Ricardo Quadros Gouvêa
Toda lista é pessoal, e esta não é uma exceção, mas busquei seguir aqui critérios objetivos: livros que foram campeões de vendagem, citados e debatidos, que influenciaram e continuam influenciando os evangélicos brasileiros, livros muito lidos com alto índice de rejeição, e também os que hoje estão operando uma mudança paradigmática na cultura evangélica contemporânea. Escolhi no máximo um livro por autor e procurei incluir alguma diversidade cultural e de gênero literário, bem como denominacional e teológica, sem que isso nos tirasse do projeto original: listar os quarenta livros que, nos últimos quarenta anos, fizeram a cabeça do povo evangélico brasileiro. Ordenei a lista por ordem de importância: dos livros mais influentes aos menos influentes dentre os quarenta selecionados, independentemente da data. Divirta-se concordando ou discordando, corrigindo meus equívocos e fazendo sua própria lista.
1. “Mananciais no Deserto” -- Lettie Cowman [Betânia]
Não
 há outro livro mais amado pelos evangélicos brasileiros. Este campeão 
de vendagem é um livro de leituras devocionais diárias que conquistou 
nosso país. O livro é, de fato, bom, mas desconfio que a tradução deu 
uma mãozinha.
2. “Uma Igreja com Propósitos” -- Rick Warren [Vida]
O
 maior “best-seller” evangélico de todos os tempos é uma catástrofe 
literária. É ainda difícil calcular o dano que esta obra equivocada 
causou e ainda irá causar, com sua filosofia de ministério inteiramente 
vendida ao “Zeitgeist”, propondo a homogeneização das igrejas e um 
pragmatismo de dar medo.
3. “A Quarta Dimensão” -- David Paul Yonggi Cho [Vida]
Este
 livro fez mais pelo movimento pentecostal no Brasil do que qualquer 
televangelista. O testemunho bem escrito do pastor coreano que vive 
cercado de milagres causou “frisson” até mesmo nos grupos mais 
conservadores. Seu modo de ver a vida com Deus e o ministério marcaram 
as últimas décadas.
4. “A Agonia do Grande Planeta Terra” -- Hall Lindsay [Mundo Cristão]
Calcado
 no pré-milenismo dispensacionalista de Scofield, este “best-seller” 
apocalíptico empolgou os profetas do fim do mundo no Brasil, com sua 
interpretação literalista imprudente e seu patriotismo norte-americano 
acrítico. Lindsay foi o arauto de três décadas das mais absurdas 
especulações escatológicas em nossas igrejas.
5. “O Ato Conjugal” -- Tim e Beverly La Haye [Betânia]
Sexo
 é um assunto importante, e o povo ansiava por uma orientação em face da
 revolução sexual dos anos 60. Daí o sucesso de um livro bem escrito 
como este, didático e conservador, ao gosto da moral evangélica, mas sem
 ser inteiramente obtuso. Mesmo assim, muitos o chamaram de 
pornográfico. Nada mais injusto.
6. “Este Mundo Tenebroso” -- Frank Peretti [Vida]
A
 ficção convence mais rápido. Revoluções acontecem inspiradas por 
romances, e não por tratados filosóficos. Peretti, com seu horror 
cristão, nos ensinou o significado da batalha espiritual nos anos 80, 
reencantou o submundo evangélico, inspirou pregadores e, o que não é 
nada ruim, motivou muitos adolescentes a ler obras de ficção bem 
melhores.
7. “A Morte da Razão” -- Francis Schaeffer [ABU]
A
 intelectualidade evangélica adotou este livro como alicerce nos anos 
70, para enfrentar o existencialismo, o movimento “hippie”, o marxismo e
 a contracultura em geral. O livro convencia que o cristianismo não era 
incompatível com o estudo e a reflexão. É um pena que Schaeffer 
estivesse tão equivocado em suas idéias centrais.
8. “Celebração da Disciplina” -- Richard J. Foster [Vida]
Este
 clássico da espiritualidade cristã, escrito por um quacre, fez um 
tremendo sucesso no Brasil a partir dos anos 80. É excelente, mas será 
que todos que o compraram de fato o leram? Gostaria de perceber uma 
maior influência das idéias de Foster em nosso povo, mais oração, 
silêncio, calma, estudo, empenho, enfim, disciplina espiritual.
9. “De Dentro para Fora” -- Larry Crabb [Betânia]
Os
 livros devocionais evangélicos de viés psicológico ou de auto-ajuda são
 os títulos que mais vendem. Dentre eles, alguns se destacam não só por 
serem campeões de vendagem, mas porque são os melhores do gênero. Crabb é
 o melhor autor do gênero e este é seu melhor livro, que impactou o 
nosso povo nos anos 90.
10. “Louvor que Liberta” -- Merlin R. Carothers [Betânia]
Este
 pequeno e poderoso manifesto em forma de testemunho revolucionou, nos 
anos 70, o louvor e a adoração no Brasil. O bom capelão ensinou a todos 
nós a espiritualidade da adoração, o poder do louvor, impulsionando as 
guerras litúrgicas que marcariam a vida de nossas comunidades a partir 
de então. 
11. “Vivendo sem Máscaras” -- Charles Swindoll [Betânia]
Outro
 “best-seller” devocional dos anos 90, de viés psicológico e de 
auto-ajuda, com o vigor característico das obras de Swindoll, escritas a
 partir de suas pregações. Muitos se sentiram não apenas edificados, mas
 tocados e transformados.
12. “A Cruz e o Punhal” -- David Wilkerson [Betânia]
Outro
 opúsculo dos anos 70 que, na forma de um testemunho pessoal, inspirou 
os jovens evangélicos a uma fé mais comprometida. Curiosamente, não 
levou as igrejas a um investimento em missões urbanas, idéia que permeia
 todo o livro. Talvez o Brasil evangélico dos anos 70 não estivesse 
pronto para missões urbanas.
13. “Crer é Também Pensar” -- John Stott [ABU]
Stott
 é um ícone no Brasil, um nome respeitado pela sua erudição e sua 
notável produção literária, apesar de estar invariavelmente sob suspeita
 de heresia pelos mais neuróticos. O fato é que a qualidade de seus 
livros varia. Seu excelente “Ouça o Espírito, Ouça o Mundo” merece mais 
atenção. Já o opúsculo selecionado, tão conhecido desde os anos 70, não 
tem muito a dizer além do título.
14. “O Senhor do Impossível” -- Lloyd John Ogilvie [Vida]
Outro
 devocional que emplacou no Brasil nos anos 80, não sem méritos. É o 
maior sucesso do autor, ainda que inferior a “Quando Deus Pensou em 
Você”, que o antecedeu. O livro estimula a fé e nos faz mais 
esperançosos, apesar da teologia rasa.
15. “A Família do Cristão” -- Larry Christenson [Betânia]
Antes
 de Dobson e tantos outros, Christenson já era “best-seller” nos anos 
70. Pioneiro entre os que se pretendem auxiliares da vida familiar 
cristã, ele foi estudado nos lares por grupos e células, em escolas 
dominicais etc. Sua eficácia é comprovada.
16. “O Jesus que Eu Nunca Conheci” -- Philip Yancey [Vida]
Os
 anos 90 assistiram ao aparecimento de um dos mais argutos e 
estimulantes autores evangélicos de todos os tempos: o audaz Yancey, que
 começou a apontar para o paradigma emergente em livros como “Alma 
Sobrevivente”, “Descobrindo Deus nos Lugares mais Inesperados”, 
“Maravilhosa Graça”, “Rumores de Outro Mundo”, “Decepcionado com Deus” e
 tantos outros livros excelentes. E o mais conhecido e lido parece ser 
mesmo “O Jesus que Eu Nunca Conheci”.
17. “O Discípulo” -- Juan Carlos Ortiz [Betânia]
Poucos
 livros foram tão impactantes nos anos 70 quanto esta obra que, 
excepcionalmente, não vinha do mundo anglo-saxão, mas da Argentina. Por 
isso mesmo, Ortiz tinha uma outra linguagem, um discurso que convencia 
os jovens brasileiros da seriedade e do valor de se tornar mais do que 
um mero freqüentador de igrejas, um genuíno discípulo de Cristo.
18. “Bom Dia, Espírito Santo” -- Benny Hinn [Bompastor]
O
 neopentecostalismo brasileiro é, em grande parte, de inspiração 
norte-americana. Talvez o nome mais importante nesse processo seja o do 
“showman” evangélico Benny Hinn, que desde os anos 90 assombra os 
norte-americanos pela televisão com seus feitos espetaculares. Mesmo 
quem não o leu conhece sua influência no Brasil. 
19. “O Refúgio Secreto” -- Corrie Ten Boom [Betânia]
O
 testemunho desta nobre senhora holandesa encantou também o Brasil, onde
 seu livro foi um grande sucesso nos anos 70. Suas aventuras durante a 
Segunda Guerra Mundial, sob o pano de fundo de sua educação em um lar 
cristão, são comoventes e inspiradoras. 
20. “A Autoridade do Crente” -- Kenneth Hagin [Infinita]
Hagin
 foi um divisor de águas no mundo evangélico, pois desde sua influência 
os crentes “tomam posse”, “determinam”, “amarram” e “exigem”. Uma nova 
forma de falar se fez presente, o que gerou muitas novas piadas também.
21. “Entendes o que Lês?” -- Fee e Stuart [Vida Nova]
Que
 bom que um livro sério como este foi tão lido e estudado no Brasil. 
Trata-se de um compêndio de hermenêutica bíblica sem complicações, em 
linguagem acessível, adotado por quase todos os seminários e estudado 
até mesmo nas EBD’s e pequenos grupos. Este livro fez muito pela 
educação bíblica dos evangélicos brasileiros.
22. “Culpa e Graça” -- Paul Tournier [ABU]
Não
 há, com raras exceções, psicólogo cristão que não considere este livro 
um fundamento e um marco do pensamento cristão. Mas ele não se limita a 
isso, tendo tido considerável influência na teologia evangélica 
brasileira nos anos 90, preparando nosso povo para o paradigma emergente
 do século 21. 
23. “Novos Líderes para Uma Nova Realidade” -- Caio Fábio D’Araújo Filho [Vinde]
Este
 opúsculo foi, se não o mais lido, certamente o mais importante dos 
numerosos livrinhos do pastor Caio Fábio, fenômeno de popularidade no 
Brasil nos anos 80 e 90, pastor midiático, influente, contundente, 
imitado, adorado e odiado. Caio nos ensinou a ver as coisas de outro 
jeito, e seu legado não vai desaparecer. 
24. “Vida Cristã Normal” (ou “Equilibrada”, na reedição) -- Watchman Nee [Editora dos Clássicos]
O
 controverso evangelista e autor chinês Nee teve muita influência nos 
anos 70 e 80, com sua visão mística do que significa ser um cristão 
evangélico conservador. Este livro foi seu maior sucesso, um comentário 
de Romanos, ainda que seu livro mais objetivo e claro seja “A Liberação 
do Espírito”.
25. “É Proibido” -- Ricardo Gondim [Mundo Cristão]
Gondim é um dos melhores e mais polêmicos autores evangélicos contemporâneos. Seus livros, como Eu Creio, Mas Tenho Dúvidas, O que os Evangélicos (Não) Falam,
 Orgulho de Ser Evangélico, são sempre interessantes. Nenhum, porém, foi
 tão influente e marcante como “É Proibido”, um verdadeiro libelo 
anti-legalista.
26. “Conselheiro Capaz” -- Jay Adams [Fiel]
Adams
 era uma pessoa muito simpática. Sua escola de aconselhamento cristão é 
muito antipática. Diferentemente de Crabb, por exemplo, problemas 
emocionais têm origem fisiológica ou pecaminosa. Por isso, é preciso 
confrontar as pessoas e insistir na mudança do seu comportamento. Foi um
 sucesso nos anos 80. Haja behaviorismo! 
27. “Quebrando Paradigmas” -- Ed René Kivitz [Abba Press]
Este
 livro foi decisivo para que os evangélicos brasileiros começassem a 
enxergar a outra margem do rio, a margem pós-evangélica do paradigma 
emergente. Kivitz é um autor surpreendente e notável, de mente dinâmica e
 arejada, que propõe importantes rupturas e renovações, como em seu 
outro livro “Outra Espiritualidade”.
28. “O Amor Tem Que Ser Firme” -- James Dobson [Mundo Cristão]
O
 conhecido “Dr. Dobson” é pensador e autor de grandes qualidades e 
grandes defeitos. Seus livros, como “Educando Crianças Geniosas”, ajudam
 famílias e promovem uma espécie de teologia aplicada que merece 
atenção. Há, porém, muito que não se deveria levar a sério, já que vai 
contra o que há de mais consagrado na psicologia moderna.
29. “Supercrentes” -- Paulo Romeiro [Mundo Cristão]
O
 autor de “A Crise Evangélica” tem talento e tem algo a dizer. Seus 
textos, especialmente o famosos “Supercrentes”, têm apontado para os 
exageros e enganos de muitas posturas comuns no meio evangélico 
contemporâneo.
30. “Cristianismo e Política” -- Robinson Cavalcanti [Ultimato]
Trata-se
 de um clássico. Este livro está nas origens de toda reflexão política 
evangélica. Robinson é importante por outras questões, como seus livros 
sobre sexualidade (“Uma Bênção Chamada Sexo”, “Sexualidade e 
Libertação”), mas sua contribuição permanente é o estímulo que deu à 
reflexão política evangélica.
31. “O Evangelho Maltrapilho” -- Brennan Manning [Mundo Cristão]
Não
 há outro autor mais importante no meio evangélico nos últimos dez anos 
do que Brennan Manning. Seus livros devocionais, como “O Impostor que 
Vive em Mim”, “A Assinatura de Jesus”, “O Obstinado Amor de Deus”, estão
 transformando radicalmente a maneira como os evangélicos entendem a 
vida cristã. Eu fico muito grato.
32. “O Pastor Desnecessário” -- Eugene Peterson [Mundo Cristão]
Peterson
 é muito estimado no meio evangélico brasileiro e um dos autores mais 
bem avaliados dos últimos tempos. Responsável por projetos como “The 
Message” (excelente paráfrase bíblica), tem nos galardoado com obras 
como “Corra com os Cavalos”, “A Oração que Deus Ouve”, “A Vocação 
Espiritual do Pastor”, “Transpondo Muralhas”, entre outros. Selecionei o
 que talvez seja o mais importante.
33. “Poder Através da Oração” -- E. M. Bounds [Batista Regular]
Nos
 anos 70, quando não havia ainda bons livros sobre oração, como o de 
Richard Foster ou o de Eugene Peterson, os livros de Bounds sobre oração
 circulavam de mão em mão, trazendo avivamento às igrejas. Hoje Bounds 
está quase esquecido. Quase.
34. “Cristo é o Senhor” -- Dionísio Pape [ABU]
No
 fim dos anos 60 e começo dos anos 70, o nome de Pape se destacava pela 
espiritualidade, profundidade e sucesso ministerial. Seu opúsculo 
“Cristo é o Senhor” levou muitos à consagração e ao ministério. 
35. “O Caminho do Coração” -- Ricardo Barbosa [Encontro]
Barbosa
 (junto com Osmar Ludovico, James Houston e outros) é responsável pelo 
retorno ao interesse pela mística cristã em nosso país. Seus livros nos 
ensinam uma outra atitude não somente em relação à vida, mas também em 
relação à teologia. Uma atitude contemplativa. 
36. “O Novo Testamento Interpretado” -- R. N. Champlin [Hagnos]
Não
 privilegiei obras teológicas e comentários bíblicos nesta lista porque 
tais livros, em geral, não vendem bem e sua influência é pequena. Uma 
exceção precisava ser feita em relação ao favorito das bibliotecas. O 
empenho exaustivo de Champlin precisava ser lembrado, pois ainda vende 
bem e é o comentário primordial dos evangélicos.
37. “Icabode” -- Rubem Martins Amorese [Ultimato]
Este
 livro pode não ter sido tão lido quanto é citado, mas definiu um novo 
tipo de reflexão cristã no Brasil, que propõe diálogo com a cultura em 
outro nível que não o da evangelização, e sim o da discussão de valores e
 princípios que podem levar nossa sociedade para um patamar melhor ou 
pior. É uma boa influência.
38. “A Bíblia e o Futuro” -- Anthony Hoekema [Cultura Cristã]
Este
 estudo do Apocalipse cresceu em importância no Brasil em uma época em 
que quase não havia obra que fizesse uma defesa do amilenismo, apesar 
dos pouco conhecidos esforços de Harald Schally. O livro provocou 
conversões em massa a partir dos anos 80, e a escatologia nunca mais foi
 a mesma no Brasil.
39. “Cristianismo Puro e Simples” -- C. S. Lewis [Martins Fontes]
Também
 conhecido como “Mero Cristianismo”, a busca de Lewis pelo denominador 
comum da fé cristã impacta brasileiros desde os anos 70. Seleciono o 
livro simbolicamente, já que Lewis não poderia ficar de fora, seja por 
causa de “Os Quatro Amores”, “Milagres”, “Cartas do Inferno” ou “As 
Crônicas de Nárnia”.
40. “A Mensagem Secreta de Jesus” -- Brian D. McLaren [Thomas Nelson]
Em
 2007 o leitor evangélico brasileiro foi surpreendido por este livro do 
mesmo autor de “Uma Ortodoxia Generosa”. Fiquei admirado ao ver como 
todos passaram a conhecer e a comentar a obra de McLaren, que representa
 melhor do que ninguém o paradigma teológico evangélico emergente. Não 
dá pra não ler.
• Ricardo Quadros Gouvêa é ministro presbiteriano e professor de teologia e de filosofia.
http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/315/quarenta-livros-que-fizeram-a-cabeca-dos-evangelicos-brasileiros-nos-ultimos-quarenta-anos
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