Em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. (Colossenses 2:3)

Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por essas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.(Efésios5:6)
Digo isso a vocês para que não deixem que ninguém os engane com argumentos falsos. (Colossenses 2:4)

16 de julho de 2013

Jesus Pregou aos Espíritos em Prisão no Inferno?

Descida de Jesus ao inferno

Um grave equívoco que tem prevalecido ao longo dos séculos dentro da cristandade tem sido a ideia de que Jesus foi para o inferno após sua crucificação, antes de Sua ressurreição. As declarações do credo do cristianismo histórico são em grande parte responsáveis por gerar essa noção. Por exemplo, o Credo dos Apóstolos afirma a crença em Jesus nos seguintes termos: “Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, O qual foi concebido pelo poder do Espírito Santo, e nasceu da Virgem Maria. Padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos; foi crucificado, morto e sepultado; desceu ao inferno; ressuscitou ao terceiro dia; subiu aos céus; e está sentado à direita do Pai. Voltará para julgar os vivos e os mortos” (ênfase adicionada). O Credo Atanasiano afirma: "Ele padeceu para a nossa a nossa salvação, desceu ao inferno, ressuscitou dentre os mortos ao terceiro dia” (ênfase adicionada). "Pais da Igreja" e Reformadores brincaram com este ponto de vista. João Calvino, em seu volumoso Institutos da Religião Cristã, tratou deste assunto extensamente (1599, II.16.8-12). Calvino citou teólogos anteriores que concordavam com ele, incluindo Hilary em seu Sobre a Trindade (IV. xlii; III. xv). O renomado teólogo medieval católico, Tomás de Aquino, tinha uma visão semelhante (Summa Theol. III. 52. 5). O Evangelho apócrifo de Nicodemos, que data do século V dC, afirma que Jesus desceu ao inferno e restaurou todos os santos do Antigo Testamento, incluindo Adão, Davi, Habacuque e Isaías (ver James, 1924, pag. 125).

Um novo ímpeto para a confusão foi gerada por traduções para o inglês dos séculos 16 e 17, devido à confusão dos tradutores sobre as distinções técnicas que existem entre os termos pertinentes gregos. Especificamente, o termo grego hades foi geralmente igualado com gehenna. Hades refere-se ao estado intermediário dos mortos (espíritos desencarnados) que estão aguardando o julgamento. Gehenna, por outro lado, refere-se a localização do estado final dos maus após o julgamento. Esta confusão culminou na Bíblia King James traduzindo hades como "inferno" em todos as suas 10 ocorrências no Novo Testamento (Mateus 11:23; 16:18, Lucas 10:15; 16:23, Atos 2:27,31 , Apocalipse 1:18, 6:8; 20:13,14). Traduzir hades como "inferno" em Atos 2:27, 31 deixa o leitor com a impressão de que, quando Jesus saiu de seu corpo físico na cruz, Ele foi para o inferno. A primeira tradução Inglesa a manter a distinção entre Hades e Gehenna foi a English Revised Version e sua cópia posterior americana, a American Standard Version de 1901 (Lewis, 1981, p. 64).

Em 1 Pedro 3:18-20, uma referência mais curiosa parece a primeira vista ser uma afirmação de que Jesus desceu ao reino espiritual e pregou a pessoas fisicamente mortas. No entanto, um exame minucioso da gramática vai esclarecer a passagem.

Descida de Cristo ao Limbo, por Andrea da Firenze

1 Pedro 3:18-20 – Pois também Cristo sofreu pelos pecados uma vez por todas, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus. Ele foi morto no corpo, mas vivificado pelo Espírito, no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão que há muito tempo desobederam, quando Deus esperava pacientemente nos dias de Noé, enquanto a arca era construída...

Primeiro, a pregação referida não foi feita por Jesus em pessoa. O texto diz que Jesus fez a pregação por meio do Espírito Santo: "... vivificado pelo Espírito; No qual também foi...” (v. 18-19). ["Meu Espírito" (Gênesis 6:3) = Espírito de Deus = Espírito de Cristo (Romanos 8:9, Efésios 2:17).] Outras passagens confirmam que é dito que Jesus fez coisas que Ele realmente fez através do uso de outras pessoas como instrumentos (João 4:1-2, Efésios 2:17). Natã acusou o Rei Davi: "Você matou Urias, o hitita, com a espada dos amonitas" (2 Samuel 12:9), quando, na verdade, Davi tinha enviado outro para fazer isso. Elias acusou Acabe de matar Nabote, usando as palavras: "Você assassinou um homem e ainda se apossou de sua propriedade?” (1 Reis 21:19), apesar de ter sido sua esposa, Jezabel, quem comandou que dois outros homens realizassem esta má ação. Paulo disse que Jesus pregou a paz para os gentios: “Ele veio e anunciou paz a vocês que estavam longe e paz aos que estavam perto” (Efésios 2:17), quando, na verdade, Jesus o fez através de outros, uma vez que Ele, Ele mesmo, já tinha voltado para o céu, quando os primeiros gentios ouviram o Evangelho (Atos 15:7). Portanto, a Bíblia frequentemente se refere a alguém fazendo algo que ele, de fato, fez por intermédio de outra pessoa.

Na verdade, dentro do livro de 1 Pedro mesmo, Pedro já tinha feito referência ao fato de que na antiguidade “o Espírito de Cristo predisse seu sofrimento e as glórias seguintes” (1 Pedro 1:11). Mas foram os profetas que realmente falaram (v. 10). Então, novamente, no capítulo 4, Pedro afirmou que "o evangelho foi pregado também a mortos” (1 Pedro 4:6). Trata-se de indivíduos que tinham ouvido a pregação do Evangelho enquanto ainda estavam vivos ("na carne"), e que responderam favoravelmente, tornando-se cristãos. Mas então eles foram "julgados no corpo segundo os homens ", isto é, eles foram tratados com dureza e condenados ao martírio por seus contemporâneos. No momento em que Pedro estava escrevendo, eles estavam "mortos", isto é, falecidos e distante da Terra. Mas Pedro disse que eles “viviam pelo Espírito segundo Deus”, ou seja, eles estavam vivos e bem, em forma de espírito no reino hadeano nas boas graças de Deus.

Segundo, quando Jesus fez esta pregação por meio do Espírito Santo? Observe no versículo 20, as expressões "há muito tempo" (NVI) e "Quando" – “Quando Deus esperava pacientemente nos dias de Noé”. Assim, a pregação foi feita nos dias de Noé por Jesus por meio do Espírito Santo que , por sua vez, inspirou a pregação de Noé (2 Pedro 2:5).

Terceiro, porque é dito que estas pessoas a quem Noé pregou são "espíritos em prisão"? Porque no momento em que Pedro estava escrevendo as palavras, era este o lugar onde as pessoas estavam situadas. Aqueles que se afogaram no dilúvio nos dias de Noé desceram ao reino hadeano, onde continuavam residindo nos dias de Pedro. Este reino é o mesmo local onde o homem rico foi colocado (Lucas 16:23), assim como os anjos que pecaram ("Tártaro" -2 Pedro 2:4). No entanto, Jesus não foi para a "prisão" ou "Tártaro". Ele disse que foi para o "Paraíso" (Lucas 23:43).

Quarto, por que Jesus iria ao Hades e pregaria apenas para os contemporâneos de Noé? Por que Ele excluiria aqueles que morreram antes do dilúvio? E aqueles que morreram a partir de depois do dilúvio? Uma vez que Deus não faz "acepção de pessoas" (Atos 10:34; Romanos 2:11), Jesus não teria escolhido a geração de Noé para ser destinatária da pregação no reino do espírito.

Em quinto lugar, qual teria sido o conteúdo de tal pregação? Jesus não poderia ter pregado todo o Evangelho em sua totalidade. O Evangelho inclui a ressurreição de Jesus (Romanos 4:25, 1 Coríntios 15:4). No entanto, no momento em que é suposto que a pregação deveria ter ocorrido, Jesus ainda não tinha ressuscitado!

A noção de pessoas que receberam uma segunda oportunidade de ouvir o Evangelho na vida após a morte é uma doutrina extremamente perigosa que é contraproducente para a causa de Cristo. Por quê? Isso poderia potencialmente fazer as pessoas pensarem que podem adiar a sua obediência ao Evangelho em vida. Contudo, a Bíblia ensina consistentemente que a ninguém será permitida uma segunda chance. Esta vida terrestre foi providenciada por Deus para todos os seres humanos determinarem onde desejam passar a eternidade. Essa decisão é feita por cada indivíduo com base na conduta pessoal. Uma vez que uma pessoa morre, seu destino eterno foi decidido. Ele é "reservado para o juízo" (2 Pedro 2:4; Cf vs. 9,17). Sua condição não vai e não pode ser alterada, mesmo pelo próprio Deus (Lucas 16:25-26; Hebreus 9:27).


Autor: Dave Miller, Ph.D.
Tradução: Paulo Tiago Moreira Gonçalves


Referências
Calvin, John (1599), Institutes of the Christian Religion, trans. Henry Beveridge (London: Arnold Hatfield).
James, M.R., trans. (1924), The Apocryphal New Testament (Oxford: Clarendon Press).
Lewis, Jack (1981), The English Bible From KJV to NIV (Grand Rapids, MI: Baker).

FONTE:
http://profetaseprofecias.blogspot.com.br/2013/01/jesus-pregou-espiritos-prisao-inferno.html

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