Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito; No qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão; Os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água; 1 Pedro 3:18-20
Este é um texto, aclamado por
vários estudiosos da Bíblia, como sendo de difícil interpretação, razão pela
qual os entendimentos se tornam diversos.
Como bem menciona o comentarista
da Bíblia de Genebra, ao se referir ao texto em questão, destaca quatro
entendimentos sobre o tema:
- Cristo pré-encarnado e pregando através de Noé (2 Pe 2.5) a pessoas que viveram antes do dilúvio (Gn6.8);
- A pregação de Cristo no breve espaço de tempo entre a sua morte e ressurreição, durante a “descida ao inferno”, onde anunciou a sua vitória aos espíritos perversos contemporâneos de Noé;
- Cristo, proclamando sua vitória aos anjos caídos (muitas vezes identificados com os “filhos de Deus” de Gn6.2-4, Jó 1.6, 2.1), no seu lugar de confinamento;
- Cristo proclamando a sua vitória a anjos caídos após a ressurreição, no tempo de sua ascensão ao céu.
Já o comentarista da Bíblia de
Estudo Plenitude parece concordar com as opções “c” e “d” ao alegar que:
“provavelmente o texto se refere a espíritos demoníacos, que de alguma forma
estavam presentes nos acontecimentos de Gn 6.1-8.”.
(Lembrando que
Gn 6.1-8 é outro texto de difícil interpretação onde temos o partido dos que
entendem que os “filhos de Deus” são anjos e outros que entendem que os “filhos
de Deus” são homens da descendência de Sete.)
Mas, alguns pontos se mostram relevantes
no texto.
Primeiro é o próprio contexto
onde o texto está inserido, onde percebemos que o assunto de Pedro nos
versículos de 8 a 22 é o amor fraternal, a paciência na aflição, o exemplo de
Cristo, a conduta do crente, a firmeza ante os que se levantarão contra e a
vitória em Cristo.
Dentro desse contexto, o verso 18
aponta a vitória de Cristo na sua morte e ressurreição, onde temos que Jesus morreu
uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus;
mortificado na carne, mas vivificado pelo Espírito.
No verso 19, o ponto a ser
destacado é de “como” Jesus pregou aos “espíritos em prisão” e não “quando”. Ali
apenas liga que Jesus, vitorioso, pregou “NO Espírito”. Ou seja, no mesmo Espírito
que o havia vivificado concluindo e demonstrando apenas que tanto a sua
ressureição quanto essa “pregação” ocorreu “No Espirito”.
Portanto, quanto ao tempo dessa
“pregação”, pela ordem dos argumentos, podemos entender que ocorreu após a sua
morte.
Quanto a esses “espíritos em
prisão”, temos uma referência interessante no verso 20, onde podemos ver que
esses “espíritos” foram rebeldes no tempo de Noé.
Se eles foram rebeldes no tempo
de Noé, foram rebeldes ao que?
Sabemos que Satanás e seus
demônios já eram anjos caídos.
Sabemos que Satanás não era mais
um “filho de Deus”, pois ele foi um “certo intruso”, quando os “Filhos de Deus”
se apresentaram a Deus no episódio de Jó.
Pedro também destaca que esses
“espíritos” foram rebeldes “em outro tempo” e diz que esse tempo foi quando a
longanimidade de Deus esperava, nos dias de Noé, enquanto esse construía a
arca.
Se tais “espíritos” foram
rebeldes durante a construção da Arca, temos que entender que se trata de
pessoas que viveram nos tempos de Noé, e não de seres demoníacos como acreditam
alguns.
Do contrário teríamos que
entender que “alguns anjos” caíram no tempo de Noé, pois o texto afirma que a
rebeldia destes “espíritos” ocorreu no tempo de Noé.
Esse entendimento é corroborado
em 2 Pedro 2.4,5, que está dentro de uma relação de atuações rebeldes a Deus,
onde Pedro fala sobre Falsos Mestres, heresias, anjos caídos e vários tipos de
pessoas que rejeitaram a Deus.
Pois Deus não poupou os anjos que pecaram, mas os lançou no inferno, prendendo-os em abismos tenebrosos a fim de serem reservados para o juízo. Ele não poupou o mundo antigo quando trouxe o dilúvio sobre aquele povo ímpio, mas preservou Noé, pregador da justiça, e mais sete pessoas. 2 Pedro 2:4-5
Nestes dois versículos, há uma
clara distinção entre seres humanos e seres espirituais. No verso 4, Pedro
menciona a queda dos Anjos sem frisar o tempo desta ocorrência, já no verso 5,
Pedro fala do mundo antigo com o seu povo ímpio, onde só foi preservado Noé com
mais sete pessoas, ou seja, a condenação do dilúvio atingiu os seres vivos que
andam sobre a terra, pois demônios e anjos não morrem afogados.
Também temos que Noé foi um pregador
para a sua geração incrédula, sendo chamado no verso 5 de Pregador da Justiça.
Onde sabemos que por mais de 100 anos, Noé construiu a Arca, anunciando o juízo
de Deus para a sua geração, tempo este no qual Deus manifestou a sua
longanimidade a qual foi rejeitada pela Geração de Noé, a qual foi formada por
homens.
Pedro classifica ainda as pessoas
que viveram até Noé, como pertencentes ao “mundo antigo” simbolizando que após
Noé, um “Mundo Novo” surgiu.
Portanto, 1 Pedro 3.19 se refere
a geração de Noé, que ouviu o alerta divino de condenação e não creram, razão
pela qual são chamados de ímpios (sem piedade ou incrédulos).
Por isso Jesus afirma sobre a sua
vinda:
Porque assim como o relâmpago sai do Oriente e se mostra no Ocidente, assim será a vinda do Filho do homem. Onde houver um cadáver, aí se ajuntarão os abutres. "Imediatamente após a tribulação daqueles dias ‘o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz; as estrelas cairão do céu, e os poderes celestes serão abalados’. "Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todas as nações da terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória. E ele enviará os seus anjos com grande som de trombeta, e estes reunirão os seus eleitos dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus. "Aprendam a lição da figueira: quando seus ramos se renovam e suas folhas começam a brotar, vocês sabem que o verão está próximo. Assim também, quando virem todas estas coisas, saibam que ele está próximo, às portas. Eu lhes asseguro que não passará esta geração até que todas essas coisas aconteçam. O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão". "Quanto ao dia e à hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão somente o Pai. Como foi nos dias de Noé, assim também será na vinda do Filho do homem. Pois nos dias anteriores ao dilúvio, o povo vivia comendo e bebendo, casando-se e dando-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca; e eles nada perceberam, até que veio o dilúvio e os levou a todos. Assim acontecerá na vinda do Filho do homem. Mateus 24:27-39
Com isso, podemos entender que
esses espíritos em prisões, são os incrédulos da geração de Noé, aos quais,
Cristo, de alguma forma, após a sua morte, proclamou a sua vitória e perfeita
justiça aos condenados do Mundo Antigo, pessoas que morreram no dilúvio e nos
tempos de Noé.
Bibliografia:
- · Bíblia de Estudos de Genebra
- · Bíblia de Estudos Plenitude
- · http://www.chamada.com.br/biblia/
- · https://www.bibliaonline.com.br/
http://www.joseluisribeiro.blogspot.com.br/2014/08/quem-sao-os-espiritos-em-prisao-de-i.html
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