Por Frank Brito
“Mas Deus lhe disse: Insensato, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?” (Lucas 12:20)
O que acontece quando morremos? Esta é, de longe, uma das perguntas mais importantes que qualquer ser humano pode se fazer. A parábola que Jesus contou sobre o rico insensato reflete isso:
“Propôs-lhes então uma parábola, dizendo: O campo de um homem rico produzira com abundância; e ele arrazoava consigo, dizendo: Que farei? Pois não tenho onde recolher os meus frutos. Disse então: Farei isto: derribarei os meus celeiros e edificarei outros maiores, e ali recolherei todos os meus cereais e os meus bens; e direi à minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe, regala-te. Mas Deus lhe disse: Insensato, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus”. (Lucas 12.16-21)
O rico da parábola tinha como meta principal aproveitar o máximo a suas próprias riquezas por muitos anos: “Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe, regala-te”. (v.18) Sua perspectiva sobre seu próprio futuro era exclusivamente o de viver aproveitando os deleites da riqueza. Suas ações no presente eram somente meios para este fim. A expectativa do juízo de Deus não fazia parte da equação pela qual ele media seus atos. Por isso, apesar de ser materialmente rico, ele “não era rico para com Deus” (v. 21). O que acontece quando morremos? Isso nos ensina duas coisas fundamentais:
1) Os homens são julgados por Deus no momento da morte.
Os homens poderão até evitar um juízo mais duro da parte de Deus enquanto vivem na terra, mas o juízo do Senhor é inevitável e inescapável no momento da morte. Jesus disse: “Insensato, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado para quem será?” (v.20). Naquela mesma noite ele teria que prestar contas de sua vida. Naquela noite ele seria julgado pela maneira que viveu.
2) O veredicto é baseado no que aconteceu durante a vida.
“Insensato, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado para quem será?” (v.20). Um dos meios mais eficazes de Satanás conduzir os homens ao inferno é convencendo-as que podemos fazer o que quisermos nesta vida porque depois de mortos é que a gente resolve os nossos problemas com Ele. Jesus chamou isso de tolice e deixou claro que o veredicto seria baseado no que ele tinha feito antes de morrer e que depois de morto não há mais meios de alterá-lo.
O SONO DA ALMA
Ateus e agnósticos costumam defender que o homem é feito inteiramente de matéria e, sendo assim, o ser humano simplesmente deixa de existir como ser humano mediante a morte, restando somente o cadáver. Os defensores do sono da alma – os aniquilistas – como Adventistas do Sétimo Dia e Testemunhas de Jeová defendem algo parecido. Eles também dizem que, mediante a morte, o ser humano entra em estado de inconsciência. A diferença é que ateus e agnósticos acreditam que é um estado permanente e irreversível, enquanto os aniquilistas defendem que o estado de inconsciência é somente até a ressurreição na Segunda Vinda de Cristo. O principal argumento para defender essa posição é que a Bíblia frequentemente compara a morte com o ato de dormir:
“Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com ele”. (I Tessalonicenses 4:13-14)
Segundo os aniquilistas, morrer é equivalente a dormir porque quando morremos entramos em um estado de inconsciência. O primeiro erro desse argumento é o simples fato de que quando nós dormimos não entramos em um estado de inconsciência. Com exceção daqueles que sofreram sérios danos cerebrais, nós sonhamos sempre que dormirmos. Muitos dizem não sonhar, mas na realidade o que acontece é que não se lembram do sonho. A mente não “desliga” quando dormimos. A Bíblia é repleta de pessoas sonhando quando dormem. Isso, por si só, é suficiente para provar que quando a Bíblia compara a morte com o ato de dormir, a intenção não é dizer que quando morremos nos tornamos inconscientes simplesmente porque, biblicamente, dormir não significa estar inconsciente. José, enquanto dormia, não estava em estado de inconsciência, mas estava conversando com um anjo sobre Jesus:
“E, projetando ele isso, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, pois o que nela se gerou é do Espírito Santo; ela dará à luz um filho, a quem chamarás JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados. Ora, tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que fora dito da parte do Senhor pelo profeta: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, o qual será chamado EMANUEL, que traduzido é: Deus conosco. E José, tendo despertado do sono, fez como o anjo do Senhor lhe ordenara, e recebeu sua mulher”. (Mateus 1:20-24)
Mas se dormir não significa que a mente entra em estado de inconsciência, por que a Bíblia faz essa comparação então? Por dois motivos. Primeiro, a relação do morto com o mundo ao seu redor é semelhante à relação de quem dorme com o ambiente ao seu redor. Os mortos não interagem com os vivos da mesma forme que os que dormem não interagem com os que estão acordados. Segundo, se estamos dormindo, isso significa que em algum momento vamos acordar:
“E, tendo assim falado, acrescentou: Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono. Disseram-lhe, pois, os discípulos: Senhor, se dorme, ficará bom. Mas Jesus falara da sua morte; eles, porém, entenderam que falava do repouso do sono. Então Jesus lhes disse claramente: Lázaro morreu”. (João 11:11-14)
Jesus não disse que Lázaro estava literalmente dormindo. Dormir era uma figura de linguagem para dizer que Lázaro não iria ficar permanentemente morto, mas que iria ressuscitar. O objetivo da Bíblia ao comparar os mortos com aqueles que dormem, não é dizer que estão em estado de inconsciência, mas é dizer que um dia irão ressuscitar. Como em outra ocasião:
“Enquanto ainda lhes dizia essas coisas, eis que chegou um chefe da sinagoga e o adorou, dizendo: Minha filha acaba de falecer; mas vem, impõe-lhe a tua mão, e ela viverá. Levantou-se, pois, Jesus, e o foi seguindo, ele e os seus discípulos… Quando Jesus chegou à casa daquele chefe, e viu os tocadores de flauta e a multidão em alvoroço, disse; Retirai-vos; porque a menina não está morta, mas dorme. E riam-se dele. Tendo-se feito sair o povo, entrou Jesus, tomou a menina pela mão, e ela se levantou”. (Mateus 9:18-25)
Da mesma forma que José, enquanto dormia, não estava inconsciente, mas conversava com um anjo, aqueles que morrem também não entram em estado de inconsciência, mas são transportados, em espírito, para o céu ou para o inferno.
QUANDO MORRER É LUCRO
“Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro. Mas, se o viver na carne resultar para mim em fruto do meu trabalho, não sei então o que hei de escolher. Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor; todavia, por causa de vós, julgo mais necessário permanecer na carne”. (Filipenses 1:21-24)
Aqui o Apóstolo, já no fim de sua carreira, comenta que ele estava dividido sobre o que ele queria para si mesmo – “de ambos os lados estou em aperto”. Por um lado, ele queria continuar vivo para poder continuar a servir de instrumento para a edificação da Igreja. Por outro lado, ele queria morrer para estar com Cristo. Isso significa que, mediante a morte, os crentes são imediatamente transportados à presença de Cristo nos céus. É por isso que a morte seria “muito melhor” do que continuar vivo. Enquanto vivo, Cristo está espiritualmente conosco, mas não corporalmente. Quando morremos, somos transportados à presença de Cristo no céu.
É importante notar também as expressões que ele usa para se referir à viva e à morte. Continuar vivo é “permanecer na carne” e que morrer é “partir”. Isso reflete a ideia anterior de que quando morremos, somos transportados à presença de Cristo. Evidentemente, não somos corporalmente transportados ao céu. O que é transportado é nossa alma. Continuar vivo é permanecer na carne porque quando morremos nossa alma deixa nosso corpo. Diversos textos bíblicos refletem isso:
“Então se estendeu sobre o menino três vezes, e clamou ao SENHOR, e disse: O SENHOR meu Deus, rogo-te que a alma deste menino torne a entrar nele. E o SENHOR ouviu a voz de Elias; e a alma do menino tornou a entrar nele, e reviveu. E Elias tomou o menino, e o trouxe do quarto à casa, e o deu a sua mãe; e disse Elias: Vês aí, teu filho vive. Então a mulher disse a Elias: Nisto conheço agora que tu és homem de Deus, e que a palavra do SENHOR na tua boca é verdade”. (I Reis 17:20-24)
“Estando ele ainda falando, chegou um dos do príncipe da sinagoga, dizendo: A tua filha já está morta, não incomodes o Mestre. Jesus, porém, ouvindo-o, respondeu-lhe, dizendo: Não temas; crê somente, e será salva. E, entrando em casa, a ninguém deixou entrar, senão a Pedro, e a Tiago, e a João, e ao pai e a mãe da menina. E todos choravam, e a pranteavam; e ele disse: Não choreis; não está morta, mas dorme. E riam-se dele, sabendo que estava morta. Mas ele, pondo-os todos fora, e pegando-lhe na mão, clamou, dizendo: Levanta-te, menina. E o seu espírito voltou, e ela logo se levantou; e Jesus mandou que lhe dessem de comer”. (Lucas 8:49-55)
“E, estando um certo jovem, por nome Êutico, assentado numa janela, caiu do terceiro andar, tomado de um sono profundo que lhe sobreveio durante o extenso discurso de Paulo; e foi levantado morto. Paulo, porém, descendo, inclinou-se sobre ele e, abraçando-o, disse: Não vos perturbeis, que a sua alma nele está”. (Atos 20:9-10)
Isso deixa claro que, mediante a morte, a alma deixa o corpo e que, exceto em casos extraordinários de ressurreição, as almas dos justos são imediatamente transportadas à presença de Cristo no céu. O Apocalipse também deixa isso claro:
“E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram. E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?” (Apocalipse 6:9-10)
“Depois destas coisas olhei, e eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono, e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos; E clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro. E todos os anjos estavam ao redor do trono, e dos anciãos, e dos quatro animais; e prostraram-se diante do trono sobre seus rostos, e adoraram a Deus, Dizendo: Amém. Louvor, e glória, e sabedoria, e ação de graças, e honra, e poder, e força ao nosso Deus, para todo o sempre. Amém. E um dos anciãos me falou, dizendo: Estes que estão vestidos de vestes brancas, quem são, e de onde vieram? E eu disse-lhe: Senhor, tu sabes. E ele disse-me: Estes são os que vieram de grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus, e o servem de dia e de noite no seu templo; e aquele que está assentado sobre o trono os cobrirá com a sua sombra. Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem sol nem calma alguma cairá sobre eles. Porque o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará, e lhes servirá de guia para as fontes das águas da vida; e Deus limpará de seus olhos toda a lágrima”. (Apocalipse 7:9-17)
O templo terrestre do Antigo Pacto era uma sombra do templo do Novo Pacto – o céu. “Porque Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus” (Heb 9:24). O céu é um lugar real no qual Cristo está com o mesmo corpo que ressuscitou. “Ora, o Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu” (Marcos 16:19). É por isso que, no Apocalipse, João diz que viu que os mártires estavam “diante do trono de Deus, e o servem de dia e de noite no seu templo”. O templo é o céu. É por isso que ele diz também que estavam “debaixo do altar”. O altar era uma parte do templo. Com Paulo explicou também aos Coríntios:
“Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus. E por isso também gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do céu; Se, todavia, estando vestidos, não formos achados nus. Porque também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos carregados; não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida. Ora, quem para isto mesmo nos preparou foi Deus, o qual nos deu também o penhor do Espírito. Por isso estamos sempre de bom ânimo, sabendo que, enquanto estamos no corpo, vivemos ausentes do Senhor (Porque andamos por fé, e não por vista). Mas temos confiança e desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor. Pois que muito desejamos também ser-lhe agradáveis, quer presentes, quer ausentes”. (II Coríntios 5:1-9)
O que Paulo diz ai é essencialmente o mesmo que ele diz aos Filipenses. “Enquanto estamos no corpo vivemos ausentes do Senhor”, mas quando deixamos este corpo, isto é, quando morremos, nossa alma é imediatamente recebida nos braços do Senhor no céu.
PARA QUE A RESSURREIÇÃO E O JUÍZO FINAL?
Um argumento muito frequente entre os aniquilistas é o seguinte:
- Se, mediante a morte, os homens já são julgados e transportados para o céu ou para o inferno, qual seria a necessidade de haver a ressurreição e o juízo final depois?
A pergunta pode ser respondida com outra pergunta: Se Faraó ainda será julgado no juízo final, porque Deus já o julgou afogando-o no mar vermelho? O juízo final é o juízo final e não o juízo único. Deus não julga o homem uma única vez para nunca mais julgar. Deus julgou Faraó com diversas pragas, afogando no mar vermelho (Salmos 136:15), lançando sua alma no inferno e, no juízo final, o julgará de novo lançado ele de corpo e alma no lago de fogo (Ap 20:15). Na morte dos ímpios, somente suas almas são entregues ao inferno, mas não seus corpos. Da mesma forma, na morte dos justos, somente suas almas vão para a presença de Deus, mas não seus corpos. Mas Deus é o criador tanto da alma quanto do corpo (Zc 12:1) e, portanto, ele salva e condena tanto a alma quanto o corpo.
Como desde o princípio de nossa existência, nós sempre tivemos com nosso corpo, nós não sabemos qual é a sensação de ser uma alma sem o corpo. Não temos meios de saber ao certo que diferença faz porque a Bíblia não entra em detalhes sobre isso. Mas, se Deus trata a ressurreição como algo importante, devemos inferir que a alma sem o corpo tem alguma sensação de que ainda falta alguma coisa. Se o corpo fosse desnecessário, a ressurreição não seria importante. Como a ressurreição é importante, segue-se que a alma sem o corpo tem a consciência de que ainda é um indivíduo incompleto. O que podemos saber com toda certeza é que, depois do juízo final, o tormento dos ímpios e a alegria dos justos serão mais intensos e completos por conta do corpo.
“Propôs-lhes então uma parábola, dizendo: O campo de um homem rico produzira com abundância; e ele arrazoava consigo, dizendo: Que farei? Pois não tenho onde recolher os meus frutos. Disse então: Farei isto: derribarei os meus celeiros e edificarei outros maiores, e ali recolherei todos os meus cereais e os meus bens; e direi à minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe, regala-te. Mas Deus lhe disse: Insensato, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus”. (Lucas 12.16-21)
O rico da parábola tinha como meta principal aproveitar o máximo a suas próprias riquezas por muitos anos: “Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe, regala-te”. (v.18) Sua perspectiva sobre seu próprio futuro era exclusivamente o de viver aproveitando os deleites da riqueza. Suas ações no presente eram somente meios para este fim. A expectativa do juízo de Deus não fazia parte da equação pela qual ele media seus atos. Por isso, apesar de ser materialmente rico, ele “não era rico para com Deus” (v. 21). O que acontece quando morremos? Isso nos ensina duas coisas fundamentais:
1) Os homens são julgados por Deus no momento da morte.
Os homens poderão até evitar um juízo mais duro da parte de Deus enquanto vivem na terra, mas o juízo do Senhor é inevitável e inescapável no momento da morte. Jesus disse: “Insensato, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado para quem será?” (v.20). Naquela mesma noite ele teria que prestar contas de sua vida. Naquela noite ele seria julgado pela maneira que viveu.
2) O veredicto é baseado no que aconteceu durante a vida.
“Insensato, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado para quem será?” (v.20). Um dos meios mais eficazes de Satanás conduzir os homens ao inferno é convencendo-as que podemos fazer o que quisermos nesta vida porque depois de mortos é que a gente resolve os nossos problemas com Ele. Jesus chamou isso de tolice e deixou claro que o veredicto seria baseado no que ele tinha feito antes de morrer e que depois de morto não há mais meios de alterá-lo.
O SONO DA ALMA
Ateus e agnósticos costumam defender que o homem é feito inteiramente de matéria e, sendo assim, o ser humano simplesmente deixa de existir como ser humano mediante a morte, restando somente o cadáver. Os defensores do sono da alma – os aniquilistas – como Adventistas do Sétimo Dia e Testemunhas de Jeová defendem algo parecido. Eles também dizem que, mediante a morte, o ser humano entra em estado de inconsciência. A diferença é que ateus e agnósticos acreditam que é um estado permanente e irreversível, enquanto os aniquilistas defendem que o estado de inconsciência é somente até a ressurreição na Segunda Vinda de Cristo. O principal argumento para defender essa posição é que a Bíblia frequentemente compara a morte com o ato de dormir:
“Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com ele”. (I Tessalonicenses 4:13-14)
Segundo os aniquilistas, morrer é equivalente a dormir porque quando morremos entramos em um estado de inconsciência. O primeiro erro desse argumento é o simples fato de que quando nós dormimos não entramos em um estado de inconsciência. Com exceção daqueles que sofreram sérios danos cerebrais, nós sonhamos sempre que dormirmos. Muitos dizem não sonhar, mas na realidade o que acontece é que não se lembram do sonho. A mente não “desliga” quando dormimos. A Bíblia é repleta de pessoas sonhando quando dormem. Isso, por si só, é suficiente para provar que quando a Bíblia compara a morte com o ato de dormir, a intenção não é dizer que quando morremos nos tornamos inconscientes simplesmente porque, biblicamente, dormir não significa estar inconsciente. José, enquanto dormia, não estava em estado de inconsciência, mas estava conversando com um anjo sobre Jesus:
“E, projetando ele isso, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, pois o que nela se gerou é do Espírito Santo; ela dará à luz um filho, a quem chamarás JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados. Ora, tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que fora dito da parte do Senhor pelo profeta: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, o qual será chamado EMANUEL, que traduzido é: Deus conosco. E José, tendo despertado do sono, fez como o anjo do Senhor lhe ordenara, e recebeu sua mulher”. (Mateus 1:20-24)
Mas se dormir não significa que a mente entra em estado de inconsciência, por que a Bíblia faz essa comparação então? Por dois motivos. Primeiro, a relação do morto com o mundo ao seu redor é semelhante à relação de quem dorme com o ambiente ao seu redor. Os mortos não interagem com os vivos da mesma forme que os que dormem não interagem com os que estão acordados. Segundo, se estamos dormindo, isso significa que em algum momento vamos acordar:
“E, tendo assim falado, acrescentou: Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono. Disseram-lhe, pois, os discípulos: Senhor, se dorme, ficará bom. Mas Jesus falara da sua morte; eles, porém, entenderam que falava do repouso do sono. Então Jesus lhes disse claramente: Lázaro morreu”. (João 11:11-14)
Jesus não disse que Lázaro estava literalmente dormindo. Dormir era uma figura de linguagem para dizer que Lázaro não iria ficar permanentemente morto, mas que iria ressuscitar. O objetivo da Bíblia ao comparar os mortos com aqueles que dormem, não é dizer que estão em estado de inconsciência, mas é dizer que um dia irão ressuscitar. Como em outra ocasião:
“Enquanto ainda lhes dizia essas coisas, eis que chegou um chefe da sinagoga e o adorou, dizendo: Minha filha acaba de falecer; mas vem, impõe-lhe a tua mão, e ela viverá. Levantou-se, pois, Jesus, e o foi seguindo, ele e os seus discípulos… Quando Jesus chegou à casa daquele chefe, e viu os tocadores de flauta e a multidão em alvoroço, disse; Retirai-vos; porque a menina não está morta, mas dorme. E riam-se dele. Tendo-se feito sair o povo, entrou Jesus, tomou a menina pela mão, e ela se levantou”. (Mateus 9:18-25)
Da mesma forma que José, enquanto dormia, não estava inconsciente, mas conversava com um anjo, aqueles que morrem também não entram em estado de inconsciência, mas são transportados, em espírito, para o céu ou para o inferno.
QUANDO MORRER É LUCRO
“Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro. Mas, se o viver na carne resultar para mim em fruto do meu trabalho, não sei então o que hei de escolher. Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor; todavia, por causa de vós, julgo mais necessário permanecer na carne”. (Filipenses 1:21-24)
Aqui o Apóstolo, já no fim de sua carreira, comenta que ele estava dividido sobre o que ele queria para si mesmo – “de ambos os lados estou em aperto”. Por um lado, ele queria continuar vivo para poder continuar a servir de instrumento para a edificação da Igreja. Por outro lado, ele queria morrer para estar com Cristo. Isso significa que, mediante a morte, os crentes são imediatamente transportados à presença de Cristo nos céus. É por isso que a morte seria “muito melhor” do que continuar vivo. Enquanto vivo, Cristo está espiritualmente conosco, mas não corporalmente. Quando morremos, somos transportados à presença de Cristo no céu.
É importante notar também as expressões que ele usa para se referir à viva e à morte. Continuar vivo é “permanecer na carne” e que morrer é “partir”. Isso reflete a ideia anterior de que quando morremos, somos transportados à presença de Cristo. Evidentemente, não somos corporalmente transportados ao céu. O que é transportado é nossa alma. Continuar vivo é permanecer na carne porque quando morremos nossa alma deixa nosso corpo. Diversos textos bíblicos refletem isso:
“Então se estendeu sobre o menino três vezes, e clamou ao SENHOR, e disse: O SENHOR meu Deus, rogo-te que a alma deste menino torne a entrar nele. E o SENHOR ouviu a voz de Elias; e a alma do menino tornou a entrar nele, e reviveu. E Elias tomou o menino, e o trouxe do quarto à casa, e o deu a sua mãe; e disse Elias: Vês aí, teu filho vive. Então a mulher disse a Elias: Nisto conheço agora que tu és homem de Deus, e que a palavra do SENHOR na tua boca é verdade”. (I Reis 17:20-24)
“Estando ele ainda falando, chegou um dos do príncipe da sinagoga, dizendo: A tua filha já está morta, não incomodes o Mestre. Jesus, porém, ouvindo-o, respondeu-lhe, dizendo: Não temas; crê somente, e será salva. E, entrando em casa, a ninguém deixou entrar, senão a Pedro, e a Tiago, e a João, e ao pai e a mãe da menina. E todos choravam, e a pranteavam; e ele disse: Não choreis; não está morta, mas dorme. E riam-se dele, sabendo que estava morta. Mas ele, pondo-os todos fora, e pegando-lhe na mão, clamou, dizendo: Levanta-te, menina. E o seu espírito voltou, e ela logo se levantou; e Jesus mandou que lhe dessem de comer”. (Lucas 8:49-55)
“E, estando um certo jovem, por nome Êutico, assentado numa janela, caiu do terceiro andar, tomado de um sono profundo que lhe sobreveio durante o extenso discurso de Paulo; e foi levantado morto. Paulo, porém, descendo, inclinou-se sobre ele e, abraçando-o, disse: Não vos perturbeis, que a sua alma nele está”. (Atos 20:9-10)
Isso deixa claro que, mediante a morte, a alma deixa o corpo e que, exceto em casos extraordinários de ressurreição, as almas dos justos são imediatamente transportadas à presença de Cristo no céu. O Apocalipse também deixa isso claro:
“E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram. E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?” (Apocalipse 6:9-10)
“Depois destas coisas olhei, e eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono, e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos; E clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro. E todos os anjos estavam ao redor do trono, e dos anciãos, e dos quatro animais; e prostraram-se diante do trono sobre seus rostos, e adoraram a Deus, Dizendo: Amém. Louvor, e glória, e sabedoria, e ação de graças, e honra, e poder, e força ao nosso Deus, para todo o sempre. Amém. E um dos anciãos me falou, dizendo: Estes que estão vestidos de vestes brancas, quem são, e de onde vieram? E eu disse-lhe: Senhor, tu sabes. E ele disse-me: Estes são os que vieram de grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus, e o servem de dia e de noite no seu templo; e aquele que está assentado sobre o trono os cobrirá com a sua sombra. Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem sol nem calma alguma cairá sobre eles. Porque o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará, e lhes servirá de guia para as fontes das águas da vida; e Deus limpará de seus olhos toda a lágrima”. (Apocalipse 7:9-17)
O templo terrestre do Antigo Pacto era uma sombra do templo do Novo Pacto – o céu. “Porque Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus” (Heb 9:24). O céu é um lugar real no qual Cristo está com o mesmo corpo que ressuscitou. “Ora, o Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu” (Marcos 16:19). É por isso que, no Apocalipse, João diz que viu que os mártires estavam “diante do trono de Deus, e o servem de dia e de noite no seu templo”. O templo é o céu. É por isso que ele diz também que estavam “debaixo do altar”. O altar era uma parte do templo. Com Paulo explicou também aos Coríntios:
“Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus. E por isso também gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do céu; Se, todavia, estando vestidos, não formos achados nus. Porque também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos carregados; não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida. Ora, quem para isto mesmo nos preparou foi Deus, o qual nos deu também o penhor do Espírito. Por isso estamos sempre de bom ânimo, sabendo que, enquanto estamos no corpo, vivemos ausentes do Senhor (Porque andamos por fé, e não por vista). Mas temos confiança e desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor. Pois que muito desejamos também ser-lhe agradáveis, quer presentes, quer ausentes”. (II Coríntios 5:1-9)
O que Paulo diz ai é essencialmente o mesmo que ele diz aos Filipenses. “Enquanto estamos no corpo vivemos ausentes do Senhor”, mas quando deixamos este corpo, isto é, quando morremos, nossa alma é imediatamente recebida nos braços do Senhor no céu.
PARA QUE A RESSURREIÇÃO E O JUÍZO FINAL?
Um argumento muito frequente entre os aniquilistas é o seguinte:
- Se, mediante a morte, os homens já são julgados e transportados para o céu ou para o inferno, qual seria a necessidade de haver a ressurreição e o juízo final depois?
A pergunta pode ser respondida com outra pergunta: Se Faraó ainda será julgado no juízo final, porque Deus já o julgou afogando-o no mar vermelho? O juízo final é o juízo final e não o juízo único. Deus não julga o homem uma única vez para nunca mais julgar. Deus julgou Faraó com diversas pragas, afogando no mar vermelho (Salmos 136:15), lançando sua alma no inferno e, no juízo final, o julgará de novo lançado ele de corpo e alma no lago de fogo (Ap 20:15). Na morte dos ímpios, somente suas almas são entregues ao inferno, mas não seus corpos. Da mesma forma, na morte dos justos, somente suas almas vão para a presença de Deus, mas não seus corpos. Mas Deus é o criador tanto da alma quanto do corpo (Zc 12:1) e, portanto, ele salva e condena tanto a alma quanto o corpo.
Como desde o princípio de nossa existência, nós sempre tivemos com nosso corpo, nós não sabemos qual é a sensação de ser uma alma sem o corpo. Não temos meios de saber ao certo que diferença faz porque a Bíblia não entra em detalhes sobre isso. Mas, se Deus trata a ressurreição como algo importante, devemos inferir que a alma sem o corpo tem alguma sensação de que ainda falta alguma coisa. Se o corpo fosse desnecessário, a ressurreição não seria importante. Como a ressurreição é importante, segue-se que a alma sem o corpo tem a consciência de que ainda é um indivíduo incompleto. O que podemos saber com toda certeza é que, depois do juízo final, o tormento dos ímpios e a alegria dos justos serão mais intensos e completos por conta do corpo.
FONTE:
https://resistireconstruir.wordpress.com/2013/06/29/o-que-acontece-quando-morremos/
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