Em Cristo estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. (Colossenses 2:3)

Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por essas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência.(Efésios5:6)
Digo isso a vocês para que não deixem que ninguém os engane com argumentos falsos. (Colossenses 2:4)

23 de dezembro de 2012

QUEM QUER ACEITAR JESUS LEVANTA A MÃO!!!



Por Gilson Barbosa
Os erros do sistema de apelo ao pecador no culto público

Acredito piamente que há um déficit teológico gigantesco no meio evangélico (entenda déficit teológico como déficit doutrinário). Este é o primeiro erro entre os evangélicos: dissociar doutrina bíblica de teologia. O segundo erro é associar teologia com ensino e doutrina com pregação. Nos dois erros, ambas é uma coisa só. Mas, infelizmente não é esse entendimento que prevalece. Para muitos, doutrina é absolutamente distinta de teologia. Talvez seja essa a causa de tanta desordem na igreja evangélica moderna. É como se a fonte da teologia fosse os livros e não o Livro (a Bíblia Sagrada).

O educador assembleiano Claudionor Correa de Andrade disse a mim, num email, que “ensino e pregação não são excludentes; são complementares. Toda pregação deveria constituir-se num sólido ensino. E todo ensino deveria ser visto como uma proclamação da Palavra de Deus”. Hoje em dia em muitas escolas de teologia se ensina uma coisa e no púlpito da igreja outra (ledo engano!). O resultado é um conflito de ideias e desentendimentos entre docentes e o pastor da igreja.

Fiz essa necessária introdução para lhes falar sobre um procedimento extremamente comum nos cultos evangélicos: o sistema de apelo ao pecador. Esse assunto não pode ser tratado com superficialidade ou omissão, isso porque, indagado pela teologia/doutrina ele não se sustenta. A pergunta é: Qual a maneira do pecador vir a Cristo? Preste muita atenção: não estou indo contra o convite para que o pecador receba a Cristo como Salvador e Senhor. Temos vários textos onde o pecador é instado a vir a Cristo.

Textos bíblicos

1 – “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28);

2 - “O vós, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde, comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite” (Isaías 55:1);

3 – “E o Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem. E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida” (Apocalipse 22:17).

Erros apresentado pelo sistema de apelo

1 – Entender que a confissão pública é uma condição para a salvação e não um resultado da salvação. Acontece o mesmo erro na apresentação de candidatos ao batismo. A salvação dos pecadores fica condicionada “ao levantar das mãos e vir à frente do púlpito”. Se ele fez isso, então está salvo. Quem garante isso? Quer dizer: a vida eterna da pessoa é avaliada de maneira externa a vista dos olhos humanos. Ao passar dos dias o pecador que “levantou as mãos e veio à frente” não apresenta os sinais da regeneração e os crentes ficam confusos, pois no seu entendimento elas aceitaram a Jesus e estão regeneradas. A condição para a salvação é “vir a Cristo”, e não “levantar as mãos ou vir à frente”.

2 – Fazer do “vir à frente” ou “levantar as mãos” um mandamento bíblico. Jesus certa vez censurou os escribas e fariseus com estas palavras: “Em vão, porém, me honram, ensinando doutrinas que são mandamentos de homens” (Marcos 7:7). Você não encontrará na Escritura Sagrada um ensinamento que aprove esse tipo de procedimento para diagnosticar ou até mesmo valorar a salvação do pecador. Nem Jesus, nem os apóstolos instituíram um sistema humano para confirmar ou sinalizar exteriormente a salvação. Não consigo imaginar que a resposta de Paulo ao carcereiro – quando indagou o que deveria fazer para ser salvo – fosse “levante a mão!”. Nesse item repousa a teimosia evangélica de estabelecer métodos e sistemas não recomendados pela Bíblia Sagrada. Se a Bíblia não prescreve algo é sensato não fazer.

3Quando “ir à frente” ou não implica em falsas compreensões - Este ato tem trazido um falso entendimento ao pecador, pois um crê que fez algo bom, próprio ou útil diante de Deus, outro, que desobedeceu a Deus simplesmente por não ter ido à frente. Há pecadores que até mesmo pensam que pelo ato de “ir à frente” ou “levantar as mãos” estão salvos. É comum pensar: “Agora que fui à frente, estou salvo”. Este pensamento produz falsa segurança. Alguns pecadores acham que estão sendo rebeldes contra Deus por não ter ido à frente, quando na verdade não é isso que caracteriza a rebelião dos pecadores (Romanos 1:18-32). Os próprios membros das igrejas pensam que o apelo é obrigatório no culto. Se o pastor ou o pregador esquecer-se de fazer o apelo pode ser lembrado ou cobrado pelos membros.  

4 – Induz pregadores a artimanhas no apelo - O pior de tudo, humanamente, é alguns pregadores que usam a artimanha de perguntar quantas pessoas não evangélicas estão presentes no culto, e ao sinalizar levantando as mãos eles são constrangidos a irem à frente e “aceitar” Jesus. Que convicção este pecador terá de que realmente recebeu a Cristo em sua alma? A Bíblia não recomenda e nem relata esse procedimento de “vir à frente” ou “levantar as mãos” para receber a salvação em Cristo. Hoje em dia quase todos os pregadores usam os cânticos como meio de “conversão” no apelo. Quando não, os usam para levar o povo a momentos externos de êxtase carismático ou sobrenatural. É comum o uso repetido de determinados cânticos, a ponto de entender que se cantar outro cântico o pecador não virá “a Cristo”.  

5 – A busca de resultados estatísticos As igrejas evangélicas tem cometido o erro fatal de condicionar a salvação em resultados numéricos. Após o culto é comum o comentário entre os crentes: “Você viu quantas pessoas aceitaram a Cristo?”. Porém, eles mesmos ficam confundidos quando essas pessoas não permanecem na fé ou não vem mais na igreja. Não conseguem compreender a parábola do semeador. Nela, Jesus ensina sobre quatro tipos de terrenos, que tem haver com a resposta da alma do pecador a mensagem evangélica (Mateus 13:1-23). O batismo também tem sido considerado a partir de dados estatísticos. Não é tão importante a convicção de fé na alma do pecador, quanto sua decisão de se batizar. Muitos que vão à frente “pedir” o batismo, depois, não permanecem. O dado numérico buscado a todo o custo, pelas igrejas, intelectualmente não consiste naturalmente em conversão (regeneração) genuína e verdadeira, mas apenas na intenção numérica. Isso tudo não passa de um autoengano ou um “faz de conta”.  Os pregadores itinerantes se encarregam das piores tolices, nesse quesito. É natural se sentirem envaidecidos ministerialmente pelo fato de dezenas de pessoas “virem à frente”.    

6 – O barateamento da graçaA salvação em Cristo é pela graça de Deus: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2:8, 9). É um favor imerecido: “porque, se a justiça provém da lei, segue-se que Cristo morreu debalde” (Gálatas 2:21). Trata-se de uma obra sobrenatural processada na alma do pecador. Se há algo que a humanidade pecadora merece, é a condenação eterna. O ser humano não pode apresentar nenhuma obra que o qualifique a salvação, e esta, não tem nenhuma semelhança com qualquer ato físico. Se o ato de crer em Cristo estivesse atrelado ao ato físico todos que vem à frente teriam de permanecer em Cristo e consequentemente na igreja local – o que não é verdade.

“Venha a Cristo para ser salvo”

Quando noto tudo isso, me entristeço e percebo o quanto as igrejas evangélicas se distanciaram das práticas cultuais (litúrgicas) da igreja primitiva. Não basta confessar com a boca, deve-se crer na alma: “A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10:9). Não adianta chamar o pecador à frente e tentar arrancar dele qualquer tipo de confissão evangélica. Só saberemos de fato se foi regenerado à medida que permanece na fé e apresenta frutos de arrependimento ou sinais da conversão: “E, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus, que vinham ao seu batismo, dizia-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento” (Mateus 3:7,8). O convite para a salvação não perdeu o prazo de validade: “Vinde então, e argui-me, diz o SENHOR: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã” (Isaías 1:18). Contudo, a genuína conversão não se processa por um ato físico de “vir à frente” ou “levantar as mãos”.


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