O Golem é um dos mais fascinantes mitos
judeus. É feito de barro à imagem do homem, tendo como propósitos a
proteção da comunidade judaica e a realização de trabalhos
braçais.Embora hajam citações na Bíblia Hebraica e no Talmud, o primeiro
relato sobre o golem que se tornou famoso foi escrito no início do
século XIX. Contava a criação
de um deles pelo Rabbi Löw, na cidade de Praga do século XVI .
Cronologicamente, porém, há um relato anterior, de 1674, quado o golem
teria sido criado pelo rabino Elias Baalschem. E temos aqui o elemento
da palavra mágica, o gradativo descontrole da criatura, e a morte do
rabino ao destruí-la, significando a pena para o homem que quis emular
Deus ao tentar criar vida.(Nesse sentido, o monstro de Frankenstein,
criado por Mary Shelley no séc. XIX, teria elementos do mito do Golem).
A lenda do golem, no seu início, tem três pontos principais. O primeiro
se refere à influência de crenças ancestrais da ressurreição dos mortos
através do ato da colocação do nome de Deus na boca, na testa ou no
braço do cadáver (a remoção do pergaminho ou o ato de apagá-lo causaria
sua volta aos mortos), lendas comuns na Itália do século X. O segundo se
relaciona com às idéias da prática alquimista referentes à criação de
homunculus que seria criado in vitro com uma mistura de terra e água
(ver Paracelso). O terceiro é a própria definição simbólica do golem, de
seu início e fim: um ser, servo do seu criador, cujo poder cresce
continua e perigosamente até o limite em que, a fim de preservar a
própria comunidade, deve ser devolvido ao barro de onde foi criado.
A simbologia está no respeito aos elementos, que podem proteger e
destruir com a mesma força, nunca podendo ser controlados totalmente
pelo homem. Vem também à cabeça a velha lei de Deus, "és pó e ao pó
voltarás." É no contexto do hassidismo, movimento judeu, que se
desenvolve o mito do Golem.
Poderíamos ver, à luz da modernidade, o golem como um autômato, um
robot. Mais sutilmente, ele se liga ao mito do Duplo, o Dopplegänger
alemão: em algumas versões e poemas o Golem toma o lugar de um
personagem da trama, saindo de cena quando não mais necessário. É assim
em E.T.A. Hoffmann (que o chama de Terafim) e em von Arnim.Um dos pontos
mais interessantes do mito do Golem é a força da palavra mágica, o schem , que cria e destroi o ser artificial.
Em muitas dessas estórias é escrita na testa do ser (em outras há a
colocação de um pergaminho nele) a palavra AEMAETH, lida Emeth, Verdade.
Ao se apagar a primeira letra primeira, o Aleph (ver o conto de mesmo
nome de Borges que trata do universo mágico da mesma), resta a palavra
MAETH , lida Meth, morte, o Golem retorna ao pó.A criação desse ser não é
desprovida de riscos. Além do fato de que, como a maioria das
narrativas cita, ele continua a crescer, tornando-se mais forte e
incontrolável, havia a possibilidade de um demônio (Samael ou Lilit)
entrar no invólucro de barro e mesmo que a feitura não fosse bem
realizada e ele degenerasse para um tipo idiota e inútil.
O Golem na literatura e no cinema
A lenda do golem forneceu elementos para alguns clássicos da literatura
fantástica, principalmente entre autores alemães e judeus. Um dos
primeiros marcos é o livro de 1909, Nifla'ot Maharal im ha-Golem ( em
inglês "The Miraculous Deeds of Rabbi Loew with the Golem"), publicado
por Judith Rosenberg como um manuscrito antigo, embora seguramente não
escrito antes de 1890.
Baseada na lenda e nas descrições dos livros rituais dos séculos XIII e
XIV, a autora fez ficção moderna, onde coloca passagens inadmissíveis
para a lenda, como o amor do golem por uma mulher, e interpretações
simbólicas do significado da criação do golem, comparando seu
surgimento, um homem não redimido e deformado, com a evolução do povo
judaico e mesmo com a ascenção da classe operária e sua busca por
liberdade. Em 1919, Haim Bloch escreve Der Prager Golem (publicado na
Inglaterra em 1925), citado como escrito a partir de um suposto
manuscrito de mais de 300 anos, mas na verdade baseado no livro de
Rosenberg.
Quaisquer que sejam as versões da lenda, nenhuma delas supera o mais famoso romance
já escrito sobre o mito: "O Golem" (Der Golem), de Gustav Meyrink
(1868-1932), publicado na Alemanha em 1915 (traduzido para o inglês e
publicado na Inglaterra em 1925). Meyrink, alemão da Bavária, passou
muitos anos em Praga, onde colheu os dados para seu romance. Os pontos
altos do livro eram a minuciosa descrição dos fatos e locais e a
atmosfera soturna. No golem ele faz uma terrível alegoria do homem
reduzido ao automatismo pela pressão da sociedade moderna. Meyrink tinha
conhecimento dos trabalhos e teorias de Freud e Jung, e em sua obra
abundam alusões a sonhos, labirintos, sexualidade, perturbação, símbolos
e tradição.
No cinema, entre 1914 e 1920, Wegener fez três filmes
tendo o golem como tema. O primeiro, "The Golem," passa-se no século
XXIX; logo depois ele fez "The Golem and the Dancer", um filme leve de
fantasia e, finalmente, "The Golem: How He Came into the World", que
passa-se no século XVI e retorna à história do Rabbi Loew. Apenas o
último deles foi conservado. Nele o golem é representado pelo próprio
Wegener.Uma versão diferente pode ser vista numa peça do poeta H.
Leivick, publicada em New York, no ano de 1921. Nela, o Golem é um falso
salvador, que prometia libertação mas só oferecia violência. É , de
certa forma, uma antecipação do futuro próximo dos judeus da
Tchecoeslováquia, que sucumbiriam ante o regime nazista, a partir dos
anos 30.
Alguns livros relacionados ao mito:
A. von Armin: "Isabelle von Aegypten, Kaiser Karls des Fünften erste Jugendliebe" (1812)
E.T.A. Hoffmann: "Die Geheimnisse" (1820) e "Meister Floh (1822)
W. Rathenau: "Rabbi Eliesers Weib" (1902)
Leivik: "Der Golem" (1920)
R. Lothar: "Der Golem" (1900)
G. Meyrink: "Golem" (1915)
Fonte:
http://br.geocities.com/historias_ocultas/lendas/golem.htm
Gostei do texto @KLE VEN SANTS muito bem escrito, vim pesquisar depois de assistir esse vídeo https://www.youtube.com/watch?v=Vl-UUKVmKSQ
ResponderExcluirNão sabia que essa história pode ter inspirado frankstain, tirando o alquimismo e religião são histórias IDÊNTICAS.