EM BUSCA DA TRANSCENDÊNCIA O QUE É RELIGIÃO? QUAL A DIFERENÇA DE SEITA? MITOLOGIA É RELIGIÃO? O QUE É HERESIA?
RELIGIÃO deriva
do termo latino "Re-Ligare", que significa "religação" com o divino.
Essa definição engloba necessariamente qualquer forma de aspecto místico
e religioso, abrangendo seitas, mitologias e quaisquer outras doutrinas
ou formas de pensamento que tenham como característica fundamental um
conteúdo Metafísico, ou seja, de além do mundo físico.
Sendo assim o hábito, geralmente por parte de grupos religiosos de taxarem tal ou qual grupo religioso rival de seita, não têm apoio na definição do termo. SEITA, derivado da palavra latina "Secta", nada mais é do que um segmento minoritário que se diferencia das crenças majoritárias, mas como tal também é religião. HERESIA é outro termo mal compreendido. Significa simplesmente um conteúdo que vai contra a estrutura teórica de uma religião dominante. Sendo assim o Cristianismo foi uma Heresia Judaica assim como o Protestantismo uma Heresia Católica, ou o Budismo uma Heresia Hinduísta. A MITOLOGIA é uma coleção de contos e lendas com uma concepção mística em comum, sendo parte integrante da maioria das religiões, mas suas formas variam grandemente dependendo da estrutura fundamental da crença religiosa. Não há religião sem mitos, mas podem existir mitos que não participem de uma religião. MÍSTICA pode ser entendida como qualquer coisa que diga respeito a um plano sobre material. Um "Mistério".
PRESENÇA DA RELIGIÃO EM TODA A CULTURA HUMANA
Não há registro em qualquer estudo por parte da História, Antropologia,
Sociologia ou qualquer outra "ciência" social, de um grupamento humano
em qualquer época que não tenha professado algum tipo de crença
religiosa. As religiões são então um fenômeno inerente a cultura humana,
assim como as artes e técnicas.
Grande parte de todos os movimentos humanos significativos tiveram a religião como impulsor, diversas guerras, geralmente as mais terríveis, tiveram legitimação religiosa, estruturas sociais foram definidas com base em religiões e grande parte do conhecimento científico, "filosófico" e artístico tiveram como vetores os grupos religiosos, que durante a maior parte da história da humanidade estiveram vinculados ao poder político e social. Hoje em dia, apesar de todo o avanço científico, o fenômeno religioso sobrevive e cresce, desafiando previsões que anteveram seu fim. A grande maioria da humanidade professa alguma crença religiosa direta ou indiretamente e a Religião continua a promover diversos movimentos humanos, e mantendo estatutos políticos e sociais. Tal como a Ciência, a Arte e a Filosofia, a Religião é parte integrante e inseparável da cultura humana, é muito provavelmente sempre continuará sendo.
TIPOS DE RELIGIÕES
Há várias formas de religião, e são muitos os modos que vários
estudiosos utilizam para classificá-las. Porém há características comuns
às religiões que aparecem com maior ou menor destaque em praticamente
todas as divisões.
A primeira destas características e cronológica, pois as formas religiosas predominantes evoluem através dos tempos nos sucessivos estágios culturais de qualquer sociedade. Outro modo é classificá-las de acordo com sua solidez de princípios e sua profundidade filosófica, o que irá separá-las em religiões com e sem Livros Sagrados. Pessoalmente como um estudioso do assunto, prefiro uma classificação que leva em conta essas duas características, e divide as religiões nos seguintes 4 grandes grupos distintos. | |
PANTEÍSTAS
POLITEÍSTAS
|
MONOTEÍSTAS
ATEÍSTAS
|
Nessa divisão há uma ordem cronológica. As Religiões
PANTEÍSTAS são as mais antigas, dominando em sociedades menores e mais
"primitivas". Tanto nos primórdios da civilização mesopotâmica, européia
e asiática, quanto nas culturas das Américas, África e Oceania. As Religiões POLITEÍSTAS por vezes se confundem com as Panteístas, mas surgem num estágio posterior do desenvolvimento de uma cultura. Quanto mais a sociedade se torna complexa, mais o Panteísmo vai se tornando Politeísmo. Já as MONOTEÍSTAS são mais recentes, e atualmente as mais disseminadas, o Monoteísmo quantitativamente ainda domina mais de metade da humanidade. E embora possa parecer estranho, existem religiões ATEÍSTAS, que negam a existência de um ser supremo central, embora possam admitir a existência de entidades espirituais diversas. Essas religiões geralmente surgem como um reação a um sistema religioso Monoteísta ou pelo menos Politeísta, e em muitos aspectos se confunde com o Panteísmo embora possua características exclusivas. Essa divisão também traça uma hierarquia de rebuscamento filosófico nas religiões. As Panteístas por serem as mais antigas, não têm Livros Sagrados ou qualquer estabelecimento mais sólido do que a tradição oral, embora na atualidade o renascimento panteísta esteja mudando isso. Já as politeístas muitas vezes possuem registros de suas lendas e mitos em versão escrita, mas Nenhuma possui uma REVELAÇÃO propriamente dita. Isto é um privilégio do Monoteísmo. TODAS as grandes religiões monoteístas possuem sua Revelação Divina em forma de Livro Sagrado. As Ateístas também possuem seus livros guias, mas por não acreditarem num Deus pessoal, não tem o peso dogmático de uma revelação divina, sendo vistas em geral como tratados filosóficos. Vejamos alguns quadros comparativos. |
ÉPOCAS DE SURGIMENTO E PREDOMÍNIO. | |
PANTEÍSMO: | As mais antigas, remontando a pré-história onde tinham predominância absoluta, e também presentes em muitos dos povos silvícolas das Américas, África e Oceania. |
POLITEÍSMO: | Surgem num estágio posterior de desenvolvimento social, tendo sido predominantes na Idade Antiga em todo o velho mundo, e mesmo nas civilizações mais avançadas das Américas pré-colombianas. |
MONOTEÍSMO: | Mais recentes, surgindo a partir do último milênio aC e predominando da Idade Média até a atualidade. |
ATEÍSMO: | Surgem a partir do século V aC, tendo vingado somente no Oriente e no Ocidente ressurgindo somente após a renascença numa forma mais filosófica que religiosa. |
Neo PANTEÍSMO: | Embora possuam representantes em todos os períodos históricos, popularizam-se ou surgem a partir do século XVIII. |
BASE LITERÁRIA | |
PANTEÍSMO: | Próprias de culturas ágrafas, não possuem em geral qualquer forma de base escrita, sendo transmitidas por tradição oral. |
POLITEÍSMO: | Nas sociedades letradas possuem frequentemente registros literários sobre seus mitos, e mesmo nas ágrafas possuem tradições icônicas mais elaboradas. |
MONOTEÍSMO: | Possuem Livros Sagrados definidos e que padronizam as formas de crença, servindo como referência obrigatória e trazendo códigos de leis. São tidos como detentores de verdades absolutas. |
ATEÍSMO: | Possuem textos básicos de conteúdo predominantemente filosófico, não possuindo entretanto força dogmática arbitrária ainda que sendo também revelados por sábios ou seres iluminados. |
Neo PANTEÍSMO: | Seus textos são em geral filosóficos, embora possuam mais força doutrinária, não incorrendo porém em dogmas arbitrários. |
MITOLOGIA | |
PANTEÍSMO: | Deus é o próprio mundo, tudo está interligado num equilíbrio ecossistêmico e místico. Crê-se em espíritos e geralmente em reencarnação, é comum também o culto aos antepassados. Procura-se manter a harmonia com a natureza, e o mundo comummente é tido como eterno. |
POLITEÍSMO: | Diversos deuses criaram, regem e destroem o mundo. Se relacionam de forma tensa com os seres humanos, não raro hostil. As lendas dos deuses se assemelham a dramas humanos, havendo contos dos mais diversos tipos. |
MONOTEÍSMO: | Um Ser transcendente criou o mundo e o ser humano, há uma relação paternal entre criador e criaturas. Na maioria dos casos um semi-deus se rebela contra o criador trazendo males sobre todos os seres. Messias são enviados para conduzir os povos, profetiza-se um evento renovador violento no final dos tempos, onde a ordem será restaurada pela divindade. |
ATEÍSMO: | O Universo é uma emanação de um princípio primordial "vazio", um Não-Ser. Crê-se na possibilidade de evolução espiritual através de um trabalho íntimo, crê-se em diversos seres conscientes dos mais variados níveis, e geralmente em reencarnação. |
Neo PANTEÍSMO: | Acredita-se em geral no Monismo, um substância única que permeia todo o Universo num Ser único. São em geral reencarnacionistas e evolutivas. A desatribuição de qualidades do Ser supremo por vezes as confunde com o Ateísmo. |
SÍMBOLOS | |
PANTEÍSMO: | Utilizam no máximo totens e alguns outros fetiches, é comum o uso de vegetais, ossos, ou animais vivos ou mortos. |
POLITEÍSMO: | Surgem os ídolos zoo ou antropomórficos na forma de pinturas e esculturas em larga escala. A simbologia icônica se torna complexa em alguns casos resultando em formas de escrita ideográfica. |
MONOTEÍSMO: | O Deus supremo geralmente não possui representação visual, mas os secundários sim. Utilizam símbolos mais abstratos e de significados complexos. |
ATEÍSMO: | O Não-Ser supremo não pode ser representado, mas há muitas retratações dos seres iluminados. Há vários símbolos representativos da natureza e metafísica do Universo. |
Neo PANTEÍSMO: | Diversos símbolos e mitos de diversas outras religiões são resgatados e reinterpretados, também não há representação específica do Ser Supremo mas pode haver de outros seres elevados. |
RITUAIS | |
PANTEÍSMO: | Geralmente ligados a natureza e ocorrendo em contato com esta. É comum o uso de infusões de ervas, danças, oráculos e cerimônias ao ar livre. |
POLITEÍSMO: | Passam a surgir os templos, embora em geral não abandonem totalmente os rituais ao ar livre. Em muitos casos ocorrem os sacrifícios humanos, oráculos e as feitiçarias de controle ambiental. |
MONOTEÍSMO: | Geralmente restritas ao templos, as hierarquias ritualistas são mais rígidas, não há oráculos pessoais mas sim profecias generalizadas com base no livro sagrado. Não há rituais de controle ambiental. |
ATEÍSMO: | Embora ainda comuns nos templos são também frequentes fora destes. Desenvolvem-se técnicas de concentração, meditação e purificação mais específicas, baseadas antes de tudo no controle dos impulsos e emoções. |
Neo PANTEÍSMO: | Em geral baseados no uso de "energias" da natureza. Não mais têm influência nos processos civis, sendo restritos a curas, proteção contra ameaças físicas e extrafísicas. |
EXEMPLOS | |
PANTEÍSMO: | Religiões silvícolas, xamanismo, religiões célticas, druidismo, amazônicas, indígenas norte americanas, africanas e etc. |
POLITEÍSMO: | Religião Grega, Egípcia, Xintoísmo, Mitologia Nórdica, Religião Azteca, Maia etc. |
MONOTEÍSMO: | Bhramanismo, Zoroastrismo, Judaísmo, Cristianismo, Islamismo, Sikhismo. |
ATEÍSMO: | Orientais: Taoísmo, Confucionismo, Budismo, Jainismo. Ocidentais: Filosofias NeoPlantônicas, Ateísmo Filosófico (Não Religioso) |
Neo PANTEÍSMO: | Espiritsmo Kardecista*, Racionalismo Cristão, Neo-Gnosticismo, Teosofia, Wicca, "Esotéricas", etc. |
*Apesar do Kardecismo não se considerar Panteísta e sim antes Monoteísta.
PANTEÍSMO
As religiões primitivas são PANTEÍSTAS, acredita-se num grande
"Deus-Natureza". Todos os elementos naturais são divinizados, se atribuí
"inteligências" espirituais ao vento, a água, fogo, populações animais e
etc.
Há uma clara noção de equilíbrio ecossistêmico, onde é comum ritos de
agradecimento pelas dádivas naturais e pedidos às divindades da
natureza, em alguns casos requisitando autorização mesmo para o consumo
da caça que embora tenha sido obtida pelo esforço humano, seria na
verdade permitida, se não ofertada, pelos entes espirituais.
A relação de dependência do ser humano com o ecossistema é clara, assim
como a de parentesco e de submissão. As entidades elementais da natureza
estão presentes em toda a parte, conferindo a onisciência do espírito
divino. Embora haja a tendência da predominância de um presença mística
feminina, a "mãe-terra", o elemento masculino também é notável a partir
do momento que os seres humanos passam a compreender o papel do macho na
reprodução. Ocorre então a presença de dois elementos divinos básicos, o
Feminino e Masculino universal.
É um domínio de pensamento transcendente, mais compatível com a
subjetividade e a síntese, não sendo então casual que este seja o tipo
religioso onde as mulheres mais tenham influência. A presença de
sacerdotisas, bruxas e feiticeiras é em muitos casos, muito mais
significativa que a de seus equivalentes masculinos.
Todas essas religiões são ágrafas, sem escrita, com exceção é claro dos
NeoPanteísmos contemporâneos. Portanto são as mais envoltas em
obscuridade e mistérios, não tendo deixado nenhum registro além da
tradição oral e de vestígios arqueológicos.
POLITEÍSMO
Com o tempo e o desenvolvimento as necessidades humanas passam a se
tornar mais complexas. A sobrevivência assume contornos mais
específicos, o crescimento populacional hipertrofiado graças a
tecnologia que garante maior sucesso na preservação da prole e da
longevidade, gera um série de atividades competitivas e estruturalistas
nas sociedades, que se tornam cada vez mais estratificadas.
Nesse meio tempo a influência racional em franca ascensão tenta decifrar
as transcendentes essências espirituais da natureza. Surge então o
POLITEÍSMO, onde os elementos divinos são então personificados com
qualidades cada vez mais humanas. O que era antes apenas a Água, um ser
de essência espiritual metafísica e sagrada, agora passa a ser
representada por uma entidade antropomórfica ou zoomórfica relacionada a
água.
No princípio as características dessas divindades não são muito
afetadas, mas com o tempo, a imaginação humana ou a tentativa de se
adequar as religiões às estruturas sociais, elas ficam cada vez mais
parecidas com os seres humanos comuns, surgindo então entre os deuses
relacionamentos similares aos humanos inclusive com conflitos, ciúmes,
traições, romances e etc. E cada vez mais os deuses perdem
características transcendentes até que a "degeneração" chegue a ponto
destes se relacionarem sexualmente com seres humanos, o que significa a
perda da natureza metafísica, da característica invisível, ou mais, de
haver relações físicas e pessoais de violência entre humanos e
divindades, sem qualquer caráter transcendente.
Em muitos casos é difícil distinguir com clareza se determinadas
religiões são Pan ou Politeístas. Mesmo no estágio Panteísta por vezes
pode-se identificar com muita evidência algumas personificações das
entidades divinas, mas algumas características como as citadas no
parágrafo anterior são exclusivas do politeísmo. É possível que os
elementos que contribuam ou realizem essa transição sejam o Animismo,
Fetichismo e Totemismo.
Ocorre também uma relativa equivalência entre deidades femininas e
masculinas, embora as masculinas mostrem sinais de predominância a
medida que o sistema de crenças se torne mais mundano, características
de uma fase mais racional e técnica onde muitas vezes a religião
politeísta caminha junto com filosofias da natureza.
É sempre nesse estágio também que as sociedades desenvolvem escrita, ou
pelo menos passa a utilizar símbolos abstratos e códigos visuais mais
elaborados, no caso do politeísmo asiático, egípcio e europeu por
exemplo, evoluiu para um sistema de escrita complexo.
Muitas destas religiões têm então, narrativas de seus mitos em forma
escrita, mas tais não possuem o valor e a significância de uma Revelação
propriamente dita.
Num estágio final tende a ocorrer o fenômeno da Monolatria, onde a
adoração se concentra numa única divindade, o que pode ser o ponto de
partida para o Monoteísmo.
MONOTEÍSMO
Chega um momento onde o Politeísmo está tão confuso, que parece forçar o
"inconsciente coletivo", ou a "intuição global" a buscar uma nova forma
de crença. Alguém precisa pôr ordem na casa, surge então um poderoso
Deus que acaba com a confusão e se proclama como o Único soberano.
Acabam-se as adorações isoladas e hierarquiza-se rigidamente as
deidades, de modo a se submeter toda a autoridade do universo a um ente
máximo.
O MONOTEÍSMO não é a crença em uma única divindade, mas sim a soberania
absoluta de uma. A própria teologia judaico-cristã-islâmica adota
hierarquias angélicas que são inclusive encarregadas de reger elementos
específicos da natureza.
Um elemento que caracteriza mais claramente o MONOTEÍSMO mais
específico, Zoroastrista, Judáico, Cristão, Islâmico e Sikh, é antes de
tudo a ausência ou escassez de representações icônicas do Deus supremo, e
sua desatribuição parcial de qualidades humanas, nem sempre bem
sucedida. Já as entidades secundárias são comumente retratadas
artisticamente.
A própria mitologia grega através da Monolatria, já estaria a dar sinais
de se dirigir a um monoteísmo similar ao que chegou a religião Hindu,
ou a egípcia com a instituição do deus único Akhenaton, embora ainda
impregnadas fortemente de Politeísmo a até de reminiscências Panteístas
no caso do Bhramanismo. Zeus assomava-se cada vez mais como o regente
absoluto do universo. Entretanto um certo obstáculo teológico impedia
que tal mitologia atingisse um estágio sequer semi-Monoteísta. Zeus é
filho de Chronos, neto de Urano, essa descendência evidencia sua
natureza subordinada ao tempo, ele não é eterno ou sequer o princípio em
si próprio, que é uma característica obrigatória de um Deus Uno e
absoluto como Bhraman ou Jeová.
Um fator complicador é que todas essas religiões apesar de seu princípio
Uno, são também Dualistas, pois contrapõem um deus do Bem contra um do
Mal. Entretanto não se presta "Sob Hipótese Alguma!", qualquer culto ao
deus maligno, como ocorre nas Politeístas. Saber se o deus maligno está
ou não sujeito afinal ao deus supremo é uma discussão que vem rendendo
há mais de 3.000 anos.
Diferente do estado Panteísta original não ocorre harmonia entre os
opostos, e um deles passa a ser privilegiado em detrimento do outro.
Sendo assim onde antes ocorria a divinização dos aspectos Masculinos e
Femininos do Universo, e a sacralidade da união, aqui ocorre a
associação de um com o maligno, fatalmente do elemento Feminino uma vez
que todas as religiões monoteístas surgiram na fase patriarcal da
humanidade.
O Bhramanismo sendo o mais antigo, ainda conserva qualidades tais como
veneração a manifestações femininas da divindade, não condena a relação
sexual e ainda detém a crença reencarnacionista que é uma quase
constante no Panteísmo. Do Politeísmo guarda toda um miríade de deuses
personificados, com estórias bastante humanas que envolvem conflitos e
paixões. Mas a subordinação a um Uno supremo, no caso representado pela
trindade Bhrama-Vinshu-Shiva, é clara. O panteão anterior Hindu foi
completamente absorvido pelo monoteísmo Bhraman, e conservou até mesmo a
deusa Aditi, que outrora fora a divindade suprema.
Já os monoteísmos posteriores, mais afastados do fenômeno panteísta,
entram em choque mais evidente com o Politeísmo que geralmente está em
estado caótico. Ocorre um abafamento da religião anterior pela nova e
seu caráter patriarcal e associado a violência, especialmente a partir
do Judaísmo, se impõe de forma opressiva. As divindades femininas são
erradicadas ou demonizadas, sendo então obrigatoriamente associadas ao
elemento maligno do universo. Esse fenômeno acompanha a queda da
condição social feminina na sociedade.
Embora as teologias monoteístas, especialmente na atualidade, se
esforcem para afirmar o contrário, o deus único Hebreu, Cristão e
Islâmico, basicamente o mesmo, assim como o do anterior Zoroastrismo e
posterior Sikhismo, são nitidamente masculinos, aparentemente renegando o
aspecto feminino divino do universo, mas na verdade o absorvendo, uma
vez que ao contrário de deuses "supremos" Politeístas como Zeus, Osíris e
Odin, eles são carregados de atribuições de amor e compaixão, embora
ainda conservem sua Ira divina e seus atributos violentos, o que resulta
em entidades complexas, que possuem aspectos paternos e maternos
simultâneamente.
Tal como a própria emocionalidade, esse é o período mais contraditório
da evolução do pensamento Teológico. Apesar de estar sob o domínio de
uma característica de predominância subjetiva, é o momento onde as
sociedades se mostraram paradoxalmente mais androcráticas. Os elementos
femininos são absorvidos pelo Deus Único dando a ele o poder de atrair e
seduzir as massas pela sua bondade, mostrando sua face benevolente, mas
por outro lado a espada da masculinidade está sempre pronta a desferir o
golpe fatal em quem se opuser a sua soberania.
Tal união, confere aos deuses monoteístas um poder supremo inigualável, e
tal contradição, tal desarmonia intrínseca, resultou não por acaso no
período religiosamente mais violento da história. As religiões
monoteístas, especialmente o trio Judaísmo-Cristianismo-Islamismo, são
as mais intolerantes e sanguinárias da história.
ATEÍSMO
As religiões aqui caracterizadas como Ateístas negam simplesmente a
existência de um Ser Supremo central, que tudo tenha criado e a tudo
controle, e talvez seja nesse grupo que se sinta mais radicalmente a
ruptura entre Ocidente e Oriente, mas basicamente o Ateísmo religioso
tende a funcionar da seguinte forma.
Se o Monoteísmo tenta acabar com o "pandemonium" Politeísta e
estabelecer uma nova ordem por algum tempo, acaba por também se
mundanizar. As autoridades religiosas interferindo fortemente na
política e na estruturação social, enfraquecem como símbolos
transcendentes. A inflexibilidade fundamentalista do sistema se revela
injustificável ante a problemática social e as conquistas e descobertas
filosóficas e científicas e num dado momento o sentimento de descrença é
tal que deixa-se de acreditar num deus. Surge o ATEÍSMO.
Esse é o ponto crucial, a razão pela qual de fato não acredito que
existam Ateus no sentido mais profundo do termo, no máximo "agnósticos".
Geralmente o ateu não é aquele que desacredita do "invisível", de
qualquer forma de Téos, mas sim o que descrê dos deuses personificados e
corrompidos. Afinal até o mais materialista e cético dos cientistas
trabalha com forças invisíveis! Fenômenos da natureza ainda
inexplicáveis.
Gravitação Universal, Lei de Entropia, Mecânica Quântica e etc. não
podem ser vistas! Apenas seus efeitos. Tal como sempre se alegou com
relação aos deuses.
No que se refere a uma visão do Princípio, não creio fazer diferença
acreditar que um corpo é atraído para o centro da Terra por uma força
invisível da natureza ou pela vontade de um deus também invisível. Há
apenas uma maior compreensão racional do fenômeno, com maiores resultado
práticos, mas de um modo ou de outro, a explicação possui um certo
caráter de fé, tão racionalmente satisfatório para o cientista quanto
para o religioso, capaz de explicar com clareza o funcionamento do mundo
e mesmo quando isso não ocorre, admiti-se como mistérios divinos, ou
causas científicas ainda desconhecidas.
No caso do Oriente, o Ateísmo religioso surge principalmente na Índia,
sob a forma do Budismo e do Jainísmo, e na China, sob o Taoísmo e o
Confucionismo. Todas essas religiões possuem textos base com certo grau
de respeitabilidade mística ou filosófica, mas o grau de liberdade com
que se pode reinterpretar ou mesmo discordar destes textos é
incomparável em relação aos livros sagrados Monoteístas.
E nesse nível que muitas posturas passam a ser desconsideradas como
religiões, sendo tidas em geral como filosofias. No Ocidente, tal
movimento ocorreu também na Grécia Antiga, através de Filósofos da
Natureza que estabeleciam como princípio primário universal alguma
"substância" completamente impessoal. Mais especificamente, Aristóteles
colocava o MOTOR IMÓVEL como o princípio primário, e PLOTINO,
estabelecia o UNO. Porém essa breve ascensão do Ateísmo filosófico e
científico ocidental foi logo minada pelo sucesso do Monoteísmo cristão.
O Ateísmo no Ocidente só surgiu novamente após a renascença, no
Iluminismo, onde outras formas filosóficas se desenvolveram, mas a
mistura destas com os Neo Panteísmos e o avanço científico em geral
resulta num quadro difícil de se diferenciar.
Mas o ponto mais complexo na verdade, e que Ateísmo e Panteísmo se confundem.
Religiões ATEÍSTAS e NEO-PANTEÍSTAS
As religiões Ateístas não crêem numa entidade suprema central, mas
pregam a interdependência harmônica do Universo, da mesma forma que o
Panteísmo.
Pregam a harmonia dos opostos como Yin e Yang, da mesma forma que a
harmonia entre a Deusa e o Deus no Panteísmo, e constantemente adotam um
posição de neutralidade em relação aos eventos.
Provavelmente não por acaso TAOÍSMO e BUDISMO são as mais avançadas das
grandes religiões num sentido metafísico, racional e mesmo científico.
São imunes a contestação racional pois seus conceitos trabalham num
plano mais abstrato mas ao mesmo tempo capaz de explicar a realidade, e
fartos de paradoxos escapistas, sendo extremamente mais flexíveis que as
religiões monoteístas por exemplo. Não há casos significativos de
atrocidades cometidas em nome destas religiões em larga escala como as
monoteístas ou nas politeístas monolátricas.
Porém, barreiras intransponíveis impedem que essas religiões sejam nesse
esquema de divisão, classificadas como Panteístas. TAOÍSMO e
CONFUCIONISMO que são chinesas equanto o BUDISMO e o JAINISMO Indianos,
são religiões letradas. Possuem seus escritos fundamentais como os
Sutras Budistas, o Tao Te-King Taoísta e os Anacletos Confucianos e os
textos dos Tirthankaras Jainistas. Todas possuem seus mentores, Buda,
Lao-Tsé, Confúcio e Mahavira. E todas são muito desenvolvidas
filosoficamente, por vezes sendo consideradas não religiões, mas
filosofia. Todas essas características inexistem no Panteísmo primitivo.
Portanto isso me leva a classificá-las como RELIGIÕES ATEÍSTAS, por
declararem a inexistência de um Ser Supremo. Pelo contrário, o TAO ou o
NIRVANA, o centro de todo o Universo segundo o Taoísmo e Confucionismo, e
o Budismo, são uma espécie de Vazio, um Não-Ser.
Já o Neo-Panteísmo possui sim seus textos. É o caso do Espiritismo
Kardecista, do Bahaísmo, do Racionalismo Cristão e etc. Embora muitos
insistam em negar-se como Panteístas se inclinando para o Monoteísmo,
porém uma série de fatores a distanciam muito deste grupo. Tais como:
A ênfase atenuada dada ao livro base da doutrina, que embora seja uma
revelação, não tem o mesmo peso dogmático e em geral se apresenta de
forma predominantemente racional. A postura passiva e não proselitista, e
muito menos violenta, do Monoteísmo tradicional. A caraterização de seu
fundador que mesmo sendo dotado de dons supra-naturais, não reivindica
deificação e nem mesmo reverência especial. E o mais importante,
diferenciando-as principalmente do Monoteísmo "Ocidental", o tratamento
totalmente diferenciado dado a questão da existência do "Mal". Esses são
alguns exemplos que tendem a afastar essas novas religiões, que prefiro
agrupar na categoria Neo-Panteísmo, do grupo das Monoteístas.
PANTEÍSMO
|
=>
| Deus é Tudo |
POLITEÍSMO
|
=>
| Deus é Plural |
MONOTEÍSMO
|
=>
| Deus é Um |
ATEÍSMO
|
=>
| Deus é Nada |
Evidentemente, afirmar que DEUS é TUDO é muito similar a afirmar que é NADA. O ZERO é tão imensurável e incalculável quanto o INFINITO. Eles não podem ser medidos ou divididos, assim como não se divide por eles.
Vale lembrar que não se pode também rotular tal ou qual religião como
meramente Pan, Poli ou Monoteísta. Muitas passaram pelas várias fases
nem sempre de maneira perceptível e consensual. O próprio Budismo tem
várias escolas bastante diferentes entre si, e mesmo o Cristianismo tem
suas variantes com direito a reencarnação e sexo tântrico, e cujas
atribuições de Deus o afastam das características monoteístas. Mas o
processo macro, inconsciente, me parece ser esse! O de fases
"psicohistóricas" que vão na forma:
?-PANTEÍSMO-POLITEÍSMO-MONOTEÍSMO-ATEÍSMO-?PANTEÍSMO
Outro ponto importante é que jamais uma dessas formas religiosas deixou
de existir totalmente, principalmente na atualidade onde a intolerância
religiosa não é mais "tolerada" na maior parte do mundo. Esses tipos de
religiões se misturam e se confundem, o que explica porque qualquer
tentativa de se classificar as religiões é tão complexa.Até mesmo essa divisão esquemática apresenta problemas, como a notável diferença entre o Monoteísmo "Ocidental", Judaísmo-Cristianismo-Islamismo, fortemente interligadas, o Monoteísmo Oriental, Hindu, Bhramanismo e Sikhismo, e o sempre complexo Zoroastrismo, de características fortemente Maniqueistas, o que viria por vezes a suscintar a questão de se o Maniqueísmo, que tem forte influência sobre o Gnosticismo e o Catolicismo, poderia ser considerado Monoteísta.
SÍMBOLOS
| |||
O mantra sagrado "OM" ou "AUM" Hindu. Representa o "Som" primordial. | A Roda do DHARMA budista, ou "Roda da Vida". | ||
O Tei-Gi do Taoísmo. Simbolizando a interdependência dos princípios universais Yin e Yang. | A estrela de Davi. Um dos símbolos do Judaísmo e do estado de Israel. | ||
A cruz do Cristianismo. Encruzilhada entre o material e o espiritual. | A Lua e Estrela Muçulmana, oriunda de um dos mais antigos estados a adotar o Islã. | ||
Nenhuma religião em especial mas algumas igrejas protestantes costumam usar um livro como símbolo. |
FONTE:
http://profdeteologia.blogspot.com.br/2012/06/historia-das-religioes.html
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