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Precisamos, em primeiro lugar, acreditar que a Bíblia está muito perto de nós. Deus fala conosco por meio da Bíblia e ela é muito clara a respeito de vários ensinamentos. Mas é uma prática saudável de nossa parte considerar as diversas distâncias que temos em relação ao conteúdo da Bíblia:
• A distância do tempo (cronológico) – a Bíblia foi escrita numa distância de tempo mínima de dois milênios (o último livro da Bíblia, Apocalipse, foi escrito ainda no primeiro século);
• A distância do espaço (geográfico) – a Bíblia foi escrita, na maior parte, na região que conhecemos hoje como Oriente Médio e uma outra parte na região que conhecemos hoje como Europa Central;
• A distância dos costumes (culturais) – a Bíblia foi escrita em uma realidade cultural muito diferente de alguém que nasceu em pleno século XX;
• A distância do idioma (lingüístico) – a Bíblia não foi escrita em português, mas em línguas como o grego (koine), o hebraico e o aramaico;
• A distância da escrita (literário) – a Bíblia foi escrita em estilos literários diferentes do que estamos provavelmente acostumados – por exemplo, salmos e provérbios;
• A distância espiritual (sobrenatural) – a verdade da Bíblia foi nos dada por Deus, isto é, de maneira espiritual por uma inteligência e uma sabedoria que estão muito além da nossa. Temos que ir até a Bíblia preparados espiritualmente.
Se desprezarmos essas distâncias, a probabilidade de cometermos erros de interpretação bíblica é grande.
Para
ilustrar isso, talvez você se lembre da pintura “A Última Ceia”, de
Leonardo da Vinci. Na obra, Da Vinci pinta os apóstolos sentados ao lado
de Jesus em cadeiras e uma mesa relativamente alta à frente. Só que no
primeiro século, era costume dos judeus, ao realizarem suas refeições,
sentarem-se de joelhos no chão e se inclinar numa mesa que estava a
aproximadamente 50 cm de altura do chão. O que o artista fez foi tomar o
contexto histórico e cultural no qual vivia e aplicá-lo a um cenário
bíblico. Não é um desmerecimento à obra do artista, que teve uma
motivação artística ao realizar isso. No entanto, ao interpretarmos a
Bíblia, devemos fazer o contrário – precisamos superar as várias
distâncias para ir até o contexto da escritura da Bíblia.
1. Desprezar os vários contextos que a Bíblia apresenta
Uma
escritura deve ser sempre analisada em seu contexto. A
palavra contexto tem o sentido de “o que está ao redor”. A seguinte
frase contém uma grande dose de verdade: “um texto fora de contexto se
torna um pretexto”, que significa que se tiramos uma escritura bíblica
de seu contexto, podemos justificar qualquer argumento, seja ele
equivocado ou não. Os elementos que constituem o contexto de um texto
bíblico podem ser definidos de modo crescente:
O
parágrafo -> o capítulo -> o livro -> o Testamento -> a
Bíblia como um todo -> a época e o mundo dos autores/receptores e dos
fatos.
Contexto imediato
Ao
se ler uma escritura, devem ser considerados também os versículos que
estão ao seu redor. Este simples procedimento é um grande passo para
trazer clareza ao significado da Escritura. Como exemplo, vamos ver o
versículo a seguir:
Você está casado? Não procure separar-se. Está solteiro? Não procure esposa (1 Coríntios 7:27).
Se
tomarmos essa escritura isoladamente, poder-se-ia até afirmar que é um
mandamento bíblico que um homem solteiro não deva se casar. Mas se
observarmos todo o contexto do capítulo 7 da carta de Coríntios, vemos
que Paulo está tratando de uma situação particular da igreja naquele
determinado momento, provavelmente uma época de muita perseguição aos
cristãos. Se observarmos o trecho anterior, está escrito: “Por causa dos
problemas atuais, penso que é melhor o homem permanecer como está”. No
versículo 25 deste mesmo capítulo, “quanto às pessoas virgens, não tenho
mandamento do Senhor, mas dou meu parecer como alguém que, pela
misericórdia de Deus, é digno de confiança”. O que vemos é que Paulo
está expressando sua opinião particular, decorrente do momento que a
Igreja estava atravessando, mas não que desejasse que isso se tornasse
um mandamento de Deus.
Contexto remoto
O
contexto remoto é o contexto oferecido pela Bíblia em toda a sua
extensão. Não é apenas o contexto oferecido pelos versículos mais
próximos ou do capítulo ou do livro, mas sim como a escritura utilizada
interage com outras passagens da Bíblia.
O
Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns abandonarão a fé e
seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios. Tais
ensinamentos vêm de homens hipócritas e mentirosos, que têm a
consciência cauterizada e proíbem o casamento e o consumo de alimentos
que Deus criou para serem recebidos com ação de graças pelos que crêem e
conhecem a verdade. Pois tudo o que Deus criou é bom, e nada deve ser
rejeitado, se for recebido com ação de graças, pois é santificado pela
palavra de Deus e pela oração (I Timóteo 4:1-5).
Essa
escritura demonstra a importância de verificar o contexto remoto. Na
carta endereçada a Timóteo, vemos esta passagem na qual Paulo condena
homens que ensinavam doutrinas que proibiam o casamento, o que demonstra
que o apóstolo não estava se colocando contra o ato de casar em I
Coríntios, mas sim se preocupando com as conseqüências do casamento em
uma época específica.
A respeito deste assunto, alguns pontos a serem considerados:
• Nenhuma passagem das Escrituras pode ser interpretada de modo que caia em contradição com outra;
• Sempre interpretar a passagem mais obscura à luz da passagem mais clara;
•
Deve-se ler e estudar a Bíblia de forma extensiva e fazer isso de forma
regular, para que se suas idéias gerais sejam conhecidas.
2. Ir além do que a escritura diz
Uma
vez, em uma conversa que tive em uma certa ocasião com um “ufólogo”,
este me comentou que havia uma passagem na Bíblia que provava a
existência de OVNIS. Curioso, perguntei qual seria essa passagem. Ele me
respondeu:
2 Reis 2:11: De
repente, enquanto caminhavam e conversavam, apareceu um carro de fogo e
puxado por cavalos de fogo que os separou, e Elias foi levado aos céus
num redemoinho.
Para
minha surpresa, ele afirmou que o carro de fogo puxado por cavalos de
fogo era um OVNI. Isto é um exemplo extremo de ir além do que a
escritura diz, mas acontece com mais freqüência com a qual supomos. A
isso chamamos de eisegese - é o processo no qual o intérprete insere o
seu ponto de vista no texto bíblico em vez de extrair o que o texto
bíblico realmente quer expressar (isso será explicado com mais
profundidade em outra parte do texto).
No
entanto, a eisegese é uma prática muito recorrente na interpretação
bíblica. Existe a forte tentação de possuirmos um ponto de vista pessoal
a respeito de uma questão bíblica e buscarmos então escrituras que
justifiquem tal opinião. Tal atitude pode nos levar a diversos erros
doutrinários, uma vez que o foco não é a verdade bíblica, mas sim a
justificação de uma posição pessoal a respeito de uma questão
doutrinária. Devemos sempre ir à Bíblia dispostos a encontrar a verdade
de Deus e não o que simplesmente nos agrada.
3. Tomar a linguagem figurativa literalmente
A
linguagem figurada é um recurso de linguagem que utiliza imagens e
símbolos para melhor acentuar uma determinada mensagem. Por exemplo:
Mas
Deus me separou desde o ventre materno e me chamou por sua graça.
Quando lhe agradou revelar seu Filho em mim, para que o pregasse entre
os gentios, não consultei a carne nem o sangue (Gálatas 1:15-16, ACF).
Será
que Paulo teria ido consultar a sua própria carne e seu sangue? O que
quer dizer carne e sangue nesse caso? Esta é uma tradução literal de uma
expressão presente nos manuscritos originais gregos. Carne e sangue
representam indivíduos, seres humanos.
Se
o seu olho direito o fizer pecar, arranque-o e lance-o fora. É melhor
perder uma parte do seu corpo do que ser todo ele lançado no inferno. E
se a sua mão direita o fizer pecar, corte-a e lance-a fora. É melhor
perder uma parte do seu corpo do que ir todo ele para o inferno (Mateus
5:29-30).
Será que
Jesus está ordenando que arranquemos o olho e lancemos fora? Ou cortar a
mão direita? O que vemos aqui é uma hipérbole. O que Jesus deseja nos
ensinar é a seriedade do pecado e o radicalismo que devemos ter em
relação a ele. Uma interpretação literal, que não leve em conta a
linguagem figurada, pode ocasionar diversos erros doutrinários.
4. Padronizar o significado de uma palavra na Bíblia
Um
exemplo que merece uma redefinição é a questão de fruto. Vemos em João
15 quando Jesus fala a respeito de frutos. Muitas vezes associamos o
termo fruto em João 15 sempre com a conversão de outras pessoas. No
entanto, fruto na Bíblia é um conceito muito mais amplo do que trazer
outras pessoas para Cristo. Há pelo menos cinco tipos de fruto no Novo
Testamento – fruto literal (Marcos 11:14), frutos do Espírito (Gálatas
5), crescimento da igreja (I Coríntios 16:15), contribuição de auxílio
(Romanos 15:28), adoração a Deus (Hebreus 13:5) e outros. Significa, em
resumo, ter vidas produtivas para Deus em diversos sentidos.
5. Não diferenciar verdade cultural da verdade universal
Temos
de nos lembrar que Deus optou por revelar suas instruções por meio de
homens inspirados, mas que estavam dentro de um contexto cultural
específico. Para isso devemos estar atentos aos fenômenos culturais da
Bíblia e distinguir deles quais são os ensinamentos que devem ser
praticados. Precisamos comparar a cultura do texto que estamos estudando
com a nossa cultura atual. Ao compararmos estas duas culturas,
estaremos prontos para diferenciar o que é um fenômeno cultural - isto
é, algo relativo somente àquela época - e o que é uma verdade universal –
um princípio que deve ser seguido por todos em todos os tempos.
Existem
alguns passos a serem tomados: primeiro, devemos buscar sempre o
sentido comum e o bom senso. Em segundo lugar, devemos estabelecer que
se uma determinada instrução está relacionada com um fenômeno cultural,
ela é temporal por sua natureza. Quando uma instrução transcende a
linguagem cultural, então ela é permanente.
Certo dia Pedro e João estavam subindo ao templo na hora da oração, às três horas da tarde (Atos 3:1).
Um
exemplo banal é o que vemos em Atos 3:1, quando Pedro e João estão se
direcionando ao Templo para a prática da oração, às três horas da tarde.
E vemos que havia a prática de se orar em horários específicos na parte
da manhã, ao meio-dia e à tarde. Vemos Pedro e João praticarem isso em
Atos, mas significa que devemos orar em horários específicos na parte da
manhã, tarde e noite? Ao que tudo indica, isso era uma prática judaica
da época que os apóstolos respeitavam e que era realizado no Templo,
quer dizer, um contexto muito específico.
O
livro de Atos registra a história dos cristãos do primeiro século e de
como foram capazes de espalhar a mensagem no mundo que se conhecia. Ele é
basicamente descritivo, com algumas partes contendo ensinamentos.
Justamente pela função de descrever as ações, isto é, apresentar um
registro histórico, não podemos supor que tudo que está descrito no
livro deve se tornar exatamente um padrão para ser seguido literalmente.
Isto é, narrações ou ações que foram realizadas na Bíblia não podem ser
necessariamente tomadas como mandamentos, mas sim, em muitos casos,
como aplicações de princípios espirituais.
6. Não diferenciar mandamento bíblico do princípio bíblico
Cabe
também retomar os conceitos de princípio bíblico e mandamento e a
distinção entre eles. O princípio bíblico é uma afirmação que reflete o
que Deus aprova, o que Deus desaprova, uma verdade, causa e
conseqüência, etc. Exemplos de princípios bíblicos:
• Deus ama os justos;
• Deus odeia a feitiçaria;
• Quem busca conselhos torna-se sábio;
• Deus se aproxima de quem se aproximar dele.
Há
incontáveis princípios contidos na Bíblia. Entendendo-se um princípio,
há a possibilidade (em muitos casos) de aplicá-lo com liberdade para
adaptação ao momento vivido, à cultura, etc. Em outras palavras,
geralmente há muitas maneiras de se aplicar um princípio bíblico sem
violá-lo.
Já o mandamento tem características bem
diferentes. É expressa na grande maioria com o verbo no imperativo, o
que mostra o rigor com que deve ser seguido. O mandamento é uma ordem e
sua obediência, com fidelidade aos detalhes e princípios envolvidos, é
exigida de quem crê em Cristo. Exemplos de mandamentos bíblicos:
• Ame o próximo como a si mesmo;
• A Santa Ceia;
• Sejam humildes;
• Arrependimento;
• Batismo.
Geralmente
há menos flexibilidade para adaptações de qualquer forma, uma vez que
há muita clareza nas ordens de Deus. Há um cuidado que se deve ter com
os mandamentos. Considera-se que a igreja deve obedecer aos mandamentos
expressos no Novo Testamento.
Os
mandamentos no Antigo Testamento devem ser lidados de forma diferente:
deve-se entender e respeitar os princípios bíblicos, sem a obrigação de
se obedecer aos mandamentos literalmente, a menos que haja confirmação
dessa ordem no Novo Testamento. Exemplo: O mandamento do adultério no
Antigo Testamento. Segundo o Antigo Testamento todo homem e mulher que
fossem flagrados em adultério deveriam ser mortos (Levítico 20:10). Hoje
não se mata o adúltero, mas respeita-se o princípio bíblico expresso no
mandamento: Deus odeia o adultério. Um exemplo claro disso é a forma
como Jesus lidou com o episódio da mulher adúltera em João 8:1-11.
7. Aplicar inadequadamente determinadas passagens bíblicas para os dias atuais
A
mulher não usará roupas de homem, e o homem não usará roupas de mulher,
pois o Senhor, o seu Deus, tem aversão por todo aquele que assim
procede (Deuteronômio 22:5).
Dando
seqüência ao raciocínio do ponto anterior, devemos ter o cuidado de
utilizar determinadas passagens com o intuito de aplicá-las ao contexto
atual. Essa escritura é utilizada para fundamentar a doutrina de que a
mulher não deve usar calças e sim saias. Um grande problema é que, na
época de Deuteronômio, calças não faziam parte do vestuário da época, o
que não permitiria tal ensinamento. Além disso, calças não foram criadas
somente para o uso do homem.
8. Utilizar passagens obscuras para fundamentar uma opinião ou uma doutrina
Muitas igrejas fundamentam a proibição de assistir televisão por meio do versículo abaixo.
Então vi outra besta que saía da terra, com dois chifres como cordeiro, mas que falava como dragão (Apocalipse 13:11).
A
associação é que a antena de TV seria os dois chifres da besta. Isso é
só um exemplo engraçado. Mas não é raro criar doutrinas com base em
passagens obscuras, de difícil interpretação. Por exemplo, temos a
literatura chamada apocalíptica, que é um gênero marcado pelo
simbolismo. Outros exemplos desta literatura estão presentes na Bíblia
em Salmo 18, Isaías 34 e os livros de Ezequiel, Daniel e Zacarias.
Quando
vocês estiverem reunidos em nome de nosso Senhor Jesus, estando eu com
vocês em espírito, estando presente também o poder de nosso Senhor Jesus
Cristo, entreguem esse homem a Satanás, para que o corpo seja
destruído, e seu espírito seja salvo no dia do Senhor (I Coríntios
5:4-5).
Talvez você
ache que a interpretação não seja importante, mas essa escritura,
interpretada de forma tendenciosa, justificou a tortura e a inquisição. A
escritura, tirada de seu contexto, se torna um pretexto para idéias
humanas. O argumento era de que era melhor o corpo do herege ser
destruído do que a alma dele ir para o inferno. Por isso, mais que ler o
versículo isoladamente, temos que lê-lo contextualizado em relação aos
capítulos, parágrafos e livros.
9. Desprezar os diferentes tipos de texto existentes na Bíblia
Quais são os tipos de texto que você conhece?
• Poesia;
• Narração – notícia de jornal;
• Teatro;
• A Constituição – leis.
Que
mais? A pergunta é: você interpreta um poema da mesma forma que
interpreta uma lei? Não. Você não interpreta “Amor é um fogo que arde
sem se ver” do mesmo jeito que “Art 5° - Nenhuma criança ou adolescente
será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer
atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais”.
Agora a Bíblia tem os seguintes tipos de texto:
• Poesia (Salmos);
• Narrativa (Rute, Parábolas);
• Literatura apocalíptica (Apocalipse);
• Literatura sapiencial (Provérbios);
• História (Josué, I e II Crônicas, I e II Reis);
• Profecia (Daniel);
• Cartas - literatura epistolar (Carta de Romanos);
• Documentos jurídicos (Levítico).
No
entanto, interpretamos a Bíblia como se todos os textos fossem iguais
em gênero. Não podemos interpretar, por exemplo, Levítico do mesmo modo
que interpretamos Salmos. Nem um livro histórico como I Reis da mesma
forma que Apocalipse. Há diferenças muito grandes entre um gênero e
outro e isso precisamos levar em conta em uma interpretação.
Por
exemplo, uma forma literária muito presente é o paralelismo. Vemos
muito esse estilo literário em Salmos, Provérbios e em outras partes da
Bíblia. A poesia presente na Bíblia é diferente da poesia que estamos
acostumados a ver. A poesia bíblica é baseada em repetição de idéias.
Exemplos:
Já preparou armas mortíferas, fazendo suas setas inflamadas (Salmo 7:13).
Aqui setas inflamadas define e expande o sentido de armas mortíferas.
Lia tinha os olhos ternos, porém Raquel era formosa dos pés à cabeça (Gênesis 29:17).
O que significa exatamente os olhos ternos de Lia? Medite. Será que não é uma referência à sua “beleza”?
10. Desprezar as línguas de origem da Bíblia
Talvez
seja uma das partes mais complicadas. Devemos lembrar que a Bíblia foi
escrita originalmente em hebraico, grego e, em algumas partes, em
aramaico. Por isso, ao se buscar definir uma palavra, não basta utilizar
apenas um dicionário de português – isso ajudará a dar clareza às
palavras na tradução do texto, mas não será suficiente para se definir o
significado no idioma original. Isso porque o dicionário de português
não define os termos bíblicos - se vamos estudar uma palavra em
particular, temos que fazer isso com base no seu significado original e
não na tradução.
Só para
nível de curiosidade, um exemplo simples e interessante em relação ao
assunto é o que podemos ver na palavra Cristo. Dela foram derivadas as
palavrascristão e cristianismo, além de outras. Costumamos associar
também Jesus Cristocomo um nome completo, como se Cristo fosse o
sobrenome. Mas se vermos em Mateus 16:16, vemos Pedro chamar Jesus de o
Cristo. Se buscarmos a definição grega para Cristo, veremos que ele vem
de christos, que quer dizer ungido -christos é a versão equivalente
de messias, do hebraico mashiah, que também significa ungido.
Do
mesmo modo que um rei ou um profeta no Antigo Testamento eram ungidos
com azeite (I Reis 9:16, Êxodo 29:7), sendo portanto consagrados a Deus,
Jesus também foi ungido, só que com o Espírito Santo (Mateus 3:16,
Marcos 1:10-11, Lucas 3:21-22, João 1:32-33).
Isso
não quer dizer que tenhamos de ser versados em grego e hebraico para
estudarmos a Bíblia, mas temos de entender a importância de buscarmos o
sentido original da palavra antes de fazermos qualquer afirmação
categórica a respeito de uma palavra na Bíblia.
11. Basear-se apenas em uma versão da Bíblia
Primeiro,
o fato de termos uma Bíblia em português deve ser motivo de muita
gratidão. Muitos antes de nós pagaram um preço altíssimo para que hoje
pudéssemos ler a Bíblia em nosso idioma. Foram anos e anos de trabalho
para que tivéssemos hoje a Bíblia que temos.
O
trabalho de tradução não é nada fácil. Pensamos que cada palavra do
grego e do hebraico tem uma palavra correspondente no português, sendo
que seria necessário apenas trocar as palavras. Só que isso não é
verdade. Há muitas palavras no grego que não possuem correspondente no
português ou possuem várias palavras correspondentes. Mesmo as sintaxes
da língua grega e da língua hebraica são muito diferentes da sintaxe da
língua portuguesa. Sendo assim, é um mito dizermos que existe uma
tradução oficial ou autorizada da Bíblia.
Para
uma comparação, vamos utilizar as seguintes versões para verificar a
passagem de I João 5:7-8: Almeida Revista e Corrigida (ARC), Almeida
Revista e Atualizada (ARA) e Nova Versão Internacional (NVI).
Porque
três são os que testificam no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito
Santo; e estes três são um. E três são os que testificam na terra: o
Espírito, e a água e o sangue; e estes três concordam num. (ARC)
Porque três são os que testificam no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um. (ARA)
Há três que dão testemunho: o Espírito, a água e o sangue; e os três são unânimes. (NVI)
Se
formos utilizar a versão ARC desta passagem, vemos “Pai, a Palavra e o
Espírito Santo” na passagem. Mas se compararmos com outras traduções,
veremos que existem diferenças nas versões. Cabe observar a nota de
rodapé da NVI: alguns manuscritos da Vulgata dizem testemunho do céu: o
Pai, a Palavra e o Espírito Santo, e estes três são um. E há três que
testificam na terra: o Espírito (isto não consta em nenhum manuscrito
grego anterior ao século doze).
Todas
as Bíblias possuem seus pontos fortes e seus pontos fracos. Algumas
Bíblias que foram lançadas recentemente têm usufruído o privilégio de
contar com o auxílio dos avanços dos estudos lingüísticos e das últimas
descobertas arqueológicas, de modo a proporcionar uma tradução mais
precisa, o que não invalida as versões anteriores, que apresentam também
outras vantagens.
É um
exercício saudável estabelecer o texto correto por meio da comparação de
diversas versões a respeito de um mesmo trecho, especialmente para os
que não lêem nas línguas originais. Assim poderemos basear a nossa
interpretação em uma base segura.
12. Desprezar que as separações por capítulos e versículos não existiam nos originais da Bíblia
A
divisão por capítulos e versículos não existia nos originais da Bíblia.
Elas foram um acréscimo. Isso nos ajuda muito, mas é algo que devemos
tomar cuidado.
Divisão em capítulos – Stephen Langton (1227); divisão em versículos – Robert Stephanus (1551).
Embora
muito útil, a divisão de capítulos e versículos, em alguns momentos,
foi feita de forma arbitrária, não fazendo uma divisão coerente em
alguns trechos da Bíblia. Sem compreender essa questão, seria possível
fazer uma interpretação em um texto que não foi delimitado corretamente.
Exemplo:
Colossenses 3:18-25
Mulheres, sujeite-se cada uma a seu
marido, como convém a quem está no Senhor. Maridos, ame cada um a sua
mulher e não a tratem com amargura. Filhos, obedeçam a seus pais em
tudo, pois isso agrada ao Senhor. Pais, não irritem seus filhos, para
que eles não desanimem. Escravos, obedeçam em tudo a seus senhores
terrenos, não somente para agradá-los quando eles estão observando, mas
com sinceridade de coração, pelo fato de vocês temerem o Senhor. Tudo o
que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os
homens, sabendo que receberão do Senhor a recompensa da herança. É a
Cristo, o Senhor, que vocês estão servindo. Quem cometer injustiça
receberá de volta injustiça, e não haverá exceção para ninguém.
Colossenses 4:1
Senhores, dêem aos seus escravos o que é
justo e direito, sabendo que vocês também têm um Senhor nos céus.
Outras Instruções Dediquem-se à oração, estejam alerta e sejam
agradecidos.
Se
observarmos bem, os trechos presentes em Colossenses 4:1 fazem parte do
trecho anterior, em Colossenses 3. Por isso, os atos de dedicar-se à
oração, estar alerta e ser agradecido também fazem parte do cuidado com
os membros da família e também do trato com os escravos. Se basearmos
nossa interpretação somente pela divisão por capítulos, esse detalhe
poderia não ser percebido.
13. Desprezar os princípios saudáveis de interpretação bíblica
Hermenêutica:
é o estudo dos princípios que estão relacionados com a correta
interpretação das Escrituras. Resumindo, a hermenêutica é o estudo de
como interpretar textos.
Exegese:
é a prática ou a aplicação dos princípios para a correta interpretação
de um texto. Em resumo, é a aplicação dos princípios da hermenêutica
para chegar-se ao entendimento correto do texto.
Eisegese:
é o processo pelo qual o leitor dá o seu próprio significado para o
texto, em vez de buscar o sentido que o autor quis expressar no que
escreveu. É uma prática que viola um princípio de interpretação colocado
primeiramente por Agostinho e ratificado por Calvino: "a primeira
tarefa de um intérprete é deixar que o autor diga o que ele de fato diz,
em vez de atribuir-lhe o que pensa que ele deva dizer".
Exposição:
é a comunicação da interpretação pessoal de uma escritura para uma
outra pessoa. Isso ocorre cada vez que pregamos ou ensinamos as
Escrituras.
Os princípios básicos da interpretação bíblica
1°
- Sob a inspiração divina, a Bíblia ensina apenas uma teologia. Não
pode haver diferença doutrinária entre um livro e outro da Bíblia.
2°
- Deixar a Bíblia interpretar a própria Bíblia. O sentido mais claro e
mais fácil de uma passagem explica outra com sentido mais difícil e mais
obscuro. Este princípio é uma dedução do anterior.
3°
- Jamais esquecer a Regra de Ouro da Interpretação. O texto deve ser
interpretado através do conjunto das Escrituras e nunca através de
textos isolados, isto é, sempre pelo contexto.
4° - Primeiro procura-se o sentido literal, a menos que as evidências demonstrem que este é figurado.
5°
- Ler o texto em todas as traduções possíveis - antigas e modernas.
Muitas vezes uma destas traduções nos traz luz sobre o que o autor
queria dizer.
6° - O trabalho de interpretação é
científico, por isso deve ser feito da forma mais imparcial possível e
desprendido de qualquer preconceito (o que poderíamos chamar de
"achismos").
7° - Fazer algumas perguntas relacionadas com a passagem para chegar a conclusões circunstanciais. Por exemplo:
a) Quem escreveu?
b) Qual o tempo e o lugar em que escreveu?
c) Por que escreveu?
d) A quem se dirigia o escritor?
e) O que o autor queria dizer?
b) Qual o tempo e o lugar em que escreveu?
c) Por que escreveu?
d) A quem se dirigia o escritor?
e) O que o autor queria dizer?
8° - Feita a
exegese, se o resultado obtido contrariar os princípios fundamentais da
Bíblia, ele deve ser colocado de lado e o trabalho de interpretação ser
iniciado novamente.
Bibliografia
Comissão Doutrinária – Grupo Números. Estudo a respeito de ofertas. Igreja de Cristo Internacional de São Paulo.
Kinnard, G. Steve. Más Allá de la Bíblia. Bogotá: CSA Press, 2001.
Bost, Bryan J.; Pestana, Álvaro César. Do texto à paráfrase – como estudar a Bíblia. São Paulo: Editora Vida Cristã, 1992.
Kinnard, G. Steve. Más Allá de la Bíblia. Bogotá: CSA Press, 2001.
Bost, Bryan J.; Pestana, Álvaro César. Do texto à paráfrase – como estudar a Bíblia. São Paulo: Editora Vida Cristã, 1992.
FONTE:
http://www.icoc.org.br/#!Princ%C3%ADpios-de-Interpreta%C3%A7%C3%A3o-B%C3%ADblica/c13oo/55159f110cf21933cd19e8b8
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