Por Fernando Galli
Jesus Cristo disse que os dois maiores
mandamentos são: Amar a Deus de todo o coração, alma e entendimento e amar o próximo
como a nós mesmos. Como podemos aplicar esses mandamentos? O que eles se
contrastam com a hipocrisia religiosa? Quais as características de uma religião
formalista, sem vitalidade espiritual, que não pratica esses dois mandamentos?
– Mateus 22:37-39.
Amar a Deus de todo o coração, alma e entendimento
Quando se ama uma pessoa de verdade, faz-se
tudo ao alcance para agradá-la. Com o coração, mostra-se a vontade de se estar
ao lado dela; com a alma, dá-se até a vida para reafirmar este amor; com o
entendimento, a razão supera a emoção de modo que tanto quem ama como quem é
amado sentem prazer nesta relação. É como se define amor sobre a passagem em
Mateus 22:37-40: “O amor não é, primordialmente, um sentimento, mas uma aliança
de fidelidade, uma questão de querer e de fazer de todo o coração ... alma entendimento.”¹
Na vida cristã, há muitas maneiras de se demonstrar
tal amor a Deus. Uma maneira especial é demonstrarmos gratidão por sua Palavra
a Bíblia. Na linguagem teológica, é impossível separar amor de adoração. E Deus
nos ensina que devemos adorar a Deus em espírito e em verdade. (João 4:24) Amar
e adorar a Deus em verdade é conhecer a verdade de Deus. Mas não se trata de
conhecimento intelectual, mas relacional. Quando um homem e uma mulher se amam
de verdade, eles se conhecem muito bem, pois há amizade a qual gera
conhecimento mútuo. Então, no relacionamento de amor com Deus, naturalmente
ocorrerá este conhecimento relacional através da intimidade do crente com o
pensar de Deus registrado em sua Palavra. Por isso, podemos endossar as
palavras do Salmista: “Como amo tua lei! Ela é minha meditação o dia todo.”
(Salmo 119:97) Mas como é de todo coração, alma e entendimento, daremos
prioridade máxima a este relacionamento com esta fonte de sabedoria
inesgotável. Teremos vontade de lê-la, daremos nossa vida por aprendê-la,
praticá-la e ensiná-la, e evidenciaremos que entendemos desta Palavra no agir
diário.
Outra maneira de
demonstrarmos amor a Deus é falarmos sobre Ele. Um casal que se ama é composto
por duas pessoas que falam bem e bastante uma da outra. O crente, igual ao
salmista, testemunha sobre Deus e não se envergonha. (Salmo 119:46) Ele fala do
amor de Deus através de Jesus sem se acanhar. (Romanos 1:16) Este amor
incondicional a Deus faz nossos lábios sentirem vontade de falar de Deus, damos
nossa vida se for preciso para pregarmos e ensinarmos tudo o que vem de Deus. E
com o entendimento gerado por esse amor relacional procuraremos tocar o coração
das pessoas com palavras de sabedoria.
Amar o próximo como a ti mesmo
É sempre bom salientar neste amor relacional
Deus e homem que Deus nos dá o exemplo absoluto de amar seus filhos como Ele
ama a si mesmo. Incrível, não? Somente nos fará bem em amarmo-nos uns aos
outros. Como Deus nos amou? Evidentemente que a prova maior deste amor de Deus
foi o fato de Jesus Cristo morrer por nós. Então, aprendemos com Deus e com
Jesus que precisamos praticar o mandamento de amar uns aos outros assim como
Jesus nos amou. (João 13:34, 35) Sobre isso, a Bíblia de Aplicação Pessoal,
numa nota de roda-pé, afirma:
“Agora devemos amar uns aos outros baseando-nos no amor sacrificial de Jesus por nós. Tal amor não apenas levará os incrédulos a Cristo; também manterá os cristãos fortes e unidos em um mundo que é hostil a Deus.”²
Isto significa que deveríamos estar dispostos a
morrer por nossos irmãos. Não se trata de amor da boca para fora. É amor em
ação. E daí, vemos muitas maneiras de demonstrar este amor. Uma delas,
evidenciarmos o fruto do espírito nos relacionamentos pessoais, buscando a paz
entre irmãos, tratando a todos com benignidade, bondade e autodomínio (ou temperança),
jamais perdendo a esperança de resolvermos problemas pessoais (longanimidade),
sendo exemplos de fé uns aos outros. Quem ama ao próximo com o amor de Deus
possui a alegria de Deus. – Gálatas 5:22, 23.
Outra maneira de amarmos o próximo como a nós
mesmos é pregarmos o evangelho de Jesus Cristo. Quão ingratos seríamos se nos
tornássemos agentes secretos de Jesus e nos calássemos! Sermos testemunhas de
Cristo em todos os lugares e momentos possíveis revelará amor ao próximo por
ansiarmos pela salvação dele. (1 Timóteo 4:16) Mas este amor demonstrado
através do evangelismo continuará com o discipulado. (Mateus 28:19, 20) Será
que em seu coração diz-se pulam-se pessoas ou discipulam-se pessoas?
O amor de Deus e ao Próximo Versus
a Hipocrisia e o Formalismo Religioso
Certa vez, Jesus condenou uma figueira por não
dar frutos. Ela só tinha folhas. (Mateus 21:19-21) Numa relação de amor,
comprar roupas belas para adornar quem se ama nada adiantará se este amor não
for verdadeiro. Será como uma figueira com folhas, que apenas chama atenção,
mas sem frutos, ou seja, não alimenta a ninguém. É um amor formal, mas não
prático. Quanta hipocrisia os fariseus demonstravam por se preocuparem com
detalhes da Lei ou de suas tradições, sendo que a essência cristã eles deixavam
para trás: o amor.
Em nossos tempos, observamos crentes professos
e igrejas ensinarem o amor a Deus e ao próximo (folhas), mas não praticam de
fato (frutos). Mas Jesus ensinou que os frutos, e não as folhas, que
identificam quem é quem. (Mateus 7:16) Vejamos alguns exemplos disso:
- Igrejas e crentes que se preocupam mais em construir templos luxuosos, com instrumentos caros, assentos dos melhores possíveis, mas investem pouco no principal modo de se praticar o amor: Evangelismo e discipulado.
- Igrejas e crentes que compram carro do ano, mas sequer fazem arranjos para trazer os impossibilitados para os cultos e, depois, levá-los para casa.
- Igrejas e crentes que pagam altíssimos salários para seus pastores, mas dão pouca ou nenhuma ajuda aos seus missionários, como ocorreu certa vez em que dois missionários brasileiros na África foram notificados que em seis meses teriam seus salários cortados devido a dificuldades financeiras da Igreja. Qual era a dificuldade? O salário do pastor que iria de 20 para 25 mil Reais?
- Crentes que mostram ares de espiritualidade nos cultos, mas seus corações estão sendo alimentados por pornografia, novelas (que possuem todas as obras da carne) e ainda ousam afirmar que não têm tempo de ler e meditar na Palavra de Deus. Ou que exibem seus talentos oratórios em suas pregações, com palavras encorajadoras, mas no dia-a-dia suas línguas os denunciam como verdadeiros bocas-sujas. Será que precisamos melhorar nisso por amor a Deus e até ao próximo?
O formalismo e a hipocrisia se amam
verdadeiramente, de todo o coração, alma e entendimento. Mas não podemos ser
padrinhos deste casamento. Cada cristão deve examinar a si mesmo e identificar
quaisquer traços de farisaísmo: formalismo e hipocrisia, se está afirmando
adorar a Deus com a boca mas com um coração longe dEle. – Mateus 15:7, 8.
Amor a Deus e ao Próximo na Totalidade
Precisamos por em prática a interpretação tão
bem colocada por HENDRIKSEN ao comentar Mateus 22:37-40 e o tríplice uso da
palavra todo(a):
“O homem deve usar
todos esses poderes ao máximo; note o tríplice “todo ... toda ... toda” ou
“totalidade ... totalidade ... totalidade”. A essência é que amar a Deus de
todo o coração não deve ser uma resposta parcial. Quando Deus ama, ele ama o
mundo; quando ele dá, dá seu Filho, portanto a si mesmo. [...] Ele o entrega,
ele não o poupa.”³
Portanto, que busquemos praticar o amor a Deus
e uns para com os outros em resposta total ao amor pleno de Deus. Todos nós
precisamos melhorar. Quem se contenta com a dose de amor que já demonstrou está
à beira de se contentar com todas as obras da carne que são resultantes do não
amar a Deus e ao próximo.
Por Fernando Galli
¹ JERÔNIMO, São. Novo
Comentário Bíblico São Jerônimo: Novo Testamento e Artigos Sistemáticos, página
200. São Paulo: Paulus, 2011.
² BÍBLIA Aplicação Pessoal,
página 1447. CPAD: São Paulo, 2004.
³ HENDRIKSEN, William. Comentário
do Novo Testamento: Mateus, Volume 2, página 432. São Paulo: Cultura
Cristã, 2001.
fonte:
http://www.ia-cs.com/2013/04/reflexoes-sobre-os-dois-maiores.html
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