carne.
2) O Senhor acusa os homens maus por não
orarem a Ele. Jeremias 10:25: “Derrama a tua indignação sobre os gentios
que não te conhecem, e sobre as gerações que não invocam o teu nome”.
Romanos 3:11: “Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a
Deus”.
3) Eles são ordenados a orar, em Atos 8:
22-23, Pedro disse a Simão, o Mago: “Arrepende-te, pois, dessa tua
iniquidade, e ora a Deus, para que porventura te seja perdoado o
pensamento do teu coração; pois vejo que estás em fel de amargura, e em
laço de iniquidade”.
13/06/2015
Tradução por William Teixeira e Revisão por Camila Almeida
Via: aPuritansMind.com • Baixe este texto em formato E-book/PDF
Christopher Love (1618
- 1651), brilhante pregador, nasceu em Cardiff, uma antiga cidade em
Gales. Aos quinze anos, foi a um culto e Deus concedeu-lhe grande senso
de sua pecaminosidade. Em 1635, começou a estudar em Oxford. Dedicou-se
aos estudos, desenvolveu o zelo pela Palavra e pela Igreja de Deus.
Em 1645 casou-se com Mary Stone. Love e Mary tiveram
cinco filhos. Christopher Love morreu decapitado em 22 de Agosto de
1651, na Torre de Londres.
FONTE:
http://oestandartedecristo.com/texto/50/quando-as-oracoes-serao-atendidasz-por-christopher-love
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