Em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. (Colossenses 2:3)

Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por essas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.(Efésios5:6)
Digo isso a vocês para que não deixem que ninguém os engane com argumentos falsos. (Colossenses 2:4)

28 de novembro de 2015

Por que o legalismo dos “usos e costumes” penaliza especialmente as mulheres?


Por Gutierres Fernandes Siqueira

Você já observou que a maior parte das regras de igrejas legalistas no tocante aos “usos e costumes” sobressaem sobre as mulheres? Não é necessário militar no feminismo filosófico e nem partir para exageros do politicamente correto, mas é fácil concluir que a mulher sofre mais do que os homens em igrejas legalistas. A mulher, em muitas comunidades evangélicas até os dias de hoje, não pode ser feminina e nem buscar o embelezamento, que é um traço tão marcante no desenvolvimento da feminilidade. Algumas são tão desprovidas de gestos e adornos femininos que mais parecem imitação de homens.

Há muito tempo atrás eu estive em um culto onde uma mulher estava sendo literalmente julgada pelos obreiros porque havia cortado as pontas do cabelo. Um falava depois do outro e ela, na frente de todos, aguardava a “sentença”. Dos quatro obreiros que subiram à tribuna, incluindo o esposo desta, apenas um defendeu que a “pecadora” não deveria sofrer disciplina. O obreiro que ousou reclamar que não havia base bíblica para aquela disciplina foi, um dia depois, duramente criticado pelo pastor da igreja. No final, a mulher foi disciplina pelo grave pecado de cortar as pontas do cabelo (sic)!

Mas, então, como isso é possível? A origem de tudo isso é, naturalmente, uma falsa teologia. Muitos cristãos, conscientes ou não, atribuem à mulher um papel de tentação constante ao pecado. É como se toda mulher fosse uma Eva oferecendo o fruto proibido. Agora, esses esquecem que a razão da tentação não é a mulher, nem Deus e nem mesmo a serpente, mas sim a própria cobiça do coração. “Cada um, porém, é tentado pela própria cobiça, sendo por esta arrastado e seduzido. Então a cobiça, tendo engravidado, dá à luz o pecado; e o pecado, após ter-se consumado, gera a morte”, como escreveu Tiago [1.14,15 NVI]. Ou seja, alguns homens diante da dificuldade de frear seus impulsos pecaminosos, logo buscam uma espécie de bode expiatório. Isso não é absolutamente novo, pois Adão disse ao próprio Deus que a culpa não era dele, mas da “mulher que me deste por companheira” [Gênesis 3.12 ARC].


Tertuliano e as mulheres

Infelizmente, essa popularização da mulher como atratividade e causa do pecado passou por um importante Pai da Igreja, o apologista africano Tertuliano (160 d. C- 220 d. C.). Tertuliano dedicou um livro diretamente para o público feminino, uma obra cujo título é De Cultu Feminarum [A Vestimenta das Mulheres], e dos argumentos principais temos a vestimenta, a maquiagem, os adornos e o comportamento. Ele teologiza sobre a mulher e, exagerando na retórica como era típico dos escritores da época, diz que a mulher introduziu a morte no mundo e a própria condenação de Jesus Cristo. Em outra obra o apologista patrístico escreve: “Mulher! És a porta do diabo. Persuadiste aquele que o diabo não ousava atacar de frente. Foi por tua causa que o filho de Deus teve de morrer. Deverias andar sempre vestida de luto e de andrajos”. [1]

Tertuliano combate com todas as forças o uso de joias e maquiagens. O embelezamento da mulher é visto como um meio de atratividade para o mal. A preocupação do apologista era especialmente com qualquer coisa que saísse da “naturalidade”. Ele escreveu:

Desejo que tomes consciência de sua origem pecadora e da origem satânica das joias, maquiagens e tintas – cultus y ornatus – Tudo o que significa luxo, ouro, prata, pedras preciosas e joias não são mais que um sinal de ambitio a que se contrapõe a humilitas, verdadeira essência do bom cristão; neste caso, da boa cristã. Os cuidados como cabelo, pés, etc – orntaus -, significam para ele a prostitutio, oposta à castitas, um elemento a mais da moral que defende [2].
Felizmente, a teologia feminina de Tertuliano não é hegemônica em nossos dias e, talvez, nunca tenha sido na história da cristandade. No fundo, a pauta contra o embelezamento é partida da malícia do coração caído. Longe de manifestar santidade, o legalismo é a própria manifestação da sexualidade desenfreada que busca meios humanos para detê-la sem eficácia. O cristianismo desenvolveu uma teologia da beleza, que é um ótimo contraponto ao legalismo malicioso e iconoclasta dos herdeiros de Tertuliano.


Referências Bibliográficas:

[1] TERTULLIAN. De exhortatione castitatis. Trans. Rev. S. Thelwall. In: Coxe, A. Cleveland, D.D. (ed.). The Writings of the Fathers Down to A. D. 325. vol. 4. Edinburgh: WM. B. Berdmans Publishing Company, 2004-2013 (sem numeração de páginas). Disponível em: http://christianbookshelf.org/tertullian/on_exhortation_to_chastity/index.html (acesso em: 17/05/2015).

[2] Citado em: SAAVEDRA-GUERRERO, M. D.  La mujer como inductora de um fenomeno economico, la inflacion segun Tertuliano. In: JORNADAS DE INVESTIGACIONN INTERDICIPLINARIA - LA MUJER EM EL MUNDO ANTIGUO, 5., 1986, Madrid. Anais. Madrid: Universidad Autonoma de Madrid, 1986. p. 307-313.
 
FONTE:

http://www.teologiapentecostal.com/2015/05/por-que-o-legalismo-dos-usos-e-costumes.html


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