"Quando oramos, falamos com Deus. Quando lemos a Sagrada Escritura, Deus é que fala conosco."
“Quando oramos, falamos com
Deus. Quando lemos a Sagrada Escritura, Deus é que fala conosco.” A
frase é do bispo Isidoro de Sevilha (560 a 636 d.C.), considerado um dos
mais importantes teólogos medievais, e retrata muito bem o status que
adquiriu a Bíblia. Apesar de seu nome ser usado no singular, o
significado original em grego é “livros”. Isso porque a obra reúne, na
realidade, 66 escritos, produzidos durante 1.600 anos e por 40
diferentes autores, desde humildes agricultores e pescadores a renomados
reis. Sem ela, o mundo não seria o mesmo. Foi a Bíblia que trouxe as
bases das três grandes religiões monoteístas: o judaísmo, o cristianismo
e o islamismo. Ao se transformar na publicação mais lida e distribuída
no mundo, sendo traduzida para mais de 2.400 línguas e dialetos, também
moldou a cultura e os valores da sociedade, universalizando direitos e
promovendo a liberdade de consciência e de expressão.
Mesmo diante de tamanha
importância, são muitas as dúvidas que ainda cercam os relatos bíblicos.
Milhares de estudos e artigos já foram publicados sobre os mais
diversos trechos e acontecimentos descritos no livro, mas eles continuam
resistindo como fonte de não poucas polêmicas. Tudo bem, alguém pode
culpar Martinho Lutero, João Calvino e os demais reformadores
protestantes e seus ensinos de livre interpretação das Escrituras como a
razão para tantas opiniões diferentes. Mas convenhamos: compreender por
que um Deus tão bondoso permite o sofrimento e ainda manda matar ou
entender o que significam todos aqueles estranhíssimos seres e eventos
registrados no Apocalipse não é nada fácil.
A seguir, você conhecerá sete
das mais discutidas questões sobre a Bíblia nos últimos tempos. O debate
é bastante diversificado. Na discussão histórica, a dúvida é se eventos
fantásticos como o dilúvio universal, a Arca de Noé, a abertura do Mar
Vermelho aconteceram ou são apenas simbólicos. Por outro lado, é
analisado um assunto bastante prático, apesar de tantas vezes
metafísico: segundo os textos bíblicos, o que acontece com a pessoa
quando ela morre? E aí, nem o inferno escapa. Se você imaginava ele como
um lugar embaixo da terra, onde enormes labaredas de fogo se misturam a
um forte cheiro de enxofre e para onde vão as almas dos maus logo após
seus falecimentos, pode ter uma enorme surpresa. Encontrar as respostas
exige tempo, estudo, oração e, claro, auxílio divino. Mas a recompensa
de conhecer um pouco mais da Palavra de Deus vale qualquer esforço. Como
explicou certa vez o teólogo presbiteriano Francis Schaeffer (1912 a
1984): “Um simples cristão com a Bíblia na mão pode dizer que qualquer
um, até a maioria, está errado”.
1 – Os grandes eventos e milagres aconteceram mesmo ou não passam de mito?
Durante séculos, ninguém ousou
dizer que algo narrado pela Bíblia poderia não ser verdade. Se a ciência
discordasse de alguma coisa, era ela que necessariamente estava errada.
Esse panorama começou a mudar no começo do século 18, com a Revolução
Industrial e com o Iluminismo. Dentro e fora da Igreja, pessoas
começaram a estudar o livro como qualquer outra obra
histórico-literária, aplicando nele os métodos da análise crítica. O
resultado é visto numa série de questionamentos: A história do dilúvio e
da Arca de Noé não é apenas um mito? O êxodo dos judeus fugindo da
escravidão no Egito e abrindo as águas do Mar Vermelho pode ser
simbólico? E o que dizer dos fantásticos milagres de Jesus, que teria
até ressuscitado? Para os mais críticos, eventos como esses nunca
aconteceram. Canaã, a região que hoje corresponde a Líbano, Palestina,
Israel e partes da Jordânia, do Egito e da Síria, estava sob o domínio
egípcio e era necessário criar um relato que inspirasse as diversas
tribos a lutar contra essa situação. Assim, surgiu grande parte do
Gênesis e do Êxodo. Quando a Bíblia conta que as leis mosaicas foram
encontradas no templo, durante o reinado de Josias, por volta de 622
a.C., também inventa um relato para explicar o surgimento das diversas
regras. “Quem escreveu textos como Deuteronômio foram os próprios
sacerdotes da época de Josias”, destaca a historiadora norte-americana
Karen Armstrong em seu livro A Bíblia (Jorge Zahar Editor).
Ainda segundo Armstrong, depois
da volta do exílio babilônico, por volta de 538 a.C., a fé dos hebreus
foi radicalmente transformada. Antes politeístas e adorando vários
deuses, agora eles optam por reverenciar apenas Yaweh. Sob o comando do
sacerdote Esdras, os textos são editados e enriquecidos. Trechos como os
Dez Mandamentos e a proibição de casamento dos judeus com outros povos
teriam surgido ali. Entre aqueles que fazem coro com a historiadora
estão vários teólogos liberais. Para eles, a Bíblia usa uma linguagem
figurada e poética muito forte. Moisés não abriu o Mar Vermelho, mas faz
sentido usar isso como metáfora, já que o mar é símbolo do caos e, para
se libertar, o povo vence as forças do caos egípcio justamente com a
ajuda de Deus.
Ultimamente, essas versões
ganham força principalmente por causa de livros, documentários
televisivos e reportagens em revistas seculares. Mas são pouco aceitas
entre a maioria dos evangélicos. “Como sacerdotes do tempo de Josias
teriam inventado essas histórias se mais de 200 culturas, por exemplo,
preservaram a história de uma grande inundação que destruiu a Terra e da
qual foram salvas algumas pessoas num grande barco? É bastante provável
que esses eventos realmente aconteceram”, afirma o jornalista
adventista Michelson Borges, autor do livro A História da Vida (Casa
Publicadora Brasileira).
Borges explica que dificilmente
os hebreus teriam copiado essas histórias, já que seus relatos mais
simples sugerem tratar-se das narrativas originais. “Além desses
argumentos, há várias evidências geológicas e achados arqueológicos que
confirmam a veracidade dos textos bíblicos”, completa. No caso do
dilúvio, as evidências seriam variadas: metade dos sedimentos
continentais são de origem marinha; fósseis de animais marinhos são
encontrados costumeiramente em grandes montanhas.
Já a existência de escravos
hebreus no Egito é atestada por pinturas nas paredes das pirâmides e por
papiros de sarcedotes egípcios, como Ipuwer, que menciona as mesmas
pragas bíblicas que assolaram a nação. Estudando os originais hebraicos
do Antigo Testamento, ainda é possível encontrar palavras e expressões
que são claramente de origem egípcia, o que indica que seu autor era
versado nos idiomas e tradições de ambas as culturas, perfil que combina
bem com Moisés.
2 – As profecias do Apocalipse são literais?
Grandes bestas que emergem do
mar, multidões vestidas de branco no céu, julgamentos e vinganças
empreendidas por cavaleiros sobrenaturais e animais monstruosos, que
mais parecem ter saído de um filme de terror. O Apocalipse é um dos mais
assustadores e fantásticos relatos da literatura em todos os tempos.
Considerado uma revelação sobre a volta de Cristo e o fim do mundo,
cristãos em todas as épocas o consideraram profético, ou seja, com
descrições do futuro. Mesmo que pouco entendessem daquilo que está
escrito nele.
“Muito do medo que vem da
leitura do Apocalipse existe porque as pessoas ignoram que essa mensagem
foi escrita para um público específico num contexto específico: as sete
igrejas da Ásia Menor do final do primeiro século”, defendem Wes
Howard-Brook e Anthony Gwyther no livro Desmascarando o Imperialismo
(Edições Loyola e Paulus). Durante muito tempo, acreditou-se que o
Apocalipse fora escrito para ajudar os seguidores de Jesus a manter a fé
em meio à desgraça provocada por uma terrível perseguição, com a
promessa de que a iminência do fim encerraria sua grande tribulação.
Essa hipótese já não encontra
apoio nem entre os estudiosos mais liberais. Em fins do primeiro século,
não havia perseguições generalizadas ou sistemáticas naquela região.
Mas a sombra do poderoso Império Romano e seus valores corrompidos
pairava sobre as pequenas e insipientes comunidades cristãs. Para que
elas não sofressem a tentação de fazer as pazes com Roma, João revelou o
Império como a prostituta sedutora que oferecia a boa vida em troca de
obediência e de uma besta esfomeada que devorava todos os que ousassem
se opor a ela.
Que o Apocalipse é um texto
altamente simbólico parece haver consenso. Mas muita gente acredita que
essa simbologia, sim, já desencadeia e ainda provocará outros eventos
bem reais até o fim dos tempos. “Logo no início do livro, vemos que seu
conteúdo abrange o passado, o presente e o futuro da Igreja. ‘Escreve as
coisas que tens visto, as que são e as que depois destas hão de
acontecer’ é a ordem que João recebe”, explica o jornalista e pastor
assembleiano Ciro Sanches Zibordi, autor do livro Evangelhos que Paulo
Jamais Pregaria (CPAD). “Eventos como o juízo final, o trono branco e a
Nova Jerusalém não aconteceram. Como pensar que se referiam àquela
época?”, questiona.
Desse modo, as bestas de
Apocalipse 13 são simbólicas. Mas a primeira besta representaria, na
realidade, um líder ou poder político e o falso profeta, um personagem
religioso. Outra passagem real seria a guerra no céu, descrita no
capítulo anterior. Apesar de trazer também consequências e efeitos
futuros, ela mostra a rebelião de Satanás e como ele foi expulso com um
terço dos anjos rebeldes da presença divina. “Por tudo isso, creio que a
advertência para não ignorar as profecias são muito válidas. Eventos
como a grande tribulação, a volta e vitória de Jesus, a prisão de
Satanás e o estabelecimento do Milênio, o julgamento e o novo céu e nova
Terra se cumprirão literalmente”, aposta Zibordi.
3 – O que acontece com a pessoa quando ela morre?
Um ditado popular garante que a
única coisa certa para quem está vivo é de que um dia morrerá. Apesar
dessa certeza, se existe algo que quase ninguém quer é morrer. Muito por
conta da aura de mistério que cerca aquilo que está reservado ao ser
humano no além-túmulo. Certo mesmo, segundo a Bíblia, é que essa
história de reencarnação não existe. Todos passam por aqui uma única vez
e depois disso serão julgados. E, se a vida terrena é o ponto de
partida, o de chegada será a vida eterna, mas em corpos ressuscitados.
Pelo menos, para aqueles que crerem em Jesus.
No demais, ou seja, o que
acontece nesse meio tempo, enquanto os mortos não ressuscitam, é que as
opiniões se dividem. “De acordo com as Escrituras, somos constituídos de
uma parte material, o corpo, e outra imaterial e imortal, a alma ou
espírito. Alguns defendem que esse espírito seria um terceiro elemento.
Quando a pessoa morre, a alma continua consciente”, afirma Paulo Sérgio
de Araújo, autor do livro Qual o Destino do Homem? (Editora Lio).
Para defender seu ponto de
vista, ele cita dois exemplos: Moisés, que mesmo falecido, apareceu no
Monte da Transfiguração (Mateus 17.1-9) e o apóstolo Paulo, que disse
preferir partir ou morrer para estar com Cristo (Filipenses 1.23). “Se o
apóstolo acreditasse que sua morte o lançaria num estado de total e
literal inexistência, cortando sua comunhão com o Senhor, seria um
absurdo total ele declarar que morrer era melhor do que continuar vivo.”
Apesar disso, esses mortos não
ficam vagando por aí como almas penadas e têm contato com os vivos como
algumas religiões acreditam. “Até Cristo, todos ficavam no lugar que em
hebraico quer dizer sheol, em grego, hades, e em latim, infernus. Daí
nossa palavra inferno. Mas longe de ser um lugar tenebroso, tinha duas
divisões. Os ímpios eram atormentados, mas os justos ficavam no paraíso
ou seio de Abraão. Após a ascensão de Cristo, os salvos vão para o céu e
ficam na presença do Senhor”, explica Araújo.
Nem todos interpretam os
acontecimentos depois da morte dessa maneira. “Para entender a morte, é
preciso compreender a vida”, diz o jornalista e pastor adventista Wendel
Lima. Ele cita a criação do ser humano em Gênesis 2:7 para desvendar o
mistério. Nessa passagem, Deus sopra o fôlego de vida num boneco de
barro e o torna uma alma vivente. “Diferente do que os gregos diziam, o
homem é indivisível. Quando ele morre, a alma, que é toda a pessoa, com
seus intelecto e emoções, acaba. O corpo volta para o pó e o espírito ou
fôlego de vida para Deus, como ensina Eclesiastes 12:7.”
Ele também recorre às línguas
originais para explicar sua visão. Enquanto espírito, em hebraico, tem o
sentido de “sopro” ou “vento”, alma dá a ideia de “pessoa” ou “ser
vivo”. “Nada de Gasparzinhos”, aponta. O mesmo acontece com sheol ou
hades. “Esse lugar nada mais é do que a sepultura, onde todos os mortos
descansam até o tempo da ressurreição e do juízo”, defende Lima.
4 – Deus mandou matar?
Guerra santa é um assunto que
ganhou destaque na imprensa depois dos atentados de 11 de setembro de
2001. E normalmente causa mal-estar e pesadas críticas de cristãos
sinceros ao lembrar que, naquela ocasião, mais de 2 mil inocentes
morreram nos choques dos aviões contra as Torres Gêmeas, em Nova York.
Porém, o que poucos se dão conta é que algo muito parecido aconteceu
milhares de anos atrás e está registrado nas páginas da própria Bíblia.
Ali, mais precisamente no livro de Josué, Deus ordena sem qualquer
cerimônia a seu povo que invada a cidade de Jericó e mate todos os
cananeus que lá encontrar, sejam eles homens, mulheres ou mesmo
crianças.
Não é de hoje que a ordem divina
provoca consternação geral. Afinal, por que um Deus tão bom, que quer a
salvação de todos, ordenou tal massacre? Essa questão já gerou
acaloradas discussões e realmente não há explicações fáceis. À primeira
vista, a impressão que dá é que a divindade do Antigo Testamento é muito
diferente daquela que enviou o próprio Filho para morrer numa cruz pela
humanidade no Novo. “De fato, há uma descontinuidade de algumas
práticas do Antigo para o Novo Concerto. Antigamente, os israelitas eram
usados por Deus como instrumentos de seu juízo. Hoje, é uma traição ao
Evangelho pegar em armas para promover os interesses de Cristo”, diz o
teólogo Tremper Longman III, no livro Deus Mandou Matar? (Editora Vida).
Para tentar solucionar o
imbróglio, Longman propõe analisar a situação sobre dois atributos
pessoais de Deus: seu amor e sua justiça. Ao mesmo tempo que ele é amor e
quer salvar a todos, também é justo e cobrará a cada um segundo suas
obras. O relato de Josué mostra que houve pessoas em Jericó, inclusive a
prostituta Raabe, de quem descenderia Cristo, que foram poupadas. Se
houvesse outras pessoas que mudassem sua posição, igualmente seriam
poupadas. “Deus não é injusto. Porém, naquele contexto, a população de
Jericó teve conhecimento da chegada dos israelitas e tomou partido de
seus deuses contra Yahweh. Naquele tempo, a revelação ainda começava e
demoraria tempo para que os valores cristãos pudessem ganhar força e
moldar a consciência social. Mesmo assim, quem tem problemas com relação
à conquista de Canaã, também terá em compreender o juízo de Cristo,
pois nele, todos os desobedientes, independente de idade ou condição
serão jogados no lago de fogo”, compara Longman.
Inevitavelmente, a questão puxa
outra: como um Deus amoroso permite tanto sofrimento no mundo? Para
debater “o problema da dor”, como C. S. Lewis certa vez chamou o
assunto, é necessário deixar algumas coisas claras. De acordo com a
Bíblia, nessa história não há inocentes, todos pecaram e estão sujeitos
às mais diversas situações em um mundo de injustiça. Não que esta seja a
vontade divina. Pelo contrário: ele criou tudo perfeito, mas quando o
homem se afastou de seus caminhos, permitiu a entrada da dor, do
sofrimento e da morte no mundo.
“A lição de que a rebelião – e
todo pecado – leva à morte é muito clara no Jardim do Éden. Na ocasião,
Adão e Eva deveriam ser mortos na hora, mas foram poupados e receberam
uma nova chance. Essa graça é o motivo de qualquer um de nós ainda estar
respirando. Deus minimiza o mal causado pelo homem. Assim operam sua
justiça e seu amor, ainda que não aceitemos muito bem tudo isso”,
finaliza Longman.
5 – A lei foi abolida?
Desde que apóstolo Paulo começou
suas viagens missionárias essa questão divide as opiniões dentro da
Igreja. É fato que algo foi abolido por Cristo na cruz, como propõe o
próprio apóstolo dos gentios. Das 613 ordenanças entregues a Moisés no
Monte Sinai, algumas reafirmações de leis já existentes, várias não são
mais seguidas pelos cristãos modernos. Com exceção das comunidades
judaico-messiânicas, que têm seus próprios motivos, ninguém mais pratica
a circuncisão ou durante o mês de setembro acampa no lado de fora de
sua casa para celebrar a Festa das Cabanas. Entretanto, é impensável que
alguma igreja aceite que seus membros adorem outros deuses ou matem.
Afinal, o que vale ainda nos dias atuais?
Primeiro é preciso esclarecer o
que é essa tal “lei”. O termo mais comum em hebraico para designá-la é
torá e em grego nomos, mas tanto pode se referir ao conteúdo total do
Antigo Testamento, literalmente “a Lei e os Profetas”, quanto aos cinco
primeiros livros bíblicos, o Pentateuco, aos Dez Mandamentos, à vontade
revelada de Deus, a preceitos civis de Israel ou cerimoniais, como os
sacrifícios oferecidos pelos sacerdotes como ofertas ou pelo perdão dos
pecados da nação.
Os preceitos abolidos
consistiriam essencialmente em cerimônias, como os sacrifícios. “Esse
cerimonialismo foi usado por Deus para apontar a figura de Cristo. Mas
os preceitos morais, como os Dez Mandamentos, continuam válidos para o
povo de Deus, como Jesus mesmo garantiu ao repreender aqueles que
violavam os mandamentos, por menor que fossem. A salvação é pela graça,
mas para uma vida de obediência”, explica o professor Rodrigo Pereira
Silva, professor do Centro Universitário Adventista (Unasp), em
Engenheiro Coelho (SP), que faz parte de uma corrente que defende a
validade do decálogo, inclusive a guarda do sábado como dia de adoração a
Deus, para os cristãos.
Na visão do professor Jorge
Pinheiro, da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, discutir a graça
divina é essencial, pois muita gente confunde salvação com obediência à
lei. “Ninguém é justificado pelas obras da lei. No Antigo Testamento, a
lei fazia parte do arcabouço salvífico da religião de Israel, junto do
sistema sacrificial. Jesus dá início ao processo de desmistificação do
papel da lei na salvação e Paulo leva essa compreensão a seu ponto mais
alto. Ora, a salvação surge dá fé que a pessoa manifesta em Cristo. Para
alcançá-la deve-se crer e receber de graça e com arrependimento o dom
de Deus”, explica.
Pinheiro esclarece que a graça
não exime o cristão de suas responsabilidades, mas muda sua vida. “A
obediência ética sem amor é imposição cruel. Firma-se um relacionamento
com Deus a partir da conversão, no qual, essa obediência acontece na
forma de novidade de vida, porque a graça da salvação alcançou o
indivíduo.”
6 – O que são os dons espirituais?
Corria o ano de 1906, quando uma
série de eventos impressionantes teve lugar em um antigo estábulo
localizado no número 312 da Rua Azusa, em Los Angeles, Estados Unidos.
Todos os dias, mais de mil pessoas de todos os cantos do país e até do
exterior chegavam ali para participar dos cultos evangélicos comandados
por William Joseph Seymour. Todos buscavam a mesma coisa: o batismo no
Espírito Santo com a evidência do falar em línguas, um revestimento de
poder sobrenatural para cumprir a vontade divina.
O moderno movimento pentecostal
pode não ter nascido em Azusa, mas depois dali, nenhuma igreja
evangélica seria mais como antes. Os dons espirituais passaram a receber
uma nova ênfase, tanto em denominações que aceitaram a renovação
carismática quanto naquelas que, mesmo fechadas à novidade, descobriram
as vantagens de buscar mais profundidade na vida espiritual mediante um
renovado relacionamento com o Espírito Santo.
Os dons do Espírito encontram-se em passagens
como Romanos 12, 1 Coríntios 12 e Efésios 4. Alguns estudiosos chegam a
elencar mais de 30 deles. Cem anos após Azusa é difícil encontrar
igrejas que não aceitem a validade desses dons para os dias atuais. Mas
aquelas mais tradicionais excluem as manifestações carismáticas,
especialmente falar línguas ininteligíveis, de seus cultos. Para elas,
certos sinais e maravilhas eram restritos aos tempos apostólicos e
quando Paulo fala sobre profecia, refere-se à pregação inspirada no
púlpito, ou sobre línguas, à capacidade de aprender outros idiomas
humanos.
“É verdade que há dons de
serviço e ministeriais, mas eles diferem daqueles nove mencionados em 1
Coríntios. Esses são capacitações sobrenaturais dadas por Deus para sua
Igreja”, aponta o pastor Enéas Tognini, da Igreja Batista do Povo, em
São Paulo, e presidente de honra da Sociedade Bíblica do Brasil. Em
1958, Tognini, um batista bastante conservador, teve sua primeira
experiência em relação aos dons e falou em línguas. Nos anos seguintes,
tornou-se uma das figuras centrais no processo de renovação de inúmeras
igrejas batistas, presbiterianas e metodistas Brasil afora.
Ao analisar os dons espirituais e
contar algumas de suas experiências, o veterano pastor de 95 anos, 68
deles dedicados ao ministério, garante: não se trata de emoção, mas de
realidade. “Dons como profecia, conhecimento e sabedoria não dependem de
estudo prévio. São revelações que Deus dá a respeito da realidade ou do
que deve fazer uma pessoa em circunstâncias que para ela são
impossíveis de resolver. O discernimento dá à pessoa a capacidade de
saber se aquilo que está operando vem de Deus, da carne ou do diabo. Já
as línguas não são chamadas de estranhas por acaso. São uma linguagem
espiritual e precisam de uma interpretação sobrenatural para que sejam
entendidas. Junto com dons de curar e de realizar milagres são
ferramentas que não podemos desprezar se queremos fazer o melhor para o
Senhor.”
7 – Qual é o pecado que não tem perdão?
Certa vez, enquanto expulsava
demônios, Jesus fez uma advertência que até hoje causa temor em muitos
que leem as Sagradas Escrituras. Ele alertou as pessoas para que se
prevenissem contra o “pecado que não tem perdão”. Muitas teorias já
foram elaboradas para tentar descobrir o que ele quis dizer com essa
expressão. Há quem fale em suicídio, adultério ou na rejeição da
mensagem do Evangelho. Mais recentemente, os pentecostais passaram a
usar o termo para advertir aqueles que não aceitassem suas línguas e
profecias. “Não há base bíblica para essas suposições. Primeiro, a
pessoa deve ficar calma: se é crente em Cristo Jesus e está preocupado
se, por ventura, já cometeu esse tipo de pecado, pode estar certo de que
nunca o praticou”, explica Josivaldo de França Pereira, pastor da
Igreja Presbiteriana do Brasil e autor do livro Atos do Espírito Santo
(Editora Descoberta).
Nas palavras do próprio Jesus, o
pecado imperdoável é a blasfêmia contra o Espírito Santo. “Em verdade
vos digo que tudo será perdoado aos filhos dos homens, mesmo as
blasfêmias contra o Filho do Homem. Mas aquele que blasfemar contra o
Espírito não tem perdão para sempre, visto que é réu de pecado eterno”,
disse ele em Mateus 12.22 a 32. “Por que essa pessoa não tem perdão?”,
questiona Pereira. “Por que não se arrependerá de seu pecado, visto que
jamais sentirá o desejo de confessá-lo.”
Para entender melhor esse pecado
é preciso lembrar aquelas que seriam as tarefas do Espírito Santo no
mundo. Segundo Jesus, além de ensinar e lembrar os crentes, ele
convenceria o homem a respeito do pecado, da justiça e do juízo divinos.
Porém, como completou Paulo, se o indivíduo não dá ouvidos ao Espírito,
pode chegar ao ponto de entristecê-lo e apagar sua influência (Efésios
4.30 e 1 Tessalonicenses 5.19). E há pontos tão distantes de Deus que
não permitem mais o retorno. Eles chegam quando surge uma contínua e
deliberada rejeição contra o testemunho do Espírito em toda sua obra.
Sem perceber, a pessoa rejeita e se opõe ao único recurso que pode
levá-la ao arrependimento, ao perdão e a uma mudança. Com isso, seu
coração torna-se endurecido e sua consciência, insensível. Sem
arrependimento e confissão, ela ficará longe de Deus até o fim. Por
isso, o perdão torna-se impossível.
Marcos Stefano
Jornalista da revista Eclésia
Fonte: Revista Eclésia edição n°140
Via: http://aigrejaaogostodofregues.blogspot.com.br/2011/02/7-grandes-perguntas-e-misterios-da.html
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