Após um dia duro de trabalho, um presidente senta-se em sua cadeira na Casa Branca, e se prepara para algo mais agradável, pega duas Bíblias, abre-as nos Evangelhos e com uma faca (ou talvez uma navalha) e começa a recortar as bíblias, uma depois da outra. Este era Thomas Jefferson no ano de 1804. Com este trabalho metódico, Jefferson recortou as partes da bíblia com que concordava e as colava em um portfólio, o restante ele deixou para trás em bíblias mutiladas.
Com estes recortes o presidente escreveu um livro chamado "A Filosofia de Jesus de Nazaré." Que se perdeu e está até hoje perdido, ele só chegou a mostrar para um punhado de amigos, e nunca o publicou.
Mas dezesseis anos depois, ele fez outro. Em 1820, aposentado da política, depois do seu segundo mandato como presidente, Jefferson sentou-se novamente, com a idade de 77, para editar a Bíblia. Ele comprou seis Bíblias e duas em Inglês, duas em francês, e duas contendo tanto latim quanto grego e as cortou seguindo o mesmo padrão, criando uma segunda versão editada do Novo Testamento, em quatro línguas.
Ele manteve as
palavras de Jesus e alguns de seus atos, mas deixou de fora os milagres e
qualquer sugestão de que Jesus é Deus. Como o próprio Jefferson descreveu em
uma carta a John Adams, lapidando as peças dignas da Bíblia "como
distinguir diamantes em um monturo." E estas partes úteis eram facilmente
distinguíveis do inútil.
O nascimento
virginal não é relatado. Bem como Jesus caminhando sobre as águas,
multiplicando os pães e peixes, e ressuscitando Lázaro dentre os mortos, etc.
Esta nova versão de Jefferson termina com o enterro de Jesus na
Sexta Feira Santa. Não há ressurreição, nem domingo de Páscoa. Jefferson chamou
esta versão "A Vida e moral de Jesus de Nazaré".
Ele acrescentou dois mapas da Terra Santa, e enviou
os suas oitenta e seis páginas a Frederico Mayo, que os encadernou em uma capa
de couro vermelho elegante.
Esse livro está atualmente em exposição no Museu Smithsonian em Washington, DC, juntamente com duas das Bíblias que Jefferson cortou para criá-lo.
Esta exposição com certeza gerará algumas
perguntas: Por que um dos Fundadores da América recortaria Bíblias? Foi um ato
sincero ou apenas blasfêmias? Jefferson era um cristão ou um herege?
Não tem como responder facilmente estas perguntas, mas uma coisa é certa, um dos maiores presidentes que os Estados Unidos já tiveram, o autor da Declaração da Independência, não seria eleito hoje, este fatiamento de bíblias certamente bombardeariam sua campanha e afastaria dele a maioria dos eleitores.
Jefferson acreditava que nenhum governo tinha o direito de impor qualquer religião a qualquer indivíduo. Ele cunhou a famosa frase "muro de separação entre Igreja e Estado".
Jefferson acreditava que nenhum governo tinha o direito de impor qualquer religião a qualquer indivíduo. Ele cunhou a famosa frase "muro de separação entre Igreja e Estado".
Quando
Jefferson concorreu à presidência contra John Adams em 1800, este e seus
aliados distorciam a defesa de Jefferson da liberdade de religião para
retratá-lo como um inimigo de Deus. William Linn, um ministro de Nova York,
afirmou que votar nele seria "uma rebelião contra Deus".
Apesar de
tudo isso, Jefferson foi eleito e foi o grande presidente que foi.
Quer provar que Jefferson era um cristão
comprometido? É fácil.
Jefferson
escreveu: "Eu sou um cristão verdadeiro, isto é um discípulo das
doutrinas de Jesus." Ele chamou os ensinamentos de Cristo "o código
mais sublime e benevolente da moral que já foram oferecidos ao homem."
Convidou também a voltar aos simples preceitos e sem sofisticação de Cristo. "Ele
sugeriu que a derrota de Napoleão prova que temos um Deus no céu".
Quer provar que Jefferson era um ateu militante? Isso também é fácil.
Jefferson
escreveu que "Jesus não queria impor-se sobre a humanidade como o filho de
Deus". Ele chamou os escritores do Novo Testamento "ignorantes,
homens iletrados", que produziram "superstições, fanatismos e
mentiras". Ele chamou o apóstolo Paulo o "corruptor das primeiras doutrinas
de Jesus." Ele rejeitou o conceito da Trindade como um "Abracadabra
simples dos saltimbancos que se autodenominam os sacerdotes de Jesus". Ele
acreditava que o clero usou a religião como um artifício "apenas para
surrupiar a riqueza e o poder para si mesmos" e que "em cada país e
em cada época, o sacerdote tem sido hostil à liberdade". E ele escreveu em
uma carta a John Adams que "chegará o dia em que a fecundação milagrosa de
Jesus, por um ser supremo como seu pai no ventre de uma virgem, será
classificado [junto] com a fábula da geração de Minerva no cérebro de Júpiter".
A restauração de A Vida e Moral de Jesus de Nazaré de
Thomas Jefferson - Entrou para a história da restauração
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Em 2009 Cari Haus, um escritor cristão, publicou O
Reverso da Bíblia de Jefferson, que contém as partes que ficaram de fora da
versão de Jefferson. Haus também emitiu um "aviso" para Jefferson na
forma de uma citação do livro do Apocalipse: "E se alguém tirar quaisquer
palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte do livro da vida”. O
Haus não fez foi citar como Jefferson descreveu o livro de apocalipse: “Apenas
os delírios de um maníaco”.
O que os críticos do trabalho de Thomas Jefferson
ignoram é que mesmo as pessoas que leem a Bíblia regularmente costumam ler
apenas partes dela. As pessoas leem de forma seletiva. Mesmo as que se dedicam
a leitura integral da bíblia, ignoram certos trechos como uma espécie de
memória seletiva, deixando passar suas contradições e seus absurdos. Eles leem
as partes que eles acreditam ou as partes que lhes dão conforto, esquecem que
leram o resto (quando realmente se dedicaram a leitura integral). Para a
maioria das pessoas, a Bíblia é um trabalho de recortar e colar. E Jefferson
levou isto ao pé da letra, realmente levando uma tesoura ou uma faca e
realmente amputa as peças que ele não acha que deveria estar lá.
A Bíblia Jefferson nunca foi publicada, ele a fez apenas para seu próprio uso, em suas leituras religiosas dentro de sua intimidade.
Após o término da exposição, o livro será
mantido em um quarto escuro livre de umidade.
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