Gary DeMar
Deus requer que o seu povo cuide dos pobres. Para dizer que isso não é verdade, uma pessoa deve negar a Bíblia: “Executai juízo verdadeiro, mostrai bondade e misericórdia, cada um a seu irmão” (Zacarias 7:9) e “O que oprime ao pobre insulta aquele que o criou, mas a este honra o que se compadece do necessitado” (Provérbios 14:31). Deus instrui os cristãos a oferecer socorro aos oprimidos, famintos, presos, cegos, estrangeiros, viúvas e órfãos. Tal ajuda, contudo, não deve ser indiscriminada.
A Bíblia
declara claramente que existem muitos indigentes porque eles falham em
seguir as leis de Deus com respeito ao trabalho: “Se alguém não quer
trabalhar, também não coma” (2 Tessalonicenses 3:10).
Não
é suficiente olhar para o pobre e sua condição sem considerar o motivo
pelo qual ele se encontra nas dificuldades da pobreza. Ele está
debilitado por causa de doença? Algum desastre natural exterminou as
economias da família? A família é pobre por causa de dívidas? A política
governamental impede o pobre de ser um cidadão produtivo? O pobre tem
sido oprimido por causa de sua raça ou posição na sociedade? Os ideais
religiosos da nação proíbem o crescimento econômico?
Alguns
querem fazer-nos crer que a Bíblia ensina um comunismo primitivo. A
igreja primitiva praticava uma comunidade de bens, onde os indivíduos
eram ordenados a entregar seus bens e terras à liderança da igreja? “A
comunidade de bens, descrita em Atos 4:32-37, não era um regulamento
social ou um artigo da política da igreja primitiva, mas a execução
natural e necessária do princípio de unidade, ou identidade de interesse
entre os membros do corpo de Cristo, surgindo da relação de união deles
com o próprio Cristo” (J. A. Alexander, The Acts of the Apostles,
Volume 1, p. 185). As ações desses cristãos primitivos eram voluntárias,
e não o edito da igreja ou do estado.
Sem
um entendimento completo da Bíblia, qualquer tentativa de responder
essas questões difíceis termina em fracasso. O cuidado pelos pobres deve
se mostrar em ação que no final ajuda ao pobre e honra a Deus. Por
exemplo, o cristão não está ajudando ao pobre meramente alimentando-o.
Obviamente,
cuidar das necessidades imediatas de um indivíduo é mandatário (Tiago
2:14-16), mas quão freqüentemente os programas designados para o pobre
consideram os resultados a longo prazo? É possível agravar a condição do
pobre quando não tratamos das causas reais de sua pobreza?
Todas
as ações e resultados de ações têm pontos de partida teológicos ou
religiosos; a Bíblia deve ser nosso guia ao determinar a solução – não a
história, a razão sozinha, a vontade da maioria, um partido político,
as táticas de manipuladores perversos, ou o engano. Aqueles com boas
intenções não trarão alívio a longo período para o realmente pobre, se
eles falharem em perceber que as boas intenções não podem de forma
alguma suplantar o padrão que Deus deu para resolver a condição do
pobre. A solução para a pobreza deve ser respondida à luz do que a
Bíblia diz sobre a condição caída do homem, e os fatores religiosos que
criam as condições para a pobreza.
O
cristão percebe que todos nós vivemos num mundo caído, e a pobreza, bem
como a doença e a morte, resulta do primeiro pecado do homem. Antes da
queda a terra dava seu fruto livremente, e Adão e Eva entendiam suas
responsabilidades sob Deus e percebiam os benefícios da árvore da vida
(Gênesis 2:15, 16). O estado sem pecado de Adão e Eva não significa que
eles estavam livres da obrigação de cultivar e guardar o jardim. Antes, a
obrigação de lutar pelo seu sustento estava entremeada no mandato de
criação. Contudo, desde a queda, a terra é sovina e o homem se tornou
irresponsável na execução de sua tarefa de domínio: “maldita é a terra
por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua
vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do
campo. No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois
dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás” (3:17b-19). Alguns
vão ainda mais longe, e assassinam outros para possuir o que não lhes
pertence (4:19. 23, 24).
Portanto,
a Bíblia nunca lida com a pobreza fora do contexto da queda do homem no
pecado. (Todo assunto deve ser considerado em relação à queda da
humanidade no pecado. A questão da pobreza não é única nesse respeito.) A
planta produtiva terá que competir com cardos e abrolhos. Homens e
mulheres pecadores freqüentemente recusam seguir os mandamentos de Deus
com relação ao trabalho produtivo. Alguns assassinam ou roubam para
ganhar prosperidade, ao invés de seguir os mandamentos que se relacionam
ao labor produtivo. Outros não têm nenhum conceito das conseqüências de
sua inatividade pecaminosa e sua relação com a pobreza: “Vai ter com a
formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos e sê sábio. Não tendo
ela chefe, nem oficial, nem comandante, Ó preguiçoso, até quando ficarás
deitado? Quando te levantarás do teu sono? Um pouco para dormir, um
pouco para tosquenejar, um pouco para encruzar os braços em repouso,
assim sobrevirá a tua pobreza como um ladrão, e a tua necessidade, como
um homem armado” (Provérbios 6:6-11). Há um elemento adicional somado à
condição pecaminosa do homem – a escassez de recursos que existem devido
aos recursos limitados da terra. A luta por esses recursos
freqüentemente leva à cobiça, inveja e guerra.
Todo
indivíduo deve assumir a responsabilidade por sua atividade ou
inatividade. Em alguns casos, contudo, a pobreza resulta de outros
homens pecadores tomando vantagem daqueles que se encontram numa
situação temporária destituída. Se o preguiçoso deve ser repreendido por
sua desobediência, o oportunista inescrupuloso deve ser igualmente
responsabilizado por sua repudiação da lei de Deus com respeito ao
pobre:
O povo de Deus
não deve prejudicar ou oprimir um estrangeiro ou aflito, uma viúva ou
órfão (Ex. 22:21-22; 23:9; Lv. 19:33-34). Eles não devem perverter a
justiça devida ao estrangeiro, órfão ou pobre. Eles não devem tomar o
traje da viúva como penhora, fazer falsas acusações contra o inocente,
ou receber propina e subverter a causa daqueles que estão no direito
(Ex. 23:6-8; Dt. 10:18; 19:16-21). O homem de Deus deve amar, alimentar e
vestir órfãos, viúvas e estrangeiros (Dt. 10:18). Quando um homem
piedoso empresta dinheiro ao pobre é para aliviar sua pobreza, não
aumentá-la. Se um pobre é incapaz de pagar a dívida em sete anos, o
credor deve perdoá-lo da mesma (Dt. 15:1-2) (John T. Willis, “Old
Testament Foundations for Social Justice”, in Christian Social Ethics,
ed. Perry C. Cothan, p. 33).
O
pobre, bem como o próspero, tem a responsabilidade de seguir a lei de
Deus. O pobre deve verificar o que a lei diz com respeito a sua
condição. É possível que ele seja pobre devido à sua indisposição em
seguir os mandamentos de Deus na área do trabalho produtivo, economia e
planejamento em longo prazo? Existem formas de o próspero ajudar ao
pobre sair do ciclo de pobreza? O empresário que Deus abençoou com uma
abundância de recursos pode treinar o inexperiente e oferecer
empréstimos sem interesse àqueles cujas instituições de empréstimo negam
crédito, considerando-os como “risco”? Pode o tempo ser gasto com
aqueles que têm pouco ou nenhum conhecimento na área de gerenciamento,
de forma que um dia possam trabalhar sozinhos? O pobre, num longo
período de tempo, não é ajudado fazendo-se o dinheiro disponível a ele
sem a instrução bíblica necessária na área do gerenciamento,
administração e planejamento.
A
obrigação do cristão ao ajudar o pobre é adicionar à compaixão que se
oferece o entendimento. A condição do pobre inclui mais do que falta de
possessões materiais. Ele é um ser humano que necessita ser tratado como
um portador da imagem de Deus; portanto, o cuidado pelos pobres inclui
respeito por sua dignidade. É verdade que o dinheiro é gasto em
programas de pobreza, mas a dignidade é mais que dinheiro. A dignidade
inclui ser o que Deus pretende que cada um de nós seja. A dignidade
verdadeira e duradoura vem do reconhecimento do nosso pecado,
arrependimento da nossa rebelião, e submissão ao evangelho libertador de
Jesus Cristo. Nada menos será suficiente: “Ao tomar o pecado seriamente
tomamos o homem seriamente. O mal pode estragar a imagem divina e
obscurecer seu brilho, mas não destruí-la. A
imagem pode ser desfigurada, mas nunca apagada. O símbolo mais obsceno
na história humana é a cruz; todavia, em sua feiúra ela permanece o
testemunho mais eloqüente da dignidade humana” (R. C. Sproul, In Search
of Dignity, p. 95).
Sumário
“Evidência existe que as
políticas do estado previdenciário faz mais do que prejudicar aqueles de
quem algo é tirado; elas também prejudicam aqueles a quem algo é dado
(pelo Estado). Os programas de habitação liberal não faz mais que
disponibilizar habitação a baixo custo para os pobres; o resultado tem
sido bem menos habitação disponível, ao custo de bilhões de dólares. A
legislação do salário mínimo não ajuda realmente as pessoas na base da
pirâmide econômica; ela termina prejudicando-as, fazendo menos
empregáveis, aumentando assim o desemprego entre as próprias pessoas que
a legislação é suposta ajudar. A norma míope e politicamente
conveniente de pagar pelo bem-estar social através do déficit de
despesas governamentais, tem inundado a economia com bilhões de dólares
de dinheiro crescentemente sem valor, e saqueado o pobre ao sujeitar-lhe
(e todos os outros) a uma inflação que continua a levantar os preços
das necessidades básicas além do seu alcance. A despeito de para onde
alguém olhe, os programas de bem-estar social têm falhado. As políticas
sociais liberais têm feito o maior dano nas áreas básicas como comida e
vestimenta. As pessoas que têm sido mais prejudicadas são aquelas menos
capazes de ter recursos, as mesmas pessoas, o liberal nos assegura, que
ele está tentando ajudar” (Ronald H. Nash, Social Justice and the
Christian Church, p. 60).
Autor: Gary DeMar (God and Government – volume 2, p. 185-8 e 192)
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1
Fonte: Monergismo
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