Ninguém sabe, ao certo,
como se pronuncia YHVH, o tetragrama, designação das quatro consoantes que
compõem o nome do Deus de Israel. É que em algum tempo antes da era cristã,
para não sujarem com lábios humanos o nome do seu Deus, os israelitas
deixaram de pronunciá-lo, e assim as vogais desse nome foram esquecidas. Por
ocasião da leitura pública dos rolos nas sinagogas, ao chegar ao nome YHVH,
uma nota marginal dizia: "Está escrito, mas não se lê." E ali mesmo era
indicada a palavra que deveria ser lida: "Leia-se ADONAY".
O texto pré-massorético
do Antigo Testamento só tinha consoantes; as vogais eram transmitidas
através dos séculos pela tradição. Só no sexto ou sétimo século dC. é que os
massoretas colocaram vogais no texto hebraico. A palavra YHVH, então, era
escrita com as vogais do título ADONAY, e a palavra ADONAY era falada quando
ocorria YHVH.
Acontece, também, que em
algumas passagens do Antigo Testamento o título ADONAY (Senhor) vem seguido
do tetragrama YHVH, que nesse caso é pontuado com as vogais de ELOHIM
(Deus), resultando na forma JEHOVIH (JEOVI), como, por exemplo, em Sl 73.28
Is 50.4 Ez 3.11,27 Zc 9.14. Ou resultando na forma YEHVIH (JEVI), que
ocorre, por exemplo, em Is 25.8 Jr 2.22 Am 1.8 Ob 1.1 Mq 1.1 Sf 1.7.
E em vinte e cinco
passagens ocorre uma quarta forma de se expressar o nome do Deus de Israel,
e isso por meio do monossílabo YAH (JÁ), que é a primeira sílaba de YAHVEH
(JAVÉ). A Petrus Galatinus (mais ou menos 1520 dC.) atribui-se a fusão, pela
primeira vez, das consoantes YHVH com as vogais de ADONAY.
Koehler-Baumgartner fala de 1200 dC. Dessa fusão surgiu um nome híbrido:
YeHoVaH (Jeová). Esse não é, portanto, o nome do Deus de Israel. O Jerome
Biblical Commentary chama "Jeová" de um "não-nome" (77.11), e o
Interpreter’s Dictionary of the Bible o chama de "nome artificial" (s. v.
Jehovah). O Lexicon in Veteris Testamenti Libros, de Koehler-Baumgartner (s.
v. YHVH), chama a grafia "Jeová" de "errada" e defende como "correta e
original" a pronúncia "Yahveh".
Alguém poderia perguntar
por que a primeira vogal de ADONAY, um "A," se tornou um "E." É que a
palavra ADONAY começa com uma gutural, um álefe, e sob gutural uma vogal
esvaída deve ser um shevá composto. Ao se colocar essa mesma vogal esvaída
sob uma consoante não-gutural, ela passa a ser um shevá simples, que se
representa na transliteração por um "e" suspenso. No caso, sob o iode (Y)
coloca-se a vogal "e": "Ye".
No Antigo Testamento
traduzido por João Ferreira de Almeida e publicado em dois volumes quase
sessenta anos após sua morte (1748 e 1753), é empregada a forma JEHOVAH onde
no texto hebraico aparece YHVH. Almeida fez isso baseado na tradução
espanhola feita por Reina-Valera (1602). Na Almeida conhecida como Revista e
Corrigida (RC), lançada em 1898 e que ainda hoje é usada, a comissão
revisora substituiu JEHOVAH por "Senhor" nas passagens em que esse nome
ocorre, menos naquelas em que está junto com ADONAY (Senhor), e em algumas
poucas passagens esparsas. Nessas ocorrências a RC conservou JEHOVAH.
Veja-se, por exemplo, Is 61.1: "O Espírito do Senhor (ADONAY) JEOVÁ está
sobre mim, porque o SENHOR me ungiu" (RC). Este último SENHOR também é, no
texto hebraico, YHVH.
O costume de usar "SENHOR"
para indicar YHVH começou com a Septuaginta, a primeira tradução do Antigo
Testamento, a qual foi feita entre 285 e 150 aC. O texto hebraico foi
traduzido em Alexandria para a língua grega. Nesse texto os tradutores da
Septuaginta reduziram a escrito uma tradição oral das sinagogas, onde
geralmente se lia "ADONAY" (Senhor) toda vez que ocorria o nome YHVH. Essa
foi a Bíblia de Jesus, dos apóstolos e da Igreja Primitiva.
Seguindo o costume que
começou com a Septuaginta, a grande maioria das Bíblias emprega o título
"SENHOR" (com maiúsculas) como correspondente de JAVÉ (YHVH). O título
"Senhor" (com minúsculas) é tradução da palavra ADON, que em hebraico quer
dizer "senhor" ou "dono." No Novo Testamento "Senhor" traduz a palavra grega
KURIOS, que quer dizer "senhor" ou "dono".
Jesus não usou o termo
"Jeová." Por exemplo, citando o Antigo Testamento em Dt 6.13, em que aparece
YHVH, ele disse: "Ao Senhor (Kurios) adorarás." {Mt 4.10} Tiago não fala de
"Jeová." Discursando em Jerusalém {At 15.17} ele disse: "o Senhor, que faz
todas estas coisas," e isso é citação de Am 9.12, que tem YHVH como sujeito
da ação. Paulo também não usa "Jeová": em Rm 4.8, ele escreveu "Senhor,"
citando Sl 32.2, que tem YHVH.
São duas as razões que
levaram os eruditos bíblicos a usarem a forma "Javé" como a mais provável
para designar, em português, o nome do Deus de Israel (YHVH). A primeira é
de ordem gramatical e a outra, de ordem documentária.
Primeiro, a de ordem
gramatical. De acordo com Êx 3.14, Deus se apresentou a Israel como AQUELE
QUE É, o Deus absoluto e imutável. A forma Javé (Yahveh, em hebraico),
corresponde ao verbo ‘ehyeh, repetido em Ex 3.14: EU SOU QUEM SOU (BLHoje).
O verbo está no imperfeito, que em hebraico, por ser um verbo lâmede-he,
termina com a vogal e. O verbo "ser" aqui é hayah (com iode), que em sua
forma arcaica era havah (com vave). A Bíblia de Jerusalém em português
transliterou esse nome de Deus e o grafou assim: Iahweh. Em inglês, a BJ
traz Yahweh, cujo h médio os americanos pronunciam com ligeira aspiração.
Essa última forma é comum na literatura bíblico-teológica em inglês.
Observe-se que em Êx 3.14 o verbo está grafado ‘ehyeh, sendo que a vírgula
suspensa significa que em hebraico há ali uma letra álefe, que indica a
primeira pessoa: EU SOU. Já o iode inicial indica terceira pessoa: AQUELE
QUE É (Yahweh).
Um fato que indica ser a a
vogal da primeira sílaba de YHVH é a forma abreviada desse nome, que é
grafada Yah (Já). Essa abreviação de YHVH ocorre vinte e cinco vezes no
Antigo Testamento. A American Standard Version (1901), matriz da Versão
Brasileira, nessas passagens põe "Jehovah" no texto, mas na margem há nota,
assim: "hebraico: Jah." Ver, por exemplo, Êx 15.2 e Sl 104.35. Nessa última
passagem aparece a frase cúltica "Hallelu-Yah" (Aleluia). Ver também a nota
da Bíblia de Estudo de Almeida nessas duas passagens.
Como é que Yahweh se
tornou Javé em português? Primeiro, o iode (Y) inicial hebraico dá j em
português (como em Yoseph - José). Segundo, o h inicial e final caem porque
não soam em português. Terceiro, o w passa a ser v, que é como
transliteramos em português a letra vave. E aí temos Javé.
Agora a razão de ordem
documentária. Teodoreto, pai da Igreja, da escola de Antioquia, falecido em
457 dC., afirma que os samaritanos, que tinham o Pentateuco em comum com os
judeus como Escritura 0,,,,,546 falecido antes de 216 dC., transliterava "a
palavra de quatro letras" por Iaoué. Também os papiros mágicos egípcios, que
são do final do terceiro século dC., dão como corrente a pronúncia acima
referida, a de Teodoreto.
Finalmente, convém notar
que em duas traduções modernas da Bíblia está correta a vocalização de YHVH.
Uma delas é a Bíblia de Jerusalém, que traz Yahweh (inglês e português),
Yahvé (francês), Yahvéh (espanhol) e Jahwe (alemão).
A Bíblia da LEB (Edições
Loyola, 1989) usa o nome "Javé" como transliteração de YHVH. Em Gn 2.1 parte
da nota explicativa diz: "Aqui aparece pela primeira vez o sacrossanto Nome
de JAVÉ (YHWH), cujo sentido na tradição bíblica é "AQUELE-QUE-É." (...)
Hoje o Tetragrama Sagrado, que se pronuncia em hebreu Yahweh, está
devidamente implantado na língua portuguesa em sua forma correta, que é
JAVÉ." E acrescentamos, forma dicionarizada: ver o Dicionário Aurélio e o
Dicionário Michaelis, s. v. JAVÉ.
Comissão de Tradução, Revisão e Consulta da Sociedade Bíblica do Brasil
Fonte: BOL- Bíblia on-line /SBB
VIA: http://www.vivos.com.br/184.htm
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