Como Abordar as Dificuldades Bíblicas
Os
críticos afirmam que a Bíblia está cheia de erros. Alguns falam, até
mesmo, em milhares de erros. A verdade é que não há nem mesmo um só
erro no texto original da Bíblia que tenha sido demonstrado. Isso não
quer dizer que não haja dificuldades em nossas Bíblias. Dificuldades
há, e é delas que este livro vai tratar. Seu propósito é mostrar que
não há realmente erros nas Escrituras. Por quê? Porque a Bíblia é a
Palavra de Deus, e Deus não pode errar. Vamos raciocinar. Vamos tratar
isto de uma forma lógica examinando as premissas:
Deus não pode errar
A Bíblia é a Palavra de Deus
Portanto, a Bíblia está isenta de erros
Como
qualquer estudante de lógica sabe, este é um silogismo (uma forma de
raciocínio) válido. Assim, se as premissas são verdadeiras, as
conclusões também são verdadeiras. Como vamos mostrar, a Bíblia declara
sem rodeios ser a Palavra de Deus. Ela nos informa também que Deus não
pode errar. A conclusão, então, é inevitável: a Bíblia está isenta de
erros. Se ela estivesse errada em qualquer coisa que afirma, então Deus
teria cometido um erro. Mas Deus não pode cometer erros.
Deus Não Pode Cometer Erros
As Escrituras declaram enfaticamente que "é impossível que Deus minta" (Hb 6:18). Paulo fala do "Deus que não pode mentir" (Tt 1:2). Ele é um Deus que, mesmo que não sejamos fiéis, "permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo" (2 Tm 2:13). Deus é a verdade (Jo 14:6) e assim também é a Palavra dele. Jesus disse ao Pai: "a tua Palavra é a verdade" (Jo 17:17). O salmista exclamou: "As tuas palavras são em tudo verdade" (SI 119:160).
A Bíblia é a Palavra de Deus
Jesus referiu-se ao AT como sendo a "Palavra de Deus", que "não pode falhar" (Jo 10:35). Ele disse: "até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra" (Mt 5:18). Paulo acrescentou: "Toda a Escritura é inspirada por Deus" (2 Tm 3:16). Ela veio "da boca de Deus" (Mt 4:4). Embora tenham sido homens aqueles que escreveram as mensagens, "nunca,
jamais, qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto,
homens falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo" (2 Pe 1:21).
Jesus disse aos líderes religiosos de seus dias que eles vinham "invalidando a palavra de Deus"
pela sua própria tradição (Mc 7:13). Jesus chamou-lhes a atenção para a
Palavra de Deus escrita quando repetidamente afirmou: "Está escrito ... está escrito ... está escrito ..."
(Mt 4:4, 7,10). Esta frase aparece mais de noventa vezes no NT. É uma
forte indicação da autoridade divina da Palavra de Deus escrita.
Dando ênfase à natureza inerrante da verdade de Deus, o apóstolo Paulo referiu-se às Escrituras como "a palavra de Deus" (Rm 9:6). O autor de Hebreus declarou que "a
palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer
espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e
espírito, juntas e medulas, e apta para discernir os pensamentos e
propósitos do coração" (Hb 4:12).
Conclusão Lógica: A Bíblia é Isenta de Erros
Sim,
Deus falou, e ele não titubeou. O Deus da verdade nos deu a Palavra da
Verdade, e ela não contém inverdade alguma. A Bíblia é a inerrante
Palavra de Deus.
Pode-se Confiar na Bíblia em Questões de Ciência e de História?
Alguns
têm sugerido que as Escrituras sempre podem ser confiáveis em questões
de ordem moral, mas que nem sempre são corretas em questões
históricas. Eles confiam na Bíblia no campo espiritual, mas não na
esfera da ciência. Se isso fosse verdade, entretanto, negaria a
autoridade divina da Bíblia, já que o espiritual, o histórico e o
científico então frequentemente Interligados.
Um
cuidadoso exame das Escrituras revela-nos que as verdades científicas
(fatuais) e as espirituais são muitas vezes inseparáveis. Por exemplo, não
se pode separar a verdade espiritual da ressurreição de Cristo do fato
de que o seu corpo deixou para sempre vazio o seu túmulo e que depois
ele apareceu fisicamente (Mt 28:6; 1 Co 15:13-19).
Da
mesma forma, se Jesus não tivesse nascido de uma mulher biologicamente
virgem, então ele não seria diferente do resto da humanidade, sobre
quem recai o estigma do pecado de Adão (Rm 5:12). Também a morte de
Cristo por nossos pecados não pode ser separada do fato de que ele
derramou literalmente o seu sangue na cruz, pois "sem derramamento de sangue, não há remissão" (Hb 9:22).
A
existência e a queda de Adão tampouco podem ser um mito. Se não tivesse
havido literalmente um Adão, e se não tivesse havido de fato a queda,
então o ensino espiritual quanto ao pecado herdado e quanto à morte
física, dele decorrente, estaria errado (Rm 5:12). A realidade
histórica e a doutrina teológica juntas permanecem ou juntas caem por
terra.
Além
disso, a doutrina da encarnação é inseparável da verdade histórica de
Jesus de Nazaré (Jo 1:1,14). E ainda, o ensino de caráter moral de
Jesus quanto ao casamento baseou-se no que ele ensinou quando disse que
Deus juntou literalmente um Adão e uma Eva em matrimônio (Mt 19:4-5).
Em cada um destes casos, o ensino moral e o teológico perdem totalmente
o sentido se desconsiderado o evento histórico e fatual. Negando-se
que aquele evento ocorreu literalmente no tempo e no espaço, fica-se
então sem uma base para crer na doutrina bíblica construída sobre ele.
Com
frequência, Jesus comparou eventos do AT diretamente com importantes
verdades espirituais. Por exemplo, ele relacionou sua morte e
ressurreição com Jonas e o grande peixe (Mt 12:40). Da mesma forma, sua
segunda vinda foi comparada com os dias de Noé (Mt 24:37-39). Tanto as
circunstâncias como as características de tais comparações deixam
claro que Jesus estava afirmando que aqueles eventos foram fatos
históricos, que realmente aconteceram. De fato, Jesus afirmou a
Nicodemos: "Se tratando de coisas terrenas não me credes, como crereis, se vos falar das celestiais?"
(Jo 3:12). Em resumo, se a Bíblia não falasse com verdade a respeito
do mundo físico, então ela não poderia ser digna de confiança ao
referir-se ao mundo espiritual. Os dois mundos acham-se intimamente
relacionados.
A
inspiração inclui não apenas tudo o que a Bíblia explicitamente ensina,
mas inclui também tudo a que ela se refere. Isso é verdade quando a
Bíblia se reporta à história, à ciência ou à matemática. Tudo o que a
Bíblia declara é verdadeiro - podendo der tanto um ponto de maior como
também de menor importância. A Bíblia é a Palavra de Deus, e Ele não se
desvia da verdade em nenhum momento. Todas as partes das Escrituras
são verdadeiras, assim como o todo que elas formam.
Se é Inspirada, é Inerrante
A
inerrância é uma decorrência lógica da inspiração. Porque inerrância
significa verdade total, sem erros. E o que Deus profere (inspira) tem
de ser completamente verdadeiro e sem erros (inerrante). Contudo,
convém especificar com maior clareza o que significa "verdade" e o que constitui um "erro".
Verdade
significa aquilo que corresponde à realidade. Um erro, então, é o que
não corresponde à realidade. A verdade é dizer o que de fato é. Um erro
é não dizer o que é. Consequentemente, nenhuma coisa errada pode ser
verdadeira, mesmo que o autor pretendesse que o seu erro fosse algo
verdadeiro. Um erro é um erro, não simplesmente alguma coisa que nos
faça errar. De outro modo, toda expressão sincera poderia ser
considerada verdadeira ainda que se tratasse de um erro grosseiro. Da
mesma forma, algo não é verdadeiro simplesmente porque realiza o
propósito que havia sido estabelecido, já que muitas mentiras são
bem-sucedidas.
A
Bíblia vê claramente a verdade como aquilo que corresponde à realidade.
O erro é entendido como sendo uma falta de correspondência à
realidade, não como algo causado intencionalmente. Isso é evidente pelo
fato de que a palavra "erro" é usada no caso de erros não-Intencionais
(Lv 4:2). Na Bíblia inteira está implícita a visão de que a verdade
baseia-se numa correspondência entre duas coisas. Por exemplo, quando
os Dez Mandamentos declaram: "Não dirás falso testemunho"
(Êx 20:16) significa que deturpar fatos está errado. Este mesmo
conceito de verdade foi usado quando os judeus foram ao governador para
falar a respeito de Paulo: "Tu mesmo, examinando-o, poderás tomar conhecimento de todas as coisas de que nós o acusamos". E, ao fazer isso, é como se eles estivessem dizendo: "É verdade, tu podes facilmente verificar os fatos" (cf. At 24:8).
Foi assim que Deus disse?
Naturalmente,
toda vez que Deus tornou a verdade bem clara, a estratégia de Satanás
foi lançar dúvidas sobre ela. Sempre que Deus falou com autoridade, o
diabo desejou solapá-la. "Será que Deus disse isso?", ele fala com
escárnio (cf. Gn 3:1). Esta confusão, com frequência, acontece da
seguinte maneira: A Bíblia é a Palavra de Deus, inspirada de alguma
forma, mas é também constituída de palavras humanas. Ela teve autores
humanos, e "errar é humano". Daí, temos de esperar haver alguns erros
na Bíblia... Por aí vai esse argumento. Em resumo, a verdade clara e
simples de Deus acaba sendo confundida com a mentira de Satanás, o
senhor das mentiras (Jo 8:44).
Vamos
analisar o que há de errado nesta argumentação. Uma simples analogia
nos ajudará. Considere o seguinte raciocínio que, por ser paralelo
àquele, é igualmente falho:
1. Jesus era um ser humano.
2. Os seres humanos pecam.
3. Logo, Jesus pecou.
Qualquer estudante da Bíblia sabe de imediato que esta conclusão é falsa. Jesus foi um homem "sem pecado" (Hb 4:15). Ele "não conheceu pecado" (2 Co 5:21). Ele foi um "cordeiro sem defeito e sem mácula" (1 Pe 1:19). Como João disse a respeito de Jesus: "ele é puro" e "justo"
(1 Jo 3:3; 2:1). Mas, se Jesus nunca pecou, então o que está errado no
argumento acima, de que Jesus era humano, de que OS homens pecam e de
que, portanto, Jesus pecou? Onde é que a lógica se perde?
O
erro está em se assumir que Jesus era como qualquer outro ser humano.
Com certeza, meros seres humanos pecam. Mas Jesus não foi um mero ser
humano. Ele foi um ser humano perfeito. De fato, Jesus não era apenas
humano, mas ele era também Deus. Da mesma forma, a Bíblia não é
meramente um livro humano. Ela é também a Palavra de Deus. Como Jesus,
ela é tanto divina como humana. E da mesma forma como Jesus era humano,
mas não pecou, também a Bíblia é um livro humano, mas sem erros. Tanto
a Palavra viva de Deus (Cristo) como a sua Palavra escrita (as
Escrituras) são igualmente humanas, mas sem erros. A Palavra viva e a
Palavra escrita são também divinas, e não podem conter erros. Não pode
haver erros na Palavra de Deus escrita, como não houve pecado algum na
Palavra de Deus viva. É impossível Deus errar, e ponto final.
Há Dificuldades na Bíblia? Sim!
Ainda
que a Bíblia seja a Palavra de Deus e, como tal, nela não possa haver
erro algum, isso não significa que nela não haja dificuldades. Todavia,
como Agostinho observou com sabedoria: "Se estamos perplexos por
causa de qualquer aparente contradição nas Escrituras, não nos é
permitido dizer que o autor desse livro tenha errado; mas ou o
manuscrito utilizado tinha falhas, ou a tradução está errada, ou nós
não entendemos o que está escrito" . Os erros não se acham na revelação de Deus, mas nas falhas interpretações dos homens.
A
Bíblia é isenta de erros, mas os que a criticam não são. Todas as
alegações feitas nesse sentido baseiam-se em erros cometidos pelos
próprios críticos. Tais erros enquadram-se numa das seguintes
principais categorias:
Erro Número 1: Assumir que o que Não foi Explicado Seja Inexplicável
Nenhuma
pessoa instruída alegaria ser capaz de explicar completamente todas as
dificuldades bíblicas. Contudo, é um erro o crítico pressupor que o
que não foi ainda explicado nunca o será. Quando um cientista se depara
com uma anomalia na natureza, ele não desiste de fazer cuidadosos
exames científicos adicionais. Pelo contrário, ele faz uso daquilo que
não foi explicado como uma motivação para descobrir uma explicação.
Nenhum cientista verdadeiro desiste de seu trabalho, em desespero,
simplesmente porque não consegue explicar um dado fenômeno. Ele
continua a fazer pesquisas com a confiante expectativa de encontrar uma
resposta. E a história da ciência tem revelado que tal fé tem sido
recompensada.
Houve
épocas em que os cientistas, por exemplo, não tinham explicação para
fenômenos naturais como os meteoros, os eclipses, os tornados, os
furacões e os terremotos. Todos esses mistérios, porém, renderam os
seus segredos à inabalável perseverança da ciência. Os cientistas ainda
não sabem como a vida pode ocorrer em descargas térmicas nas
profundezas do mar, mas nenhum deles se dá por vencido e grita: "é uma
contradição!"
Da
mesma forma, os eruditos cristãos pressupõem que o que até hoje não foi
explicado na Bíblia não é, por isso, inexplicável. Não consideram que
discrepâncias sejam contradições. E, quando encontram algo que não
podem explicar, continuam pesquisando na certeza de que algum dia
encontrarão a resposta. Com efeito, se tivessem uma postura contrária a
esta, parariam de estudar.
Por
que ir em busca de uma resposta, quando se pressupõe que ela não
exista? Tal como o cientista, aquele que estuda a Bíblia tem sido
recompensado em sua fé e pesquisa, pois muitas dificuldades para as
quais os eruditos não tinham explicação já foram superadas através da
história, da arqueologia, da linguística e de outras disciplinas. Os
críticos, por exemplo, um dia afirmaram que Moisés não poderia ter
escrito os cinco primeiros livros da Bíblia porque a escrita ainda não
existia na época dele. Agora sabemos que a escrita já existia alguns
milhares de anos antes de Moisés.
De
igual forma, os críticos um dia acreditaram que a Bíblia estivesse
errada ao falar dos hititas (ou heteus), já que esse povo era
totalmente desconhecido dos historiadores. Sua existência, porém, foi
comprovada pela descoberta, na Turquia, de uma biblioteca hitita. Esses
fatos nos levam a crer que as dificuldades bíblicas ainda não
resolvidas certamente são explicáveis e que, portanto, não há que se
presumir que existam erros na Bíblia.
Erro Número 2: Presumir que a Bíblia é Culpada, até que Prove o Contrário
Muitos
críticos presumem que a Bíblia está errada, até que algo venha provar
que ela está certa. Contudo, como acontece com qualquer cidadão acusado
de um crime, a Bíblia deve ser tida como "inocente", até que haja a
prova da culpa. Isso não é querer dar-lhe nenhum tratamento especial;
essa é a forma pela qual todos os relacionamentos humanos são feitos.
Se assim não fosse, a vida não séria possível. Por exemplo, se
presumíssemos que a sinalização de trânsito nas rodovias ou na cidade
não fosse verdadeira, então provavelmente estaríamos mortos antes de
poder provar o contrário.
De
igual modo, se presumíssemos que os rótulos nas embalagens de alimentos
fossem enganosos até prova em contrário, teríamos então de abrir todas
as latas e pacotes antes de comprá-los. E o que dizer se presumíssemos
que todos os números no nosso dinheiro estivessem errados? E se
achássemos que estariam erradas todas as placas nas portas dos
sanitários públicos, que indicam o sexo a que se destinam?! Bem, isto
já é o bastante.
Temos
de presumir que a Bíblia, como qualquer outro livro, está nos dizendo o
que os autores disseram e ouviram. As críticas negativas da Bíblia
partem de um pressuposto contrário a este. Não é de se admirar, então,
que concluam que a Bíblia está crivada de erros.
Erro Número 3: Confundir as nossas Falíveis Interpretações com a Infalível Revelação de Deus
Jesus afirmou que "a Escritura não pode falhar" (Jo 10:35). Sendo um livro infalível, a Bíblia é também irrevogável. Jesus declarou: "Porque em verdade vos digo: Até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da lei, até que tudo se cumpra"
(Mt 5:18, cf. Lc 16:17). As Escrituras têm ainda a autoridade final,
sendo a última palavra acerca de tudo que ela aborda. Jesus valeu-se da
Bíblia para resistir ao tentador (Mt4:4,7,10); para resolver discussões
doutrinárias (Mt 21:42); e para sustentar a sua autoridade (Mc 11:17).
Às
vezes um ensinamento bíblico apoia-se num pequeno detalhe histórico (Hb
7:4-10), numa palavra ou numa frase (At 15:13-17), ou mesmo na
diferença entre o singular e o plural (Gl 3:16). Mas, conquanto a
Bíblia seja infalível, as interpretações humanas não o são. A Bíblia
não pode estar errada, mas nós podemos estar errados quanto a alguma
coisa dela. O significado da Bíblia nunca muda, mas a nossa compreensão
pode mudar.
Os
seres humanos são finitos, e seres finitos cometem erros. É por isso
que há borrachas para lápis, corretores líquidos para textos
datilografados, e uma tecla "apaga" nos computadores. E muito embora a
Palavra de Deus seja perfeita (Sl 19:7), enquanto existirem seres
humanos imperfeitos, haverá erros de interpretação das Escrituras e
falsos pontos de vista deles decorrentes.
Em
vista disso, não devemos nos apressar em considerar que um determinado
preceito científico hoje amplamente aceito seja a palavra final acerca
do ponto em questão. Teorias que foram predominantemente aceitas no
passado são consideradas incorretas por cientistas do presente. Dessa
forma, é de se esperar que haja contradições entre opiniões populares
sobre questões científicas e as interpretações da Bíblia amplamente
aceitas.
Isso,
porém, não consegue provar que há uma real contradição entre o mundo
de Deus e a Palavra de Deus, entre a revelação geral de Deus e a sua
revelação especial. Nesse sentido básico, a ciência e as Escrituras não
estão em contradição. Somente as opiniões humanas, finitas e falíveis
acerca da ciência e das Escrituras é que podem entrar em contradição.
Erro Número 4: Falhar na Compreensão do Contexto da Passagem
Talvez o erro mais comum dos críticos seja o de tirar um texto de seu próprio contexto. Como diz o adágio: "um texto fora de contexto é simplesmente um pretexto". Tudo se pode provar, a partir da Bíblia, por meio desse procedimento errôneo. A Bíblia diz: "Não há Deus" (SI 14:1). É claro, que o contexto é: "Diz o insensato no seu coração: 'Não há Deus'". Alguém poderá afirmar que Jesus nos advertiu: "não resistais ao perverso"
(Mt 5:39), mas o contexto anti-retaliatório em que ele lança esta
proposição não deve ser ignorado. Assim também muitos não compreendem
corretamente o contexto da afirmativa de Jesus, quando ele disse: "Dá a quem te pede"
(Mt 5:42), como se tivéssemos a obrigação de dar uma arma a uma
criancinha que nos pedisse, ou de dar armamentos atômicos a Saddam
Hussein simplesmente por ele ter pedido.
O
erro de não observar que o significado é determinado pelo contexto é,
talvez, o principal pecado daqueles que encontram erros na Bíblia, como
os comentários de numerosas passagens bíblicas neste livro vão
ilustrar.
Erro Número 5: Deixar de Interpretar Passagens Difíceis à Luz das que são Claras
Algumas
passagens das Escrituras são de difícil compreensão. Às vezes a
dificuldade é por serem obscuras. Outras vezes a dificuldade está em
que uma passagem parece estar ensinando algo contrário ao que uma outra
parte da Escritura ensina com clareza. Por exemplo, Tiago parece estar
dizendo que a salvação é pelas obras (Tg 2:14-26), ao passo que Paulo
ensinou com toda a clareza que é pela graça (Rm 4:5; Tt 3:5-7; Ef
2:8-9). Neste caso, Tiago não deve ser interpretado de maneira a
contradizer Paulo. O apóstolo Paulo está falando da justificação
perante Deus (o que é pela fé somente), ao passo que Tiago está se referindo à justificação perante os homens (que não têm como ver a nossa fé, mas somente as nossas obras).
Um outro exemplo encontra-se em Filipenses 2:12, em que Paulo diz: "desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor".
Aparentemente isto parece estar dizendo que a salvação é pelas obras.
Contudo, inúmeras passagens das Escrituras claramente contradizem tal
idéia, pois afirmam: "salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie" (Ef 2:8-9); "ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica ao ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça" (Rm 4:5); "não
por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia,
[é que] ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do
Espírito Santo" (Tt 3:5).
Quando
esta frase de difícil compreensão - "desenvolvei a vossa salvação" - é
entendida à luz dessas passagens tão claras, podemos ver que, qualquer
que seja o significado dela, uma coisa é certa: ela não significa que
somos salvos pelas obras. De fato, o seu significado é encontrado
precisamente no versículo seguinte. Temos de desenvolver a nossa
salvação porque a graça de Deus tem operado em nosso coração. Nas
próprias palavras de Paulo: "porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade" (Fp 2:13).
Erro Número 6: Basear um Ensino numa Passagem Obscura
Algumas
passagens da Bíblia são difíceis porque o seu significado é obscuro.
Isso ocorre geralmente porque uma palavra-chave do texto é empregada
uma só vez (ou raramente), e então fica difícil saber o que o autor
está dizendo, a menos que seja possível deduzir o sentido pelo
contexto. Por exemplo, uma das passagens mais conhecidas da Bíblia
contém uma palavra que não aparece em lugar algum, em toda a literatura
grega disponível até o tempo em que o NT foi escrito. Esta palavra
aparece no que comumente é conhecido como a "Oração do Senhor" (Mt
6:11). Geralmente a tradução que temos é "o pão nosso de cada dia dá-nos hoje".
A palavra em questão é a que é traduzida por "de cada dia", ou seja, o
vocábulo grego epiousion. Os estudiosos do grego ainda não entraram em
acordo quanto à sua origem ou quanto ao seu exato sentido. Diferentes
comentaristas têm tentado estabelecer elos com palavras gregas que são
bem conhecidas, e muitas sugestões têm sido propostas quanto ao seu
significado. Entre tais sugestões, temos:
"Nosso pão incessante dá-nos hoje."
"Nosso pão sobrenatural (indicando um pão espiritual, do céu) dá-nos hoje."
"O pão para o nosso sustento dá-nos hoje."
"O pão nosso de cada dia (ou, o que necessitamos para hoje) dá-nos hoje."
Cada
uma destas propostas tem seus defensores; cada uma faz sentido dentro
do contexto, e cada uma é uma possibilidade, tendo-se por base a
limitada informação disponível. Parece não haver nenhuma razão que nos
force a deixarmos aquela que tem sido a tradução normalmente aceita,
mas este exemplo serve muito bem para ilustrar o ponto em questão.
Algumas passagens da Bíblia são difíceis de se entender porque uma dada
palavra-chave aparece uma só vez, ou com muita raridade.
Outras
vezes as palavras podem estar claras, mas o significado não é evidente
porque não sabemos ao certo a que elas se referem. Isso se dá em 1 Co
15:29, onde Paulo fala sobre os que se batizavam pelos mortos. Será que
ele estava se referindo ao batismo de pessoas vivas, representando
pessoas mortas que não tinham sido batizadas, e assim assegurando-lhes a
salvação (como dizem os mórmons)? Ou será que ele está se referindo
aos que, sendo batizados, entram na igreja para preencher o lugar dos
que partiram? Ou ainda, não seria o caso de ele estar referindo-se aos
crentes sendo batizados "pelos mortos" no sentido de "suas próprias
mortes, sendo enterrados com Cristo"? Ou, quem sabe, poderia estar
dizendo alguma outra coisa?
Quando
não temos certeza, então temos de ter em mente algumas coisas.
Primeiro, não devemos construir uma doutrina com base numa passagem
obscura. A regra prática na interpretação bíblica é: "as coisas principais são as coisas claras, e as coisas claras são as coisas principais".
Chamamos a isso de perspicuidade (clareza) das Escrituras. Se algo for
importante, isso será ensinado nas Escrituras de forma bem clara,
provavelmente em mais de um lugar.
Segundo,
quando uma dada passagem não está clara, não devemos nunca supor que
ela esteja ensinando o contrário do que uma outra parte nos ensina com
muita clareza. Deus não comete erros na sua Palavra; mas nós podemos
cometer erros ao tentarmos interpretá-la.
Erro Número 7: Esquecer-se de que a Bíblia é um Livro Humano, com Características Humanas
Exceto
pequenas seções, tal como os Dez Mandamentos, que foram escritos "pelo
dedo de Deus" (Êx 31:18), a Bíblia não foi verbalmente ditada. Seus
escritores não foram secretários do Espírito Santo. Eles foram autores
humanos, que empregaram estilos literários próprios, com suas próprias
idiossincrasias, ou seja, com o seu jeito de ver as coisas. Esses
autores humanos às vezes tomaram informações de fontes humanas para o
que escreveram (Js 10:13; At 17:28; 1 Co 15:33; Tt 1:12). De fato, cada
livro da Bíblia é uma composição feita por um escritor humano; foram
cerca de quarenta autores.
A
Bíblia evidencia também estilos literários humanos diferentes; da
métrica melancólica de Lamentações até a exaltada poesia de Isaías; da
gramática elementar de João ao complexo grego do livro de Hebreus. As
Escrituras manifestam ainda perspectivas humanas. No Salmo 23, Davi
falou do ponto de vista de um pastor. Os livros de Reis foram escritos
tendo uma abordagem profética, e Crônicas, a partir de um ponto de
vista sacerdotal. Atos manifesta um enfoque histórico, e 2 Timóteo, o
coração de um pastor.
Os
escritores bíblicos escreveram sob a perspectiva de um observador
quando se referiram ao nascer do sol (Js 1:15) ou ao pôr-do-sol. Eles
também revelam padrões humanos de pensamento, inclusive lapsos de
memória (1 Co 1:14-16), bem como emoções humanas (Gl 4:14). A Bíblia
revela interesses humanos específicos. Por exemplo, Oséias possuía um
interesse rural, Lucas, uma preocupação médica, e Tiago, um amor pela
natureza.
Como
Cristo, a Bíblia é completamente humana, mas mesmo assim sem erros.
Esquecer-se da humanidade das Escrituras pode levar-nos a impugnar
falsamente sua integridade por esperarmos um nível de expressão maior
do que é o usual num documento humano. Isso vai ficar mais claro quando
abordarmos os próximos erros em que incidem os críticos.
Erro Número 8: Assumir que um Relato Parcial seja um Relato Falso
Com
frequência, os críticos tiram conclusões precipitadas com respeito a
um relato parcial, tomando-o como falso. Entretanto, não é bem assim.
Do contrário, quase tudo o que se tenha dito seria falso, já que poucas
vezes há tempo e espaço suficientes para uma abordagem completa.
Ocasionalmente,
a Bíblia expressa a mesma coisa de diferentes modos, ou pelo menos de
diferentes pontos de vista, em tempos distintos. Portanto, a inspiração
não exclui diversidade de expressão. Cada um dos quatro autores do
Evangelho relata a mesma história de uma maneira diferente, para um
grupo diferente de pessoas, e às vezes citam o mesmo incidente com
palavras diferentes. Compare, por exemplo, aquela famosa confissão de
Pedro no Evangelho segundo:
Mateus: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (16:16).
Marcos: "Tu és o Cristo" (8:29).
Lucas: "És o Cristo de Deus" (9:20).
Até
mesmo os Dez Mandamentos, os quais foram escritos "com o dedo de Deus"
(Dt 9:10), quando entregues, pela segunda vez, apresentam-se com
variações (compare Êx 20:8-11 com Dt 5:12-15). Há muitas diferenças
entre os livros de Reis e de Crônicas nas descrições que eles fazem dos
mesmos eventos; contudo, não incidem em nenhuma contradição nos
acontecimentos que narram. Se expressões assim tão importantes puderam
ser feitas de maneiras diferentes, então não há por que o restante das
Escrituras ter de expressar a verdade apenas de uma forma literal e
inflexível em sua abordagem.
Erro Número 9: Exigir que as Citações do Antigo Testamento Feitas no Novo Testamento Sejam Sempre Exatas
Os
críticos com frequência apontam para as variações ocorridas quando o NT
cita passagens do AT, como provas de erro. Entretanto, se esquecem de
que uma citação não tem de ser uma repetição exata do que está escrito.
Era então, como é hoje, perfeitamente aceitável o estilo literário que
dá a essência de uma afirmação ou pensamento, sem que se empregue
precisamente as mesmas palavras. Um mesmo significado pode ser
transmitido sem o uso das mesmas expressões verbais.
As
variações que ocorrem nas citações de textos do AT feitas no NT
enquadram-se em diferentes categorias. Às vezes é outra pessoa que está
falando. Por exemplo, Zacarias registra que o Senhor está dizendo: "olharão para mim, a quem traspassaram" (Zc 12:10). Quando isto é citado no NT, é João - e não Deus - que está falando: "verão aquele a quem traspassaram" (Jo 19:37).
Outras
vezes os escritores do NT citam apenas uma parte do texto do AT. Jesus
fez isso quando esteve na sinagoga da cidade de Nazaré (Lc 4:18-19/
citando li 61:1-2). De fato, ele parou no meio de uma sentença. Se
tivesse ido mais além, Jesus não poderia ter dito o que disse em
seguida: "Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir" (v. 21). É que, precisamente, a continuação daquela frase - "e o dia da vingança do nosso Deus" - é uma referência à sua segunda vinda.
Algumas
vezes, o NT parafraseia ou resume um texto do AT (por exemplo, Mt
2:6). Outras vezes, mistura dois textos em um (Mt 27:9-10).
Ocasionalmente, uma verdade geral é mencionada sem a citação de um
texto específico. Por exemplo, Mateus diz que Jesus mudou-se para
Nazaré "para que se cumprisse o que fora dito, por intermédio dos profetas: Ele será chamado Nazareno"
(Mt 2:23). Note que Mateus não cita um determinado profeta, mas sim
"profetas" em geral, de modo que seria inútil insistir na procura de um
determinado texto do AT em que esta profecia fosse encontrada.
Também há momentos em que o NT aplica um texto de um modo diferente em relação ao AT. Por exemplo, Oséias aplica "do Egito chamei o meu filho"
à nação messiânica e Mateus, ao produto daquela nação, o Messias (Mt
2:15 e Os 11:1). Em caso algum, porém, o NT interpreta de forma errada
ou não aplica corretamente o AT, nem ainda tira qualquer conclusão do
que não esteja presente naquele texto. Em resumo, o NT não comete erros
quando cita o AT, como acontece quando os críticos citam o NT.
Erro Número 10: Assumir que Diferentes Narrações Sejam Falsas
Pelo
simples fato de divergirem entre si duas ou mais narrações do mesmo
acontecimento, isso não significa que elas sejam mutuamente exclusivas.
Por exemplo, Mateus (28:5) diz que havia um anjo junto ao túmulo de
Jesus depois da ressurreição, ao passo que João nos informa de que
havia dois (20:12). Não há, porém, nenhuma contradição. De fato, há uma
infalível regra matemática que facilmente explica este problema: onde
quer que haja dois, sempre há um - e nisso não existe erro! Mateus não
diz que havia apenas um anjo. É necessário acrescentar a palavra
"apenas" no registro dele para fazê-lo entrar em contradição com o de
João. Mas, se o crítico vem até a Bíblia para mostrar os erros dela,
então o erro não está na Bíblia, mas sim no crítico.
De igual forma, Mateus (27:5) nos informa de que Judas enforcou-se. Mas Lucas diz que Judas, "precipitando-se, rompeu-se pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram"
(At 1:18). Uma vez mais, estes dois relatos diferem entre si, mas não
são mutuamente exclusivos. Se Judas enforcou-se numa árvore à beira de
um penhasco, e se o seu corpo caiu em pontudas rochas embaixo, então
suas entranhas se derramaram para fora, da maneira como tão bem Lucas
descreve.
Erro Número 11: Presumir que a Bíblia Aprova Tudo o que Ela Registra
É
um erro admitir que tudo o que a Bíblia contém seja recomendado por
ela. Toda a Bíblia é verdadeira (Jo 17:17), mas ela registra algumas
mentiras, como por exemplo as de Satanás (Gn 3:4; conforme Jo 8:44) e a
de Raabe (Js 2:4). A inspiração está sobre toda a Bíblia de forma tão
completa e abrangente que ela registra com exatidão e verdade até mesmo
as mentiras e os erros dos que pecaram. A verdade, na Bíblia,
encontra-se no que ela revela, não em tudo que ela registra. Sem que se
faça esta distinção, pode-se concluir de maneira errada que a Bíblia
ensina imoralidade, porque ela narra o pecado de Davi (2 Sm 11:4); ou
que ela promove a poligamia, porque registra o caso de Salomão (1 Rs
11:3); ou que ela ensina o ateísmo, por citar o tolo que diz: "não há
Deus" (Sl 14:1).
Erro Número 12: Esquecer-se de que a Bíblia faz Uso de uma Linguagem Comum, Não-Técnica
Para
que algo seja verdadeiro, não é necessário fazer uso de uma linguagem
erudita, técnica ou, assim chamada, "científica". A Bíblia foi escrita
para pessoas comuns de todas as gerações, e, portanto, emprega a
linguagem comum, do dia-a-dia. Que uso de uma linguagem não-científica
não vai de encontro à ciência, pois ela é anterior à ciência. As
Escrituras foram escritas em tempos antigos, com padrões antigos, e
seria algo anacrônico impor sobre elas padrões científicos modernos.
Contudo, não é menos científico falar que "o sol se deteve" (Js 10:13)
do que se referir ao "nascer do sol" (Js 1:15). Ainda hoje os
meteorologistas mencionam todo dia sobre a hora do "nascer" e do
"pôr-do-sol".
Erro Número 13: Considerar que Números Arredondados Sejam Errados
Outro
engano algumas vezes cometido pelos críticos é quando eles alegam que
há erro em números que foram arredondados. Não é assim. Números
arredondados são apenas isso: números arredondados. Como ocorre no
linguajar comum, a Bíblia faz uso de números arredondados (1 Cr 19:18;
21:5). Por exemplo, quando se referiu ao diâmetro como sendo cerca de
um terço da circunferência. Do ponto de vista da sociedade tecnológica
atual, pode ser impreciso tomar como sendo três o que é na realidade
3,14159265..., o que não é incorreto para um povo antigo, vivendo numa
era não-tecnológica. Três é o arredondamento do número "pi". Isso é o
suficiente para o "mar de fundição" (2 Cr 4:2), na medida de um antigo
templo hebreu, embora esta precisão não seja, hoje em dia, suficiente
para os cálculos feitos por um computador, num foguete moderno. Mas não
temos de esperar precisão científica numa era pré-cientifica. De fato,
isso seria tão anacrônico como usar um relógio de pulso numa peça de
Shakespeare.
Erro Número 14: Não Observar que a Bíblia faz Uso de Diferentes Recursos Literários
Um
livro inspirado não precisa ser composto em um único estilo literário.
Foram seres humanos que escreveram os livros da Bíblia, e a linguagem
humana não se limita a uma única forma de expressão. Assim, não há por
que supor que apenas uma forma de expressão ou apenas um gênero
literário tenha de ter sido empregado num livro divinamente inspirado.
A
Bíblia revela muitos recursos literários. Vários de seus livros
acham-se inteiramente escritos no estilo poético (por exemplo, Jó,
Salmos, Provérbios). Os Evangelhos sinóticos estão cheios de parábolas.
Em Gálatas 4, Paulo faz uso de uma alegoria. No NT acham-se muitas
metáforas (por exemplo, 2 Co 3:2-3, Tg 3:6), e comparações (Mt20:l; Tg
1:6); há também (por exemplo, Cl 1:23; Jo 21:25; 2 Co 3:2) e, até
mesmo, figuras poéticas (Jó 41:1). Jesus empregou a sátira (Mt 19:24,
23:24). Figuras de linguagem são comuns por toda a Bíblia.
Não
constitui erro o autor bíblico fazer uso de uma figura de linguagem,
mas é errado tomar uma figura de linguagem de forma literal.
Obviamente, quando a Bíblia fala do crente que se acolhe à sombra das
"asas" de Deus (Sl 36:7), isso não quer dizer que Deus seja uma ave com
uma bela plumagem. De igual modo, quando a Bíblia fala que Deus
"desperta" (Sl 44:23), como se ele estivesse dormindo, trata-se de uma
figura de linguagem que indica a inatividade de Deus antes de ele ser
levado a exercer o juízo pelo pecado humano. Temos de ter todo o
cuidado na leitura das figuras de linguagem nas Escrituras.
Erro Número 15: Esquecer-se de que Somente o Texto Original é Isento de Erros, e não Qualquer Cópia das Escrituras
Quando os críticos descobrem um genuíno erro numa cópia (manuscrito) cometem outro erro fatal. Eles assumem que o erro se encontra também no texto original das Escrituras, no texto inspirado. Esquecem-se de que Deus proferiu o texto original das Escrituras, não as cópias. Portanto, somente o texto original é isento de erros. A inspiração não garante que toda cópia do original fique sem erros. Portanto, temos de levar em conta que pequenos erros podem ser encontrados em alguns manuscritos, que são cópias do texto original. Mas, de novo, como Agostinho com sabedoria observou, quando nos deparamos com um, assim chamado, "erro" na Bíblia, temos de admitir uma entre duas alternativas: ou o manuscrito não foi copiado corretamente, ou não entendemos as Escrituras direito. O que não podemos pressupor é que Deus tenha cometido um erro na inspiração do texto original.
Embora as atuais cópias das Escrituras sejam muito boas, elas também não estão isentas de erros. Por exemplo, 2 Reis 8:26 dá a idade de Acazias como sendo 22 anos, ao passo que 2 Crônicas 22:2 registra 42 anos.* Este segundo número não pode estar correto, pois implicaria que Acazias fosse mais velho do que o seu pai. Obviamente, trata-se de um erro do copista, mas isso não altera a inerrância do original.
Algumas coisas temos de observar com respeito aos erros dos copistas. Em primeiro lugar, são erros feitos nas cópias, e não no original. Jamais alguém encontrou um original com um erro. Em segundo lugar, são erros de menor importância (com freqüência, em nomes e em números), que não afetam nenhuma doutrina da fé cristã. Em terceiro lugar, esses erros dos copistas são relativamente em pequeno número como será demonstrado por todo o resto deste livro. Em quarto lugar, geralmente, pelo contexto ou por outro texto das Escrituras, podemos saber qual passagem incorre em erro.
Por exemplo, no caso acima, a idade certa de Acazias é 22, e não 42, já que ele não poderia ser mais velho do que o seu pai.
Finalmente, muito embora possa haver um erro de cópia, a mensagem inteira ainda assim é perfeitamente entendida. Nesses casos, a validade da mensagem não se altera. Por exemplo, se você recebesse uma carta como esta, você não entenderia a mensagem por completo? E você não iria correndo atrás do seu dinheiro?
"#ocê foi contemplado no sorteio tal e tal e é o ganhadorMesmo havendo um erro na primeira palavra, a mensagem inteira é compreensível - você possui mais cinco milhões! E se no dia seguinte você recebesse mais uma carta, com os seguintes dizeres, aí é que você teria ainda mais certeza:
da importância de cinco milhões de reais."
"V#cê foi contemplado no sorteio tal e tal e é o ganhadorNa verdade, quanto mais erros deste tipo houver (cada um num lugar diferente), tanto mais certo você estará com respeito à mensagem original. É por isso que os erros dos escribas nos manuscritos bíblicos não afetam a mensagem básica da Bíblia. Assim, na prática, por mais imperfeições que haja nos manuscritos utilizados, a Bíblia que temos em nossas mãos transmite a verdade completa da original Palavra de Deus.
da importância de cinco milhões de reais."
Erro Número 16: Confundir Afirmações Gerais com Universais
Com
frequência, os críticos rapidamente chegam à conclusão de que
afirmações que não mencionam restrições não admitem exceções.
Apoderam-se de versículos que apresentam verdades gerais e então
regozijam-se em mostrar óbvias exceções. Ao fazerem isso, se esquecem
de que tais afirmações foram feitas com a intenção de serem
generalizações.
O
livro de Provérbios é um bom exemplo de casos assim. Dizeres
proverbiais, por sua própria natureza, dão-nos apenas uma direção, e
não uma certeza aplicável a todos os casos. São regras para a vida, mas
regras que admitem exceções. Provérbios 16:7 é um desses casos. A
afirmação é: "Sendo o caminho dos homens agradável ao Senhor, este reconcilia com eles os seus inimigos".
Isto obviamente não tinha a intenção de ser uma verdade universal.
Paulo era agradável ao Senhor, e seus inimigos o apedrejaram (At 14:19).
Jesus foi agradável ao Senhor, e seus inimigos o crucificaram! Não
obstante, esta é uma regra geral: aquele que vive de modo a agradar ao
Senhor poderá minimizar o antagonismo de seus inimigos.
Outro exemplo de uma verdade geral é Provérbios 22:6: "Ensina a criança no caminho em que deve andar, e ainda quando for velho não se desviará dele".
Entretanto, outras passagens da Bíblia nos mostram que isto nem sempre
é verdade. De fato, alguns homens piedosos na Bíblia (inclusive Jó,
Eli e Davi) tiveram filhos perversos. Este provérbio não contradiz a
experiência por ser um princípio geral, que se aplica de maneira geral,
mas que permite exceções em casos isolados. Os provérbios não têm a
característica de ser garantias absolutas. Antes, eles expressam
verdades que nos proporcionam conselhos e direções úteis, que cada um de
nós deve aplicar à própria vida, a cada dia.
Não
passa de um simples erro presumir que a sabedoria de um provérbio seja
sempre uma verdade universal. Os provérbios são sabedoria (direções
gerais), não leis (imperativos com aplicação universal). Quando a
Bíblia declara "...vós sereis santos, porque eu sou santo"
(Lv 11:45), então não há exceções. Santidade, bondade, amor, verdade e
justiça estão na raiz precisa da natureza de Deus, que é imutável e,
por isso, não admite exceções. Mas a sabedoria toma as verdades
universais de Deus e as aplica a circunstâncias específicas e sujeitas a
alterações, as quais, por sua própria natureza mutável, nem sempre
produzirão os mesmos resultados. Não obstante, a sabedoria ainda assim é
muito útil como um guia para a vida, mesmo admitindo eventuais
exceções.
Erro Número 17: Esquecer-se de que uma Revelação Posterior Sobrepõe-se a uma Anterior
Algumas
vezes, os críticos das Escrituras se esquecem do princípio da
revelação progressiva. Deus não revela tudo de uma só vez, nem
determina sempre as mesmas condições para todos os períodos do tempo.
Portanto, algumas de suas revelações posteriores vão sobrepor-se a
afirmações anteriores. Os críticos da Bíblia às vezes confundem uma
mudança na revelação com um erro. O erro, entretanto, é do crítico. Por
exemplo, o fato de que a mãe ou o pai de uma criança permita que ela,
quando bem pequena, coma com a mão, para somente mais tarde ensinar-lhe
a comer com uma colher não é uma contradição. Nem ainda a mãe ou o pai
estará se contradizendo quando, mais tarde, insistir para que o filho
use um garfo, e não mais uma colher, para comer vegetais. Isto é
revelação progressiva, sendo cada ordenança adequada à circunstância
particular em que a pessoa se encontra.
Houve
uma época em que Deus testou a humanidade proibindo-a de comer o fruto
de uma determinada árvore no jardim do Éden (Gn 2:16-17). Este
mandamento não está mais em vigor, mas a revelação posterior não
contradiz a anterior. Também houve um período (sob a lei de Moisés) em
que Deus ordenou que animais fossem sacrificados pelo pecado do povo.
Entretanto, desde que Cristo ofereceu o sacrifício perfeito pelo pecado
(Hb 10:11-14), esse mandamento do AT não está mais em vigor. Aqui, de
novo, não há contradição entre o mandamento posterior e o anterior.
De
igual forma, quando Deus criou a raça humana, ele ordenou que se
comessem apenas frutas e vegetais (Gn 1:29). Mas depois, quando as
condições se alteraram após o dilúvio, Deus ordenou que se comesse
também carne (Gn 9:3). Tal mudança de uma condição herbívora para uma
carnívora é uma revelação progressiva, mas não se constitui uma
contradição. De fato, todas as subseqüentes revelações são simplesmente
mandamentos diferentes para pessoas diferentes em tempos diferentes,
dentro do plano geral de Deus para a redenção.
É
certo que Deus não poda alterar mandamentos que têm que ver com e tua
natureza Imutável (cf. Ml 3:6; Hb 6:18). Por exemplo, sendo Deus amor
(1 Jo 4:16), ele não pode ordenar que o odiemos. Nem pode ordenar o que
é logicamente impossível, como, por exemplo, oferecer e, ao mesmo
tempo e com o mesmo propósito, não oferecer um sacrifício pelo pecado.
Mas,
apesar desses limites de ordem lógica e moral, Deus pode e revelou-se
de maneira progressiva e não contraditória. Quando, porém, os fatos
relativos a sua revelação são tirados do próprio contexto e comparados a
outros anteriores, podem parecer uma contradição. Esse, contudo, é o
mesmo tipo de erro de quem acha que a mãe está-se contradizendo ao
permitir que o filho, agora mais velho, vá dormir mais tarde.
Depois
de quarenta anos de estudo contínuo e cuidadoso da Bíblia, a única
conclusão a que se pode chegar com respeito àqueles que pensam terem
descoberto um erro na Bíblia é que eles não sabem muita coisa a
respeito dela - na verdade, sabem é muito pouco sobre a Bíblia! Isso
não significa, é claro, que entendemos todas as dificuldades existentes
nas Escrituras. Mas, certamente, isso nos faz crer que Mark Twain
tinha razão ao concluir que não era a parte da Bíblia que ele não
entendia o que mais o incomodava, mas as partes que ele compreendia,
estas, sim, o incomodavam!
Fonte:
Norman Geisler & Thomas Howe; "Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e
"Contradições" da Bíblia";; ed. Mundo Cristão; pg.13-31.
Obs¹: Livro:
Dúvidas, Enigmas e “Contradições” Biblicas, download:
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